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3 A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA: OS CAMINHOS SEGUIDOS

3.1 PANORAMA DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

A saúde humana é um dos bens naturais que mais se deve priorizar, devido a sua facilidade em contrair doenças. Os indivíduos precisam ter cuidado com o seu corpo. E foi pensando no bem estar social e, consequentemente, na cura de doenças que o desenvolvimento de medicamentos vem acontecendo, e a Indústria Farmacêutica é a responsável pela produção dos mesmos.

Nas últimas décadas, o comportamento da Indústria Farmacêutica vem chamando a atenção diante do seu notável crescimento. A indústria ficou conhecida pelo alto rendimento gerado, caracterizando-se como uma das mais lucrativas. A concentração industrial, mediante as fusões e aquisições cada vez mais frequentes, e o aumento no consumo de medicamentos também marcam a nova fase. A seguir, enumeram-se alguns fatos e elementos que contribuíram para essa transformação:

a) Após a 2o Guerra Mundial e até fins da década de 1960, tem-se como esgotado o potencial para inovação diante do paradigma tecnológico. As empresas do setor farmacêutico, com o objetivo de ultrapassar a fase da “tentativa e erro”, adotam estratégias para buscar novos conhecimentos e aprimorar a tecnologia existente, a fim de retomar o dinamismo do setor. Estas estratégias mostraram-se promissoras, diante de importantes ações governamentais a favor.

b) A chegada da biotecnologia permitiu inovações em processos de P&D e também em produtos, criando dessa forma uma nova classe de medicamentos.

c) A expansão do mercado de genéricos, com a expiração das patentes de medicamentos líderes em vendas, a exemplo dos EUA, que cresceu de 19% em 1984 para cerca de 40% em 1990 neste mercado, conforme o periódico

Harvard Business Review, 1998.

d) A iniciativa de políticas públicas no âmbito da C&T para reforçar as capacitações inovativas.

e) No final da década de 1990, muda-se o sistema de propriedade intelectual com a entrada em vigor do Acordo Trips, obrigando o reconhecimento de patentes por parte dos países membros da OMC.

f) A nova configuração do C&T e do novo ambiente regulatório gerou maiores custos de P&D, como um aumento no tempo médio do desenvolvimento de um medicamento. (Harvard Business Review, 1998)

g) Diante do aumento da demanda por serviços de saúde e, consequentemente, dos gastos públicos no setor, tem-se um questionamento em relação às altas margens de lucro da indústria. Dessa forma, inicia-se um movimento nos EUA e se alastra na Europa e Japão, para discussão e adoção de políticas públicas que reduzissem os preços dos medicamentos. (GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008)

Mediante esses marcos, a Indústria Farmacêutica foi respondendo aos desafios impostos e adotando estratégias de crescimento. Caracterizou-se por combinar centralização do processo decisório com descentralização mundial de atividades produtivas e de P&D; obtenção de economias de escala e de escopo globais mediante aquisições e fusões; diversificação na produção de medicamentos, com a entrada de genéricos e produtos não éticos3; elevou recursos de marketing e distribuição através da aquisição de tecnologias via acordos de licenciamento, contratos de P&D e alianças externas. Vale ressaltar que todas essas mudanças de estratégias não modificaram a essência da indústria e nem o padrão de competição, conforme Gadelha (2002 apud GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008).

Segundo Hasenclever (2002, p. 8): “Todas as indústrias são diferentes do ponto de vista de sua organização e complexidade”. Mas a Indústria Farmacêutica, por ter como principal atividade a produção de medicamentos, se firma com um nível de complexidade ainda maior. A produção de medicamentos envolve quatro estágios:

1) pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos fármacos; 2) produção industrial de fármacos;

3) produção industrial de especialidades farmacêuticas ou medicamentos; 4) marketing e comercialização dos produtos finais.

