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Para além dos livros das unidades de exploração e produção

OS LIVROS DE MEMÓRIA E A IDENTIDADE PETROLEIRA

3. Para além dos livros das unidades de exploração e produção

Até aqui poderíamos pensar que essa identidade do petroleiro – como pioneiro, capaz de superar desafios e de elevado conhecimento técnico, sujeito que contribui para o desenvolvimento da nação – esteja presente apenas na narrativa dos livros das unidades de exploração e produção de petróleo, afinal, os quatro livros de unidades aqui analisados são da área de exploração e produção de petróleo e, mesmo o

179 livro produzido pela sede, aqui analisado, tem foco na história dessa área, visto que objetiva explicar a trajetória da companhia até as atividades na camada pré-sal. Contudo, a identidade do petroleiro extrapola a área operacional da companhia. Petroleiro não seria apena aquele que busca encontrar petróleo e gás, na terra e no mar, e viabilizar a sua produção. Petroleiro seria também o operador da unidade de refino, aquele dedicado à manutenção dos dutos e oleodutos, enfim, aquele trabalhador em qualquer um dos pontos de todo o ciclo operacional dessa atividade, da exploração à distribuição. E não só. Petroleiro seria todo o empregado da Petrobras, esteja em atividade operacional ou nos escritórios da companhia, nas portarias das unidades ou nos almoxarifados. E a composição desses livros de memória reforça essa identidade. Qualquer que seja a atividade exercida na companhia, mesmo aquelas cumpridas em ambientes estranhos à atividade petrolífera, é entendida, nos livros, como parte na construção do sucesso da companhia. Para entendermos melhor como as diferentes áreas da companhia seguem essa mesma tendência, percorro alguns outros livros de memória da Petrobras, para além daqueles das unidades de exploração e produção de petróleo.

Vejamos o que diz o livro comemorativo dos 40 anos da Comissão de Normas Técnicas da Petrobras (CONTEC), que é peculiar por se tratar de uma área pouco conhecida na companhia. Em sua apresentação lê-se que a história do setor “faz lembrar a boa época do pioneirismo na Petrobras quando tudo ainda estava por fazer” (PETROBRAS, 2006, p.5). O texto assim descreve a visão pioneira dos técnicos do setor:

Recorde-se que a própria ABNT era ainda uma instituição nova, se comparada com outras congêneres estrangeiras, e que a maior parte do seu esforço estava concentrado nos setores da construção civil e elétrico. Em 1953 havia 153 Normas Brasileiras e em 1966 havia 477, um acervo ainda pequeno. Contudo, os técnicos da Petrobras já percebiam a importância da normalização para as atividades da Companhia, o seu impacto nos projetos, e tinham clara a necessidade de um esforço de coordenação e articulação dessas atividades. (PETROBRAS, 2006, p. 39)

O livro de memória da área de informática da companhia, publicado em 2007, é dividido em quatro capítulos, intitulados “Identidade”, “Pioneirismo”, “Inovação” e “Inserção”. A narrativa do livro é marcada pela ideia da empresa como

180 precursora também na área de informática. Obviamente, não estou aqui a questionar isso, aliás, o livro, em inúmeras ocasiões elenca fatos que podem servir de comprovação a certo pioneirismo na área, mas o interessante é a narrativa assumir esse ponto como o característico da área e colocá-lo como decorrente da identidade da companhia e de seus trabalhadores, como evidencia o texto abaixo, que abre o segundo capítulo, “Pioneirismo”:

Descobrir petróleo numa terra em que, rezava a lenda, o produto simplesmente não existia. Para uma empresa que nasce sob tamanha responsabilidade, ser pioneira não é simplesmente uma opção, é uma vocação. Por essa razão, em praticamente todas as áreas da Petrobras, da exploração à venda direta ao consumidor, fazer o que ninguém fez ainda foi desde o início uma palavra de ordem. Na área da informática, a vocação pioneira era mais clara ainda, uma vez que a Petrobras e os computadores são praticamente da mesma geração. (PETROBRAS, 2007, p.37)

“Fazer o que ninguém fez ainda” é o cerne narrativo também do livro de memória da área de Desenvolvimento de Recursos Humanos - DRH, reeditado em 2013. Revelar a necessidade de formação de técnicos especializados na peculiar atividade petrolífera, demandante de profissionais altamente capacitados e inexistentes no cenário brasileiro, é o que nutre toda a narrativa do livro. A empresa necessita de pioneiros e ao DRH seria atribuída a função de forjá-los.

