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O PROCESSO DE FORMAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DO VALE DO ITAJAÍ E

No documento Doutoramento Final (páginas 61-67)

CAPITULO I PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL E A DINAMICA DO

2.1. O PROCESSO DE FORMAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DO VALE DO ITAJAÍ E

Desde o início do século XVI, o estado de Santa Catarina foi sempre ocupado “artificialmente” – por indução oficial. A definição de limites ao sul do Brasil e a ocupação de espaços demográficos estratégicos foram as grandes razões para o povoamento histórico de Santa Catarina. Aqui não ocorreu, até o século XX, nenhum ciclo econômico que estimulasse o povoamento espontâneo. O pau-brasil era pouco abundante, a cana de açúcar ficava distante dos centros de distribuição do comércio na Europa, não havia metais preciosos, nem borracha, algodão, café ou tabaco; em suma não havia recursos naturais que justificassem a fixação da população, em consequência o investimento oficial na ocupação do território por utilidade administrativa.

62 Figura 04. Mapa de Santa Catarina

Fonte: www.webcarta.net

O Estado de Santa Catarina possui clima ameno para os padrões brasileiros, situado próximo ao litoral e servido de rios que possibilitavam imediata ligação com portos e com as cidades já existentes, foi neste espaço que se estabeleceram as primeiras colônias de imigrantes.

Mapa 03. Mapa do Brasil, em vermelho Santa Catarina.

63 A colonização compreende a organização de vastos espaços, a ocupação de terras novas, a criação ou o acréscimo de bens de comercio, a transferência de populações, o encontro entre humanidades diversas e elementos de civilização que lhes são próprios. (Ribeiro, O., 1970:88)

Os testemunhos são unânimes em assegurar que, apesar dessas vantagens geográficas, não foi pequeno o sacrifício exigido dos colonos, principalmente dos pioneiros que desbravaram as primeiras clareiras. A chegada aos primeiros núcleos representava invariavelmente um golpe poderoso. Os imigrantes esperavam encontrar muito mais do que a mata praticamente virgem que os aguardava como que apresentando a dura realidade que teriam pela frente. A rudeza dos ranchos, o tamanho da mata, o calor, a falta de provisões, a demora na demarcação dos lotes e do pagamento dos serviços prestados, a ausência de quase tudo o que identificavam como conforto e civilização, fez com que muitos esmorecessem. As doenças e eclosão de epidemias cobraram um alto tributo de vidas.

Mapa 05. Mapa de Lotes da colônia Blumenau -1864. Fonte: Arquivo histórico de Blumenau

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Com todas as dificuldades e percalços, engana-se quem analisa a colonização promovida pelos imigrantes como obra exclusiva dos operosos contingentes provenientes da Europa Central e da Itália a partir do século XIX. Além da participação governamental, também foi importante a colaboração de antigos moradores e conhecedores das regiões onde se instalavam os imigrantes, imprescindíveis nos primeiros anos da colonização e importantes nos seus desdobramentos. As colônias de imigrantes não se urbanizaram instantaneamente, ao contrário, os empreendimentos coloniais eram predominantemente agrícolas e os centros urbanos desenvolveram-se lentamente. Nos primeiros anos, a característica básica das colônias de imigrantes era o contínuo prolongamento de novas linhas de pioneiros que se instalavam cada vez mais distantes do núcleo original dos empreendimentos. Distribuindo-se ao longo de picadas, linhas, estradas e cursos de rio, os lotes acabaram por ocupar toda a região, cultivando as várzeas, reservando até a meia encosta para a pastagem e preservando as cumeadas. Assim, era de esperar que variasse bastante o espaço de tempo necessário para os imigrantes construírem os abrigos, as casas provisórias e finalmente uma construção permanente.

