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Comparar a legislação e o conjunto de normas que dispõe sobre o manual de usuário brasileiro com o mesmo tipo de documentação aplicada nos países aqui analisados é uma missão aparentemente complicada, uma vez que três destes países não os possuem codificadamente, visto que a Argentina se restringe a enquadrá-lo em um artigo do código civil; nos Estados Unidos, a documentação, além de ser fragmentada por estados e condados autônomos, trata o assunto como uma questão contratual entre partes; e no Uruguai a norma aplicada é originada no sistema bancário que financia o setor habitacional.

Resta o conjunto aplicado na Espanha e em suas províncias, quais sejam, Madri e País Basco, analisados neste trabalho, que pode ser considerado como um dos sistemas mais atualizados e minuciosos.

A primeira diferenciação ressaltada entre a legislação espanhola e brasileira é de que a Lei 38/99, que instituiu o lá chamado Libro del Edificio, estabelece sanções pecuniárias em relação a inexistência do mesmo, enquanto que no Brasil, a ausência do manual não recebe nenhuma forma de punição. Uma outra diferenciação pode ser detectada nesta mesma Lei, que consiste no envio de um exemplar do manual para o Governo da Municipalidade, sem o qual não será outorgada licença para a primeira ocupação, o que entre nós equivale ao habite-se.

A lei geral espanhola classifica as infrações ocasionadas por falhas do manual em três níveis: leves, graves e muito graves; e passíveis de sanções pecuniárias de acordo com estes graus.

São consideradas infrações muito graves: (1) a omissão de estudos geotécnicos; (2) a elaboração do Libro del Edificio sem estar de acordo com a lei; (3) a publicidade enganosa; a ausência de seguro contra incêndio e danos a terceiros, entre outros. A não atualização do manual e a omissão dos deveres do usuário para a conservação do edifício também são consideradas infrações. No Brasil não há nenhum

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tipo de sanção, bem como nenhuma lista de infração relativas ao manual.

Já na província do País Basco, a lei que dispõe sobre o manual, de acordo com o Decreto 250/2003, prevê a existência de uma fotografia da fachada, assim como um mapa do edifício em relação a praças ou outros elementos próximos à construção.

A lei basca ainda institui o documento de especificações técnicas que, assinado pelos técnicos competentes, inclui o projeto final da obra e anexo os principais dados técnicos do edifício e seus componentes, em forma de fichário e dos manuais de uso e manutenção e de emergências. Ela se preocupa em definir a embalagem para esses documentos, que inclusive deverão estar sempre disponibilizados, em área comum da edificação, para todos os usuários. Além disso, o governo basco realiza inspeções para comprovar o cumprimento da aplicação do decreto.

No Brasil, a Norma 14.037, de 1998, versa somente sobre os quesitos técnicos do imóvel, abrangendo formas de apresentação das informações, basicamente sobre componentes e estruturas, sem detalhar a forma de acondicionamento ou de apresentação do manual, e nem mesmo prevê uma fiscalização do cumprimento das especificações, estejam elas na NBR ou no Código de Defesa do consumidor.

A lei geral espanhola, ao ser promulgada em 1999, estabelecia que as exigências feitas à edificação, em relação aos requisitos básicos estariam submetidas a um conjunto de sete normas básicas de edificação, as NBE's, que versavam sobre as condições térmicas, acústicas e outras especificações, até a aprovação de um Código Técnico de la Edificación, que deve entrar em vigor nos próximos anos.

Este Código, até janeiro de 2005, encontra-se em fase final de elaboração coordenado pelo Ministério de Fomento. Trata-se de um trabalho de equipes multidisciplinares, compostas por experts em edificações dos institutos tecnológicos de várias províncias, dos departamentos das politécnicas, escolas de arquitetura, engenheiros de instituições ou de contribuições individuais. Para agilizar o processo, foi criado um site na internet para o desenvolvimento desse Código. Este site não só

recebe colaborações dos especialistas, como estes também se encarregam de divulgar as atividades de interesse geral. Em 2002, em apenas três meses de funcionamento, este site já registrava a participação de mais de 500 colaboradores, especializados na questão que constituíram um fórum de trabalho para coordenar o desenvolvimento em âmbito interativo.

O projeto do novo Código tem um objetivo semelhante ao adotado no âmbito da União Européia, preocupado com as novas exigências para sistemas, materiais e técnicas construtivas que ainda não contam com normatização prévia. O anteprojeto desenvolvido ainda mostra preocupações com o aspecto do meio-ambiente, procurando respostas que atendam inclusive ao Acordo de Kioto quanto a emissões de dióxido de carbono.

Atualmente, contando com mais de 1.700 páginas, o documento reunido em um só, todas as disciplinas relacionadas com o processo de edificação, passam por um período de audiência pública, para dar conhecimento e acolher sugestões e observações de todos os agentes sociais e profissionais implicados na construção. Nesta nossa investigação, não encontramos paralelo de tamanha medida no mercado brasileiro.

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4 ESTUDO DE CASO

Para este estudo de caso, foram analisados manuais do usuário de 11 construtoras atuantes no mercado imobiliário, e aplicados dois questionários (Apêndices A e B), elaborados no intuito de verificar, entre as construtoras e clientes / usuários, as determinantes que faltam para a elaboração de um manual do usuário que atenda a todos os requisitos necessários.

O estudo de caso tem seu início com a avaliação dos dados coletados através dos questionários, levando em consideração que 11 engenheiros representam as 11 construtoras que os indicaram.