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3 Delineamento de pesquisa

4.4 Programa de redução do consumo de sacolas plásticas no município de Xanxerê SC

4.4.2 Papéis desempenhados pelos supermercadistas de Xanxerê

Como foi ressaltado no início desta seção, a iniciativa para implantação do programa de redução do consumo de sacolas plásticas na cidade de Xanxerê – SC foi promovida pelas empresas supermercadistas da cidade, o que corrobora com o argumento apresentado por Michaelis (2003) e Echegaray (2010) de que as empresas podem assumir a liderança nesse processo e instituir mecanismos de disseminação de melhores práticas socioambientais no mercado.

Quanto à cidadania corporativa que envolve um alto padrão de conduta ética das empresas para com seus stakeholders (MICHAELIS, 2003) e que envolvem práticas responsáveis nas dimensões econômica, legal, ética e filantrópica (CARROLL, 1998),

constatou-se, no estudo de caso realizado, que houve uma preocupação por parte dos supermercadistas quanto ao impacto que o programa iria ter sobre seus consumidores. Assim, antes de se iniciar o programa de redução do consumo de sacolas plásticas, que previa que estas passariam a ser tarifadas nos supermercados, os seus idealizadores investiram em campanhas de divulgação em rádio, TV, internet e outros impressos transmitindo informações que visavam à conscientização e a sensibilização da população sobre a necessidade de mudança de hábitos do consumo de sacolas plásticas nos supermercados. Estes materiais publicitários informavam a data de início da campanha e a importância de se adquirir sacolas retornáveis, já que os supermercados não iriam mais fornecer as sacolas plásticas gratuitamente.

Além disto, houve também uma preocupação em monitorar a aceitação da campanha ao longo do tempo. Os organizadores do programa realizaram pesquisas de opinião que monitoravam o índice de aceitação da população. Os dados obtidos nessas pesquisas revelaram que em março de 2009 a aceitação girava em torno de 54,84% dos moradores e que, com apenas um ano de campanha, a aceitação aumentou para 86,08%. Segundo informações dos entrevistados, a aceitação atual do programa é acima de 90% por parte dos moradores.

Essas questões também estão associadas ao papel das empresas de promoverem o marketing responsável que visa estimular uma mudança cultural coletiva através dos mecanismos de comunicação e publicidade das empresas, considerando a influências que estes podem exercer sobre os consumidores e a sociedade (MICHAELIS, 2003; TUKKER et al. 2008). Segundo os entrevistados, as campanhas publicitárias realizadas foram fundamentais para o êxito e a aceitação do programa junto aos moradores de Xanxerê.

Quanto ao diálogo com os stakeholders para rever os valores compartilhados entre os funcionários, os clientes e a comunidade na qual as empresas de supermercados operam, bem como para obter entendimento mais amplo das mudanças que são necessárias para se promover a redução no consumo de sacolas plásticas, os entrevistados afirmaram que os varejistas de supermercados inseridos no programa investiram muito na relação com os clientes e a comunidade. Porém, eles enfatizam que há uma deficiência quanto à promoção de diálogos das empresas com os seus funcionários para engajá-los no programa de modo que eles atuassem como reforço na frente de loja para influenciar os consumidores a reduzirem o consumo de sacolas plásticas. Segundo um dos entrevistados, há uma rotatividade alta no quadro de funcionários que atuam como caixas e que esses novos funcionários não são treinados para ofertar alternativas sustentáveis aos clientes, como as caixas de papelão ou as

sacolas retornáveis. No início do programa, a orientação aos funcionários era que as sacolas de plásticos só seriam comercializadas a pedido dos clientes, mas atualmente, em alguns estabelecimentos, os funcionários as oferecem sem uma solicitação prévia.

Outro aspecto observado no estudo de caso realizado é a disponibilização de informações sobre as sacolas através de rótulos. Os entrevistados afirmaram que as sacolas retornáveis comercializadas adotaram um padrão no qual há uma indicação de “sacola ecológica” que está vinculada ao nome da cidade (Xanxerê – SC), conforme Figura 50, e não aos nomes das empresas de supermercados envolvidas no programa.

Figura 50: Sacola Retornável adotada no programa

Fonte: Arquivo documental do programa desenvolvido em Xanxerê, 2014.

Considera-se isso um aspecto relevante do programa porque causa impacto sobre a cultura local e favorece uma mudança nos comportamentos dos consumidores e nas suas identidades. Segundo Woodward (2000), as identidades são diversas e cambiantes, tanto nos contextos sociais nos quais elas são vividas quanto nos sistemas simbólicos por meio dos quais damos sentido a nossas próprias posições. Nesse sentido, a cultura local pode moldar a

identidade dos consumidores de Xanxerê, ao dar sentido à experiência de praticar o consumo sustentável através do uso de sacolas retornáveis e ao tornar possível optar, entre as várias identidades possíveis, por um modo específico de subjetividade. Neste sentido, o uso das sacolas retornáveis tornou-se um símbolo da cultura local quanto à proteção ao meio ambiente. Por outro lado, as sacolas plásticas não apresentam indicação sobre a sua composição e estão marcadas com as logomarcas das empresas que as comercializam. Para alguns participantes do programa que foram entrevistados, isto poderia ser considerado como um “lixo assinado”.