O livro de memória da Fafen, publicado em 2003, quando trata das primeiras equipes de trabalhadores do Conjunto Petroquímico da Bahia – Copeb, ressalta o estado de despreparo dos trabalhadores, diante do ineditismo da atividade, e da necessidade de se forjar profissionais da área petroquímica.

(...) Eram despreparados, fala-se que fisicamente fracos, sem os conhecimentos tecnológicos desejáveis, mas a sua criatividade é exaltada por todos.

Abertas as inscrições, foi grande o fluxo de candidatos, a grande maioria sem ter sequer ideia do que seria uma indústria petroquímica. Em resposta a um anúncio que chamava candidatos a instrumentalista industrial, apresentaram-se músicos, com os seus instrumentos musicais.

181 Alguns engenheiros e técnicos precisavam fazer estágios em outros países, para aprender a tecnologia necessária à implantação da indústria de fertilizantes. (MELO, 2003, p. 57)

O despreparo dos pioneiros da atividade petrolífera, trabalhadores anteriores à Petrobras e, em muitos casos, incorporados à nova empresa como seus primeiros empregados, é ressaltado em alguns livros de memória, como no livro da Refinaria de Mataripe, a Refinaria Landulpho Alves - RLAM, publicado em 2000, que também evidencia a estagnação econômica do estado, antes do início da produção petrolífera, como vimos no livro da unidade operacional da Bahia. Entre as primeiras frases do livro lê-se:

No começo, a força dos trabalhadores foi decisiva para a implantação da refinaria. O uso dos músculos, das mãos era indispensável no transporte e instalação dos equipamentos. Representava, de alguma forma, o esforço espetacular da região para superar o subdesenvolvimento e romper as amarras da economia baiana, estagnada após um longo ciclo de progresso no período colonial. (MATTOS, et al, 2000, p. 23)

A frase vem impressa sobre uma foto em preto e branco de autoria de Pierre Verger, estourada em duas páginas, na qual um homem, vestido apenas de um calção, empurra um tanque gigante imerso nas águas; a sombra escura não permite ver o rosto, mas apenas o único corpo com seus músculos contraídos e dedicados à tarefa aparentemente impossível. Tanto essa como outras fotos publicadas no livro – as do acervo da RLAM e as que foram geradas para a publicação – ocupam páginas inteiras, quando não duplas. O livro recheado por imagens, em sua maioria em preto e branco – exceto algumas fotografias coloridas colocadas no início e no fim, assim como os mapas – tem as fotos acompanhadas de frases, normalmente inspiradas em afirmações contidas nos textos, quatro artigos assinados por historiadores. As imagens enfatizam os trabalhadores, retratados com a dedicação de toda a sua força para o cumprimento da atividade petrolífera. Em outra imagem, também de duas páginas, um grupo de trabalhadores, todos de calções e muitos sem camisa, parecem também mover um tanque de petróleo em meio às aguas, e a frase que a acompanha pretende nos fazer conhecer um pouco desses anônimos e do valor de seus trabalhos para o desenvolvimento industrial da região:

182 Pescadores, marisqueiros, pequenos agricultores e trabalhadores rurais se viram, de repente, envolvidos numa experiência pioneira, avançada. A Baía de Todos os Santos serviu de estrada, meio, instrumento importante no projeto da primeira planta. A Refinaria nasceu ao seu lado, usando a força- de-trabalho da gente do Recôncavo. A tecnologia adentrava Mataripe pelas mãos da criatividade artesanal de uma gente que jamais provara do trabalho industrial. (MATTOS, et al, 2000, p. 27)

Os quatro artigos encomendados para o livro também acentuam o fator humano do empreendimento. O primeiro texto centra-se nos “pioneiros” em sua dedicação à atividade petrolífera na região; o segundo artigo descreve como Mataripe se tornou uma cidade importante na geografia da atividade petrolífera do Brasil; o terceiro trata da sociabilidade gerada na vila industrial, e o quarto, do investimento na formação dos trabalhadores, incluindo os programas de alfabetização. Os textos fazem uso de depoimentos coletados para o livro e inúmeros trechos do que se ouviu são transcritos.

