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PAISAGEM CULTURAL NO BRASIL

No documento Doutoramento Final (páginas 57-61)

CAPITULO I PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL E A DINAMICA DO

1.3. PAISAGEM

1.3.6. PAISAGEM CULTURAL NO BRASIL

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Numa perspectiva histórica sobre a preservação das paisagens no Brasil, vamos perceber que o Decreto-Lei n° 25 de 1937 já contemplava as paisagens culturais, vejamos:

§ 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pelo natureza ou agenciados pelo indús- tria humana.

Porém, mesmo que o Decreto tenha estabelecido que poderiam ser inscritas no Livro do Tombo as paisagens, tanto por suas características naturais quanto pelo resul- tado da ação humana, esta não se deu de forma efetiva, mesmo sendo ele bastante abrangente no que diz respeito à conservação das obras da natureza ou até mesmo as resultantes da interação entre o homem e o ambiente natural.

Somente em 2009, com a criação da Coordenação de Paisagem Cultural do Iphan, a chancela da Paisagem Cultural Brasileira foi instituída e já instiga inúmeras reflexões quanto à sua aplicação e ao próprio conceito.

A chancela é uma espécie de selo de qualidade, um instrumento de reconhecimento do valor cultural de uma porção definida do território nacional, que possui características especiais na interação entre o homem e o meio ambiente. Sua finalidade é atender o interesse público por determinado território que faz parte da identidade cultural do Brasil. A paisagem chancelada pode usufruir do título desde que mantenha as características que a fizeram merecer esta classificação, sendo, por isso necessário desenvolver um Plano de Gestão. (Cartilha Paisagem Cultural, IPHAN)

A portaria 127/2009/IPHAN, que estabeleceu a chancela como instrumento de preservação da paisagem cultural, conceitua no artigo 1º Paisagem Cultural Brasileira “uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores”.

Importa ressaltar que a chancela não é um instrumento de proteção, tal como o tombamento. Sobre a porção do território chancelada como paisagem cultural não recairão sanções ou restrições administrativas e/ou jurídicas que impeçam sua transformação. Se for o caso (e em muitas vezes será) a chancela deverá ser acompanhada, antecedida ou complementada pelo tombamento, pelo registro e/ou por outras formas de proteção, incluindo os mecanismos disponíveis em outras esferas (instrumentos de proteção ambiental, de planejamento urbano, de fomento e outros). Tal

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entendimento encontra respaldo nos artigos 2° (da finalidade) e 3° (da eficácia) da Portaria 127/2009:

Art. 2º. A chancela da Paisagem Cultural Brasileira tem por finalidade atender ao interesse público e contribuir para a preservação do patrimônio cultural, complementando e integrando os instrumentos de promoção e proteção existentes, nos termos preconizados na Constituição Federal.

Art. 3º. A chancela da Paisagem Cultural Brasileira considera o caráter dinâmico da cultura e da ação humana sobre as porções do território a que se aplica, convive com transformações inerentes ao desenvolvimento econômico e social sustentáveis e valoriza a motivação responsável pela preservação do patrimônio.

Para que a chancela não resulte em mera declaração e possa integrar-se no rol de instrumentos de preservação, torna-se necessária a definição prévia de um pacto de gestão entre os diversos agentes que atuam – com maior ou menor ênfase – na porção do território a ser chancelada. O pacto tem como objetivo traçar, minimamente, um plano de atuação de curto, médio e longo prazo, nunca deixando de considerar “o caráter dinâmico da cultura e da ação humana sobre as porções do território a que se aplica”, buscando a convivência harmoniosa com “as transformações inerentes ao desenvolvimento econômico e social sustentáveis” e valorizando a “motivação responsável pela preservação do patrimônio”. Por isso, para que possam ser estabelecidas ações de planejamento, ordenamento territorial, gestão e fomento da porção do território a ser chancelada e das práticas culturais que a particularizam como paisagem cultural, é necessário o estabelecimento do “pacto de gestão”.

Art. 4º. A chancela da Paisagem Cultural Brasileira implica no estabelecimento de pacto que pode envolver o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, visando a gestão compartilhada da porção do território nacional assim reconhecida.

Caso contrário, a possibilidade da chancela tornar-se inócua é grande e, desaparecidos os fatores que motivaram o reconhecimento daquela porção peculiar do território como Paisagem Cultural Brasileira, a chancela poderá ser cancelada num prazo máximo de dez anos (artigos 15o e 17o da Portaria Iphan 127/2009).

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Síntese do capítulo

A cidade, por princípio, é um bem comum àqueles que nela vivem. É constituída e marcada pela diversidade. Viver a cidade é, portanto, viver a dinâmica da realidade cotidiana, é estar inserido nos fluxos da vida diária com tudo o que esses propõem. É como estar aberto não só ao conhecido, ao que é familiar, mas sobretudo, estar disponível ao olhar do estranho e acima de tudo, um estar de acordo. No entanto, apesar de a cidade ser, eminentemente, uma organização coletiva, ela cresce, na maioria das vezes, a partir de uma lógica de ocupação privada e não de uma organização do espaço de uso público. É o indivíduo que define a sua porção de território e a marca com uma presença individual no momento da definição de sua propriedade privada. E é na lógica da organização das partes individuais que a cidade vai configurando sua morfologia, e com isso, configura uma identidade coletiva baseada em arranjos de partes mínimas. Portanto, a cidade modela o solo territorial a partir de espaços privados com destinações restritas, fazendo com que os espaços públicos, de bem comum a todo o cidadão, sejam meros resultantes dessa distribuição. Assim, renegados a um segundo plano. Sabe-se que as forças políticas e econômicas dentro da cidade são por demais desequilibradas. Sendo assim, não é possível que se deixe a ocupação do solo territorial urbano ao sabor do mercado. Considera-se então que, por um princípio ético, o interesse coletivo esteja acima do interesse individual. Nesse sentido, a revalorização atual do passado tem gerado uma constante demanda pela memória dos lugares, em especial pela memória das cidades. Neste capítulo, objetivamos compreender os processos de formação das cidades e a dinâmica do processo arquitetônico e paisagístico.

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CAPÍTULO II - OS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DO VALE DO ITAJAÍ E A PAISAGEM CULTURAL

O povoamento do Médio Vale do Itajaí teve início no séc. XIX, decorrendo de uma cultura histórica recente, se compararmos com as primeiras cidades Européias. A partir de 1850, a “Lei de Terras” renova a política colonizadora do Brasil Império, o povoamento do Vale do Itajaí toma impulso, com a colônia Blumenau. A distribuição e o povoamento das terras do Vale do Itajaí seguiu à maneira tradicional da colonização alemã. As primeiras acomodações dos imigrantes na região, eram rudimentares e feitas de estruturas simples e temporárias. As tipologias arquitetônicas e os sistemas construtivos, assim como a ocupação do solo, eram baseados no país de origem dos imigrantes. Inicialmente, as casas eram menos adaptadas à região, depois aconteceram modificações, que foram posteriormente incorporadas definitivamente nas edificações. Desde a chegada dos primeiros imigrantes até 1920, as transformações da região foram relativamente estáveis. Depois desta época, com o processo de industrialização na região, as transformações sociais e econômicas mostraram seu efeito. As cidades desenvolveram-se rapidamente e as áreas rurais transformaram-se, como resultado, uma grande parcela da paisagem histórica está hoje sob ameaça.

2.1. O PROCESSO DE FORMAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DO VALE DO ITAJAÍ E

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