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parte dos grande designers e ilustradores desta época foram umas grandes bestas como maridos e pais.

Deste trabalho não resulta mais nenhum produto que não a relexão. O passo seguinte seria um levantamento e catalogação das coleções e colecionadores de design gráico português, os seus números, as suas categorias. De certo existem muitos colecionadores que não encontrámos, vários colecionadores que não es- tão ligados ao design proissionalmente. Simultaneamente a este levantamento, seria preciso montar uma estrutura de divulgação periódica (e eventualmente total) destes materiais. Imaginemos que, sendo o ar a esfera pública, a água o privado e a superfície do oceano a fronteira entre os dois, os nossos casos de estudo são a ponta do iceberg.

Juntando as características dos nossos estudos de caso, podemos perceber al- gumas possíveis linhas orientadoras de um estrutura de partilha destas coleções: deve recorrer à digitalização e ter uma forte componente visual, deve ter um bom motor de pesquisa, deve permitir diferentes tipos de catalogação (por autor, por data, por editor, etc.), deve ter uma componente escrita que traga dimensão crítica, ensaios e textos que possam aprofundar objetos especíicos à medida que vão sendo estudados. O site Design Português1 encaixa em vários destes modelos

mas falha em dialogar e comunicar a coniança necessária para que um colecio- nador conie a sua coleção, tanto pelas questões levantadas quanto aos seus crité- rios inciais, como a falta de seguimento do projeto até hoje, como a sua ligação política (veja-se o caso de Antero Ferreira e as suas preocupações).

Outro caminho futuro para esta dissertação é a inventariação mais completa de contributos para a História do Design Português que esboçámos no primeiro capítulo e a possível concepção de um mapa da historiograia do design portu- guês. Esse é um trabalho de projeto, potencialmente com menos relexão sobre os resultados mas mais ênfase na construção de critérios sólidos e na extensão da procura de referências sustentadas. É um ponto de situação necessário.

Os colecionadores são pessoas apaixonadas. Os designers, muitos deles, tam- bém. Um designer colecionador de design é o epítome dessa paixão, alguém que deseja permanentemente estar rodeado de artefactos que o inspirem e comple- tem. Ao longo desta investigação tentámos transmitir parte dessa paixão, tanto nas palavras dos nossos entrevistados como pela observação da sua coleção e da relação com ela. Como podem estas coleções contribuir para a construção da História do Design Gráico? Cedo percebemos que o contributo dos cole- cionadores para a História do Design Português é a salvaguarda dos artefactos. Os colecionadores são donos da matéria prima para a investigação em História do Design, comparáveis apenas àquelas que poderão contribuir com a sua me- mória e experiência de vida. Compreendemos no entanto um certo sentido de urgência: as coleções tendem para o caos sem o seu colecionador e sabemos bem demais como esse colecionador não tenderá a viver para sempre. A falta de ins- tituições públicas (ou privadas, em todo o caso) que possa sossegar este proble- ma da sobrevivência das coleções faz-nos pensar que, a longo prazo, o trabalho

continua sem rumo deinido e, no caso do interesse pela História do Design Português atravessar em breve um período de menor prosperidade, novamente muito material cairá no esquecimento. Os esforços dos últimos anos consegui- ram estabelecer uma ina cultura do design em Portugal, mas ainda frágil e em vários aspectos muito ligada ao ar do tempo. É preciso que se solidiique o inte- resse público no design gráico para que ele desenvolva mecanismos próprios de sobreviver ao tempo, é preciso que o caminho a ser desbravado não seja deixado ao abandono, nem por desleixo, nem por se pensar que já não há mais para fazer. Esta dissertação de mestrado, dentro das suas modestas limitações, concedeu-me espaço de relexão e exploração de um tema que me é querido (e por isso em alguns momentos essa intimidade possa ter transparecido). Sinto-me no entanto na obrigação de terminar dizendo que quando nos referimos aos problemas do design em Portugal, falamos inevitavelmente de problemas das grandes cidades, do Porto e sobretudo de Lisboa. O contraste de realidades entre as cidades por- tuguesas, especialmente no que diz respeito ao acesso à cultura, é muito, muito claro. Acredito que o design é muito mais inclusivo e estaria muito mais presente no dia-a-dia de todos se, socialmente, esta alienação do resto do país não fosse tão evidente. Com tantas cidades incapacitadas de produzir e adquirir design, o tema tenderá a parecer supérluo, um luxo. Por isso, apesar de ter apreciado a viagem que me trouxe até estas considerações inais e me fez saber mais sobre in- vestigação, História do Design e as pessoas que por ela coleccionam e trabalham apaixonadamente, sinto que o desenvolvimento da consciência sobre os objetos gráicos e da sua sobrevivência depende, antes, de uma partilha generosa do que é o design gráico e de como ele pode melhorar a cidade, a rua, a escola. É preciso essa formação de valor para que os artefactos de design sejam queridos. Antes de pedirmos que o design gráico e a História do Design Gráico sejam disciplinas de interesse geral temos de continuar a criar oportunidades para que o público geral se interesse por elas. Só depois dessa sedimentação de uma cultura do de- sign em vários pontos do país poderemos ambicionar construir uma História do Design temporal, geográica, social e visualmente mais completa.

José Bártolo em entrevista

gravador como o impressor. Por exemplo quando