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Parâmetros curriculares nacionais para os ensinos Fundamental e Médio PCNs

CAPÍTULO 2 POLÍTICAS DE USO DE TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO

2.3 Parâmetros curriculares nacionais para os ensinos Fundamental e Médio PCNs

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, a partir de agora denominados simplesmente como PCNs, foram publicados inicialmente em 1998 e têm a finalidade de oferecer aos educadores do País as linhas norteadoras para o Ensino Fundamental no Brasil.

O termo “parâmetro” visa comunicar a idéia de que, ao mesmo tempo em que se pressupõem e se respeitam as diversidades regionais, culturais, políticas, existentes no país, se constroem referências nacionais que possam dizer quais os “pontos comuns” que caracterizam o fenômeno educativo em todas as regiões brasileiras (PCN, 1998, p. 49).

O documento ainda procura deixar claro que

O estabelecimento de parâmetros curriculares comuns para todo o país, ao mesmo tempo em que contribui para a construção da unidade, busca garantir o respeito à diversidade, que é marca cultural do país, por meio de adaptações que integrem as diferentes dimensões da prática educacional (PCN, 1998, p. 50).

Já em seu primeiro parágrafo introdutório, o documento traz uma informação pertinente para os fins dessa pesquisa, ou seja, mostra as novas exigências que se

colocam para a Educação, em decorrência dos avanços tecnológicos da sociedade contemporânea:

O papel fundamental da Educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades amplia-se ainda mais no despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos. Vivemos numa era marcada pela competição e pela excelência, em que progressos científicos e avanços tecnológicos definem exigências novas para os jovens que ingressarão no mundo do trabalho. Tal demanda impõe uma revisão dos currículos, que orientam o trabalho cotidianamente realizado pelos professores e especialistas em Educação do nosso país (PCN, 1998, p. 5).

Não se pode esquecer que se trata de um documento de cunho eminentemente político, que veicula uma ideologia neoliberal, bem adequado às determinações dos órgãos financiadores internacionais. No entanto, contém princípios ideológicos e filosóficos que têm valor na formação dos professores, alunos e também na configuração das escolas públicas do País:

Os Parâmetros Curriculares Nacionais nascem da necessidade de se construir uma referência curricular nacional para o Ensino Fundamental que possa ser discutida e traduzida em propostas regionais nos diferentes estados e municípios brasileiros, em projetos educativos nas escolas e nas salas de aula. E que possam garantir a todo aluno de qualquer região do país, do interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da zona rural, que freqüentam cursos nos períodos diurno ou noturno, que sejam portadores de necessidades especiais, o direito de ter acesso aos conhecimentos indispensáveis para a construção de sua cidadania (PCN, 1998, p. 9).

Quando o documento fala em “direito de acesso ao conhecimento”, percebemos a relevância da inclusão digital como ferramenta essencial na construção de uma Educação para a cidadania.

Estabelecido como diretriz para todas as escolas do País, o documento tem o cuidado de explicitar que cada escola o adotará de acordo com o tempo e as suas metas. Um dos aspectos apontados que diz respeito a essa pesquisa é o fato de colocar que a aprendizagem precisa ser significativa na escola, no momento de vida do aluno, no seu aqui e agora e não com uma hipotética utilidade futura. Assim, o documento explicita que uma de suas características é

[...] contrapor-se à idéia de que é preciso estudar determinados assuntos porque um dia eles serão úteis; o sentido e o significado da aprendizagem precisam estar evidenciados durante toda a escolaridade, de forma a estimular nos alunos o compromisso e a responsabilidade com a própria aprendizagem (PCN, 1998, p. 10).

Essa colocação faz lembrar o rap14 “Estudo errado”, de Gabriel, o Pensador, cantor de grande prestígio entre os jovens contemporâneos, que diz:

Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre

Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste - O que é corrupção? Pra que serve um deputado?

Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso! Ou que a minhoca é hermafrodita

Ou sobre a tênia solitária.

Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! [...] Vamos fugir dessa jaula! (2003)

Assim, coloca-se claramente o papel do ensino de LI, que tem uma aplicação imediata para o aluno, quando lida com as tecnologias.

No que diz respeito, especificamente ao ensino de língua estrangeira, o documento coloca que a aprendizagem de outro idioma além do materno “é uma possibilidade de aumentar a percepção do aluno como ser humano e como cidadão” e, para tanto,

[...] ela vai centrar-se no engajamento discursivo do aluno, ou seja, em sua capacidade de se engajar e engajar outros no discurso, de modo a poder agir no mundo social. Para que isso seja possível é fundamental que o ensino de Língua Estrangeira seja balizado pela função social desse conhecimento na sociedade brasileira.

