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Descriminalização do aborto, Estado laico, moral cristã.

INTRODUÇÃO

Conforme Matielo (1994) em sua obra reafirma que as manobras abortivas sempre foram praticadas entre os povos, algumas civilizações aceitavam com o viés de controle populacional outras rigorosamente contra a esta prática. Com o surgimento do Cristianismo veio também um novo conceito em respeito ao aborto. Neste momento, definiu-se que o homem possuía uma alma imortal que pertencia a Deus, sendo que, o próprio homem não poderia ter poder de vida ou morte sobre a humanidade, este poder cabe exclusivamente para o Criador.

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Acadêmica do 3° ano de Serviço Social, FAMMMA Maringá/PR. E-mail:

paula_benites11@hotmail.com . Endereço para correspondência: Rua Bragança, 37 – Zona 07 – Maringá/Pr

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Prof. Dr. Elton Vinicius Sadão Tada,Bacharel em teologia. Doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo.

De acordo com Jacobsen (2009, apud GALLEOTI, 2004) existe uma divisória do aborto que ocorre após a Revolução Francesa, pois antes cabia exclusivamente à mulher escolher sobre o seu corpo, a mulher só era punida se o aborto ferisse os interesses do homem, sendo assim, cabe afirmar que o aborto apenas era aceito se não interferisse no social, econômico e político. Após este acontecimento histórico o Estado inseriu leis restringindo estas práticas, pois com o desenvolvimento industrial era necessário muitos operários e soldados para construir uma nova era. Com a evolução médica nos séculos XVII e XVIII o feto tornou-se um ser com autonomia, mudando também a reflexão teleológica da época.

DESENVOLVIMENTO

O aborto não é uma prática recente, muito antes de existir o cristianismo esta prática já era realizada entre mulheres gregas e romanas com receitas baseadas em plantas medicinais e outras técnicas. Desde que se conhece a raça humana, a mesma sempre desejou controlar a fecundidade, tornando o aborto uma prática basicamente natural. Com a formação da propriedade privada, o homem começou a ser contra essas práticas, inicia-se com código de Hammurabi em 1700 no A.C, posteriormente no livro de Êxodo da lei hebraica em 1000 anos A.C, lei de Mileto 500 anos A.C, mas também existiu autores que defendiam e/ou aconselhavam esta prática, como Hipócrates 400 anos A.C, Sócrates, Platão e Aristóteles. No primeiro século cristão, inicia-se a reação do Estado, que considerava a prática do aborto um ato indigno contra a moral, sendo assim, o mesmo, começou a intervir, promulgando leis que castigavam o aborto. (PRADO, 1985).

Segundo o Código Penal Brasileiro de 1940, o artigo 124 criminaliza a prática do aborto e impõe detenção de um a três anos, porém o artigo 128 do mesmo código, permite a prática do aborto realizado por um médico apenas em duas situações, a primeira se permite em casos de risco de vida da gestante e o segundo caso é quando a mulher sofre violência sexual gerando um feto e neste caso é escolha da gestante a realização do aborto. Em 2004, o artigo 128 sofreu uma alteração, incluiu-se a possibilidade de abortar em casos de anencefalia do feto e a decisão fica a critério da gestante.

O autor Oro (2011) em seu artigo discute a construção e consolidação da laicidade do Estado nos países latino-americanos e Europa, sendo assim, em sua conclusão afirmou que é uma particularidade brasileira que o Estado e a Igreja Católica, mesmo tendo a separação legal e o pluralismo religioso que fora construído lentamente, a realidade é que sempre manterão uma aproximação, que vem aumentando ao longo das décadas, da participação na esfera pública, seja, política ou midiática, de novos grupos religiosos, incluindo os pentecostais.

