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CAPÍTULO 4 – M ETODOLOGIA DA I NVESTIGAÇÃO

4.1. Paradigma e abordagem metodológica da investigação

No âmbito das Ciências Sociais, a investigação pode ser entendida como «uma actividade de natureza cognitiva que consiste num processo sistemático, flexível e objectivo de indagação» (Coutinho, 2011: 7), de modo a «apporter une réponse inédite et explicite à un problème bien circonscrit ou de contribuer au développement d’un domaine de connaissances» (Legendre, 1998 [1993]: 1068).

Nesta investigação usamos uma metodologia mista, quantitativa e qualitativa, numa abordagem triptíca cíclica: observação, concetualização-teorização e intervenção, isto é,

[- d’] observation, parce que, comme toutes les disciplines, elle est tenu de baliser, maîtriser son objet d’étude et que celui-ci est largement observable (…);

[- de] conceptualisation/théorisation, parce que l’observation et l’intervention ont besoin d’outils abstraits pour analyser, décrire, comprendre l’objet d’étude et agir sur lui (…); [- d’] intervention, parce que, contrairement à la plupart des disciplines, elle observe, elle théorise non pour produire des connaissances à verser au trésor commun de la pensée humaine, mais, plus modestement, les connaissances nécessaires à la mise en œuvre des moyens pour intervenir sur un objet d’étude qu’il convient d’aider à suivre (ou précéder ?) l’évolution du monde (Galisson, 1994: 128).

Com a observação, o processo de investigação permitiu recolher informações decorrentes do levantamento, essencialmente descritivo, das abordagens turísticas no âmbito cultural – mais especificamente no campo museológico, quanto à tipologia histórica, artística e espaços museológicos especializados – com o objetivo de reconhecer e determinar a configuração predominante da abordagem das TIC no desenvolvimento cultural do turismo, bem como a inclusão das mesmas no quadro concetual da Cultura Museológica, enquanto observadora-visitante e investigadora-observadora.

Quanto à fase de concetualização-teorização, o processo de pesquisa foi desenvolvido com base na caracterização, numa perspetiva de índole indutiva, das práticas museológicas de abordagem do quadro concetual e institucional objeto desta investigação, com vista a definir a referida abordagem e, concludentemente, propor a conceção e a construção de um projeto de intervenção interativo bem como as suas estratégias de marketing.

Na etapa de intervenção, o processo investigativo apresenta a execução do projeto de intervenção interativa móvel e virtureal criado na fase de investigação anterior, de modo a verificar em que medida o processo e o produto deste projeto de intervenção podem contribuir para uma abordagem mais extensiva e intensiva do Turismo Cultural e da Cultura Museológica, sempre em função de referenciais dos quadros concetuais do Turismo, Cultura, Museologia e TIC.

Quanto aos paradigmas, estes constituem o «sistema de pressupostos e valores que guiam a pesquisa» (Coutinho, 2011: 21). Neste sentido, apresentamos a seguinte tabela com as visões aplicadas a esta investigação, tendo como principais paradigmas: o posivitismo, o

interpretativismo e o socio-crítico.

Tabela 5. Comparação de critérios entre paradigmas.

O paradigma positivista assume um posicionamento de caráter ontológico, uma vez que analisa a realidade como verdade, cujo conhecimento é independente por parte de quem observa que por sua vez procede à sua descrição, numa perspetiva de criteriedade, de «objetividade e neutralidade» (Mira & Ramos, 2013: 41). Neste paradigma, procura-se explorar as causas dos fenómenos, a explicação dos factos pelos antecendentes, uma vez que a fonte de conhecimento é o objeto. Os princípios que caracterizam este pensamento, através da

crença de que existem leis ou princípios universais e permanentes que representam relações causais unidirecionais, bem como a crença de que existe apenas um método verdadeiramente científico para analisar essas relações, são abertamente questionad[o]s por alguns investigadores no campo das ciências sociais (Guba e Lincoln; 1994; Walker, 1993) (Mira & Ramos, 2013: 41).

O investigador adota uma posição distante face ao objeto de investigação que consiste na explicação de leis imutáveis dos sistemas sociais que se obtêm pela identificação das relações causa-efeito. O sujeito tem acesso à realidade mediante os sentidos, a razão e os instrumentos que utiliza e por sua vez a conceção dialética do conhecimento do sujeito constrói o objeto estando este dependente das experiências anteriores do sujeito. Neste paradigma positivista surge a planificação do projecto de investigação, no caso o questionário. Este insere-se numa hierarquia etápica: a execução – a aplicação dos instrumentos face ao público-alvo, com o objetivo de obter informação –; a avaliação – processamento estatístico dos dados obtidos, na etapa anterior, que permite chegar a conclusões cientificamente fundamentadas – e a comunicação – composta pela elaboração e divulgação dos dados obtidos.

