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3 Delineamento de pesquisa

4.4 Programa de redução do consumo de sacolas plásticas no município de Xanxerê SC

4.4.3 Papéis desempenhados pela sociedade civil de Xanxerê

Como já observado anteriormente, além do governo municipal e das empresas do setor de supermercados de Xanxerê, se envolveram no programa de redução do consumo de sacolas plásticas a Agenda 21 Local, a Associação de Moradores de Xanxerê, as Associações Lions, Rotary e um grupo de Teatro. Essa articulação de representantes da sociedade civil com o programa de redução de sacolas plásticas buscava promover discussões sobre o tema o que, segundo os entrevistados, foi muito importante para o desempenho alcançado pelo programa no município. Neste sentido, concorda-se com Fuchs e Lorek (2005) que ressaltam a importância da participação dessas instituições em discussões sobre o processo de promoção do consumo sustentável, considerando os seus potenciais de influenciar os valores da sociedade e de promover a difusão de estilos de vida mais sustentáveis.

Além disso, essa articulação também aponta para os papéis que envolvem a participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas e no exercício de pressões sobre os governos e as empresas, principalmente durante a realização da audiência pública citada anteriormente em que os grupos representantes foram ouvidos e fizeram parte do processo de decisão sobre a implantação do programa na cidade e suas implicações em termo de políticas públicas ambientais.

Os entrevistados consideram que a sociedade civil participou na formulação de métodos de educação para o consumo sustentável com a atuação de grupo de teatro Excelsior que desenvolveu peças teatrais educativas que visavam sensibilizar e conscientizar os moradores xanxereenses quanto à relevância das mudanças nos hábitos de consumo. Há ainda a proposta da Agenda 21 Local em lançar um selo para destacar os estabelecimentos comerciais que aderiram ao programa. O propósito é ampliar a atuação do programa e inserir outros segmentos do comércio local como livrarias e farmácias.

Outro papel importante desempenhado pela sociedade civil de Xanxerê foi à formação de uma rede de comércio justo para a produção/comercialização das sacolas ecológicas. Com a implantação do programa na cidade foi incentivado que ocorresse a produção local das sacolas retornáveis, o que envolveu algumas organizações comunitárias, além de uma entidade local beneficente que atua no tratamento e recuperação de dependentes químicos e de álcool e da liga feminina de combate ao câncer. Este papel desempenhado pela sociedade

civil, além de fortalecer o programa de promoção do consumo sustentável no município, valoriza a produção local das sacolas retornáveis, também se torna uma fonte de renda para aqueles que colaboram nas suas confecções.

No que tange ao papel de boicote, não foram relatadas ações nesse sentido, considerando o significado atribuído ao termo no referencial teórico. Ao contrário, no início do programa alguns consumidores apresentaram resistência aos supermercados que integraram o programa adotando práticas socioambientais consideradas corretas sob os princípios éticos de proteção ao meio ambiente, ao se recusarem em fazer suas compras nos supermercados que não ofereciam gratuitamente as sacolas plásticas. Em alguns casos, como mecanismo de resistência à mudança, alguns consumidores ameaçaram realizar suas compras na cidade circunvizinha de Chapecó - SC. Porém, como a maioria da população aderiu ao programa, essa reclamação não ganhou eco e as tentativas de acabar com o programa foram encerradas.

Apesar disto, os entrevistados consideram que seria importante que a sociedade local adotasse esse tipo de comportamento quanto aos poucos estabelecimentos comerciais que não aderiram ao programa, pressionando-os a se integrarem naquele e em outros programas de proteção ambiental. Por outro lado, alguns entrevistados afirmaram que os estabelecimentos locais que aderiram ao programa são recompensados através do papel de buycott, uma vez que alguns dos consumidores que estão engajados no programa fazem propaganda boca a boca, além de manter uma relação de fidelidade com aqueles estabelecimentos comerciais.

Com base nas informações apresentadas nesta subseção, destaca-se no Quadro 15 o resumo das avaliações dos entrevistados quanto à aplicabilidade dos papéis da sociedade civil para a promoção do consumo sustentável na cidade de Xanxerê – SC.

Quadro 15: Aplicabilidade dos papéis da sociedade civil no Programa de Redução do Consumo de Sacolas Plásticas nos supermercados em Xanxerê - SC

Nível Papéis da Sociedade Civil

Aplicabilidade ao Programa em

Xanxerê?

Macro Engajar-se na formulação de políticas públicas Sim

Desenvolver métodos de educação para o consumo sustentável. Sim

Meso

Exercer pressões sobre os governos e as empresas Sim

Promover discussões sobre o tema consumo sustentável. Sim

Formação de redes de comércio justo Sim

Micro Promover Boicotes Sim

Promover Buycott Sim

Fonte: Elaboração própria, 2014.

Ainda que o propósito deste estudo de caso não tenha sido avaliar os programas de redução do consumo de sacolas plásticas, mas sim verificar empiricamente a aplicação dos

papéis que devem ser desempenhados pelos atores dos governos, das empresas e da sociedade civil na promoção do consumo sustentável no contexto brasileiro, vale ressaltar que há indícios encontrados nesta etapa da pesquisa que revelam desdobramentos interessantes sobre a mudança cultural que esse programa causou nos moradores do município de Xanxerê - SC.

Pode-se perceber um dos principais aspectos que envolvem o êxito alcançado no programa de redução de consumo de sacolas plásticas na cidade de Xanxerê – SC é o envolvimento do governo municipal, da promotoria pública, das empresas e das entidades da sociedade civil, a partir da construção de espaços de diálogos e negociação para gerar alternativas viáveis e promover uma mudança cultural com foco na sensibilização da sociedade quanto aos benefícios socioambientais que seriam alcançados. Alguns entrevistados ressaltaram o orgulho que os moradores da cidade sentem em dizer que na cidade onde moram os supermercados incentivam o uso das sacolas retornáveis e cobram pelas sacolas plásticas, como em países de primeiro mundo como os da Europa.

Nos discursos de alguns dos entrevistados, eles evidenciaram a necessidade de que a mobilização e o engajamento social obtido nos primeiros anos do programa sejam mantidos ao longo do tempo para que resultados alcançados permaneçam e sejam ampliados. Além disto, eles afirmaram que algumas dificuldades enfrentadas pelo programa são: o governo municipal possui pouca visão quanto à relevância das questões ambientais ao não promover políticas públicas e investimentos públicos que ampliem a abrangência do programa para outros tipos de estabelecimentos comerciais varejistas; a falta de comprometimento de algumas empresas do setor supermercadista que não treinam seus funcionários para auxiliar a conscientizar os clientes sobre a importância do uso da sacola retornável, relatando alguns casos em que os caixas sugerem que os clientes comprem as sacolas plásticas; e as dificuldades que as ONG’s envolvidas nos projetos enfrentam, em termos de recursos humanos e financeiros, para manter as campanhas de conscientização da sociedade.

As evidências sobre o processo de promoção do consumo sustentável, constatada nos resultados apresentados, reforçam a necessidade da atuação e articulação dos atores dos três setores – governo, empresas e sociedade civil. Além disto, as ações implementadas devem manter sempre uma perspectiva de longo prazo, porque para promover mudança cultural é necessário também os modificar hábitos dos consumidores, o que não acontece “do dia para a noite”, principalmente porque eles estão arraigados em toda uma estrutura mais ampla que também precisa ser modificada para se adequar aos preceitos de sustentabilidade, o que é denominado por Holt (2012) de bloqueio ideológico decorrente da configuração do mercado.