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Por ocasião da implantação da República, existiam quinze103 Juntas de Paróquia, no concelho de Loures: Santa Maria de Loures104, São Saturnino de Fanhões, Nossa Senhora da Purificação de Bucelas, Santíssimo Nome de Jesus de Odivelas, São Tiago de Camarate, Senhora da Purificação de Sacavém, São Julião do Tojal, Santo Antão do Tojal, São João da Talha, Santa Iria d’Azóia, Póvoa de Santo Adrião, São Pedro de Lousa, São Julião de Frielas, São Silvestre de Unhos e Nossa Senhora da Encarnação da Apelação. Em cada paróquia estavam eretas Irmandades ou Confrarias, considerando as igrejas, ermidas e capelas, sob a autoridade eclesial paroquial respectiva.

O ambiente religioso e as vivências religiosas, após a implantação da República, começam a ser afetados com o processo de arrolamento dos edifícios de culto, bens imobiliários e objetos, realizado em Junho de 1911 na freguesia de Loures.

As capelas, sob a dependência da Igreja Paroquial de Loures eram: capela de São Pedro de Caneças; capela de Santa Ana105, em Loures; capela de Nossa Senhora

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Esteves Pereira; Guilherme Rodrigues – Loures. In Portugal: dicionário histórico, corográfico,

biográfico, bibliográfico, numismático e artístico. Vol. 4. Lisboa: João Romano Torres, 1909, p. 543-

544. Mapa do concelho de Loures adaptado. In Loures tradição e mudança I centenário da formação

do concelho (1886-1986). Loures: Câmara Municipal de Loures, 1986, vol. 1, p. 33-44. O mapa

contém imagens das ermidas e Matriz da paróquia de Loures (cf. Anexo XXVII). 104

Os achados arqueológicos em Loures remontam o povoamento desta região ao Paleolítico. Joaquim José Mendes Leal refere o povoamento de Loures desde os romanos, a edificação da Igreja situa entre 1190 e 1220 e a visitação do bispo de Lisboa D. Ayres Vasques à Igreja que elevou a matriz, em 1250 (In Mendes Leal – Admirável igreja matriz de Loures, p. 99). A fundação da povoação e o seu fundador são desconhecidos, mas no século XII, o nome da povoação de Loures surge numa das visitações realizadas pelo bispo da diocese de Lisboa D. Aires Vasques. A povoação foi comenda da Ordem de Cristo e, possivelmente, pertenceria aos Templários. Foi vigairaria da apresentação da mitra, «tendo passado a reitoria.» Loures pertenceu ao termo de Lisboa e passou a fazer parte do concelho dos Olivais com a sua criação em 11 de Setembro de 1832. Em 27 de Julho de 1886, a freguesia de Loures integrou o concelho de Loures. O orago de Loures é Santa Maria. (Loures, in

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa: Editorial Enciclopédia, Limitada, s.d., vol. 15,

p. 506-507). A religiosidade na freguesia de Loures era significativa, tendo em conta as ermidas públicas e privadas existentes, sob a dependência da Igreja Paroquial de Loures, e as manifestações de piedade popular, como as romarias e as procissões, pelo menos até ao Liberalismo. Cf. Joaquim Mendes Leal – Admirável igreja matriz de Loures, 1909.

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A capela de Santa Ana foi cedida à C. M. L. para a construção de um hospital ou de uma escola (Decreto nº 5959. D.G. nº 138, I série (15 de Julho de 1919). Os móveis, utensílios e alfaias foram vendidos em hasta pública em 19 de Maio de 1923 pela Segunda Comissão de Administração dos Bens das Igrejas de Lisboa (ACMF/Arquivo/CJBC/Lis/LOU/ARROL/006, p. 49).

