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2.3 ! Estrutura e organização dos GPMF

SAFE/FAS Shapiro!Wilk

Avaliação inicial (única) Grupo Experimental (N = 6) P = 0.05

4.4.5.3 ! QLS – BR

Tendo!se constatado, aquando do tratamento dos dados da avaliação inicial, que os resultados da SAFE/FAS se encontravam, já antes do início da intervenção em estudo, nos valores máximos possíveis das escalas para a maioria dos elementos da amostra de pessoas doentes, tornando assim difícil qualquer discriminação de eventuais alterações decorrentes da intervenção, optou!se pela aplicação da QLS!BR na avaliação final do funcionamento social.

A QLS (Quality of Life Scale) foi desenvolvida por Heinrichs et al. (1984), como um instrumento para avaliar a componente deficitária da esquizofrenia, habitualmente presente no funcionamento intrapsíquico, interpessoal e instrumental, e relacionada com os sintomas mais difíceis de tratar, e incapacitantes, da doença. Dadas as suas características, e conforme o referido por Simon!Abbadi et al. (1999), esta escala tem sido utilizada como instrumento de medida do funcionamento psicossocial. Assim, e apesar de a sua designação sugerir a sua inclusão no grupo dos instrumentos para avaliação da Qualidade de Vida, corresponderá afinal, e segundo os critérios apontados por McHorney (1999), a um tipo de instrumento específico para determinada patologia, neste caso a esquizofrenia, por comparação com os instrumentos genéricos, como é o caso da WHOQOL.

Segundo os autores da escala (Heinrichs et al., 1984), a QLS terá surgido da compreensão de que a mera avaliação do ajustamento social e ocupacional da pessoa doente será insuficiente para o conhecimento do real impacto social da doença ou do seu tratamento, já que tais dados serão, afinal, o resultado da interacção dos sintomas da doença com um vasto conjunto de factores externos, como sejam a quantidade e qualidade das relações interpessoais e familiares, os recursos financeiros da família, os serviços de saúde e sociais disponíveis, a aparência e a adequação geral dos comportamentos da pessoa, bem como o nível de tolerância da comunidade face à diferença.

Por outro lado, e embora os sintomas negativos considerados pelas escalas de avaliação psiquiátrica possam, em grande medida, coincidir com alguns dos aspectos deficitários do comportamento das pessoas com esquizofrenia, também Cardoso et al. (2005)

consideram preferível que, para efeito de avaliação da Qualidade de Vida (em sentido lato), bem como do curso da doença ou da resposta ao tratamento, os aspectos intrapsíquicos sejam contextualizados e analisados em conjunto com os dados relativos às várias áreas de funcionamento pessoal e social. É nesse sentido que preconizam a utilização da QLS, pela forma como conduz a abordagem multidimensional da situação da pessoa com esquizofrenia, ao incluir indicadores objectivos e subjectivos, que devem ser utilizados em conjunto com a informação clínica e sócio!demográfica.

Também na opinião de Kay (1991), e comparando com outros instrumentos, a QLS está mais firmemente baseada em dados sociais, ocupacionais e comportamentais do que na avaliação da psicopatologia.

A QLS compõe!se de 21 itens e, ao contrário da SAFE/FAS, foi concebida para a avaliação dos vários aspectos da vida das pessoas com esquizofrenia em contexto comunitário, ou seja, fora do ambiente hospitalar ou institucional.

Na sua estrutura dimensional inclui questões sobre sintomatologia e funcionamento, considerando a própria percepção da pessoa doente e assim possibilitando a compreensão das suas reais necessidades, o que vai ao encontro da perspectiva fenomenológica subjacente aos actuais conceitos de Qualidade de Vida, e proporcionando informações úteis para o planeamento e avaliação dos serviços de saúde mental (Cardoso et al., 2003).

A avaliação é feita por um profissional, com base numa entrevista semi!estruturada à pessoa doente, e reportando!se à situação vivida nas quatro semanas anteriores. A entrevista tem uma duração média de 45 minutos, e para a avaliação de cada item, numa escala de 7 pontos, é fornecido um conjunto de questões e descritores específicos, sendo que as pontuações mais altas (5 ou 6) traduzem um funcionamento normal, enquanto as pontuações mais baixas indicam grave incapacidade na função em questão.

Na opinião de Heinrichs et al. (1984), a facilidade com que o profissional aprende a utilizar a QLS de forma fiável, e a sua relativa brevidade, tornam!na adequada para a monitorização do progresso das pessoas com esquizofrenia, para efeitos meramente

clínicos e também na investigação, podendo ser usada como critério para avaliação do impacto da doença na qualidade de vida da pessoa, e também para a medição das mudanças e dos efeitos das intervenções terapêuticas no curso da doença.

