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8 ANÁLISE DOS RESULTADOS

8.2 ROTINA ESCOLAR OBSERVADA

Esperamos apresentar um patamar geral as rotinas vivenciadas durante as observações de aula. Aqui relataremos as principais características identificadas na turma do 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental para entendermos as opções escolhidas para o ensino e consecutiva aprendizagem/ contexto matemático. Por se tratar de um estudo de caso, temos estes fenômenos como únicos e não gerais. Sendo assim, pretendemos ver a realidade vivenciada, que pode se diferenciar em outras escolas, municípios, estados, e mesmo, nas outras turmas do mesmo ano na mesma escola.

Todas estas informações servem para entender a turma estudada por um lado mais subjetivo, compreendendo aspectos como: nem todas as atividades, especialmente de Matemática, podiam ser realizadas devido o aluno (a) ter esquecido material: livro didático, caderno, régua, ou mesmo o lápis; com frequência era preciso haver um replanejamento para o dia por diversos fatores como: provas extras e surpresa, provinda da Prefeitura, ou mesmo, pela dificuldade motora/velocidade de escrita dos alunos; grande quantitativo de faltas.

Após uma breve descrição das rotinas, partiremos para o processo de análise da prática do professor propriamente dita, objeto de nosso estudo. Verificaremos os elementos principais dos dados recolhidos durante as observações de aulas:os conteúdos abordados, a forma que a Matemática foi apresentada em sala (implícita ou explicitamente), os aspectos positivos e negativos presentes na entrevista realizada diariamente com a professora, os tipos de conhecimento pedagógico e pedagógico do conteúdo (categoria de Shulman) e sobre a organização do ensino. Justificamos a importância deste capítulo por nos permitir o entendimento geral da dinâmica que é uma vertente da prática do professor e interfere diretamente nas aulas e consecutivamente no ensino da Matemática.

8.2.1 Rotina da Turma do 1º ano – Turma A

Após abertura dos portões às 13h30, a equipe gestora recebe os alunos na porta, ordenando a entrada dos mesmos para posterior formação de filas no pátio. Organizados por ano de escolaridade e ordem de chegada, realizam oração do Pai Nosso, declaração do Salmo 23 e ocorre o direcionamento dos alunos com seus respectivos professores para as salas de aulas. Esta turma tem uma peculiaridade no que se refere à pontualidade da professora, pois, esta costuma chegar à escola às 12h devido seu processo de locomoção e localização da escola matinal onde atua (próximo).

Há lanche e intervalo em que todos voltam para a sala aproximadamente às 16h. Tudo sincronizado mediante a um sinal que orienta os horários de toda escola. A saída às 17h30 embora seja uma prática comum solicitar a saída do filho (a) antes do horário.

Em sala, a primeira atividade é a distribuição dos cadernos e o recolhimento das atividades passadas para casa. Seguida pelos apontamentos de lápis e estruturação das atividades que serão feitas. Ora inicia-se pela correção da tarefa de casa (sempre realizada no livro didático), ora pela atividade a ser realizada em sala de aula (normalmente no caderno).

Dos 24 alunos, mais que a metade da turma éalfabetizada.

O calendário é uma atividade presente e diária na rotina, embora não tenha sido utilizado o instrumento oficial (calendário convencional). A representação da data era identificada a partir da sequência numérica colada no próprio quadro branco e numerada do 1 ao 100. Embora os meses possuam no máximo 31 dias, dentre a sequência numérica disposta, só eram ressaltados os números em questão (1 a 31) para caracterização da data.

Para tanto, era indicado (utilizando a oralidade e os dedos) de modo a apontar no quadro o número que representava a respectiva data. Enquanto a professora perguntava às crianças a respeito do número que representava a respectiva data, ora iniciava a contagem numérica a partir do 1 até chegar à data prevista, ora dizia a data de ontem e do dia posterior em forma de revisar antecessores e sucessores. Para este momento os alunos acompanhavam visualmente. O ano (2015) já era de domínio dos alunos e a identificação dos meses ocorria oralmente (repetição dos meses do ano em ordem até chegar no referido mês). O uso deste quadro de sequência numérica servia como base para demais atividades. Para esta turma, não há separação de horário de aula para as diferentes áreas do conhecimento.