43 da Saúde106, em Montemor; capela de Santo Amaro107 (São Filipe) em A-dos-Cãos; capela de Santa Petronila, na Murteira; ermida de Senhor Jesus dos Desamparados108, no Tojalinho109; todas elas foram alvo do processo de arrolamento, encerramento dos templos e, posteriormente, alguns dos seus bens110 foram vendidos em hasta pública. Estes acontecimentos condicionaram e impediram a liberdade de culto, uma vez que incluíam, além dos edifícios, os objetos de culto.

O advento da República alterou a organização religiosa nas paróquias do concelho de Loures, após a publicação do decreto de 20 de Abril de 1911, em que se

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A capela de N. Sr.ª da Saúde foi entregue à Fábrica da Igreja em 8 de Maio de 1944, pelo auto de entrega, assim como uma oliveira no adro. Dois terrenos e uma morada de casas foram transferidos para o Ministério das Finanças em 14 de Março de 1917. Os móveis, utensílios e alfaias foram vendidos em hasta pública em 2 de Agosto de 1924, na sede da 2ª Comissão de Lisboa. Quatro painéis de milagres foram restaurados pelo Conselho de Arte e Arqueologia para o Museu Nacional de arte Antiga. (ACMF/ Arquivo/CJBC/Lis/LOU/ARROL/006, p. 50-51).

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ANTT – Memórias paroquiais: dicionário geográfico. Vol. XXI, 12 de Maio de 1758, fl. 1255. Na capela de S. Filipe, as imagens, os paramentos, as alfaias e os móveis foram vendidos em hasta pública, em 6 de Dezembro de 1923, autorizada pela Comissão. O edifício da capela, uma parcela de terra em redor do templo e sete oliveiras num terreno municipal foram devolvidos à Fábrica da Igreja em 8 de Maio de 1944 pelo auto de entrega (ACMF/ Arquivo/CJBC/Lis/LOU/ARROL/006, p. 45-46). As capelas de S. Filipe e de Stª Ana foram as únicas arrendadas na paróquia de Loures, segundo uma relação de imóveis da Comissão de Inquérito a que se refere o Decreto de 21 de Janeiro de 1918, em circular de 27 de Fevereiro de 1918 (ACMF/CJBC/LIS/LOU/ADMIN/089. Cx. 274, fls. 2-3). O jornal

Quatro de Outubro publicitou um edital da Comissão Concelhia de Administração dos Bens

Eclesiásticos em que anunciava a arrematação, para arrendamento, da capela de Stº Amaro (S. Filipe), ermida de «Santana», e ainda da ermida do Espírito Santo em Ponte de Lousa, capela de S. Roque perto de Stº Antão do Tojal, capela de S. Sebastião em S. Julião do Tojal e da Quinta da Mitra, Palácio dos Arcebispos, em Stº Antão do Tojal. In Quatro de Outubro. Nº 128 (11 de Novembro de 1914) 3. Em 29 de Novembro foi comunicada a arrematação, para arrendamento, da ermida de S. Roque da paróquia de Bucelas. In Quatro de Outubro. Lisboa. Nº 132 (11 de Novembro de 1914) 3.

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O edifício e pertences da Ermida do Senhor Jesus dos Desamparados foram entregues à Fábrica da Igreja pelo auto de entrega de 8 de Maio de 1944 (ACMF/ ARQUIVO/CJBC/LIS/LOU/ARROL/006, p. 52).

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ACMF/ Arquivo/CJBC/LIS/LOU/ARROL/006. Processo de arrolamento da Igreja Matriz e capelas sob a sua dependência da Paróquia de Loures, na presença do Administrador do Concelho, João Raymundo Alves; do representante da Câmara Municipal, António Saraiva, e do funcionário da repartição das Finanças de Loures, Valentim Augusto da Costa. Após um longo processo de pedido de reabertura da capela de São Pedro de Caneças ao culto, com muitas contradições como se verá, a incorporação do edifício da capela na fazenda nacional foi declarada sem efeito em 2 de Outubro de 1923. Dos bens arrolados, foram vendidos em hasta pública terrenos de cultivo e quintas. O edifício e seus pertences foram entregues à Fábrica da Igreja pelo auto de entrega de 8 de Maio de 1944. Em de 28 de Julho de 1943, as casas que pertenciam à capela foram arroladas e, em 9 de Outubro de 1946, as ditas casas foram entregue ao Benefício Paroquial. Com a República, numa das casas foi estabelecida a primeira sede da freguesia de Caneças e também aí se realizaram os atos do registo civil (casa situada na Rua 20 de Dezembro, em Caneças, junto ao antigo Largo do Pião, cf. Anexo LV).

