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4 ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA

4.2 O PAPEL DO PROFESSOR NO PROCESSO DE

Em artigo sobre a Alfabetização Matemática, Souza (2010) cita Danyluk (1998) e apresenta algumas considerações sobre o processo de Alfabetização Matemática também levando em consideração a Matemática como uma linguagem e o professor como mediador do modelo dessa Linguagem/comunicação. O professor, então, se apresenta no papel de levantar uma “interpretação da realidade”. A Matemática recebe assim, igual valor, não devendo ser menos valorizado ou estudado do que a Linguagem, especialmente no Ciclo de Alfabetização, base para os demais anos de ensino.

Ao pensar na importância do professor no desenvolvimento do conhecimento matemático do conteúdo, retomamos a Mhakure e Mokoena (2011). Enfatizam quanto à Alfabetização Matemática que devem ser estimuladas tanto as ferramentas tecnológicas como o desenvolvimento do pensamento crítico matemático por parte dos aprendizes. Aliado ao estímulo do conhecimento prévio proporciona aos alunos maior engajamento nas atividades e discussões de sala. Cabe ao professor levar o aluno a resolver problemas e desenvolver habilidades e ser capaz de se comunicar através dela.

Esses mesmos autores enfatizam os eixos do contexto e conteúdo no currículo de Alfabetização Matemática, assim como, no ensino e aprendizagem. O contexto referido é

aquele que provém das condições socioeconômicas, culturais, políticas e das atividades cotidianas do aluno. As experiências aprendidas, então, seriam derivadas das inquietações pertencentes à realidade do aluno envolvidos em resolução de problemas e formas colaborativas de aprendizagem. O professor, nesta proposta apresentada por Mhakure e Mokoena (2011), “atua como promotor e encorajador das decisões feitas entre os alunos e que ao mesmo tempo levam em conta o pensamento crítico.” (MHAKURE; MOKOENA, 2011, p. 321).

Neste aspecto, se para Cardoso et al. (2014), a Alfabetização Matemática significa o refletir sobre a apropriação de conceitos que embasarão todo o processo educacional, ao professor fica incumbida a tarefa de priorizar ações pedagógicas relacionadas ao entendimento da Matemática. O professor assume o papel fundamental de agente estimulador dos conhecimentos prévios do aluno à medida que os ajuda a sistematizar este conhecimento. Professor este, que deve gerar o romper de paradigmas como o de que a Alfabetização seria um processo voltado apenas para a língua materna, pois, como termo pedagógico/de outro campo de estudo, Cardoso et al.(2014) afirmam que Alfabetizar também o é para a Matemática.

Para Swanson e Parrot (2013), o professor não só foca no assunto, mas, no processo. As práticas baseiam-se em: 1. Apresentar problemas que façam sentido e promovam perseverança em respondê-los; 2. Razão abstrata e quantitativa; 3. Construir argumentos viáveis e criticar o porquê de outros; 4. Modelar com Matemática; 5. Uso estratégico de ferramentas; 6. Atender com precisão; 7. Olhar e fazer o uso de estruturas; 8. Olhar e expressar regularidade na repetição consciente. É bem verdade que tal estrutura não é pré- estabelecida no Brasil e deixa dúvida, devido à complexidade que apresenta se, de fato, refere-se à Alfabetização Matemática. No entanto, acima de tudo precisamos ressaltar o professor em seu processo, o que significa, a sua prática, o que, por sua vez, remete à nossa pesquisa.

Professores estes que possuem em suas mãos o poder de atuar de maneira particular e articular-se positivamente na instância em que exerce a sua prática utilizando e aprimorando suas formas de organizar o ensino e as formas pelas quais ensinam, especialmente, em Matemática. Nesta perspectiva da mobilização dos conhecimentos do professor quanto ao ensino de Matemática no Ciclo de Alfabetização, procuramos em alguns documentos estaduais do país e encontramos no documento de Preposição Curricular para o Ensino Fundamental da Rede Municipal do Estado de Belo Horizonte, as seguintes orientações referentes à Alfabetização Matemática:

Os professores devem promover situações – problemas nas quais as crianças observem, classifiquem, comparem, relacionem, representem, localizem, realizem mediações e contagens e, ao mesmo tempo, aprendam a expor e a registrar o seu raciocínio e as suas ações. (BELO HORIZONTE, 2009, p. 9).

