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6.2 AS CATEGORIAS SUBJETIVAS E A CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

6.2.2 Paginação

O design gráfico das revistas está tendo que seguir o caminho das revistas digitais, dos aplicativos de celulares e das mídias sociais ao criar diferentes composições em suas publicações, mas uma coisa ainda não mudou: "o layout do conjunto de páginas de uma mesma matéria deve sinalizar claramente que se trata do mesmo assunto, do começo ao fim"(ALI, 2009, p. 142).

Fátima Ali (2009) tem uma ideia ainda bem convencional das revistas, com propostas de layouts bem clean e organizado, mantendo sempre uma unidade. Mas, ela mesma afirmou que, as revistas mais jovens estão preferindo transgredir esse ponto também do design das revistas.

Figura 23 – Nu em moda - Foto por Greg Kadel - Edição 183

Algumas revistas com linguagem jovem tendem a ter um design sem hierarquia. Sua irreverência gráfica desafia o convencional com layouts tumultuados, colu- nas irregulares, fotos cortadas na metade, imagens superpostas e tipografia que muda de estilo ou de tamanho no meio da frase ou simplesmente desaparece misturada com a ilustração. Tudo bem se é legível, atrai o leitor e o leva à leitura (ALI, 2009, p. 144).

Desta forma, a revista Numéro France vem com essa proposta de quebra de para- digma, gerando uma paginação mais alternativa com mudanças na composicão das páginas e na orientação das imagens – esses são as duas subcategorias determinadas para este ponto, a colagem e a mudança na orientação das fotografias.

6.2.2.1 Colagem

O retorno nas publicações ao mundo das colagens, técnica esta muito identificada na era do Construtivismo Russo de Rodchenko, voltam à tona com a modernidade nas mídias sociais e na criação pós-moderna das imagens, como afirmam Rahde e Cauduro (2005, p. 200) em seu artigo intitulado Algumas características das imagens contemporâneas. Em sua pesquisa, ela afirma que:

a visualidade característica da pós-modernidade apresenta-se através de repre- sentações híbridas e também heterogêneas, por serem frutos do inclusivismo e da valorização da diferença. Essas imagens são naturalmente propensas à mistura e à combinação das mais desencontradas possibilidades expressivas

visuais numa única representação (ex: mixagem de fotos com desenhos, com impressos, com gravuras, com tipografia, com escrita manual, com pintura, com filmes, com video gravações, com esculturas, com objetos tridimensionais, e assim por diante) Rahde e Cauduro (2005, p. 200).

Desta forma, como mencionado acima, a hibridação aparece de diversas formas nas fotografias atuais e, na revista Numéro, ela se caracteriza pela a montagem de duas ou mais imagens em uma mesma página da revista ou pela intervenção da imagem com linhas e traços. Na quantificação dos editoriais, foram observadas 17 páginas das publicações que foram mescladas com outras imagens do próprio editorial para compor um layout mais atrativo.

Figura 24 – Colagem - Foto por Amanda Charchian - Edição 186

6.2.2.2 Orientação em foto

A mudança da orientação em foto se deve ao fato dos designers gráficos utilizarem fotografias que foram inicialmente retratadas como horizontais, mas foram publicadas em verticais, e o mesmo acontece ao contrário: imagens que foram registradas verticalmente, mas que foram publicadas horizontalmente ocupando duas páginas da revista.

Nesta pequisa, foram identificadas nove fotografias que tiveram a sua orientação original invertida. Ainda não pode-se considerar um número alto, mas já é algo que se pode observar presente em praticamente todas as edições da revista, ou seja, uma característica que

está aparecendo cada vez mais.

Nesta imagem, a troca de orientação da imagem da vertical para a horizontal gera uma inquietação no leitor como se levasse ao entendimento da representação de um afogamento, ou seja, uma reação emocional distinta à foto original, como cita Nogueira (2012) em seus estudos; tudo isso com uma simples troca de orientação.

Figura 25 – Orientação em foto - Foto por Anthony Mauler - Edição 184

6.2.3 Objetos cênicos

Os objetos cênicos são peças e instrumentos físicos e táteis que os fotógrafos utilizam para trazer mais interesse às imagens. Como afirma Joly (2012) em seu livro, os signos icônicos das imagens podem ser identificados como texturas e composição.

Barthes (1982), em seu artigo A mensagem fotográfica, criou um ponto específico em texto somente para falar dos objetos, pois ele explicita a importância da interpretação conotada em decorrência da disposição artificial dos objetos pelo fotógrafo.