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Na Igreja Matriz de Loures, «móveis, utensílios, paramentos e alfaias da antiga igreja de santa Maria de Loures foram vendidos em hasta pública, efectuada em 19 de Maio de 1921 pela 2ª Comissão de Administração dos Bens das Igrejas de Lisboa, processo nº 2956 (ACMF/Arquivo/CJBC/LIS/LOU/ARROL/006, p. 33). No mesmo processo de arrolamento, outros bens foram arrematados em 7 de Fevereiro de 1924 (p. 3 verso). A cedência do passal, de uma morada de casas e de uma courela de oliveiras à Câmara Municipal de Loures foi anulada para a instalação do quartel da Guarda Republicana (D.G. nº 18, I série, 1 de Fevereiro de 1917). A Igreja matriz foi entregue à Fábrica da Igreja com seus pertences, pelo auto de entrega de 8 de Maio de 1944 (ACMF/ Arquivo/CJBC/LIS/LOU/ARROL/006, p. 33-40).

44 registou o encerramento das igrejas ao culto e apropriação dos respectivos bens: Loures, incluindo a capela de Caneças, Lousa, Bucelas, Fanhões, Santo Antão e São Julião do Tojal, Póvoa de Santo Adrião, Frielas, Odivelas111. Algumas das Irmandades destas paróquias harmonizaram os estatutos, ao abrigo do artigo 17º da Lei da Separação, transformando-se em associações cultuais112. Outras reformaram os seus compromissos ao abrigo do artigo 38º da mesma lei113.

As Irmandades que reformassem o seu compromisso ao abrigo do art. 17º teriam de contribuir para as despesas de culto, desde que destinadas à assistência e beneficência. Segundo o art. 32º, as corporações com o encargo de culto deviam aplicar «um terço de quanto receberem para fins cultuais a atos de assistência e beneficência»114. Se a corporação fosse encarregue do sustento e habitação do ministro da religião, aplicaria «a sexta parte»115 do que recebia em ações de beneficência e assistência, conforme o art. 33º. Entendia-se que as Irmandades que harmonizassem os seus estatutos ao abrigo do art. 38º diferiam das associações cultuais criadas de acordo com os anteriores artigos. As corporações que reformassem o seu compromisso segundo a disposição do art. 38º, além de contribuírem para as despesas do culto, só podiam aplicar ao culto uma quantia que não excedesse «a terça parte dos seus rendimentos totais e dois terços da quantia» que tinham dispendido com o culto «em média, nos últimos cinco anos»116. Para a autoridade eclesiástica, as corporações que harmonizassem os estatutos ao abrigo dos artigos 17º, 32º e 33º transformavam-se em associações cultuais, em que a

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Lista do Governo Civil de Lisboa produzida entre 24 de Janeiro e 3 de Março de 1914 (ACMF/ ARQUIVO/CJBC/INVEN/016. Cx. 667).

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Nas Igrejas de Apelação, Camarate e Sacavém, as respetivas Irmandades do Santíssimo Sacramento constituíram-se em cultuais. Despacho da Direção Geral dos Eclesiásticos do Ministério da Justiça, de 25 de Novembro de 1912, publicado no D.G. nº 278 (26 Novembro 1912), aprovou «os estatutos da associação cultual, denominada Instrução, Beneficência e Culto, com sede na freguesia de Camarate» e da «associação cultual denominada Instrução, Beneficência e Culto, com sede na freguesia de Sacavém».