O artigo do historiador e professor Wilson Roberto de Mattos, o primeiro do livro, intitulado “O sonho da autonomia energética”, é o que mais nos ajuda na compreensão da imagem do trabalhador que se constrói em todo o livro, por meio das imagens. O texto tem a tônica no “pioneirismo” da atividade e da ousadia daqueles que se dedicaram a tal tarefa:

A dedicação a um empreendimento que representava a possibilidade de inauguração de uma nova etapa no desenvolvimento econômico e industrial do Brasil alimentou o pioneirismo e a abnegação desses primeiros desbravadores. Nota-se, porém, que esse mesmo espírito, longe de ser exclusivamente do grupo de técnicos e engenheiros que chefiou inicialmente a construção e a operação da Refinaria, foi uma característica marcante de todos os setores profissionais envolvidos com o seu funcionamento. (MATTOS, 2000, p. 58)

O despreparo dos trabalhadores é para o autor motivo de seu maior reconhecimento em relação às conquistas obtidas; para ele, a “valorização do feito dos trabalhadores se redobra quando sabemos que grande parte deles era analfabeta ou semi- analfabeta” (MATTOS, 2000, p. 59). O historiador dá ênfase à abnegação dos trabalhadores para a realização de sua missão:

183 Até o início das operações, o regime de trabalho na obra de construção e montagem era de dez horas por dia, sem descanso semanal. A prioridade era colocar a Refinaria em funcionamento o mais rápido possível. Logo em seguida, o regime se normalizou, respeitando o descanso semanal e a jornada diária de oito horas. (MATTOS, 2000, p. 63)

Para o historiador, a indústria de refino produziu um desenvolvimento tecnológico e econômico capaz de retirar a região de um atraso histórico e conceder à população um padrão de vida mais digno, o que a atividade agrícola não tornara possível.

Em poucos anos, Mataripe transformou-se de uma fazenda abandonada, símbolo da decadência da oligárquica e escravista cultura canavieira, em um local onde a indústria brasileira receberia o seu mais significativo impulso de modernidade tecnológica e onde, posteriormente, os trabalhadores – muitos, descendentes dos antigos escravos –, por conta dos seus esforços de organização, construiriam condições dignas de trabalho, experimentadas por muito poucos brasileiros. (MATTOS, 2000, p. 71)

Isso porque, segundo o historiador, foi utilizada muita mão de obra local, cujas capacidades o texto não se furta de elogiar, ressaltando a força, a perspicácia e a visão de futuro:

A implantação da mais moderna refinaria de petróleo do Brasil, com toda a complexidade técnica e operacional que a envolveu, contou com a inestimável participação dos trabalhadores baianos. Muitos entre eles eram nascidos na própria região do Recôncavo e dedicados às atividades agrícolas, mas a possibilidade de um emprego melhor e a consciência da importância do tipo de empreendimento que estava sendo desenvolvido tornaram esses trabalhadores predispostos a um aprendizado rápido e eficiente. (MATTOS, 2000, p. 76)

Note-se que o texto é assinado por um historiador, pesquisador acadêmico e professor universitário, mas este não se exime de tecer uma figura do trabalhador da refinaria, os pioneiros de uma atividade que passaria a ser exercida pela Petrobras, também com certo grau de idealização.