8.2.2 Rotina da Turma do 2º ano – Turma B

Por se tratar de uma turma da mesma escola que a Turma A, os procedimentos de acesso à escola se assemelham, diferenciando-se dentro da sala. Assim como a turma anterior, não há horário para áreas de conhecimentos específicos a ser seguido. Segundo as professoras, as aulas ocorrem conforme necessidade dos alunos, mas, se busca enfatizar a Matemática diariamente.

Dos 22 inscritos na sala, 16 leem.

Das três turmas observadas, Turma B é a única cuja professora uma vez por semana é substituída por outra docente que faz atividade de leitura com os alunos, o que se chama de aula-atividade; para preparo planejamento e que faz parte do programa da Prefeitura do Recife, opcional aos professores.

8.2.3 Rotina da Turma do 3º ano – Turma C

Também com início às 13h30, a entrada na escola e organização para tal, muito se assemelha à realidade das Turmas A e B. Filas no pátio classificadas por ano. Os alunos vão às suas salas com as professoras, sem orações ou cânticos. Este momento de fila serve para transmitir informações sobre passeios, festividades, feriados ou outros.

Em classe, a atividade inicial era a reorganização (disposição das bancas). Embora estas já estivessem enfileiradas e organizadas, conforme a professora havia a necessidade de afastar ou aproximar as bancas, com indicação de onde deveria sentar cada aluno e conforme a proposta de trabalho para o dia.

Dentre as turmas observadas, Turma C é a única que apresenta um horário de aula a ser seguido. A divisão das disciplinas é feita entre antes e depois do lanche. Os dias dedicados para o estudo da Matemática são: terças e quintas (um horário – às vezes antes, às vezes depois do intervalo). Todos os alunos são cientes do livro e caderno específico que deveria ser trazido cada dia da semana. Por exemplo: “Hoje é dia de Ciências e Matemática, peguem o caderno/livro desta matéria!” (Frase cotidiana da professora).

Uma particularidade desta turma é o lanche e intervalo. Não há aviso para a escola, a merendeira chama na sala por volta das 15h30 (difere a cada dia), pois, depende do andamento do lanche das turmas anteriores. Assim, após, alimentação os alunos retornam à sala e são disponibilizados pela professora alguns minutos para conversarem, continuar a

atividade anterior ou mesmo brincarem. Tudo com o mínimo barulho possível. A saída ocorre às 17h30.

Turma C possui 26 alunos e 22 leem de forma bastante precária. Há crianças que não identificam o alfabeto e confundem alguns números. Para esta turma, uma vez por semana retiram livros da Biblioteca em um processo longo que ocasiona a retirada da metade do grupo para ir pegar livro e outra parte faz atividade; que tem como resultado a não conclusão das atividades por grupos/alunos e problemas quanto à apropriação de conteúdos, conforme relato da professora. Especificamente nos “dias de Matemática”.

A presença da pesquisadora em sala não pareceu afetar a rotina de nenhuma das turmas observadas.

As principais semelhanças entre as turmas foram a organização da entrada, disposição em fileiras e respectivos procedimentos pra sala de aula. Como diferenças, temos que, devido maior flexibilidade quanto ao horário de trabalho com as diferentes áreas do conhecimento e a tentativa de abordar estas de modo integrado, Turma A e B apresentaram maiores oportunidades para o trabalho com Matemática. Enquanto em relação à divisão do trabalho por áreas do conhecimento presente na Turma C, dizemos que esta não contribui para o ensino da Matemática uma vez que na administração do tempo e atividades, por vezes, não há/ “sobra” tempo para o ensino da Matemática.

Não obstante, o uso reforçado do livro didático como atividade de casa da Turma B promovia recortes descontextualizados da realidade matemática estudada. Além de que a presença de alunos leitores facilita o processo do ensino da Matemática pela independência na realização das atividades propostas (caraterística apenas desta turma dentre as observadas).