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As Irmandades do SSº da Póvoa de Santo Adrião e de Bucelas chegaram a ser denominadas de Comissão de Assistência e Beneficência, em 1913, e a Ordem Terceira de S. Francisco de Loures, em 1918. As Irmandades do Santíssimo de Odivelas e de Fanhões também tomaram conhecimento dos estatutos aprovados, respetivamente em 3 Setembro e 8 de Outubro de 1913 (AML – Administração do Concelho, anos de 1913 e 1918). Embora os estatutos das Irmandades do SSº Sacramento de Odivelas e de Fanhões tivessem sido aprovados, as igrejas foram encerradas.

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Art. 32º - Lei da Separação de 20 de Abril de 1911, publicada no D.G. nº 92, de 21de Abril de 1911.

115

Art. 33º - Lei da Separação de 20 de Abril de 1911, publicada no D.G. nº 92, de 21de Abril de 1911.

116

Art. 38º - Lei da Separação de 20 de Abril de 1911, publicada no D.G. nº 92, de 21de Abril de 1911.

45 organização e gestão do culto ficavam na dependência de leigos117, assim como o sustento do clero. O culto era exercido por associações de assistência e beneficência e não por associações cultuais118. As Irmandades eram aconselhadas a reformarem os estatutos ao abrigo do art. 38º, para a manutenção da sua autonomia em relação ao poder temporal e da sua dependência da autoridade eclesiástica.

Posições estremadas que, ao longo do tempo, influenciaram a vida religiosa, a relação entre os poderes da Igreja e do Estado e, simultaneamente, o relacionamento entre a sociedade laica e a Igreja e a autoridade eclesiástica e os leigos ao nível nacional e local.

Ao Estado laico, sem confissão religiosa, caberia «a formação moral e cívica dos indivíduos»119 e tudo o que se relacionasse com a religião pertencia à esfera privada. Todavia, o novo projeto cultural republicano estava a implicar o desrespeito pela autonomia dos cidadãos na sua liberdade de consciência e religiosa, pretendendo anular a influência secular da Igreja Católica na sociedade, com todas as limitações já mencionadas após a publicação do decreto de 20 de Abril de 1911.

No concelho de Loures, ocorreram em algumas paróquias manifestações populares contrárias à liberdade religiosa, negando o direito de cidadania apregoado pela República.

Na sequência de atos praticados nas localidades do Concelho, que contrariavam a própria lei120, quanto à “defendida” liberdade religiosa, o Governador Civil de Lisboa, confrontado com as reclamações, devidas à expulsão dos párocos de Loures, Fanhões e Bucelas, emitiu o seguinte despacho para a Administração do Concelho, em ofício de 17 de Julho de 1912, em data anterior ao sucedido com o padre capelão de Caneças:

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Representação coletiva dos Bispos portugueses de 15 de Março de 1913 (ACMF – CJBC-LEGIS- 045). Cf. Anexo XXV.

118

Cf. Luís Salgado de Matos – A separação do Estado e da Igreja, p. 164, refere-se à posição do Cardeal Merry del Val (Secretário de Estado da Santa Sé, no pontificado de Pio X).

119

Fernando Catroga – O republicanismo em Portugal: da formação ao 5 de Outubro de 1910. 3ª ed. Alfragide: Casa das Letras, 1910, p. 214.

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Lei da Separação do Estado das Igrejas, 20 de Abril de 1911, artigos 1º e 3º - Artigo 1º - «A República reconhece e garante a plena liberdade de consciência a todos os cidadãos portugueses e ainda aos estrangeiros que habitarem o território português»; Artigo 3º - «Dentro do território da República ninguém pode ser perseguido por motivos de religião, nem por perguntado por autoridade alguma acerca da religião que professa.» Perante as acções que violentaram a liberdade religiosa, o Ministro do Interior, Duarte Pereira da Silva, divulga pelos concelhos o Edital de 17 de Julho de 1912, sobre os abusos cometidos, contrários à lei.

