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Spatializing print

3. Paisagens tipográficas

Este capítulo reúne textos sobre a presença de elementos tipográficos (letras, números e sinais) no espaço público e na paisagem urbana das cidades. No primeiro deles, ‘Paisagens tipográficas: uma categorização’ retomo e atualizo a categorização dos elementos da paisagem tipográfica que elaborei com minha co-autora Anna Paula Gouveia em 2007, e que apresentamos, desde então, em diversas ocasiões (inclusive em Gouveia, Farias, Pereira & Barreiros 2007 e Gouveia, Farias & Gatto 2009). Junto com colegas e estudantes ligados ao nosso grupo de pesquisa, Gouveia e eu investigávamos a questão sistematicamente desde 2003 quando elaboramos o quadro de categorias original.

Uma vez configurada, a categorização nos permitiu entender melhor quais eram nossos principais interesses de pesquisa naquele momento — tipografia arquitetônica, e, dentro dela, a questão das epígrafes arquitetônicas. A divulgação do quadro teve impacto relevante (os artigos estão hoje entre os 10 mais citados de minha produção segundo o Google Scholar), servindo como referência para estudos realizados em outras partes do Brasil e no exterior. Como não podia deixar de ser, até por conta dos desafios colocados por outros parceiros de pesquisa e comentadores, estamos constantemente revisitando o quadro. Mais recentemente, temos discutido a inclusão de uma nona categoria, formada por elementos não fixos —ainda mais efêmeros, portanto, do que a oitava categoria original. O breve ensaio apresentado aqui busca caracterizar esta inclusão, e também inclui respostas a algumas observações feitas por comentadores.

Em seguida, em ‘Técnicas de mapeamento aplicadas ao estudo das epígrafes arquitetônicas paulistanas: os casos Siciliano & Silva e Ramos de Azevedo,’ revisito artigo a respeito do mesmo tema publicado, junto com Gouveia e outros colaboradores, no periódico InfoDesign, em 2008 (Farias, Gouveia, Pereira, Gallo & Gatto 2008), complementando-o com resultados de análises apresentados mais recentemente com Gouveia (Farias & Gouveia 2012). Neste texto, argumento sobre a relevância do uso de mapas para as investigações sobre paisagens tipográficas, dando como exemplos estudos sobre as epígrafes arquitetônicas de Siciliano & Silva, e de Ramos de Azevedo e seus associados, Severo & Villares. Entendo que é neste contexto que surge minha convicção de que mapas, em especial aqueles que associam localização espacial e tempo, são importantes instrumentos heurísticos para a pesquisa em design, expressa também ao final do capítulo sobre memória (tipo)gráfica.

Segue-se a ele uma versão, com pequenas revisões e atualizações, do artigo ‘Epígrafes arquitetônicas como elementos da paisagem tipográfica das cidades: notas para um estudo comparativo,’ originalmente redigido em co-autoria com Anna Paula Gouveia e Catherine Dixon, para ser apresentado na edição de 2012 do congresso P&D Design. Neste trabalho, buscamos sintetizar o conhecimento que tínhamos até o momento a respeito do

fenômeno das epígrafes arquitetônicas na Europa e América Latina, delineando, assim, parâmetros e critérios para futuras investigações.

Um dos apontamentos importantes, apresentados nas conclusões deste artigo, foi a necessidade de levantamentos mais sistemáticos e aprofundados em cidades européias que, por seu protagonismo cultural e também por serem centros de formação de arquitetos e construtores entre o final do século XIX e início do século XX, poderiam ter influenciado o aparecimento deste tipo de inscrição nas paisagens tipográficas latino americanas. Encerro com versão atualizada do artigo ‘Epígrafes arquitetônicas paulistanas e londrinas: uma comparação sob a perspectiva do design da informação,’ no qual apresento alguns resultados obtidos a partir de investigação realizada em Londres, em 2014, motivada por esta conclusão.

3.1. Paisagens tipográficas: uma categorização

Este breve ensaio atualiza a categorização originalmente proposta em trabalho apresentado no 3o Congresso Internacional de Design da Informação, e publicado no periódico InfoDesign (Gouveia, Pereira, Farias e Barreto 2007), ampliada com mais exemplos em artigo publicado no periódico Visual Communication (Gouveia, Farias & Gatto 2009), e que atualmente está sendo revista por mim, em parceria com Anna Paula Silva Gouveia e Catherine Dixon.

A identidade visual, estética e cultural das cidades é formada, entre outras coisas, por seus elementos gráficos. Estes funcionam tanto como indicadores de fluxos urbanos quanto como marcos que identificam e nomeiam pontos da cidade, auxiliando na definição de sua estrutura informacional. As letras, números e sinais que encontramos no ambiente urbano podem ser entendidos, assim, como parte do discurso identitário e comunicativo da cidade, concepção que encontra respaldo nas reflexões de Kevin Lynch sobre a imagem da cidade (Lynch 1960).

Antecedentes relevantes para as investigações sobre este fenômeno, sob o enfoque da história da arte, da arquitetura, da tipografia e do design gráfico podem ser encontrados nas pesquisas feitas por Nicolete Gray (Gray 1960, 1986), Alan Bartram (Bartram 1975), Jock Kinneir (Kinneir 1980), Phil Baines e Catherine Dixon (Baines & Dixon, 2003). No campo da arqueologia, há uma longa e importante tradição de estudos sobre escrita no espaço urbano (epigrafia), principalmente preocupada com inscrições produzidas pelas civilizações grega e romana. Algumas referências contemporâneas relevantes podem ser encontradas em Petrucci (1986), Bodel (2001) e Donati (2002), bem como no trabalho do historiador da arte brasileiro Clarival do Prado Valladares (1976).

Propomos a utilização da expressão paisagem tipográfica para nos referirmos ao quadro formado por um subconjunto dos elementos gráficos presentes no ambiente público: os caracteres que formam palavras, datas, e outras mensagens compostas por letras e números. Tipografia, neste contexto, deve ser entendida em um sentido amplo, que inclui caracteres ortográficos e para-ortográficos obtidos através de processos que seriam mais bem classificados como letreiramento ou caligrafia (letras pintadas, recortadas, gravadas, fundidas, etc.) (Farias 2000), e não apenas aqueles obtidos através dos processos

automatizados ou mecânicos, que caracterizam a tipografia em sentido estrito. Acreditamos que o estudo sistemático e comparado das paisagens tipográficas das cidades podem levar a uma melhor compreensão da formação de um sentido de identidade local e de pertencimento entre seus habitantes, bem como das relações entre elementos da paisagem tipográficas presentes em diferentes localidades.

As paisagens tipográficas, assim definidas, são compostas por diversos tipos de inserção, que vão das mais perenes às mais efêmeras, e que podem ser divididas em nove grandes grupos:

Figura 1. Casas com fachadas que reproduzem as letras S e R, Aveiro (Portugal), 2014.

1. Tipografia arquitetônica: inscrições perenes, tais como o nome e o número de