Ingresso de Imigrantes na Colônia Blumenau

Ano Entradas imigrantes Total populacional

1860 91 947 1861 548 1484 1862 607 2068 1863 168 1864 127 2027 1865 199 1866 162 2625 1867 223 2861 1868 407 1869 982 5861 1870 33 6188 1871 23 1872 207 1873 426 7156 1874 362 1875 1129 1876 1078 10701 1877 370 1878 893 1879 460 13976 1880 457

65 Tabela 03. Ingresso de imigrantes na colônia Blumenau.

Fonte: Dossie de tombamento vol.01/IPHAN

Em um século de imigração, imagina-se que o Brasil tenha recebido um numero aproximado de 5 milhões de imigrantes, a grande maioria nos estados do Sul, multiplicando varias vezes o seu contingente populacional. Conforme o volume 01 do Dossiê de Tombamento da área de imigração20, proporcionalmente, o grupo de alemães é o mais representativo, chegando a cerca de 40% de descendentes no estado. Seguem- se os descendentes de italianos, que somam um total aproximado de 30% da população. Os poloneses representam uma fatia em torno de 5% dos descendentes de imigração.

As primeiras acomodações dos imigrantes eram rudimentares e feitas de estruturas simples e temporárias. Na época da fundação da colônia Blumenau, foi construído um galpão rústico para instalar temporariamente os imigrantes. Depois do galpão provisório, abrigo coletivo dos primeiros dias, os colonos dirigiam-se para os lotes que lhes haviam sido destinados, com frequência encontrados sem demarcação e quase sempre ainda cobertos por matas naturais. Durante a fase preliminar de instalação, conforme cartas, relatos e ilustrações históricas da época, era comum a construção de uma cabana também provisória, quase uma choupana, construída com os materiais disponíveis no local, de pau-a-pique e madeira, vedadas com barro e fibras e cobertas com folhas de palmeiras.

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66 Figura 03. Colônia Blumenau.

Fonte:<http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon580506/icon580506.jpg>. Acesso em: 8 set. 2015

Figura 04. Dr. Blumenau e 17 imigrantes marcam o inicio da Colonia Blumenau – 1850. Fonte: Angelina Wittmann.

Esse abrigo primitivo marcava os tempos de pioneirismo e não podia responder senão temporariamente pelas necessidades culturais destes povos, tradicionalmente

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habituados a longas permanências no interior de suas residências em virtude principalmente dos rigores do clima e do inverno. Passada esta fase de pioneirismo, que correspondia ao desmate e aos primeiros cultivos, assim que as condições permitiam, impunham-se os anseios culturais e as noções de habitação trazidas do velho continente. Construía-se então a casa provisória, ainda pouco mais do que o abrigo dos primeiros dias, mas já dotada de paredes, telhados, portas e janelas. Em alguns casos, estas construções intermediárias já se pareciam bastante com as construções enxaiméis que chegaram até os nossos dias. Em muitas situações, os imigrantes passaram dos ranchos à casa enxaimel, e em outras situações, quando as colônias já estavam consolidadas, foi possível chegar à construção da casa permanente sem que as famílias tivessem que passar por ranchos ou edificações provisórias.

2.2. COLONIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO – (FASE DA AFIRMAÇÃO)

Transcorridos os primeiros anos e em alguns casos até as primeiras décadas, quando finalmente os núcleos coloniais consolidaram-se social e economicamente, apareceram as primeiras serrarias, as olarias e também as primeiras casas permanentes da região. Esta segunda fase era alcançada em tempos variáveis. Em alguns casos ocorria pouco depois da chegada dos imigrantes, como atestam algumas das casas mais antigas ainda existentes em Blumenau, anteriores a 1860 e algumas gravuras que representam construções deste tipo já em 1850 - no ano da fundação da Colônia Dona Francisca – a atual Joinville.

O traçado dos primeiros lotes urbanos surgiu a partir da localização e orientação do rio Itajaí Açu e ribeirões. Este cuidado estava relacionado à acessibilidade através destes caminhos naturais, e também, a facilidade do livre acesso à água, para fins de uso doméstico na propriedade e para irrigação da plantação. O rio Itajaí Açu e os ribeirões Garcia, Fresco, Velha e Bom Retiro foram de grande importância na definição do traçado do Stadtplatz em 1852, registrado no primeiro mapa(figura 05). Também houve reflexo das cidades alemãs sobre e estruturação urbana a partir da rua principal e rio.

Nesta fase, por volta de 1880, até aproximadamente 1940 é que foi construída a maior parte do conjunto edificado subsistente da arquitetura de imigração, num período caracterizado por uma economia basicamente agrícola e de subsistência. No início, como vimos, as construções obedeciam a modelos simples, ligados às necessidades vitais de seus usuários. Assim que as edificações tornaram-se mais sólidas, foi comum o

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