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PAISAGEM CULTURAL

No documento Doutoramento Final (páginas 50-52)

CAPITULO I PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL E A DINAMICA DO

1.3. PAISAGEM

1.3.1. PAISAGEM CULTURAL

A conceituação de paisagem cultural apareceu no inicio do século XX, pelos estudos e proposições do professor Carl Sauer, que estendeu seu uso nos ambientes universitários norte-americanos na década de 1920. Para Sauer, uma paisagem cultural é o resultado da ação de um grupo social sobre a paisagem natural. Assim, “a cultura é o agente, o natural o meio; a paisagem cultural o resultado”. (Gazzaneo,2009). No Brasil, esse conceito foi utilizado também por Argollo Ferrão (2005) para o estudo da paisagem do café.

Quem, vindo de fora, estabelece um primeiro contato com uma paisagem que lhe é estranha, fa-lo à luz da sua história pessoal, da sua cultural e dos parâmetros com que habitualmente avalia, de um ponto de vista estético, as paisagens com que contacta e convive. O mesmo não se passa com quem mantém, com aquela mesma paisagem, um contato permanente. Seja por nela viver, e com ela manter um sistema continuado de relações com o que constrói a sua identidade, seja pelo sistema de valores que contribui para a avaliação da sua qualidade. Perante a mesma realidade objetiva, o território, num sempre a paisagem que cada um vê, sente e interpreta é a mesma. (Fadigas, 2011:133)

Neste sentido, a paisagem é um elemento de identificação cultural. São representativas do modo como, em circunstâncias concretas de relação com o meio natural, o homem construiu e manteve um sistema continuado de relações consolidadas. Em resultado do que formaram paisagens únicas, com identidade e expressão própria, de valor excepcional e autenticidade; “As representam, assim, um tipo de patrimônio cultural, onde os elementos naturais e edificados se misturam e se valorizam mutuamente”. (Fadigas, 2011:131)

O conceito de paisagem, relacionado com o de proteção do patrimônio cultural (lato sensu), evoluiu ao longo de todo o século XX até chegar aos consensos expressos na Convenção Europeia da Paisagem (Conselho da Europa, 2000) e na Carta de Cracóvia 2000. O termo paisagem designa, nos termos da Convenção Europeia da Paisagem(2000), “[...] uma parte do território, tal como é apreendida pelas populações, cujo caráter resulta da ação e da interação de fatores naturais e ou humanos. Onde a delimitação de uma paisagem e a sua proteção justificam-se, [...] pelo seu valor patrimonial resultante da sua configuração natural e ou da intervenção humana”.Para a Carta de Cracóvia 2000, item 9,

dos elementos humanos da face da terra ora a partir de influencias naturais que eles revelem, ora da sua ação transformadora do espaço onde se manifestam. (Ribeiro, O, 1970:71)

51 As paisagens reconhecidas como património cultural são o resultado e o reflexo da interação prolongada nas diferentes sociedades entre o homem, a natureza e o meio ambiente físico. São testemunhos da relação evolutiva das comunidades e dos indivíduos com o seu meio ambiente. Neste contexto, a sua conservação, preservação e desenvolvimento centram-se nos aspectos humanos e naturais, integrando valores materiais e intangíveis.(Carta de Cracóvia,2000)

Parafraseando Magalhães(2001), a identidade da paisagem não significa estagnação. Pelo contrario, é condição do seu valor patrimonial e fundamento dos objetivos e ações que visam a sua salvaguarda, ordenamento e valorização; mantendo e permitindo a sua evolução num quadro de estabilidade ecológica e ambiental. A manutenção de estruturas paisagísticas coerentes, a sobrevivência de manchas de vegetação autóctone, ou ate mesmo a sua recriação, permitem a compatibilização entre o uso e a exploração econômica normal e as funções ambientais e culturais; permitindo que possam, de forma continuada, persistir os elementos e valores naturais que estruturam as redes de conservação da natureza e dos seus biótipos, mantendo a sua organização, imagem e identidade. E conforme Gordon Cullen, “Se aceitarmos que o exterior pode ser ocupado, a arquitetura não é, em si, o suficiente”. (Cullen, 1996:30), afinal, as paisagens contam a história da civilização humana e da sua ação sobre o território.

Neste sentido, todo individuo traz consigo, como memória individual e coletiva, esquemas internos de espaço e da sua organização, adquiridos no inicio da vida, e formas diversificadas de percepção.

Paisagem é memória. Mas, para além dos seus limites, a paisagem ostenta as marcas do passado, reconstrói recordações, projeta no olhas as sombras de outro tempo que já existe só como reflexo de si mesmo na memória do viajante” (Llamazares, 1990 in Fadigas, 2011)

Enfim, a paisagem é construída pela memória, pela cultura e pela emoção.

Ao separarmos os objetos dos lugares, os lugares das paisagens, as paisagens dos territórios e ainda, dentro de cada um deles, seus diversos elementos, dimensões e ações e, entre elas, as diversas interações, estamos simplesmente, mutilando-os. Mutilando a realidade na qual se insere, ocorre e se constrói e reconstrói o patrimonio, juntamente com tantas outras coisas. “Coisas” estas que não podem ser simplesmente desconsideradas do olhar da preservação cultural. (Figueiredo, 2014:430)

Assim sendo, o estudo das paisagens não pode deixar de considerar os fenômenos ligados a economia como fenômenos próprios dos processos de uso do solo e tantos outros incidentes. A economia esta presente nas paisagens porque nela se faz

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sentir, de forma muito clara, o sistema de trocas, criador de riqueza e de satisfação de necessidades, que torna possível a vida em sociedade num sentido de progresso. A estrutura e organização das paisagens é também o resultado do modo como as atividades econômicas acontecem e se desenvolvem, diversificando o tipo e a intensidade das relações dos homens com o meio. A economia comporta-se como um agente modelador de paisagem, de forma direta e indireta. Os seus impactos podem ser fatores de degradação ambiental e visual, ou instrumentos essenciais para a requalificação ambiental e para a preservação dos recursos do território.

Neste sentido, concordamos com a arquiteta e urbanista Vanessa Bello Figueiredo (2014) no que tange a Paisagem Cultural como um conceito e não como uma categoria de patrimônio.

No documento Doutoramento Final (páginas 50-52)