O professor precisa ter consciência da Alfabetização Matemática como uma linguagem própria. Bueno (2009) ressalta que ao entender as características próprias da Matemática como linguagem, o professor estará atento a ampliar o vocabulário das crianças em matemática. Concordamos com a pesquisadora, que atribui ao professor a tarefa de, assim como ocorre na linguagem natural, elaborar diferentes níveis para a aquisição da Matemática. O que se refere a Matemática utilizada por “profissionais”, como cita, mas, a “a introdução da linguagem matemática desde os primeiros anos de escolarização, para que os estudantes vão aprendendo a utilizá-la.” (BUENO, 2009, p. 19)”. Trabalho que leva o professor a estar atento à sua prática e requer certo esforço epistemológico.

Não podemos deixar de citar Depoli (2012) com quem concordamos e que aponta a perspectiva da Matemática e a Língua Materna como possuidoras de relações de troca e interdependência. Complementam-se, embora sejam tratadas de forma isolada donde o ensino da língua materna tem sido privilegiada em detrimento a Matemática. Por isso, quanto ao processo de Alfabetização Matemática, ao professor:

Não basta só ensinar, o professor tem que incentivar o aluno a propor suas ideias, mas isso deve partir da realidade do mesmo e que as respostas da problematização sejam através da indagação e questionamento do aluno. Na resolução de problemas da disciplina de matemática deve-se ter uma atenção maior pelos professores porque é através da resolução da vida real que o aluno desenvolve o conhecimento matemático. (DEPOLI, 2012, p. 24).

Ainda sobre a priorização do ensino nesta fase do Ciclo de Alfabetização, dados de relatos de experiência presentes no trabalho de Depoli (2012) demonstram que “alguns professores não dão muita importância à Alfabetização Matemática se importando mais com a Alfabetização da língua materna.” (p. 16). Sobrelevamos a necessidade de haver um olhar voltado à importância dada a Alfabetização Matemática, no sentido do valor que esta possui e a importância (ainda pouca) dada pelos professores no dia-a-dia escolar.

Ao observar o tempo histórico vemos a promulgação através do PNAIC, do “balanceamento”, se assim podemos falar, no Ciclo de Alfabetização, na qual o ensino da Matemática aparece protegida por lei como prioridade a ser ensinada na mesma medida que as demais matérias, ou melhor, à Língua Materna. Impressiona perceber que o passar dos anos, não parece trazer mudanças positivas. Temos pesquisas como as de Miguel (2007), Cavalcanti (2010), Depoli (2012) e sabemos que é apenas uma amostra pequena do vasto ramo de pesquisas, no entanto, mesmo sendo em anos diferentes (recentes), ainda apresentam

os mesmo elementos quanto ao ensino da Matemática. O que nos leva a indagar sobre em nossa dissertação (Lima, 2016), se nas aulas observadas, os dados analisados aparecerão características como as presentes no recorte a seguir:

O cotidiano escolar tem mostrado que pouco se trabalha com a Matemática no início da escolarização. Seja na Educação Infantil nas séries iniciais do Ensino Fundamental a prioridade no trabalho dos professores são os processos de aquisição da leitura e da escrita e, como se não fosse componente fundamental da Alfabetização, a Matemática é relegada a segundo plano, e ainda assim tratada de forma descontextualizada, desligada da realidade, das demais disciplinas e até mesmo da língua materna. (MIGUEL, 2007, p. 416).

O processo de Alfabetização vive por anos a relação simbólica e subjetiva relacionada apenas à aquisição da linguagem escrita, letramento na língua materna. Pensar neste mesmo âmbito, porém, para com a Matemática, não parece ser uma atividade simples nem que venha sendo aplicada pela maioria das escolas ao redor do Brasil. Contudo, deve haver uma luta que torne possível e real o romper, no Ciclo de Alfabetização (e mesmo nos demais níveis de ensino), com a priorização no ensino das matérias, assim como, os discursos em que se colocam os professores sobre a falta de preparo necessário para ensinar, ou, o não gostar de