3 São aqueles medicamentos que não necessitam de receita médica; estão ao alcance do público, também

Gadelha (2008) e Hasenclever (2002) fazem esclarecedores panoramas em seus estudos sobre o cenário internacional e nacional da Indústria Farmacêutica. As empresas líderes deste setor têm suas sedes nos EUA e Europa (Alemanha, Suíça, França e Reino Unido, principalmente). Isto se deve ao fato de serem países desenvolvidos, e, portanto, capazes de investirem em P&D; inovações e marketing, que são a base da concorrência nesta indústria. Basicamente, quem detém a capacidade de realizar os quatro estágios são os países centrais, ficando os países periféricos somente com os dois últimos estágios (produção de especialidades farmacêuticas e marketing). (GADELHA, 2003) A presença dessas empresas de grande porte é verificada na liderança do setor, atuando de forma globalizada no mercado mundial, com filiais espalhadas por todo o mundo, havendo interdependência entre as estratégias perseguidas no interior de cada grupo nos distintos mercados nacionais e entre diferentes competidores. (GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008)

A Figura 1 ilustra os estágios de produção da cadeia farmacêutica já citados acima:

Figura 1 − Estágios da cadeia produtiva farmacêutica. FONTE: Palmeira Filho e Shi Koo Pan, (2003).

Para Gadelha (2003), a Indústria Farmacêutica não se assemelha às demais, ela se caracteriza por um oligopólio diferenciado baseado nas ciências. O autor denomina a indústria dessa forma, devido ao principal fator competitivo ser o lançamento de novos produtos no mercado, tornando os custos e as economias de escala fatores menos relevantes. É baseada na ciência, porque a fonte essencial da diferenciação de produtos são os novos conhecimentos gerados a partir das atividades de P&D. Pode-se acrescentar também como padrão de competitividade as atividades de marketing, que juntamente com o P&D caracterizam os maiores gastos da indústria. Esta atividade consiste em um conjunto complexo e amplo de estratégias comerciais, a

exemplo de propagandas e congressos, para divulgação e aceitação do novo produto pela população e principalmente pela rede médica.

A atividade de P&D é bastante complexa, exige um alto nível de qualificação por parte da mão de obra, resultando em um dos mais altos salários pagos da indústria de transformação. (HASENCLEVER, 2002) Caracteriza-se também pelo investimento contínuo e de grande porte em um longo prazo, cerca de 10 a 15 anos, objetivando a descoberta de um novo fármaco. Além da proporção dos projetos iniciados e medicamentos aprovados para comercialização ser muito alta, a cada 10 mil moléculas testadas, apenas cinco passam para a fase de testes clínicos e apenas uma obtém sucesso e é comercializada. Pesquisas mostram que somente 30% dos medicamentos conseguem recuperar o investimento realizado. (MEINERS, 2008)

A importância das patentes já foi vista no capítulo anterior, porém é importante ressaltá-la para justificar os investimentos em P&D. Elas asseguram o monopólio, a exclusividade do medicamento inovador no mercado aos produtores por até 20 anos, permitindo um ganho supranormal por este período, pois os preços são elevados para que se possa permitir recuperar as despesas realizadas durante o processo de desenvolvimento. Portanto, as patentes se tornam elemento fundamental para a apropriação dos benefícios futuros resultantes dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. (HASENCLEVER, 2002) Dessa forma, caracteriza-se como principal instrumento de defesa na Indústria Farmacêutica.

Essa indústria é composta de diferentes segmentos de mercados, conforme já citado. São eles: os medicamentos éticos (aqueles que precisam de receita médica) e os não éticos (aqueles que não precisam de receita médica e são de venda livre). Esses dois tipos de segmentos envolvem formas diferenciadas de competição; os primeiros são dependentes da rede médica, e o segundo se volta para os revendedores e os consumidores finais. Porém, a principal forma de segmentação é denominada classes terapêuticas. Cada segmento tem sua liderança no seu mercado particular, com base na diferenciação de produtos. Pode-se observar certa concentração das empresas líderes por classes que resultem maior rendimento, como as dos mercados dos países desenvolvidos, obtendo assim maior atratividade. (HASENCLEVER, 2002)

Outro segmento importante da Indústria Farmacêutica, que vem crescendo a cada dia, é a dos medicamentos genéricos. Esses são produzidos mediante expiração das

patentes, logo, são cópias dos medicamentos de referência e se diferenciam dos medicamentos ditos “similares”, porque passam por testes de bioequivalência, que asseguram a compatibilidade aos medicamentos inovadores, diferente dos similares que não passam por esse processo. Os medicamentos genéricos não possuem marcas, são os nomes dos próprios princípios ativos que vêm nas embalagens.

