• Nenhum resultado encontrado

1.5. ATUAÇÃO DO EEESIP NA PREVENÇÃO DE ACIDENTES RODOVIÁRIOS E NA PROMOÇÃO DA SEGURANÇA RODOVIÁRIA INFANTIL – CAPACITAÇÃO

1.5.2. Com os Pais/Cuidadores

Como anteriormente referido, tendo em conta que as crianças dada as suas especificidades necessitam de proteção, cabe aos adultos garantir a sua segurança sendo que os principais atores, neste contexto, são os pais/cuidadores. Estes devem estar atentos às situações de risco para que sejam corrigidas atempadamente e tomar medidas no sentido de assegurar a segurança da criança no transporte automóvel.

Os pais/cuidadores são os principais responsáveis pelo desenvolvimento e educação das crianças/jovens, sendo os seus padrões determinantes para o seu desenvolvimento, bem- estar e para a adoção de comportamentos seguros. Neste âmbito diz respeito à segurança rodoviária da criança/jovem enquanto passageiros nos automóveis (ANSR, 2014a; Fernan- des, 2015).

Segundo Papalia et al. (2006), os pais constituem uma importante influência pois são eles que fornecem à criança o primeiro ambiente de aprendizagem. É importante que os adultos sejam consistentes no seu comportamento e firmes nas suas atitudes para que a criança/jo- vem perceba quais são as regras. Os pais/cuidadores não devem ceder às birras das crian- ças/jovens quando estas não querem usar os sistemas de retenção no transporte ou outra medida de proteção (Fernandes, 2015). Devem ter consciência da importância das atividades educativas para que elas se tornem adultos saudáveis, autónomos e igualmente responsá- veis.

Segundo a Convenção dos Direitos da Criança, explícito na alínea e) do artigo 24.º, Parte I, exige-se aos Estados Partes: “Assegurar que todos os grupos da população, nomeadamente os pais (…), sejam informados, tenham acesso e sejam apoiados na utilização de conhecimentos básicos sobre a saúde (…) da criança, (…) bem como a prevenção de acidentes.” (Assembleia Geral das Nações Unidas, 1989: 8).

jul-20 | Página 42

A intervenção do EEESIP neste sentido, deve ser a de consciencializar e capacitar os pais/cuidadores para a adoção ou mudança de comportamentos promotores de saúde, por exemplo ao nível de hábitos de segurança no automóvel prevenindo acidentes e minimizando sequelas daqueles que possam ocorrer (Waksman & Pirito, 2005; Costa, Sá, Fraga, Dias & Serafino, 2011; DGS, 2013). Os pais/cuidadores devem ser alertados e ter plena consciência que devem ser os próprios a adotar condutas corretas para servir de exemplo para os filhos. É evidente que a família tem um papel importante enquanto elemento transmissor de valores. Sendo a família um elemento integrante do alvo da atenção do EEESIP, cabe a este profissional avaliar os conhecimentos e as competências dos pais/cuidadores relativamente ao desenvolvimento da criança e aos fatores de risco existentes fomentando a aquisição de competências e conhecimentos essenciais ao exercício de uma parentalidade eficaz. Importa valorizar os esforços efetuados pelos pais/cuidadores na saúde dos filhos, motivando-os para a difícil tarefa que é a parentalidade (OE, 2018).

Constata-se que os conhecimentos dos pais/cuidadores no que respeita a esta temática são insuficientes, influenciando os seus comportamentos na segurança da criança/jovem en- quanto passageiros no automóvel (Guardiano et al., 2003; Marujo et al., 2003; Borges et al., 2005; Ribeiro et al., 2006; Martins et al., 2007; Duarte et al., 2008; Costa et al., 2011; Fernan- des, 2015). Segundo o estudo realizado por Borges et al. (2005), apenas 51% dos pais referiu ter informação correta sobre a forma de transporte e no estudo realizado por Martins et al. (2007) apenas 52,6%. No entanto 63% dos inquiridos desconhecia qualquer tipo de campanha de prevenção realizada no sentido de alertar/ensinar a forma correta de transporte das crian- ças/jovens (Borges et al., 2005). Apenas 35% da amostra estudada transportava as crian- ças/jovens corretamente de acordo com as normas de segurança e sistemas de retenção adequados em vigor (Borges et al., 2005). Num estudo feito por Ribeiro et al. (2006) apenas 19% dos pais sabia utilizar corretamente o sistema de retenção e no estudo de Silva et al. (2017) apenas 18%.

Acredita-se que existe relação entre a incorreta utilização dos SRC e a falta de informação correta, consistente e clara dos pais/cuidadores (Duarte et al., 2008; Fernandes, 2015). Por este motivo, a implementação de várias medidas de prevenção de acidentes no transporte de crianças/jovens no automóvel desde a gravidez torna-se essencial (Martins et al., 2007; Fer- nandes, 2015). Investir no ensino e preparação dos pais/cuidadores para o transporte em segurança é de extrema importância e será determinante nas atitudes de promoção da segu- rança rodoviária infantojuvenil (Sandes & Levy, 2004; Ribeiro et al., 2006; Martins et al., 2007; Duarte et al., 2008; Fernandes, 2015).

jul-20 | Página 43

A intervenção do EEESIP deve iniciar-se no âmbito da vigilância da saúde da grávida, pelas inúmeras oportunidades de fornecer informação e realizar ensinos sobre o uso correto do cinto de segurança pela grávida, sobre a aquisição e utilização dos SRC e promoção do transporte seguro da criança.

Na maternidade, deverá ser dada continuidade aos ensinos no âmbito da segurança rodoviária infantil sendo o momento da alta hospitalar aquele que assume maior relevância. Deve ser supervisionada a colocação do bebé no SRC e garantida a sua segurança no momento da saída do Serviço.

Após a alta hospitalar, muitas famílias iniciam a vigilância da saúde da criança nos centros de saúde. Assim, é possível dar continuidade aos ensinos e avaliar dificuldades existentes pela proximidade e frequência com que os pais/cuidadores e crianças recorrem aos serviços de saúde.

Ao longo da infância, o PNSIJ recomenda que, para além da avaliação clínica, sejam abordados, sistematicamente, os cuidados preventivos, como forma de promoção da saúde e prevenção da doença. Nas consultas de vigilância de saúde infantil e juvenil, a segurança da criança/jovem constitui um parâmetro dos cuidados antecipatórios que deve ser abordado pelo EEESIP (Sandes & Levy, 2004; Waksman & Pirito, 2005; Ribeiro et al., 2006). Os

“(…) cuidados antecipatórios como fator de promo- ção da saúde e prevenção da doença, nomeada- mente facultando aos pais e outros cuidadores, os conhecimentos necessários ao melhor desempe- nho, no que respeita à promoção e proteção dos di- reitos da criança e ao exercício da parentalidade (…);” (DGS, 2013: 3)

são considerados imprescindíveis.

Sempre que possível, aquando o contacto com a criança/jovem e família, o EEESIP deve abordar esta temática em variados contextos.

A eficácia das respostas das famílias na adoção de comportamentos seguros depende, em grande parte, das competências dos profissionais na promoção da segurança. Em suma, as medidas de segurança que se iniciam durante a gravidez devem continuar após o nascimento e prosseguir ao longo da infância e da juventude.

A evidência tem demonstrado que apesar da utilização de SRC ser obrigatória por lei e a intenção de proteção das crianças no transporte automóvel ter aumentado consideravelmente, o seu uso é mais eficaz se for suportado por atividades educativas. Torna-

jul-20 | Página 44

se, desta forma, pertinente instituir estratégias e desenvolver ações direcionadas para educação rodoviária.