O documento ainda salienta que tal engajamento se faz prioritariamente pela leitura, que vai proporcionar ao aluno o pluralismo linguístico e o contato com outras culturas, outros modos de ver o mundo e de lidar com ele:

Tal função está relacionada, principalmente, ao uso que se faz da Língua Estrangeira via leitura, embora se possam também considerar outras habilidades comunicativas, em função da especificidade de algumas línguas estrangeiras e das condições existentes no contexto escolar. Os conteúdos de Língua Estrangeira se articulam com os temas transversais, pela possibilidade que a aprendizagem de línguas traz para a compreensão das várias maneiras de se viver a experiência humana.

Além disso, ainda que seja desejável uma política de pluralismo linguístico, é preciso considerar aspectos da história dos alunos, da comunidade e da cultura local como critérios para orientar a inclusão de uma determinada língua estrangeira no currículo (PCN, 1998, p. 63).

14 Rap: [Ingl. acrôn. do ingl. rhythm and poetry.] Substantivo masculino 1.Mús. Tipo de música popular, urbana, de origem negra, com ritmo muito marcado e melodia simples, pouco elaborada (HOLANDA, 2000,versão eletrônica, verbete rap).

Quanto ao Ensino Médio, o documento salienta a importância da língua estrangeira na operacionalização de novas tecnologias e fala em uma “revolução informática” que promove mudanças radicais na área do conhecimento (PCNEM, 2000, p. 5). A escola não pode ignorar tal revolução, uma vez que recebe diretamente a sua influência, tanto em relação aos alunos quanto aos professores.

Não se pode mais postergar a intervenção no ensino médio, de modo a garantir a superação de uma escola que, ao invés de se colocar como elemento central de desenvolvimento dos cidadãos, contribui para a sua exclusão. Uma escola que pretende formar por meio da imposição de modelos, de exercícios de memorização, da fragmentação do conhecimento, da ignorância dos instrumentos mais avançados de acesso ao conhecimento e da comunicação. Ao manter uma postura tradicional e distanciada das mudanças sociais, a escola como instituição pública acabará também por se marginalizar (PCNEM, 2000, p. 12).

Segundo os PCNs, essa revolução tecnológica engendra novas formas de vivência social, novos processos de produção “e até mesmo novas definições de identidade individual e coletiva” (PCENEM, 2000, p. 13). Toda essa realidade tem uma influência direta na escola e provoca a necessidade urgente de se modificar o conceito de ensino para o de uma aprendizagem permanente, em um processo de formação continuada, para que se possa construir a cidadania que permita ao aluno lidar com as transformações sociais e, ao mesmo tempo, contribuir para com elas.

Na seção “Linguagens, códigos e tecnologias” (p. 19), o documento traz informações pertinentes para o escopo dessa pesquisa:

A linguagem é considerada aqui como capacidade humana de articular significados coletivos em sistemas arbitrários de representação, que são compartilhados e que variam de acordo com as necessidades experiências da vida em sociedade. A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido (PCNEM, 2000, p. 19).

As considerações a respeito da linguagem aprofundam-se, quando o documento diz que as linguagens se inter-relacionam no seio das práticas sociais e da História dos povos. Assim, a priorização, obviamente, é para a Língua Portuguesa. No que tange às línguas estrangeiras, o documento pontua que seu domínio configura-se “como forma de ampliação de possibilidades de acesso a outras pessoas e a outras culturas e informações” (PCNEM, 2000, p. 19). Logo em seguida, o documento pontua o papel da informática “como meio de informação, comunicação e resolução de problemas, a ser utilizada no conjunto das atividades profissionais, lúdicas, de aprendizagem e de gestão

pessoal” (PCNEM, 2000, p. 19). Nesses dois trechos, evidencia-se que a LI e o uso dos computadores constituem ferramentas na construção da cidadania e no acesso ao conhecimento.

O documento nada diz, especificamente, a respeito do objetivo dessa pesquisa, que é o uso de novas tecnologias no ensino de língua estrangeira. No entanto, suas colocações a respeito das relações entre linguagem e cultura mostram-se úteis para a reflexão a respeito do papel do ensino de língua estrangeira na escola:

A aprendizagem [...] deve desenvolver competências e habilidades para que o aluno entenda a sociedade em que vive como uma construção humana, que se reconstrói constantemente ao longo de gerações, num processo contínuo e dotado de historicidade; para que compreenda o espaço ocupado pelo homem enquanto espaço construído e consumido; para que compreenda os processos de sociabilidade humana em âmbito coletivo, definindo espaços públicos e refletindo-se no âmbito da constituição das individualidades; para que construa a si próprio como um agente social que intervém na sociedade [...] para que avalie o impacto das tecnologias no desenvolvimento e na estruturação das sociedades; e para que se aproprie das tecnologias produzidas ou utilizadas pelos conhecimentos (PCNEM, 2000, p. 21). No próximo segmento, serão mostradas colocações do Programa Nacional de Informática na Educação - PROINFO, para verificar em que sentido se aplica aos propósitos desse trabalho.