A principal característica dos genéricos é o preço baixo, porque eles não realizam os estágios de maiores custos: P&D e marketing. Este mercado se tornou atrativo diante dos altos custos do orçamento do governo com saúde e do crescimento dos custos dos medicamentos. Dessa forma, tornou-se tendência dos governos estimularem a substituição dos medicamentos de marcas pelos genéricos. Esta mudança vem afetando a estrutura da indústria nos países europeus e nos Estados Unidos, líderes mundiais do setor, com o novo tipo de medicamento; estes países situam-se entre os maiores fabricantes do segmento de genéricos. (HASENCLEVER, 2002)

Embora se tenha a presença de diversas classes terapêuticas na Indústria Farmacêutica, ela comporta milhares de empresas nos mercados em que atuam. De certa forma, existem nichos de mercado no setor que permitem a participação de empresas de menor porte devido à inexistência de economias de escala significativas. Estes nichos tornam possível a entrada de países menos desenvolvidos, como o Brasil. (GADELHA, 2002 apud GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008) Os medicamentos genéricos são um exemplo desse tipo de nicho. A concorrência do segmento se dá via custo de produção e estrutura de distribuição. (CASSIOLLATO et al., 2006 apud GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008) Portanto, identificam-se como barreiras à entrada neste mercado de genéricos, a aquisição ou a produção de fármacos e o acesso à rede de distribuição de medicamentos.

Diante do exposto, a entrada da indústria de medicamentos inovadores pode apontar algumas barreiras, dentre elas destacam-se: a capacidade gerencial, técnica e financeira para realizar atividades de P&D de novas moléculas, os direitos de exclusividade assegurados pelas patentes, o poder das marcas e a aprovação da autoridade regulatória. Essas barreiras surgem diante da singularidade e complexidade da indústria. (PALMEIRA FILHO; SHI KOO PAN, 2003)

A atividade de P&D é vista como uma barreira, devido ao grande investimento necessário de longo prazo, pois, como já foi dito anteriormente, é a

principal forma de concorrência da Indústria Farmacêutica. As patentes asseguram o monopólio do fármaco por até 20 anos, o que provoca uma forte barreira a entrada, principalmente em determinadas classes terapêuticas. Elas também se relacionam com as marcas, as quais mantêm lealdade dos consumidores, que, independente da expiração das patentes, os médicos já confiam naquele medicamento e continuam a prescrevê-los. E finalmente as autoridades regulatórias, extremamente exigentes, que determinam regras e leis sanitárias a serem aprovadas.

Uma forte característica da Indústria Farmacêutica é a concentração. Isto se deve ao fato dos países desenvolvidos terem a maior capacidade de investimento e serem os únicos capazes de participar dos primeiros estágios da cadeia produtiva. Dessa forma, a Tabela 1 apresenta as vendas globais por região, onde se percebe um mercado fortemente concentrado nos EUA, Europa e Japão, correspondendo a cerca de 90% do total mundial.

Tabela 1 – Vendas globais da indústria farmacêutica por região – 2006 Região US$ milhões % América do Norte 289.900 47,7 Europa 181.800 29,9 Japão 56.700 9,3 Ásia, África e Austrália 52.000 8,6 América Latina 27.500 4.5 Total 607.900 100.00 Fonte: Parexel`s (2007 apud GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008, p. 22)

A Tabela 2 traz as dez maiores empresas da Indústria Farmacêutica em 1996 e 2005, em termos da participação de cada uma nas vendas globais da indústria. Constata-se que em quase uma década houve um aumento expressivo de aproximadamente 13% na concentração das vendas das maiores empresas mundiais. Essa mudança demonstra a natureza oligopólica do setor. Também vale ressaltar o intenso processo de fusões e aquisições que a indústria convive até os dias de hoje, evidenciando também o resultado de forte concentração.