184 O livro de memória da Revap, a Refinaria Henrique Lage, publicado em 2010, é interessante pela forma como explicita o lugar que cada trabalhador ocupa na narrativa histórica da companhia. No início do livro aparecem os retratos do presidente da Petrobras, do diretor de Abastecimento, do gerente executivo de Refino e do gerente geral da refinaria, ao lado de seus textos de apresentação. Os retratos aparecem como fotos em cantoneiras, mesmo recurso imagético utilizado nas páginas seguintes, dedicadas à galeria daqueles que exerceram o cargo de gerente geral da refinaria. Após as imagens das autoridades, o livro segue com 98 páginas destinadas a narrar a história da unidade industrial. A narrativa é organizada por décadas e se dá por meio de recortes de documentos, de jornais e de fotografias – em grande parte, doados pelos trabalhadores da unidade –, como também por alguns trechos de depoimentos e por curtos textos produzidos para dar encadeamento à narrativa. Os emaranhados de documentos e recortes são espalhados no livro como se estivessem postos sobre uma mesa; aliás, o livro tem um formato grande, parecido com um grande álbum de fotografia, chegando a ocupar mais de 60 centímetros de cumprimento, quando aberto. As 98 páginas são seguidas de outras 121, preenchidas pelos retratos dos trabalhadores que concederam depoimentos ao projeto. Finalmente, outras 36 páginas encerram o livro, com a lista de todos os demais trabalhadores da refinaria. Como se vê, mais da metade do livro é constituído de uma homenagem direta aos trabalhadores da unidade industrial, seja por retratos, seja pelo nome na lista. Interessante observar, contudo, que os retratos dos trabalhadores não vêm com cantoneiras como os retratos dos dirigentes da companhia e da unidade publicados no início do livro; agora as fotos aparecem como presas a um clipe, o que lhes dá certa leveza e informalidade, mas também parece atribuir certo grau de transitoriedade desses personagens, diferente dos primeiros, considerados sujeitos importantes à história da companhia. A ordem de aparição dos personagens – dirigentes, em ordem na hierarquia; antigos gerentes gerais, em ordem temporal crescente, e os demais empregados em ordem alfabética – denota o lugar que cada um ocupa na empresa e seu grau de importância, ordem que a narrativa construída pelas imagens parece desejar respeitar. A homenagem aos trabalhadores, explícita na composição do livro, é enfatizada com uma frase que dá início à galeria de retratos dos depoentes: “A construção da história somente é possível pela mão de seus protagonistas. Cada colega que se apresenta a seguir é um artesão que teceu o passado, tece o presente e outros mais chegarão para tecer o futuro” (EDMAN, 2010, p. 127).

185 * * *

Enfim, é possível perceber que os livros de memória da Petrobras privilegiam uma narrativa capaz de valorizar o trabalhador da companhia e de atribuir qualidades a ele. Características dos trabalhadores são buscadas no passado e trazidas para o presente, de forma a construir uma imagem do trabalhador única e permanente. O passado serve aqui para aumentar o grau de legitimidade e veracidade de uma imagem criada, recriada e consolidada no tempo. Quando os livros de memória tratam diretamente da identidade do trabalhador, em seções destinadas a esse fim, o rigor histórico diminui, o que torna possível inclusive o uso do termo “petroleiro” de forma anacrônica; isso porque nesses livros mais importante do que a história é a identidade.

186 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos diante de um fenômeno econômico, político e social de emergência da memória, fenômeno que atinge indivíduos e coletividades, no anseio de se colocarem enquanto sujeitos portadores de identidade própria, em meio a um contexto de uniformizações. Tornar a memória visível, materializada em livros, filmes, sites e exposições, é se posicionar no tempo enquanto indivíduo possuidor de uma história e importante para a construção e a transformação das realidades sociais.

A emergência de produtos de memória na Petrobras, assim como em outras empresas, tem gerado um mercado da memória e esse mercado, por sua vez, ativa novos projetos em outras empresas ainda adormecidas sobre a questão da memória, ou, ainda, provoca o surgimento de projetos mais longos, de guarda de acervo histórico e de gestão da memória empresarial. Esse mercado é constituído basicamente por empresas de jornalistas e comunicadores e por empresas de historiadores, como também por instituições da área de história que passam a oferecer assessoria em projetos de memória. Surge, então, uma disputa por mercado entre esses profissionais de distintos perfis, embora, em muitos projetos, também trabalhem em cooperação.

