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Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados

2 ‘TRANSPORTE DA CRIANÇA/JOVEM: UMA VIAGEM EM SEGURANÇA’ – DE SENVOLVIMENTO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO DURANTE O PERCURSO

2.1. ENQUADRAMENTO DO PROJETO: DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS AOS CUIDADOS DE SAÚDE HOSPITALARES

2.1.1. Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados

Assumindo-se os CSP como a porta de entrada para o serviço nacional de saúde e considerando a importância dos mesmos na promoção da saúde e prevenção da doença, foi neste contexto que se iniciou o primeiro estágio tendo decorrido numa Unidade de Cuidados de Cuidados de Saúde Personalizados [UCSP] do Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Central, entre 20 de maio e 28 de junho de 2019.

Dada a sua importância, em 2008 o governo procedeu à reorganização dos CSP criando os Agrupamentos de Centros de Saúde. Estes são serviços públicos de saúde com autonomia administrativa e têm como missão garantir a prestação de CSP à população de uma determinada área geográfica, designadamente atividades de promoção da saúde e prevenção da doença, prestação de cuidados na doença e ligação a outros serviços para a continuidade dos cuidados (MS, 2008). De modo a atingir este objetivo, os Agrupamentos de Centros de Saúde estão divididos em unidades funcionais agrupadas no espaço físico de um ou mais centros de saúde que se complementam e variam consoante os problemas e as necessidades de saúde a satisfazer em determinada área. Em cada uma destas unidades deverá existir uma equipa multiprofissional com autonomia organizativa e técnica, cooperando com outras unidades funcionais do centro de saúde e do agrupamento de centros de saúde (MS, 2013).

A UCSP, onde foi realizado o estágio e iniciado o projeto de intervenção, encontra-se em funcionamento desde março de 2007, de segunda a domingo das 9 às 21 horas e possui como missão prestar cuidados de saúde personalizados de qualidade a toda a população por ela abrangida, garantindo a acessibilidade, a continuidade e a globalidade desses mesmos cuidados contribuindo para a melhoria do estado de saúde dessa população, obtendo ganhos em saúde (MS, 2013). Encontra-se inserida num centro de saúde sediado num dos concelhos do distrito de Évora, composto por 2 freguesias e 6 extensões de saúde, abrangendo no ano de 2018 uma população residente de 6.387 habitantes, dos quais 17,3% se encontram na faixa etária dos 0-19 anos (PORDATA, 2020b). Em fevereiro de 2020, o número de inscritos na UCSP era de 6.403 utentes, dos quais 1.043 correspondem a crianças/jovens (MS, 2020).

A UCSP é constituída por uma equipa multiprofissional composta por enfermeiros, ape- nas 1 especialista em enfermagem de saúde infantil e pediátrica, médicos e administrativos. Esta equipa auto-organizada aposta na complementaridade de tarefas, sem supremacia de um grupo profissional sobre outro, formando um ambiente de trabalho mais satisfatório e com vista a alcançar o bem-estar e qualidade de vida máxima do indivíduo, da família e do grupo na comunidade. A prestação de cuidados assenta na metodologia de enfermeiro de família, sendo efetivada pela equipa multidisciplinar constituída por médico e enfermeiro. O enfermeiro

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de família assume a responsabilidade pela prestação de cuidados de enfermagem globais a famílias em todas as fases da vida e em todos os contextos da comunidade, prestando cuida- dos gerais e específicos ao indivíduo e família nos três níveis de prevenção, em articulação ou complementaridade com os restantes membros da equipa de saúde (MS, 2014). Em 2011, segundo os censos, a presente UCSP servia um total de 2.809 famílias (PORDATA, 2015).

A UCSP atua em conformidade com o preconizado pela DGS nos diversos programas nacionais de saúde para atender às necessidades da população. Tendo em conta a área de atuação e o grupo alvo de cuidados no âmbito deste estágio destacam-se: o PNSIJ e o Pro- grama Nacional de Vacinação. Existem ainda outros programas, mas no âmbito da Unidade de Cuidados na Comunidade como o Programa Nacional de Saúde Escolar. Importa referir que para o desenvolvimento da atividade profissional no âmbito destes programas, no que respeita ao espaço físico a UCSP dispõe de diversos gabinetes partilhados pelos vários ele- mentos da equipa multidisciplinar, sendo eles: sala de vacinação e de consulta de saúde in- fantil e juvenil. Estas salas diferem das restantes pela decoração infantil sendo destinadas exclusivamente ao atendimento das crianças e jovens proporcionando um ambiente acolhe- dor, humanizado e favorável à prestação de cuidados.

Na área da saúde infantojuvenil a UCSP dispõe, quer na sede quer nas extensões de saúde, de consultas de enfermagem e médicas destinadas aos seus utentes. Na sede da UCSP estas consultas encontram-se programadas à segunda-feira das 15 às 17 horas e de quarta a sexta-feira das 14 às 16 horas. Os dados mais recentes disponíveis na PORDATA reportam ao ano de 2012, no qual foram realizadas 1.620 consultas de saúde infantil e juvenil, sendo a quarta unidade funcional do Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Central com menos consultas desta especialidade neste ano (Instituto Nacional de Estatística [INE], 2020). Neste concelho, em 2018, registaram-se 42 nascimentos (INE, 2019a) e 0 óbitos na faixa etária dos 0-19 anos (INE, 2019b). A taxa bruta de natalidade referente a este concelho no ano de 2018 foi de 6,5‰ encontrando-se abaixo das médias da região Alentejo Central e de Portugal que foram de 7,6‰ e 8,5‰, respetivamente (INE, 2019c). Verifica-se que esta taxa tem seguido uma tendência decrescente desde 2016.