Quanto a desenvolver produtos sustentáveis e a promover o uso de embalagens ecológicas, os entrevistados destacaram que próprio o conceito associado às sacolas ecológicas e ao programa de redução do consumo de sacolas plásticas envolve o desempenho desses dois papéis pelas empresas, já que elas podem ser consideradas como relevantes para ambos os papéis.

Os entrevistados também foram questionados sobre a aplicação da adoção dos princípios de ecoeficiência nas empresas de supermercados, a qual eles também atribuíram como um fator positivo o incentivo para o uso das sacolas retornáveis nos estabelecimentos comerciais do município, com foco no impacto ambiental que a adoção desse hábito pode causar. Eles citam, por exemplo, que antes da implantação do programa era visível à poluição ambiental causada pelas sacolas plásticas espalhadas pelas ruas da cidade, o que não se observa mais atualmente. Mas, alertaram que este princípio não é amplamente utilizado porque as sacolas plásticas que ainda são comercializadas nos supermercados participantes são as convencionais.

Não há consenso entre os comerciantes locais sobre a viabilidade da comercialização das sacolas plásticas oxidegradáveis ou biodegradáveis, o que poderia significar “trocar seis por meia dúzia”, segundo o gestor de um dos supermercados envolvidos no programa que foi entrevistado nesta pesquisa. Além disto, todos os entrevistados consideram que para ampliar o impacto das suas ações em prol do consumo sustentável na cidade, as empresas poderiam demonstrar maior engajamento com a questão adotando em suas atividades estratégias voltadas para redução do seu consumo de água e energia.

Ao serem questionados sobre a gestão da cadeia de suprimentos com foco na responsabilidade socioambiental compartilhada, os entrevistados foram unânimes em destacar as dificuldades para desempenhar este papel na execução do programa, principalmente porque envolve interesses econômicos de alguns empresários. Citaram como exemplo a resistência apresentada pelos empresários fabricantes/fornecedores de sacolas plásticas. Segundo eles,

alguns daqueles fornecedores chegaram a distribuir mensagens, atribuindo-as falsamente ao Instituto Akatu, que informavam aos consumidores locais que as sacolas retornáveis não eram significativas em relação à diminuição do impacto ambiental negativo.

Porém, por outro lado, alguns supermercados estabeleceram parcerias com alguns fornecedores para fazer o processo de logística reversa, implantando em seus estabelecimentos pontos de coleta para produtos como óleo de cozinha, pilhas, baterias e lâmpadas, conforme Figura 51, o que contribui em um contexto mais amplo para a promoção do consumo sustentável na cidade ao buscar promover o descarte adequado desses produtos.

Figura 51: Pontos de coleta de lâmpadas, pilhas e baterias em um dos supermercados

No que se refere à análise do ciclo de vida das sacolas plásticas convencionais, apesar deste estudo não ter sido realizado pelas empresas diretamente envolvidas com o programa, a existência prévia dessas informações foram essenciais para a mobilização inicial por parte dos empresários locais na busca por implementar o programa de redução do consumo de sacolas plásticas na cidade de Xanxerê. Segundo alguns dos entrevistados, o fato de se ter acesso àquelas informações sobre os impactos que são gerados no meio ambiente decorrentes dos processos de produção, consumo e descarte das sacolas plásticas despertou nos empresários locais a motivação para se engajarem em movimentos que busquem a proteção ambiental. Isto reforça a importância desse papel como fator decisivo para influenciar as modificações necessárias em processos produtivos e em produtos na busca por sustentabilidade. É preciso conhecer os impactos ambientais dos produtos e seus processos produtivos, para buscar desenvolver alternativas que minimizem a utilização de recursos naturais e dos impactos que estes possam causar.

Por fim, no que se refere às respostas das empresas aos incentivos e as regulamentações do governo, os entrevistados afirmaram que ainda não existem iniciativas nesse sentido na cidade de Xanxerê - SC. Porém, eles ressaltaram a importância de partilhar em toda a cadeia de valor tanto os custos quanto os incentivos oferecidos pelos governos com foco na realização das mudanças necessárias. O Quadro 14 sintetiza a aplicabilidade dos papéis das empresas para a promoção do consumo sustentável junto ao Programa do Consumo de Sacolas Plásticas em Xanxerê – SC.

Quadro 14: Aplicabilidade dos papéis das empresas no Programa de Redução do Consumo de Sacolas Plásticas nos supermercados em Xanxerê - SC

Nível Papéis das Empresas

Aplicabilidade ao Programa em

Xanxerê?

Macro Disseminar melhores práticas socioambientais Sim

Meso

Disponibilizar informações socioambientais dos produtos através de rótulos

e selos Sim*

Promover a cadeia de suprimentos sustentável Sim**

Exercer a cidadania corporative Sim

Manter diálogos contínuos com os stakeholders Sim

Praticar o Marketing responsável Sim

Micro

Desenvolver produtos sustentáveis Sim

Adotar Princípios de ecoeficiência Sim**

Análise do ciclo de vida dos produtos Sim

Usar Embalagens ecológicas Sim

Eco-taxas Sim*

* Potencialmente aplicável ao caso, mas ainda não desempenhado. ** Aplicável ao caso, mas não totalmente desempenhado.

A seguir são detalhados os papéis da sociedade civil que são desempenhados na cidade de Xanxerê visando à redução do consumo de sacolas plásticas.