Na Petrobras, como em muitas outras empresas, os produtos de memória são produzidos com custos próprios, como peças de comunicação, voltados para os públicos internos e externos. Os produtos de memória na Petrobras emergem de inúmeros pontos da companhia, de áreas corporativas, como recursos humanos, tecnologia da informação, engenharia e área internacional; de unidades operacionais e industriais isoladamente, como refinarias, unidades de exploração e produção de petróleo e gás, fábricas de fertilizantes etc., e de empresas subsidiárias, como a Liquigás e Petrobras Distribuidora. Cada área corporativa, unidade industrial ou operacional, como, naturalmente, empresa subsidiária, possui, no interior de sua estrutura, uma gerência dedicada à atividade de comunicação, o que tem facilitado a confecção de produtos de memória, de inúmeros pontos e cantos do país.

Mas a elaboração de produtos de memória não é algo natural; as áreas e unidades, assim como a empresa institucionalmente, poderiam tomar outros rumos para a valorização de sua função na sociedade. A elaboração de produtos de memória está ligada a uma busca pelo registro do passado, com medo de ser perdido, mas também, a

187 uma maneira de fincar o presente em algo, quando tudo parece fluido. Materializa-se o passado, para se tentar firmar no presente, assim como enfrentar um futuro que parece ainda mais incerto do que o hoje, um futuro que causa certo medo, dada a insegurança. As empresas, no contexto contemporâneo, não podem mais contar com o sucesso futuro na certeza de ter encontrado uma receita segura. O contexto social é fluido e incerto também para elas. Ao longo do século XX, o mercado financeiro e especulativo se revelou um risco para as empresas, suas ações podem estar valorizadas hoje e amanhã despencarem; seus ativos podem valer muito no presente e serem avaliados como irrisórios no amanhã. Diante deste contexto de incerteza, a partir das últimas três décadas do século XX, o passado começou a ser buscado para dar certa segurança. Apesar da ineficiência do ontem na garantia do amanhã, o fato de ter já sobrevivido no tempo parece dar uma ilusão de futuro garantido. O passado, nesta ótica, parece produzir ilusões e, dadas as mutações do presente e a expectativa de um futuro ainda mais móvel, tais ilusões parecem diminuir a angústia da vida presente.

Entre esses produtos dedicados ao passado encontram-se os livros de memória. Os livros das empresas subsidiárias da Petrobras, por atuarem no mercado de concorrência, são destinados a grandes clientes e parceiros. Aqueles feitos institucionalmente pela holding Petrobras são destinado a órgãos públicos e também a empresas parceiras, às vezes, ao público geral, mas seu valor, em grande medida, se dá por sua relevância para o público interno. Os livros não são tão importantes por sua distribuição para um público muito vasto, mas pelo fato de existirem em si, pelo fato de poderem ser mostrados presencialmente, passando de mão em mão, como prova concreta de um passado e da importância histórica da companhia.

Quando uma unidade industrial ou de operação elabora um livro de memória, o novo produto tem um papel também de relacionamento com a comunidade do entorno, para o justo reconhecimento do papel de suas operações no desenvolvimento econômico da região. Outro papel se adiciona a esse, o reconhecimento da unidade no interior da companhia e, nesse caso, se junta aos livros das áreas corporativas, que, a princípio, em geral, teriam mais importância no interior da companhia. O passado materializado torna visível a relevância histórica da empresa, de uma área ou de uma unidade.

188 Os produtos de memória nascem sempre em um contexto de disputa por leituras do passado. Em geral, os projetos dependem do apoio de gerentes gerais ou executivos, ou até diretores. A alternância no escalão de poder pode gerar interrupção de projetos em andamento. Por outro lado, a vontade por memória é algo presente no contexto social e, por isso, muitos dos projetos nascem pela militância de empregados da companhia em baixos escalões e apenas depois se busca galgar os apoios necessários para sua viabilização. A rede de representantes do Programa Memória Petrobras, cujos membros são empregados das inúmeras áreas e unidades da companhia no país, é também de onde surgem muitas dessas iniciativas a favor de projetos de memória regionais, embora muitos projetos nasçam sem conhecimento do Programa. Não raramente, projetos de memória das unidades e áreas têm sido realizados com um tempo maior de dedicação à pesquisa e à reunião de documentos considerados históricos; muitos fazem uso da história oral, diretriz do Programa Memória Petrobras que vem ao encontro do desejo dos empregados da companhia em ter registrada a história de