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2.3 ! Estrutura e organização dos GPMF

PANSS Shapiro"Wilk

Avaliação inicial a Avaliação final b

Sintomas positivos Grupo Experimental Grupo de Controlo P = 0.14 P = 0.61 P = 0.86 P = 0.36 Sintomas negativos Grupo Experimental Grupo de Controlo P = 0.21 P = 0.86 P = 0.54 P =0.99 Sintomas gerais Grupo Experimental Grupo de Controlo P = 0.03* P = 0.35 P = 0.10 P = 0.32 PANSS total Grupo Experimental Grupo de Controlo P = 0.82 P = 0.80 P = 0.39 P = 0.40 Escala Composta Grupo Experimental Grupo de Controlo P = 0.79 P = 0.25 P = 0.71 P = 0.99

a Grupo experimental: N=6; grupo de controlo: N=8. b Grupo experimental: N=5; grupo de controlo: N=8.

4.4.5 ! Funcionamento social

Considera!se actualmente que, para além da avaliação dos «sintomas» em si mesmos, e especialmente no caso das doenças crónicas, como é o caso da esquizofrenia, as intervenções em saúde devem ser avaliadas em função dos efeitos que produzem, ou não, no sentido de a pessoa ter uma vida significativa, em termos sociais, psicológicos e físicos. Assim, segundo Bowling (1992), e no domínio da saúde em geral, as medidas de morbilidade passaram a basear!se não apenas nos resultados de testes bioquímicos ou

em pontuações de sintomas observados, mas também em aspectos relacionados com o funcionamento social e ocupacional da pessoa, objectivado através da contagem dos dias de trabalho perdidos, por exemplo. E na área da psiquiatria, em particular, o «regresso ao trabalho» poderá, efectivamente, ser tomado como um dos indicadores não!biológicos de estado de saúde, apesar das suas limitações devido ao facto de ser fortemente influenciado, em termos de oportunidades, por condições económicas e sociais.

É assim que também na área da psiquiatria, e de acordo com Bech et al. (1993), é necessário procurar fazer a distinção proposta pela OMS já em 1980, na 1ª versão da «Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens» (que precedeu a actual CIF ! Classificação Internacional do Funcionamento), entre os conceitos de «deficiência», que correspondem às perturbações orgânicas causadas pela doença; «incapacidades», que serão as limitações no desenvolvimento das actividades do dia!a!dia; e «desvantagens ou handicaps», que se referem às possíveis consequências psicossociais, relacionadas com a doença, e resultantes de limitações ou impedimentos ao desempenho dos papéis sociais normais em função da idade, género e aspectos culturais.

Segundo Bowling (1992), é neste contexto que se enquadra também o conceito de dependência (de outrem ou de serviços), no sentido em que tanto as deficiências como as incapacidades podem, ou não, conduzir a uma situação de dependência ou handicap, em função dos padrões sociais vigentes, mas também das próprias características de personalidade da pessoa afectada, dos seus objectivos e expectativas, da sua rede de suporte e do seu meio sócio!económico.

É de referir que, às dificuldades de operacionalização derivadas desta natureza multidimensional do conceito de incapacidade funcional ou dependência, acrescem ainda as dificuldades de avaliação resultantes dos diferentes pontos de vista possíveis sobre o mesmo aspecto do funcionamento, que podem variar muito entre a pessoa afectada, os seus familiares e os diferentes profissionais, em função dos respectivos valores pessoais, objectivos e expectativas (Bowling, 1992).

Em todo o caso, a actual Classificação Internacional do Funcionamento, Incapacidade e Saúde (CIF) da OMS (WHO, 2001) parte do princípio de que o conceito de funcionamento é neutro, sendo que as suas alterações incluem as funções corporais (deficiência), as actividades (limitações nas actividades como a comunicação, a mobilidade, o auto!cuidado, as relações interpessoais e as actividades domésticas) e o envolvimento em situações de vida (restrições na participação social, na educação e no emprego).

Nesta linha, e no que respeita especificamente à doença mental, a CID!10 (Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão, WHO, 2007) não considera directamente a questão da incapacidade funcional associada aos diagnósticos de doença mental, remetendo a problemática para a Classificação Internacional do Funcionamento, Incapacidade e Saúde (CIF). No entanto, e segundo Üstün e Kennedy (2009), alguns aspectos relacionados com as dificuldades no funcionamento estão também incluídas na forma como a CID classifica as doenças mentais, como é o caso das alterações no auto! cuidado e no desempenho social que, para além de constarem da CIF, fazem também parte da descrição dos sintomas negativos da Esquizofrenia residual (F20.5).