O interesse reside em que esses objetos são indutores correntes de associações de ideias (biblioteca-intelectual), ou de uma maneira mais obscura, verdadeiros símbolos (a porta da câmara de gás de Chessmann remete à porta fúnebre das antigas mitologias). Esses objetos constituem excelentes elementos de significação: de um lado são descontínuos e completos em si mesmos, o que é para um signo uma qualidade física; e, de outro, remetem a significados clados, conhecidos; são, portanto, os elementos de um verdadeiro léxico, estáveis a ponto de se poder facilmente erigilos em sintaxe (BARTHES, 1982).

Desta forma, os fotógrafos fazem em suas imagens uma composição de objetos cênicos de forma a significarem algo mais completo e mais complexo; entretanto, juntos, eles

formam uma cena imitando o natural e o espontâneo.

Nesta pesquisa, foram identificadas cinco subcategorias de objetos cênicos, sendo eles as flores, texturas, animais, água e a utilização de fotos de respiro.

6.2.3.1 Flores

As flores são comumente utilizadas na sociedade pós-moderna como uma forma de demonstrar as afeições perante alguém, desta forma elas trazem alegria e energia ao ambiente – dependendo do tipo de flores e das cores utilizadas. Muito se fala da rosa vermelha como paixão, flores brancas como paz e flores amarelas para representar a amizade. Entretanto, as flores também trazem um toque fúnebre ao seu significado por serem muito utilizadas em funerais; especialmente representada semioticamente pelo cravo roxo que significa solidão.

Flores são elementos clássicos do mundo e, consequentemente, da fotografia, pois há décadas são utilizadas nas composições das imagens. Entretanto, nesta revista, as flores vieram como pontos marcantes nas imagens, fossem cobrindo o rosto das modelos ou servindo como foto de respiro nos grandes editoriais. Ela aparece não somente como papel secundário, mas como primeiro plano em muitas fotografias.

Nesta pesquisa quantitativa, foram identificadas 52 imagens contendo flores como objetos cênicos – com a observação que aqui só contém flores, não foram contabilizadas nenhum tipo de árvores ou plantas verdes tipo grama.

Nesta imagem, a cama de flores na qual a modelo se encontra deitada, parecem maltratadas e velhas, trazendo para a imagem essa visão mais turva e depressiva do editorial. Juntamente com as flores, a pose abstrata retrata o estranhamento que o fotógrafo quis gerar com tal imagem.

6.2.3.2 Texturas

Observa-se que a textura gera um grande interesse ao leitor, tendo em vista que tal característica faz com que se observe a imagem de mais perto e identifique-se mais características de cada fotografia. De acordo com Joly (2012, p. 102), a textura tem uma relação direta ou indireta com a terceira dimensão da imagem, que faz com que a percepção visual seja mais aquecida e se torne mais sensual por causa do uso da textura como percepção tátil. Dondis (2015) explica a textura como:

Figura 26 – Flores - Foto por Richard Avedon - Edição 182

qualidades de outro sentido, o tato. Na verdade, porém, podemos apreciar e reconhecer a textura tanto através do tato quanto da visão, ou ainda mediante uma combinação de ambos. É possível que uma textura não apresente qualida- des táteis, mas apenas óticas, como no caso das linhas de uma página impressa Dondis (2015, p. 70).

Dondis (2015) ainda afirma que a maior parte das experiências das pessoas com a textura não é uma experiência tátil e, sim, uma experiência ótica. Essas texturas aparecem nos editoriais por meio de texturas naturais (plantas, flores e/ou pedras) ou como alto contraste nas vestimentas das modelos que geralmente continham miçangas, bordados ou rendas, além de uma cenografia com objetos e decorações marcantes e nítidas.

A textura vem como a principal subcategoria das imagens de moda na revista Numéro France. Na tabela quantitativa, a textura aparece em primeiro lugar com um total de 316 fotografias.

Nesta imagem, a textura do vestido, juntamente com o mix de cores e o movimento que a modelo negra dá à roupa faz com que o leitor se interesse imediatamente pela imagem na tentativa de compreensão da mesma.

Figura 27 – Texturas - Foto por Markn - Edição 191 6.2.3.3 Animais

A utilização de animais nas fotografias de moda tem uma participação ainda baixa nos editoriais, mesmo trazendo um alto nível de fascínio aos leitores. Nos editoriais, foram iden- tificados cavalos, aves e borboletas nas composições das imagens, totalizando cinco fotografias com animais. Para Sontag (2004), "imagens que idealizam (a exemplo da maioria das fotografias de moda e de animais) não são menos agressivas do que obras que fazem da banalidade uma virtude (como fotos de turmas escolares naturezas-mortas do tipo mais árido e retratos de frente e de perfil de um criminoso)".