46 «Diga-se à autoridade Administrativa que todos os cidadãos portugueses têm direitos consignados na lei, que só por lei podem sofrer restrição e que não é admissível que cada qual tome para si atribuições que exclusivamente às autoridades constituídas pertencem.

Nestes termos deverá dos factos que neste ofício relaciona levantar o necessário auto, procedendo às investigações necessárias afim de se lhe dar o devido destino visto que existe alguém a queixar-se como lesado.»121

Observando a documentação relativa à correspondência entre o Governo Civil e a Administração do Concelho, constatamos a preocupação da primeira entidade em que a lei fosse cumprida e não servisse de justificação a atos menos lícitos, dos quais chegavam reclamações ao Governo Civil. Por este motivo, o Governador Civil122 de Lisboa reforçou o pedido de informação sobre o papel dos regedores e dos administradores do Concelho na questão da expulsão dos párocos de Loures, Fanhões, e Bucelas.

Do mesmo modo, o pároco de Loures, Joaquim José Pombo, confrontado com delações de republicanos não católicos que o acusavam de ter fugido, redige uma carta ao administrador do Concelho, datada de 10 de Agosto de 1912, mencionando que se ausentara de Loures por motivo de saúde, há mais de ano e meio, conforme atestado médico enviado ao Ministro da Justiça123. A sua saúde impediu-o de continuar a exercer ordens em Loures, pelo que não devia constituir motivo para o encerramento da Matriz, nem para ficar impedido de beneficiar da pensão do estado. Embora o pároco de Loures se tenha declarado pensionista124 do Estado não significa que fosse apoiante do regime vigente. A pensão era o seu sustento, tanto mais que o passal acabou por ser cedido à Câmara Municipal de Loures e, por outro lado, continuava a ser considerado «o clero como parte integrante do funcionalismo público.125»

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AML – Administração do Concelho de Loures - Correspondência recebida, ano 1910. 122

AML – Administração do Concelho de Loures - Correspondência recebida, ano 1912. Ofício de 17 de Agosto de 1912.

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AML – Administração do Concelho de Loures - Correspondência recebida, ano 1912. 124

Carta enviada ao Administrador do Concelho, em Outubro de 1910, em que se comprometia a acatar as novas instituições. O pároco Augusto José Marques Soares da Igreja da Póvoa de Santo Adrião também redigiu uma carta em que se comprometeu respeitar «as novas instituições […] e com elas colaborar na nossa amada Pátria.» Carta datada de 31 de Outubro de 1910 (AML – Administração do Concelho de Loures - Correspondência recebida, ano 1910). A Irmandade do SSº Sacramento da Póvoa de Stº Adrião transformou-se em Comissão de Assistência e Beneficência da freguesia (AML – Administração do Concelho de Loures - Correspondência recebida, ano 1913. Ofício do Governo Civil de Lisboa para a alteração dos estatutos, 8 de Julho de 1913).

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47 O ofício remetido ao Diretor dos Negócios Eclesiásticos, em 25 de Maio de 1914, pelo pároco Joaquim José Pombo mostra que a celebração dos atos religiosos tinha sido interrompida abruptamente na Igreja Paroquial, o padre refere a «expulsão arbitrária do padre que o substituía, privando-o também dos benefícios materiais do estado»126. Segundo o pe. Álvaro Proença, o padre António Martins da Silva substituiu o pároco Joaquim Pombo e, no decorrer dos acontecimentos políticos em Loures, teria estado preso em Lousa e depois conduzido para Lisboa, juntamente com os padres de Bucelas e Fanhões127. O padre de Bucelas foi preso por bucelenses «por suspeita de conspirador»128. O padre de Fanhões apresentou queixa contra um cidadão por ter retirado da Igreja objetos de culto129.