Por outro lado, e segundo os autores acima referidos, o termo «incapacidade funcional» da DSM, que inclui as disfunções a nível social e ocupacional, pode equivaler às limitações nas actividades da CIF, enquanto a questão da «incapacidade funcional na área ocupacional» da DSM!IV!TR (APA, 2002) é tratada num capítulo à parte da CIF, nas categorias de trabalho e emprego.

Aqueles autores chamam também a atenção para o facto de que as incapacidades funcionais da pessoa doente não dependem necessariamente da gravidade da doença, dado que a incapacidade resulta sempre de uma forma particular de interacção entre a pessoa e o meio. Com efeito, e dependendo do contexto, uma qualquer doença grave pode não resultar em incapacidade, enquanto uma doença mental menos grave pode resultar em significativa incapacidade. Assim, e em conclusão, consideram que se deve procurar distinguir os constructos «doença» e «incapacidade», preconizando também que a sua avaliação seja feita separadamente.

Em todo o caso, e devido à complexidade da variável «funcionamento social», optou!se neste estudo por tentar incluir, e cruzar, as áreas mais comummente consideradas pelos diversos autores e, em particular, pelos dois principais sistemas de classificação das perturbações mentais (CID/CIF e DSM), distinguindo então as quatro seguintes: actividades do dia!a!dia e auto!cuidado, competências sociais, relacionamento social e nível ocupacional (emprego e educação).

Neste sentido, procurou!se que a operacionalização da variável «funcionamento social» incorporasse de forma alargada, e ao mesmo tempo discriminasse, os vários conceitos e factores envolvidos, assim permitindo a análise dos possíveis efeitos da intervenção em estudo. Para isso, e atendendo também às já reconhecidas dificuldades de contextualização e subjectividade da avaliação deste tipo de variáveis, optou!se pela utilização conjunta, e articulação, de diversos instrumentos e fontes de dados, quantitativos e qualitativos, de auto e hetero!avaliação, como seguidamente se apresenta.

4.4.5.1 ! Guião de Colheita de Dados

Para além das questões anteriormente referidas acerca das variáveis sócio!demográficas e das características clínicas gerais, o Guião de Colheita de Dados (Anexo 9) incluía também diversas questões sobre o funcionamento social da pessoa com esquizofrenia, especialmente na área do relacionamento social e do nível ocupacional. Tal como o recomendado por diversos autores (Falloon et al., 1987; Bellack et al., 2004), as questões colocadas pretendiam explorar alguns aspectos que se considerou serem importantes para o conhecimento das situações individuais, e passíveis de melhoria através da intervenção em estudo.

Dado que o Guião era utilizado durante a reunião conjunta inicial com a pessoa doente e os seus familiares, pretendia!se que as respostas obtidas reflectissem, de alguma forma, os pontos de vista de ambas as partes, para uma melhor definição da situação.

No que respeita à avaliação do relacionamento e actividade social, algumas das questões delineadas procuraram reflectir aspectos considerados como formas culturalmente comuns de relacionamento entre as pessoas. Nesse sentido, e como

exemplo, utilizaram!se como indicadores a frequência e regularidade com que a pessoa sai de casa para se encontrar com outras pessoas para tomar café, fazer compras ou ir ao cinema, com que pessoas se relaciona regularmente, se frequenta a casa de amigos ou familiares, ou se esses amigos ou familiares frequentam a sua casa.

Incluíram!se também questões que se referiam mais especificamente aos aspectos de relacionamento próximo da pessoa doente com outras pessoas, da família ou amigos, que considerasse como «confidente(s)», bem como algumas questões que pretendiam averiguar a forma de relacionamento da família como um todo com outros familiares ou com amigos.

Tanto no que respeita à pessoa com esquizofrenia como aos seus familiares, procurava! se também obter a sua percepção acerca do apoio recebido (de familiares e amigos). Em relação ao nível ocupacional da pessoa doente, pretendia!se identificar a sua situação profissional/ocupação actual, distinguindo nomeadamente as pessoas em situação de trabalho ou estudo em ambiente «competitivo», dentro dos esquemas laborais e educacionais da sociedade em geral, das que estivessem envolvidas em outras formas de ocupação diária regular e estruturada, e ainda das que não têm qualquer actividade regular ou estruturada, conforme o proposto por Eklund e Bäckström (2005). Procurou!se também especificar o seu nível de escolaridade e formação, a eventual participação em actividades de Terapia Ocupacional, em cursos profissionais, ou em algum outro tipo de actividade, as experiências anteriores de trabalho, o grau de satisfação da pessoa doente e sua família com a situação ocupacional actual, os seus objectivos para o futuro, bem como os obstáculos e/ou recursos de apoio percepcionados.