Quando se trata de aborto, o Brasil é um dos países da América Latina que aplicam leis punitivas perante este ato. Temos ciência também que o acesso a recursos preventivos, incluindo educação sexual e saúde são limitados. A falta de acesso faz com que o número de abortos são elevados, pois, esta prática é o último recurso das mulheres que não podem ou não querem seguir uma gravidez. (SORRENTINO, 2001)

O argumento de Barsted (1992) para a legalização do aborto tem como intenção, proteger a saúde da mulher, sendo necessário, analisar a realidade e o contexto econômico em que ela vive. Descriminalizar o aborto para a autora tem como intenção a redução de danos físicos e psicológicos que ocorrem por conta de abortos clandestinos. Tem como intenção romper com métodos conservadores, dando espaço para a possibilidade em discutir sobre métodos contraceptivos e receber orientações. Além do mais, o direito ao aborto rodeia na contestação da interferência do Estado sobre o corpo da mulher e a disciplinação religiosa e moral na sociedade.

De acordo com Ribeiro (2015), na perspectiva do pluralismo religioso, é relevante compreender que a fé cristã, como as outras tradições religiosas devem ser respeitadas a partir do confronto por meio do diálogo, esta ação não diminui, muito menos anula o valor das entidades religiosas.

Nas últimas décadas, o debate entre religião, democracia, Estado laico e direitos humanos está mais intenso, pois a luta por direitos iguais está mais presente, levando em consideração também, o aumento de pessoas que se

consideram ateias, reforçando a necessidade de um Estado laico que atenda a realidade de todos, sem exclusão. Sendo assim, a defesa dos direitos humanos encontra-se relacionado a esta realidade complexa que vivenciamos atualmente no país. (RIBEIRO, 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que esta interferência religiosa nos direitos básicos da mulher gera um grande número de mulheres pobres que morrem por falta de atendimento apropriado, de acordo com DOMINGOS (2010) 12,5% das mulheres brasileiras chegam ao óbito por realizarem procedimentos mal sucedidos e em sua maioria, ocorre por falta de condições adequadas e profissionais inexperientes. Quem tem condições financeiras, busca um atendimento em clínicas especializadas. As mulheres brasileiras estão no abandono do Estado em seu amparo legal da saúde.

REFERÊNCIAS

BARSTED, L. A. L. Legalização e descriminalização: 10 anos de luta feminista. Estudos Feministas, Rio de Janeiro, n. 92, p. 104-130, 1992.

BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Editora Saraiva. 9ª edição. 2010.

CARVALHO, Flávia Wanzeler. Descriminalização do aborto: um desrespeito à vida.

Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 115, ago. 2013.

DINIZ, D.; MEDEIROS, M. Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna. Ciência e saúde coletiva, Brasília, vol. 15, p. 959-966, 2010.

DOMINGOS, S. R. F.; MERIGHI, Miriam Aparecida. O aborto como causa de mortalidade materna: um pensar para o cuidado de enfermagem. Escola Anna

Nery: Revista de Enfermagem, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 177-181, jan/mar. 2010. JACOBSEN, E. A história do aborto. Protestantismo em Revista, São Leopoldo, RS, v. 18, jan-abr.2009.

MATIELO, Fabrício Zamprogna. Aborto e direito penal. Porto Alegre: Sagra-dc Luzzatto, 1994, p. 108.

ORO, A. P. A laicidade no Brasil e no Ocidente. Civitas, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 221-237, maio/ago, 2011.

PRADO, D. O que é aborto. São Paulo: Abril Cultural/ Brasiliense, 1985. RIBEIRO, C. O. Pluralismo religioso, direitos humanos e democracia. Dossiê:

desafios teológicos do pluralismo religioso, Belo Horizonte, v. 13, n. 40, p. 1805-

1825, out/dez, 2015.

SORRENTINO, S. R. Dossiê aborto inseguro: Direito de decidir sobre o aborto, uma questão de cidadania e democracia. São Paulo: [s.n.], 2011. 33 p.

XII ERIC – (ISSN 1808-6004)

A MANUTENÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA POR MEIO DA RECEPÇÃO

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