Mas, os protestos continuavam a chegar ao Governo Civil de Lisboa, face a abusos cometidos contra os locais de culto, cruzeiros, pelourinhos, párocos e fiéis. Situações que originaram vários telegramas de Lisboa para a administração concelhia130, pedindo o respeito pela liberdade de culto.

Estes acontecimentos condicionaram as manifestações de piedade popular e o culto religioso no Concelho e, designadamente, na paróquia de Loures à qual Caneças pertencia.

As ocorrências no concelho de Loures para limitar ou impedir o culto católico nos templos também se manifestaram na realização de procissões. O pároco de

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ACMF/ CJBC/LIS/LOU/CEDEN/001 - Processo 2782, L.7, fl. 80. No mesmo ofício, o padre Joaquim José Pombo deu o seu parecer desfavorável à utilização da Igreja Matriz de Santa Maria de Loures para outros fins que não os religiosos.

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Álvaro Proença – Subsídios para a história do concelho de Loures. Lisboa: União Gráfica, 1940, vol. 1, p. 46. O pároco teria exercido ordens entre 1910 e 1912. Mas, em 14 de Outubro de 1912, o Patriarca D. Mendes Belo encarregou o padre de Stº Estevão das Galés, Manuel Pereira, de paroquiar a Igreja de Loures, por ausência do pároco de Loures. Na carta afirma que o Santíssimo se encontra «há muito por renovar, e no caso das espécies já estarem corrompidas» o padre devia «queimá-las e

lançar as cinzas no sumidouro.» (AHPL – Livro 2º do registo de correspondência oficial de Sua

Eminência Reverendíssima Senhor D. António com vigários e párocos (1910 a 1913) U.I. 112. Carta

nº 245, de 14 de Outubro de 1912). 128

Ofício do regedor de Bucelas Júlio Dias da Conceição, de 16 de Julho de 1912, ao Administrador do Concelho (AML – Administração do Concelho de Loures - Correspondência recebida, ano 1912). Nesta data, João Raymundo Alves era o Administrador que, posteriormente, foi afastado do cargo para que o inquérito apurasse, ou não, a sua responsabilidade nos atos cometidos contra os párocos (Exoneração em 25 de Julho de 1912 pelo Governador Civil de Lisboa. AML – Administração do Concelho de Loures - Correspondência recebida, ano 1912).

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Ofício da Comissão Central da Execução da Lei da Separação ao Administrador do Concelho de Loures para que se averiguasse o sucedido, de 19 de Julho de 1912 (AML – Administração do Concelho de Loures - Correspondência recebida, ano 1912).

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AML – Administração do Concelho de Loures - Correspondência recebida, ano 1910. Ofício de 15 de Outubro e o telegrama de 24 de Outubro de 1910 em que se pedia a presença do Administrador do Concelho no Governo Civil.

48 Fanhões, em ofício de 23 de Maio de 1912131, comunica ao Administrador do Concelho que tinha autorização do Governo Civil para a presença de dois polícias cívicos132 na festa religiosa, que ocorreria no dia 26 de Maio de 1912. No entanto, faltava a confirmação oficial da Administração.

A continuidade das associações laicas religiosas e a liberdade de culto nas igrejas ou capelas onde tinham sido eretas passaram a estar comprometidas. Com o encerramento dos locais de culto, a falta de aprovação dos estatutos de algumas irmandades, a perseguição e expulsão de párocos, o arrolamento de bens, a vida religiosa no concelho de Loures viveu momentos conturbados, nos primeiros anos do regime republicano. No entanto, a prática e vivência da religião expressava-se com fraca mobilização da comunidade na paróquia de Loures, já no período da monarquia liberal. Para Mendes Leal, as Irmandades evidenciavam um fraco dinamismo na Igreja de Loures, no final do séc. XIX e início do séc. XX:

«Em 1889 vindo nós morar para Loures, vendo o desleixo das quatro Irmandades da Igreja, que arrogavam existência - Irmandade do Santíssimo - das Almas - Santo Nome de Jesus e Conceição (que nem a festa do Orago da