Neste trabalho foi utilizada a versão brasileira da escala (QLS!BR – Anexo 12), com autorização da autora principal (Cardoso et al., 2002), dado não ser conhecida qualquer versão da escala culturalmente adaptada para a população portuguesa. Pode!se considerar que esta versão brasileira é aceitável para utilização em Portugal, apesar de algumas pequenas diferenças na terminologia e na ortografia, dado que tanto as suas questões como os descritores se destinam a ser primeiramente entendidos pelo profissional, que depois oralmente os coloca à pessoa doente, parafraseando!os conforme o necessário e em função do contexto e nível de compreensão da pessoa. E com efeito, esta versão da escala tem sido amplamente utilizada em diversos outros estudos em Portugal (Castro!Henriques et al., 2006).

Na QLS!BR, e com base na análise factorial realizada (Cardoso et al., 2003), os 21 itens da escala distribuem!se por três domínios: rede social, referindo!se à qualidade, frequência e grau de iniciativa da pessoa doente no contacto com familiares, amigos e colegas (itens 1 a 7); nível ocupacional, incluindo questões relacionadas com o grau de ocupação e satisfação com actividades de trabalho formal e informal (itens 9 a 12, e 17); funções intrapsíquicas e relações interpessoais, com questões relacionadas com a motivação e o nível de funcionamento afectivo da pessoa doente (itens 8, 13 a 15 e 18 a 21).

Para efeito de análise dos resultados obtidos, os autores da versão brasileira recomendam a utilização das pontuações dos domínios, em vez da simples utilização das pontuações totais (Cardoso et al., 2003).

Quanto aos itens 14 (motivação) e 16 (anedonia), foram eliminados dos domínios desta versão brasileira da escala, pois apresentavam cargas factoriais igualmente elevadas para dois dos factores (funções intrapsíquicas e nível ocupacional e rede social, respectivamente). No entanto ambos os itens foram mantidos na escala global devido às suas elevadas correlações item/total.

De acordo com Pestana e Gageiro (2005), a análise factorial com rotação ortogonal Varimax só é válida quando o número de indivíduos é de, pelo menos, o quíntuplo do número total de itens do instrumento em estudo (para instrumentos com mais de 15 itens). Assim, dado que a QLS tem 21 itens e a amostra final deste trabalho compõe!se de apenas 12 indivíduos, não foi feita a avaliação da validade de constructo da QLS para efeito de identificação dos factores da escala e comparação com os dos autores das versões original (Heinrich et al., 1984), francesa (Simon!Abbadi et al., 1999) e brasileira (Cardoso et al., 2003), tendo!se então adoptado esta última para efeito de definição da composição dos domínios (ou sub!escalas).

No presente trabalho, a avaliação quantitativa final do funcionamento social da amostra de pessoas com esquizofrenia, agora utilizando a QLS!BR, foi realizada pelos mesmos enfermeiros especialistas da Clínica Psiquiátrica dos HUC que realizaram a avaliação inicial, que eram alheios ao estudo e, tanto quanto possível, foram mantidos sem informação acerca da situação de cada uma das pessoas (grupo experimental ou grupo de controlo), a fim de assegurar maior independência no processo de avaliação.

Para efeito de teste de hipóteses, porém, e a fim de se obter um termo de comparação referente à avaliação inicial, optou!se por fazer uma pontuação a posteriori de cada um dos elementos da amostra, nos domínios da QLS (rede social e nível ocupacional) em relação aos quais se tinham obtido informações através do Guião de Colheita de Dados e restantes entrevistas iniciais com a pessoa doente e seus familiares, pesem embora todas as reservas metodologicamente legítimas acerca da validade da atribuição destas pontuações por parte da própria pessoa que estava a conduzir o estudo e a intervenção. Assim sendo, apresentam!se no Quadro 6 os resultados encontrados para a consistência interna dos dois domínios da QLS!BR utilizados em ambos os momentos de avaliação, bem como da escala total (utilizada apenas na avaliação final), que se mostraram semelhantes aos referidos pelos autores da versão utilizada – valores superiores a 0.85 para a escala global e para os três domínios (Cardoso et al., 2003).

É de referir que em nenhuma das aplicações (inicial e final) das duas sub!escalas se verificou qualquer correlação item!total corrigida com valor inferior a 0.20. Na aplicação da QLS completa (apenas na avaliação final), observou!se que apenas na questão 18

(utilização de objectos comuns) a correlação item!total corrigida era inferior a 0.20 o que, segundo Pestana e Gageiro (2005) poderia indicar a necessidade de remoção daquele item, não fosse o facto de o valor do " de Cronbach da escala se manter próximo do valor da escala total no caso de o item ser removido.

Quadro 6 – Consistência interna da QLS!BR

QLS!BR