A inscrição de RN na UCSP ocorre após a receção da notificação de nascimento enviada pela unidade hospitalar onde ocorreu o parto. Desta forma é possível à equipa de enfermagem agendar a visita domiciliária e prestar os primeiros cuidados no âmbito dos CSP, nomeada- mente a realização do teste de diagnóstico precoce e agendar a primeira consulta de vigilância de saúde infantil.

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De acordo com as orientações técnicas do PNSIJ é indiscutível o impacto das sessões de vigilância da saúde infantil e juvenil pertinentes e de qualidade. A vigilância, manutenção e promoção da saúde da criança e do jovem são um dos objetivos dos profissionais e serviços de saúde. Vigiar o desenvolvimento e crescimento da criança/jovem desde o nascimento até à maioridade [18 anos] tendo em atenção as variações dentro da normalidade, propicia o desenvolvimento de ações associadas aos hábitos de vida saudáveis, vacinação, prevenção de problemas e agravamentos à saúde, sendo mais fácil detetar precocemente possíveis al- terações que comprometam a qualidade de vida e assim prestar cuidados em tempo oportuno, minimizando os problemas da criança (DGS, 2013; Pinto, 2009).

Os CSP nesta área seguem as guidelines do PNSIJ. As consultas de saúde infantil e juvenil realizam-se em idades-chave do crescimento e desenvolvimento das crianças e jovens e em momentos marcantes da vida destes indivíduos, como por exemplo a entrada para a escola (DGS, 2013). Durante a consulta, os parâmetros a avaliar divergem consoante a idade- chave no entanto existem parâmetros que são sempre avaliados: parâmetros físicos e fisiológicos [peso, altura/comprimento, índice de massa corporal, perímetro cefálico até aos 36 meses, pressão arterial a partir dos 3 anos, dentição], o desenvolvimento psicomotor com recurso à Escala de Desenvolvimento Psicomotor de Mary Sheridan Modificada, o desenvolvimento cognitivo, socio-afetivo, o comportamento, a acuidade visual e auditiva, a linguagem, a capacidade de comunicação e a postura permitindo a deteção de sinais de alarme e possíveis problemas/alterações, a necessidade de intervenção e/ou o encaminhamento para outros profissionais de saúde, caso haja necessidade. Atende-se às preocupações da criança/jovem e dos pais e questionam-se ambos sobre as suas atividades, escola, ocupação de tempos livres, atividades desportivas, saúde oral, sono, alimentação, higiene, puberdade, segurança e acidentes. A avaliação da dinâmica familiar e rede de suporte sociofamiliar também é efetuada nestas consultas pela importância que têm no desenvolvimento da criança/jovem. Realizam-se os cuidados antecipatórios ao serem abordadas várias temáticas e realizados ensinos pertinentes consoante as necessidades identificadas. Segundo Pinto (2009), o conhecimento das diferentes etapas do desenvolvimento, a sua antecipação e a capacitação dos pais sobre atividades que podem ajudar a promover a aquisição das competências, podem evitar alguns dos problemas relacionados com fatores ambientais e erros ou lacunas na estimulação da criança e podem promover a saúde e estabelecer padrões saudáveis (Potter, Perry, Stockert & Hall, 2013). Também se verifica nestas consultas o cumprimento do esquema vacinal incentivando a adesão ao mesmo e, caso não esteja atualizado, procede-se à vacinação em atraso. A imunização, ao conferir proteção imunológica contra determinadas doenças infeciosas,

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promove a integridade física e psicológica da criança contribuindo para que todo o processo de desenvolvimento ocorra de uma forma saudável e sem intercorrências (OE, 2010). Para além da proteção pessoal, a vacinação é benéfica para toda a comunidade pois quanto maior for o número de indivíduos vacinados menor a probabilidade de transmissão de uma determinada doença (DGS, 2016). O impacto da vacinação na saúde da população mundial é inquestionável pois teve um efeito bastante importante na redução da mortalidade e na erradicação de algumas doenças infeciosas. A vacinação constitui uma forma de intervenção promotora de saúde e preventiva de doença pois permite salvar mais vidas e prevenir mais casos de doença do que qualquer outro tratamento médico (DGS, 2016). Aos profissionais de saúde compete divulgar o programa, motivar as famílias a cumpri-lo e aproveitar todas as oportunidades para vacinar os indivíduos. Na UCSP a vacinação programada ocorre à segunda-feira das 18 às 20 horas e à quinta-feira das 9 às 13 horas. Atendendo às metas definidas pela DGS no âmbito do Programa Nacional de Vacinação a cobertura vacinal deve alcançar “(…) 85% para a vacina contra infeções por vírus do Papiloma humano (HPV) e 95% para as restantes vacinas.” (DGS, 2019: 4).

No final da consulta todos os dados são registados e atualizados nos sistemas informáti- cos SClínico®, com utilização da linguagem comum a todos os profissionais de enfermagem, e no SINUS® – programa de registo de vacinação. Em suporte papel os registos efetuam-se no Boletim de Saúde Infantil e Juvenil e no Boletim Individual de Saúde assegurando a conti- nuidade dos cuidados.

De salientar que a UCSP dispõe de uma sala de espera destinada às crianças/jovens e famílias enquanto aguardam pelos procedimentos e/ou consultas. Esta sala encontra-se equi- pada com brinquedos lúdicos e didáticos adequados às crianças/jovens e informação exposta por meio de cartazes abordando diversas temáticas destinados aos pais/cuidadores/familiares que acompanhem a criança/jovem constituindo uma mais-valia na promoção da saúde e pre- venção da doença.