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Ter acesso a computadores e a Internet é ser incluído digitalmente?

CAPÍTULO 1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

1.5 Ter acesso a computadores e a Internet é ser incluído digitalmente?

Em seu processo de implementação, a inclusão digital se depara com mecanismos sociais e econômicos que provocam a separação entre indivíduos e a exclusão entre os povos. Dessa forma, tornam-se reduzidas as possibilidades que o

13 Nossa tradução de Children today not only have different learning styles; they also face different learning requirements.

ambiente digital poderia oferecer às pessoas. Especificamente, no contexto da escola pública, a inclusão digital proporciona aos alunos condições de ampliar seus conhecimentos, ações e posturas, bem como de tecer diversas reflexões a respeito da sociedade, da aprendizagem e de si mesmos. No que tange ao uso do computador e ao processo de inclusão digital, Spigaroli et al. (2005) assinalam que

Compreendemos que, de forma significativa, o computador é uma ferramenta importante para potencializar a expressão, a criação e a comunicação nos alunos, com o desenvolvimento de projetos, construindo suas competências mediadas e acompanhadas por nós a cada encontro, em que o ambiente de aprendizagem proporciona a ação e a reflexão de todos dos sujeitos envolvidos no processo, considerando as etapas concluídas ou não, que permitirão a todos uma reflexão sobre o produto final de cada atividade, bem como as perdas e os ganhos obtidos (SPIGAROLI et al., 2005, p. 228). A possibilidade de interagir com o outro no mundo digital é, hoje, uma realidade para muitos que têm acesso ao computador e à Internet. Essa interação, a cada dia, tem quebrado barreiras geográficas, culturais e pessoais e proporciona a oportunidade de compartilhar novos pensares e conhecimentos. Essa interação, dentro desse contexto digital, aproxima e faz o internauta, na maioria das vezes, agir com mais eficácia ao analisar, compreender, questionar, rever e/ou modificar seus próprios pensamentos e — por que não?— até suas ações.

Partindo desse contexto, Pellanda (2005) nos mostra que a informática aprofunda “nossa forma de conhecer, de nos relacionarmos com a natureza e com as pessoas” e ainda: “ela influi, decisivamente, na forma como conhecemos e como nos construímos como subjetividades.” Assim, quando produzimos um texto no computador, podemos acompanhar as recorrências da mente de forma circular e não linearmente, ou seja, acompanhamos todas as recorrências do processo de pensamento.

Ainda, de acordo com Pellanda (2005, p. 43), configura-se, no que se remete ao contexto digital, um aprofundamento do “fosso social entre incluídos e excluídos” e que:

É preciso pensar em estratégias de inclusão digital não estreitamente ligadas a adestramentos e acesso a serviços, mas estratégias ampliadas de inclusão social mediante uma cultura digital com todo o potencial que esse espaço tem para expandir o humano, expandindo o conhecimento e a consciência (PELLANDA, 2005, p. 43).

Dessa forma, a inclusão digital na escola pública mostra-se não apenas como um modismo, mas como uma necessidade para que se proporcione a todos os alunos, independentemente de classe social, econômica ou de diferenças individuais, o acesso ao mundo das ideias e a consequente diminuição das barreiras de exclusão social e exercício da cidadania.

Há um espaço entre aqueles que têm acesso à tecnologia e aqueles que não o têm, levando essas pessoas à chamada “exclusão digital”. Podemos dizer que aqueles que têm acesso estão incluídos nas tecnologias; e os que não possuem esse acesso, seja por que motivo for, encontram-se excluídos digitalmente, talvez até por opção. De acordo com Lopes (2003), dos 170 milhões de pessoas de nosso país, apenas “20 milhões têm acesso a um computador”, mas nossa maior esperança é essa nova geração que tem todas as possibilidades de mudar esse fato. Segundo o autor,

Ainda assim, quem olhar com mais atenção esse retrato observará que crianças e jovens estão embarcando no mundo digital, o que permite algum otimismo para o futuro. Nos últimos três anos, o número de incluídos aumentou de 10% para 15%, ou seja, 50% de acréscimo (LOPES, 2003, p. 1). As novas tecnologias não resolverão todos os problemas que cercam a sociedade contemporânea, seja de ordem social, política, econômica e educativa do mundo, mas, com o seu uso, muitas coisas podem ser melhoradas, favorecendo diversas pessoas de inúmeros setores.

Em nossos estudos, verificamos que há sérias políticas de inclusão digital que tentam envolver as comunidades, criando projetos para tal, beneficiando, por meio de cursos que envolvem as novas tecnologias, as pessoas que estão excluídas digitalmente. Esse tema, inclusão digital é chamado, em Inglês, de Digital Divide e em Francês, de

Fracture Numérique, mas independentemente do lugar onde seja usado, o que é

relevante é o objetivo a que se propõe. Estar incluído digitalmente não é, como se pode pensar, ter acesso ao computador conectado à Internet, trocar e-mails ou participar de salas de bate-papos, os conhecidos chats, mas vai muito além; inclusão digital é poder usufruir de todas as facilidades e recursos tecnológicos que as novas tecnologias podem oferecer em prol de uma melhoria de vida de cada cidadão.

Quando falamos de inclusão digital, uma grande parte de pessoas entende que ter computadores conectados à Internet é ser incluído digitalmente, ou que “profissionalizar as pessoas na informática” é sinônimo de inclusão digital.

Diante do exposto, pode-se afirmar que quem não se incluir digitalmente o mais rápido possível encontrará dificuldades, se é que já não as está encontrando, pois em cada setor da sociedade na qual estamos inseridos, percebemos que tudo é informatizado. Hoje, por meio dessas ferramentas tecnológicas em ascensão, podemos usufruir de suas facilidades no conforto de nossa casa, adquirir produtos, efetuar pagamentos, usar e prestar serviços, estudar, comunicar, pesquisar e usar até como entretenimento. Isso é inclusão digital, mas, para que ela aconteça, é necessário estarmos alfabetizados digitalmente e, assim, podermos desfrutar de tudo o que o ciberespaço pode oferecer ao internauta, proporcionando, cada vez mais, uma melhoria no estilo de vida de cada um.

No contexto de nossa pesquisa, inclusão digital na escola refere-se à apropriação das tecnologias e sua inserção nos projetos e práticas pedagógicas, visando contribuir para o processo de ensino e aprendizagem.

Como já foi exposto, a inclusão digital é o aproveitamento, em nosso próprio benefício, de todos os aspectos favoráveis oferecidos pela tecnologia. Sabemos o quanto ela ajudou e ainda tem ajudado as pessoas ao longo da História, desde as antigas até as mais recentes; é importante ter habilidade para lidar com elas, fazendo delas uma ponte entre nossos anseios e as nossas conquistas, pessoais e intransferíveis, que, assim como acontece como conhecimento, temos que buscar e construir a cada dia.

A sociedade modifica-se sempre, a cada invenção e inovação tecnológica, modificando hábitos e atitudes; isso é evolução, que vem para atender de forma natural toda uma população e os avanços tecnológicos vêm em resposta às necessidades de um grande número de pessoas. O que lamentamos é o preço alto que temos que pagar por isso. Mesmo o número de usuários conectados à Internet tendo crescido progressivamente, ainda é caro, para grande parte da população mundial, usufruir de todos os benefícios que as tecnologias oferecem. Em seu livro, Silveira (2001), que também é presidente do Instituto Nacional da Tecnologia da Informação (ITI), argumenta que a privatização de serviços para ter acesso à Internet ainda não “ajudou a baratear a conexão, o que é um dos maiores obstáculos para a ampliação da Internet no Brasil”.