Tabela 2 – As 10 maiores empresas da Indústria Farmacêutica – 1996 e 2005 2005 1996

Empresas % das vendas totais Empresas % das vendas totais Pfizer 8,3 GSK 6,2 Sanofi-Aventis 5,4 Novartis 5,1 Johnson&Johnson 4,5 AstraZeneca 4,3 Merck & Co 4,2 Roche 3,5 Abbot 2,8 BMS 2,6 Novartis 4,4 Glaxo Wellcome 4,4 Merck & Co 4,0 Hoeschst M. Roussel 3,3 Bristol- Meyers Squibb 3,2 Johnson&Johnson 3,1 American Home 3,1 Pfizer 3,1 SmithKline Beecham 2,7 Roche 2,7 Total 10 maiores 46,9 Total 10 maiores 34,0

Fonte: IMShealth (2006) e Queiroz e Gonzáles (2001) (apud GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008, p.23)

Esse processo começou a ser percebido desde meados dos anos 1980, quando se evidenciou o acirramento da concorrência mundial. As estratégias de crescimento das empresas foram se adaptando, afetando o volume e a localização dos investimentos em expansão, assim como as decisões sobre operações de fusões e aquisições. O intuito era a manutenção ou a ampliação da posição competitiva dos grandes laboratórios multinacionais na Indústria Farmacêutica global. Estas fusões e aquisições ocorrem geralmente em torno de empresas menores, no entanto têm-se percebido mudanças neste sentido. Por exemplo, quando se observou as grandes indústrias farmacêuticas adquirindo as empresas de biotecnologia e/ou de pesquisa e desenvolvimento de produtos. (CAPANEMA, 2006) Diante dessa dinâmica do setor, a troca de posições e o surgimento de novos nomes são vistos com frequência.

Partindo para um panorama do comércio exterior da Indústria Farmacêutica, a Tabela 3 apresenta os principais exportadores de produtos farmacêuticos de 2003 a 2005 (U$$ bilhões).

Tabela 3 – Principais exportadores de produtos farmacêuticos de 2003 a 2005 (U$$ bilhões) País 2003 2004 2005 Share 2004 1 Alemanha 21,6 32,0 35,7 14,41% 2 Bélgica 24,7 29,9 33,4 13,44% 3 Reino Unido 18,4 21,5 21,0 9,70% 4 França 17,1 19,8 21,9 8,91% 5 Suíça 15,8 19,7 22,4 8,85% 6 EUA 15,9 19,5 21,7 8,76% 7 Irlanda 14,0 17,7 16,5 7,99% 8 Itália 9,0 10,0 11,7 4,53% 9 Países Baixos 6,9 9,4 ND 4,24% 10 Suécia 6,4 6,6 6,7 2,99% 16 Índia 1,6 1,9 ND 0,88% 20 China 0,9 1,1 1,3 0,49% 29 Brasil 0,28 0,35 0,47 0,16%

Fonte: Barbosa, Mendes e Sennes (2007apud GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008, p. 24)

A importância da tabela acima é mostrar a forte concentração das exportações, onde os maiores países exportadores correspondem a 83,82% do total mundial em 2004. O Brasil, apesar da melhoria nos resultados demonstrados no período, localiza-se ocupando a 29o posição, com apenas 0,16% do total mundial, ficando atrás dos seus principais concorrentes Índia e China, 16a e 20a posições, respectivamente.

A Tabela 4, abaixo, apresenta os principais países importadores de produtos farmacêuticos de 2003 a 2005.

Tabela 4 – Principais importadores de produtos farmacêuticos de 2003 a 2005 (U$$ bilhões) País 2003 2004 2005 Share 2004 1 EUA 27,8 31,5 35,6 14,09% 2 Bélgica 24,4 30,9 34,3 13,83% 3 Alemanha 18,7 25,1 28,1 11,21% 4 Reino Unido 13,0 15,1 15,1 6,75% 5 França 10,6 13,0 14,3 5,80% 6 Itália 9,2 11,1 11,6 4,97% 7 Suíça 8,2 10,6 11,7 4,72% 8 Países Baixo 6,1 8,9 ND 3,98% 9 Espanha 6,8 7,9 ND 3,54% 10 Canadá 5,7 6,6 7,4 2,94% 16 Brasil 1,5 1,8 2,0 0,82% 20 China 1,4 1,6 1,9 0,70%