O paradigma interpretativo estabelece uma diferenciação entre objetividade e subjetividade, e, por conseguinte, avança com o reconhecimento da existência do mundo real, sob uma visão interpretativa e objetiva das experiências humanas (Paillé, 2006). Este paradigma caracteriza-se por entender a realidade pela compreensão dos fenómenos e dos contextos análogos, cuja apresentação pelo investigador decorre das suas motivações e deliberações, ou seja, o conhecimento é resultante da interpretação dos atores face ao objeto de investigação como da interpretação das representações dos atores pelo investigador (Perret & Séville, 2003). No sentido do objeto como «acção-significado (meaning-in-action), o investigador [requer] uma variabilidade das relações entre formas de comportamentos e os significados que os actores lhes atribuem através das suas interacções sociais» (Vidal et al., 2011: s.p.).

O paradigma sócio-crítico surge como resposta aos pensamentos positivista e interpretativo e pretende superar o reducionismo e o conservadorismo, admitindo a possibilidade de uma ciência social. Este paradigma

introduce la ideologia de forma explícita y la autorreflexión crítica en los processos del conocimento. Su finalidade es la transformación de la estrutura de las relaciones sociales y dar respuesta a determinados problemas generados por éstas, partiendo de la acción-refleción de los integrantes de la comunidad. El paradigma que nos ocupa, se considera como una unidad dialéctica entre lo teórico y lo práctico (Alvarado & García, 2008: 189).

Caracteriza-se pelo caráter autorreflexivo e pretende defender a autonomia racional do ser humano; dinamizar a participação e transformação societal. O conhecimento (Figura 41) desenvolve-se segundo um processo de construção e reconstrução sucessivos da teoria e da prática.

Figura 41. Paradigma sócio-crítico.

Fonte: Própria.

Após a apresentação do paradigma surge a metodologia (Figura 42), que frequentemente, no setor do Turismo, apresenta-se como mista, uma vez que a transversalidade e a visão holística da disciplina assim o exige.

Figura 42. Do paradigma à metodologia.

Fonte: Adaptado de Coutinho, 2011: 23.

A metodologia «analisa e descreve os métodos, distancia-se da prática para poder tecer considerações teóricas em torno do seu potencial na produção do conhecimento científico» (Coutinho, 2011: 23).

Epistemologia Objetivismo

Paradigma Positivismo

A abordagem indutiva surge como o processo de exploração lógica adequada a esta investigação, na medida em que é uma operação intelectual de exploração que permite partir do nível particular para chegar ao geral, isto é, passar do efeito para a causa e da

consequência para o princípio. Ao contrário da abordagem dedutiva, enquanto modo de

manifestação assente no princípio de que sempre que a hipótese inicial é verdadeira, então a conclusão deve ser verdadeira. Embora o facto de as abordagens indutiva e dedutiva serem conclusivas, uma vez que assentam em teoremas claros, o facto desta investigação se increver num quadro de comunicação entre os sujeitos e o objeto num contexto preciso, não dispensa a separação, isto é, a operação mental percetiva que consiste em obter análises de observação, tendo por objetivo produzir sentido e propor novas concepções elaboradas e validadas (Grawitz, 1964; Chalmers, 1976; Koening, 1993; Charriere & Durieux, 2003).

Importa, ainda assim, apresentar as características (Tabela 6) nos métodos quantitativos e qualitativos.

Tabela 6. Comparação entre paradigmas da metodologia quantitativa e qualitativa.

Fonte: Ramirez, 2008: 8.

A pesquisa qualitativa tem como principal objetivo interpretar o fenómeno que observa; descrevendo-o e procurando compreender o seu significado; as hipóteses são criadas, apenas, após a observação. A pesquisa quantitativa é um estudo estatístico que se destina a descrever as características de uma determinada situação, sob o formato de questionário estruturado, com o objetivo de determinar medidas confiáveis. O processo metodológico para este trabalho centra-se na complementariedade dos métodos quantitativo e qualitativo, numa ótica em que a análise, a interpretação e a discussão dos indicadores

quantitativos permitam a estrutura objetiva quanto a referências qualitativas, tendo em consideração que

aujourd’hui (…) la recherche quantitative et la recherche qualitative sont deux approches complémentaires de l’étude d’un phénomène. Historiquement, ces deux visions constituent un cycle qui se succèdent rapidement dans l’évolution des connaissances, voire au sein d’une même recherche (Legendre, 1993: 1088).

A metodologia reside na interação entre teoria e método e traduz-se através de questões que se ajustam ao percurso da pesquisa. Está relacionada com os elos que existem entre o que queremos saber e os caminhos a trilhar para lá chegar, clarifica o modo como o curso da pesquisa é determinado pela natureza das questões de partida e pelos fenómenos em estudo.