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3.1 Código de Defesa do Consumidor e Código Civil na Indústria da Construção

3.1.1 As relações de consumo

Um discurso proferido ao Congresso norte-americano, em 15 de março de 1962, pelo então presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy, reconhecendo como Direitos Fundamentais do Consumidor11 o direito à segurança; à

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Posteriormente, a Organização Internacional das Associações de Consumidores acrescentou, aos quatro primeiros direitos básicos, outros igualmente importantes :à satisfação das necessidades básicas, à indenização, à educação, ao ambiente saudável. O Dia Mundial dos Direitos do Consumidor foi inicialmente comemorado em 15 de março de 1983. Em 1985, a Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU) adotou os Direitos do Consumidor, assim enunciados, como diretrizes das Nações Unidas, conferindo-lhes legitimidade e reconhecimento internacional. (PROCON, em Balanço das atividades: período de junho de 2001 a fevereiro de 2003, In: <http://www.vitoria.es.gov.br/procon/balanco.htm> acessado em janeiro de 2005).

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informação; à escolha e o de ser ouvido, foi, de certa forma, um marco no relacionamento entre produtor e consumidor. Esse pronunciamento veio atender às aspirações de setores organizados da sociedade que, desde a época dos anos 50, solicitavam a criação de organismos que defendessem seus direitos. Estes mecanismos de proteção e defesa dos consumidores vieram para atenuar o desequilíbrio existente na relação produtor/consumidor acentuado pela escalada da sociedade oriunda da revolução industrial e tecnológica.

Fiker (2001, p. 85) assevera que o Código de Defesa do Consumidor, CDC, foi criado para proteger o consumidor que, além de ser a parte mais vulnerável nas relações de consumo, não possui as informações técnicas da fabricação dos produtos ou da organização dos serviços que são oferecidos no mercado. Para o autor, essa proteção ao mais vulnerável é de interesse da sociedade e, por isso, as normas do CDC são de ordem pública, não devendo, pois, ser contrariadas. Ou seja, toda cláusula contratual que contrariar norma de ordem pública é nula de pleno direito, conforme previsto expressamente no seu artigo 1º.

No Brasil, o CDC foi publicado em 11 de setembro de 1990 e entrou em vigor em 11 de março de 1991, depois de seis meses de sua publicação, para possibilitar aos fornecedores sua adaptação. Especificamente no subsetor de edificações, o CDC estabeleceu premissas que orientam o construtor e o usuário das edificações quanto às suas responsabilidades na busca de níveis de qualidade adequados, proporcionando uma mudança comportamental nos responsáveis envolvidos pelas atividades na indústria da construção civil (PRUDÊNCIO, 1995, p. 656). O referido Código representa uma evolução do Código Civil brasileiro, CC, no aspecto de responsabilidades em contratos, e tem sido um estímulo às empresas na formulação de manual do usuário, apesar de ainda em número reduzido, pois estabelece responsabilidades a todos os envolvidos no processo.

A escalada da sociedade industrial, oriunda da revolução industrial e tecnológica, determinou um acentuado desequilíbrio entre fornecedores e consumidores. Surgiu, assim, a necessidade de criação de mecanismos de proteção e defesa dos

consumidores (ROCHA, 1993, p. 36).

Segundo o autor, foi a partir dos anos 1950 e 1960 que os consumidores passaram a ser considerados um problema social. Após a mensagem do presidente dos Estados Unidos, em 1962, reconhecendo certos direitos fundamentais dos consumidores, criaram-se, na América do Norte e Europa Ocidental, organismos para defendê-los e um direito novo: o do consumidor.

Para Grandiski (2001, p. VIII-5), o CDC acompanhou a evolução do Direito no sentido de limitar a autonomia da vontade dos contratantes, impondo normas de ordem pública, conforme previsto expressamente no seu artigo 1° (BRASIL..., 1990): “Art. 1° O presente Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias”.

Ao impor normas de ordem públicas, o CDC, na opinião de Grandiski (2001, p. VIII-5), acompanhou a evolução do direito no sentido de delimitar a autonomia da vontade dos contratantes. Para o autor, a expressão de ordem pública indica, juridicamente, um conjunto de preceitos cuja aplicação não pode, a princípio, ser objeto de acordo ou convenção contrária entre particulares. Sendo assim, todas as disposições contrárias a uma lei de ordem pública que forem incluídas em contratos entre particulares, são nulas de pleno direito. Segundo o autor, nas relações de consumo, as diretrizes do CDC são:

a. cogentes, ou seja, racionalmente necessárias;

b. de observância obrigatória, não podendo ser revogadas por acordos entre particulares e, portanto, transcendem aos interesses particulares;

c. de natureza imperativa, quer dizer ordenada, autoritária, impondo deveres.

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aplicação de qualquer dispositivo do CDC, pois mesmo que qualquer adjudicação12 esteja prevista e contratada, não possui validade se não estiver constando no CDC.

A aplicação do CDC no setor da construção de edifícios configura a responsabilidade nas três fases do empreendimento: (GRANDISKI, 2001, p. IX-2):

a. fase de projeto: quando os vícios previsíveis podem ser evitados; b. fase de execução: quando outros vícios podem e devem ser

evitados;

c. fase de pós-ocupação: dentro do prazo legal de garantia total da obra em si ou de seus componentes isoladamente, onde se espera que o desempenho da obra corresponda ao prometido, e quando informações ou instruções adequadas, fornecidas nos manuais dos usuários, possam evitar o aparecimento de novos problemas.

Essas responsabilidades, segundo Grandiski (2001, p. ix - 2), mostram a abrangência multidisciplinar do CDC, que inova na criação de um micro-sistema jurídico, envolvendo as áreas de direito civil, processual civil, comercial, administrativo, penal e processual penal, visando à facilitação da aplicação da justiça aos casos individuais, assim como nos coletivos.

O consumidor, até a entrada em vigor do CDC, era conceituado como uma pessoa que utilizava um produto até o seu término e os bens duráveis, portanto, não eram considerados como consumíveis. Já o produto tinha um conceito restrito: algo produzido, por exemplo, pela agricultura ou pela indústria do vestuário.

Com a edição do CDC, esses conceitos foram ampliados, sendo a produção do setor da construção civil caracterizada não só como produto, mas também como prestação de serviço.

Os novos conceitos incutidos pelo CDC, no entender de Grandiski (2001,

12 “Ato judicial que dá a alguém a posse e a propriedade de determinados bens” (HOUAISS; VILLAR,

p. viii - 11), trouxeram a necessidade das empresas da indústria da construção adaptarem-se à nova realidade em que o consumidor (usuário) tem garantido o direito a todas as informações referentes ao produto (edifício). Sendo estas compostas pelos projetos, sobre a execução da construção, dadas as formas de utilização, operação e manutenção do edifício e de seus componentes, além das garantias. Sendo que a melhor maneira da empresa empreendedora / construtora transmitir estas informações é a entrega do manual do usuário.

Procurando delimitar o assunto de forma precisa, possibilitando compreensão adequada, a seguir são apresentadas as definições das figuras que envolvem as relações de consumo.