29 Índia 0,24 0,27 ND 0,12%

Fonte: Barbosa, Mendes e Sennes (2007 apud GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008, p. 25 Percebe-se uma forte concentração relativa às importações mundiais de produtos farmacêuticos. Os EUA, Bélgica, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Suiça, Países Baixos, Espanha e Canadá formam os dez maiores países importadores, diferenciando da tabela anterior, pois apenas a Espanha e o Canadá não constam entre os maiores exportadores. Estes, por sua vez, correspondia cerca de 71,83% do total mundial em 2004. O Brasil apresenta uma posição superior, o que significa dizer: importa mais do que exporta; dessa forma fecha uma balança comercial deficitária, ao contrário da Índia, que ocupa a 52a posição, apresentando uma balança comercial superavitária.

Pesquisa realizada pela PriceWaterHouseCoopers (2007 apud GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008) prevê para o ano de 2020 um mercado global para a Indústria Farmacêutica no valor de R$ 1,3 trilhões, salienta uma maior busca, por parte das grandes empresas, por tecnologias e inovações no setor, com uma perspectiva de diminuição nos custos de P&D, diante dos novos conhecimentos gerados. Essa pesquisa também afirma a importância de adotar estratégias mais sistêmicas, baseadas na cooperação e no entendimento da dinâmica da indústria, envolvendo desde os pacientes ao meio regulatório do sistema. O estudo apontou os países emergentes como os principais mercados de crescimento da indústria farmacêutica, afirmando ser muito superior aos dos países desenvolvidos: o Brasil e a Índia são dois deles.

Conforme foi visto, o padrão competitivo dessa indústria é baseado na diferenciação de produtos o que é comprovado ao se verificar que cerca de 19% das vendas são destinadas às atividades de P&D, superando outros setores também intensivos em C&T. (PAREXEL`S 2007 apud GADELHA; MALDONADO; VARGAS, 2008) Outros segmentos, que também dependem de inovação, como o de telecomunicação e o automotivo, investem muito menos, 5% e 4%, respectivamente. (MORTELLA, 2006)

É importante ressaltar um questionamento exposto por Angell (2007) em seu livro, a respeito dos gastos com P&D e os resultados apresentados. Em 2002, nos EUA, foi constatado que dos 78 medicamentos aprovados pelo Food and Drug Administration (FDA), somente 17 continham novos princípios ativos e apenas sete

deles foram classificados pelo FDA como aperfeiçoamentos em relação a medicamentos antigos. Ou seja, os restantes dos medicamentos tratavam-se de imitação de medicamentos antigos ou não foram considerados superiores aos medicamentos à venda. Porém, o mais espantoso é que as sete novas produções não vinham de nenhum laboratório de grande porte americano. Dessa forma, Angell questiona os altos custos em P&D que as grandes empresas farmacêuticas dizem ter, já que não estão produzindo nada de novo, apenas cópias.

Outro fato importante da dinâmica da Indústria Farmacêutica é a existência das “doenças negligenciadas”, a exemplo da Malária, Lepra, Leptospirose, Dengue e outras, assim chamadas pelo baixo investimento no desenvolvimento de pesquisas e medicamentos destinados ao seu tratamento. Essas doenças são geralmente encontradas em países de menos desenvolvimento, ou seja, menor poder aquisitivo, o que desestimula o interesse pela descoberta de medicamentos. Essa assimetria na base de inovação acaba por acarretar em desigualdades nas condições de saúde internacionais.

Em suma, esta seção objetivou dar um panorama geral da Indústria Farmacêutica, com o intuito de introduzir a discussão posterior das indústrias brasileira e indiana. Tem-se, desse modo, como principais características a geração permanente de assimetrias de informação, existência de considerável grau de concentração em submercados (principalmente por classes terapêuticas), relativa baixa elasticidade-preço da demanda em relação ao medicamento, visto que este não é escolhido pelo paciente, dentre outras. Em face disso, percebe-se a grande necessidade de um forte sistema regulatório nesta indústria.

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