Para apresentar por meio das imagens sua percepção da frágil condição desses animais, Balog selecionou diversos exemplares de espécies ameaçadas de extin- ção e criou composições que explicitam o artificialismo e a encenação, fazendo uso dos recursos empregados para despertar desejo pela mercadoria, próprios da fotografia de moda ou publicidade, aqui, segundo o autor, para destacar que a sociedade valoriza o supérfluo e não reconhece o que é verdadeiramente inestimável (BRUZZO, 2013, p. 291).

Desta forma, como a autora afirma acima, as fotografias de moda e publicidade utilizam os animais sem dar a devida importância a eles. Entretanto, o uso dos animais na imagem ajuda na divulgação para a grande massa.

Neste editorial, a modelo se veste como uma personagem country, ou seja, vaqueira americana e, para complementar o quadro, dois cavalos foram colocados para assinalar esse

ponto do velho oeste. Entretanto, neste editorial, o fotógrafo faz um contraponto da vaqueira, que usualmente mora no interior do país aonde não há muita água disponível – somente em forma de riachos e cascatas, mas não em forma de mar tropical com coqueiros como é o cenário deste editorial. Esse contraste também gera interesse ao leitor e o animal traz um detalhe mais natural à fotografia.

Os animais de grande porte, como é o caso dos cavalos nesta imagem, trazem um significado de força para uma imagem que tem a água como contraponto, mostrando a leveza e a maleabilidade para o editorial; mostrando, assim, que a mulher pode ter esses dois lados sobrepostos.

Figura 28 – Animais - Foto por Txema Yest - Edição 184

6.2.3.4 Água

Originalmente, a água tem um significado semiótico voltado para a limpeza, força, pureza e aparece como um dos principais pontos para o surgimento da vida. Trazer esse elemento natural para uma imagem, gera muitos tipos possíveis de interpretação: da vida à melancolia, do movimento às mudanças, da limpeza à sujeira. Muitas são as possibilidades de uso da mesma.

Entretanto, a água – que é um elemento natural muito utilizado nos editoriais – acaba por demonstrar tristeza e melancolia nas imagens da revista Numéro France, especialmente

quando unidas ao tom azul. Ela esteve presente em inúmeros editoriais e, em especial, e toda uma edição da revista que teve como principal tema a água.

Nesta edição especial, todos os editoriais apresentavam água de alguma forma em suas imagens. Desta forma, pode-se observar, de um modo geral, a aparição de 39 fotografias com este elemento.

Nesta imagem, a água vem descendo pelas escandas como se fosse uma pessoa prestes a ficar presa em uma inundação. A velocidade baixa do obturador garante o registro do movimento da água e a pose da modelo sugere a não importância que ela dá a este momento.

Figura 29 – Água - Foto por Katja Mayer - Edição 187

6.2.3.5 Fotos de respiro

As fotos de respiro são caracterizadas por fotografias menos poluídas visualmente, podendo ter apenas um detalhe do look da modelo ou podendo ser a foto de um objeto que está presente no cenário de tal editorial. Esta composição das fotos das modelos juntamente com as fotos de respiro trazem um ar de mídias sociais, como o Instagram, muito forte para o mundo da moda. No Instagram, chamam a foto de respiro como uma foto mais simples que serve como um colírio para um feed muito cheio de informações.

Para dar esse descanso aos olhos, os editoriais a partir do fim de 2017 começaram a colocar mais fotos de respiro em suas composições. No total, foram identificadas 21 fotografias de respiro.

Neste editorial, o fotógrafo decidiu utilizar muitas fotografias de respiro como forma de mostrar mais o ambiente em que estão – um antiquário com um grande número de peças

– de forma a contextualizar o leitor com o espaço, o tema e a história contada; além de trazer mais espaço na publicação para focar nas roupas da modelo. A foto de respiro tem o intuito de ser uma imagem de composição e, como o nome sugere, de respiro entre uma foto e outra – normalmente muito cheias de informação.

Figura 30 – Fotos de respiro - Foto por Mauro Mongiello - Edição 187

6.3 A LINGUAGEM FOTOGRÁFICA PUBLICADA NA REVISTA NUMÉRO FRANCE

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