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Participação na atividade econômica por idade, sexo e nível

CAPÍTULO 2 – A PARTICIPAÇÃO NA ATIVIDADE ECONÔMICA POR SEXO,

2.2. Participação da população na atividade econômica, segundo nível

2.2.2. Participação na atividade econômica por idade, sexo e nível

socioeconômico

A análise das diferenças de taxas de participação na atividade econômica por nível socioeconômico expresso pela renda domiciliar per capita mostra um padrão de variação diferente entre os mais jovens e a população adulta. Nas duas faixas de idade mais jovem (15-19 anos e 20-24 anos), a taxa de participação aumenta até certo nível socioeconômico e depois diminui, enquanto nas três outras

faixas de idade (25-29, 30-44 e 45 a 64 anos) não ocorre essa diminuição à medida em que a renda domiciliar per capita aumenta.

Para famílias de baixa renda, especialmente quando é possível contar com a participação na atividade econômica de mulheres jovens, o trabalho remunerado dos jovens é um mecanismo importante para a família lograr renda acima dos níveis de miséria e pobreza. Já para as poucas famílias de renda elevada, os jovens são poupados da atividade econômica e podem se preparar melhor para uma entrada mais tardia na atividade econômica.

Para os adultos, entretanto, especialmente aqueles nas faixas de maior atividade econômica (25-29 anos e 30-44 anos), é nas famílias de renda baixa onde a taxa de participação é menor. Como indica as diferenças de taxas de participação por sexo, por idade e nível socioeconômico (tabela 11), isso reflete a menor participação na atividade econômica das mulheres adultas. A dificuldade de participação na atividade econômica das mulheres adultas de algumas famílias de baixa renda é ainda maior do que a participação que atinge as mulheres jovens.

Tabela 10 - Taxa de Participação por idade e nível socioeconômico - 2004

Faixa Etária até 1/4 SM mais de 1/4 até 1/2 SM mais de 1/2 até 1 SM mais de 1 até 2 SM mais de 2 até 3 SM mais de 3 até 5 SM mais de 5 SM Total 15 a 19 anos 49,3 52,6 55,7 50,2 34,5 23,9 17,7 50,5 20 a 24 anos 67,5 75,6 84,0 85,2 77,9 73,0 65,9 77,5 25 a 29 anos 72,0 78,7 86,3 89,5 90,0 89,6 91,0 82,0 30 a 34 anos 76,1 79,9 85,3 88,0 89,0 90,8 92,9 82,9 45 a 64 anos 70,8 64,8 64,7 67,2 67,3 68,7 74,9 66,8 15 a 64 anos 67,9 71,0 75,5 77,0 75,1 75,3 78,1 73,0

As diferenças entre as taxas de participação de homens e mulheres diminuem com o nível socioeconômico em todas as faixas de idade. Muitas mulheres de famílias com renda mais baixa têm dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Isso se intensifica em famílias que não dispõem de alternativas para as tarefas de cuidado de crianças pequenas, deficientes ou familiares idosos, seja porque não têm poder de compra, seja porque a sociedade não provê esses serviços ou porque não estão ao alcance dessas famílias, pois não existem instituições públicas suficientes para atende-las ou ampará-las. Essa situação afeta sobremaneira as mulheres jovens, que frequentemente não têm alternativa para o cuidado de seus filhos pequenos43, o que, por sua vez, trava o acesso ao mercado de trabalho (CEPAL, 2008). Já para as mulheres pertencentes às famílias com renda mais elevada, existem mais possibilidades de articulação de seus papeis nas famílias e no trabalho. Com menos filhos, essas mulheres têm mais facilidade de acesso à serviços que facilitam a sua participação no mercado de trabalho, contribuindo, dessa forma, para ampliar a renda da família.

Assim, na faixa etária de 15 a 19 anos, em torno de 60% dos homens de famílias com renda domiciliar per capita menor do que o salário mínimo, participam

43 Segundo relatório da OIT (2007), “a maternidade adolescente é uma das grandes restrições para ter acesso a empregos produtivos e trabalho decente. Especialmente em se tratando de mulheres pobres, com baixa escolaridade, solteiras e sem parceiro. Apesar da diminuição da taxa global de fecundidade na região, a gravidez precoce, inclusive de adolescentes, está aumentando. As jovens mães, em sua grande maioria, moram com seus pais e dedicam–se a atividades domésticas, a cuidar de seus filhos e, em alguns casos, dos irmãos mais novos. Normalmente não frequentam a escola nem entram no mercado de trabalho e, quando o fazem, as ocupações são muito precárias. Isso é um fator de reprodução intergeracional da pobreza, pois as adolescentes de famílias de baixa renda ficam grávidas mais cedo e, portanto, são mais propensas a terem mais filhos”.

Tabela 11 - Diferença da taxa de participação entre homens e mulheres, por idade e nível socioeconômico - 2004

Faixa Etária até 1/4 SM mais de 1/4 até 1/2 SM mais de 1/2 até 1 SM mais de 1 até 2 SM mais de 2 até 3 SM mais de 3 até 5 SM mais de 5 SM Total 15 a 19 anos 22,5 21,3 14,7 11,4 12,0 6,5 8,3 18,2 20 a 24 anos 34,1 27,3 16,2 10,7 6,1 7,1 14,2 21,6 25 a 29 anos 37,1 28,2 19,3 13,0 12,1 7,4 5,4 23,9 30 a 34 anos 32,2 26,4 19,3 17,4 15,9 14,5 11,6 23,0 45 a 64 anos 31,5 32,5 29,7 27,6 29,8 28,5 26,5 29,9 15 a 64 anos 30,3 27,0 21,3 18,6 18,8 17,5 17,2 23,8

da atividade econômica, enquanto entre as mulheres a participação na atividade econômica aumenta de 38% entre as famílias com renda domiciliar per capita menor do que a quarta parte do salário mínimo para 48% entre as famílias com renda na faixa de metade a 1 salário mínimo, confirmando que as dificuldades de participação na atividade econômica de mulheres jovens impede que funcione esse mecanismo para elevar a renda da família.

Já na faixa etária de 30 a 44 anos, mesmo entre famílias com renda domiciliar per capita menor do que metade do salário mínimo, cerca de 93% dos homens participam da atividade econômica, mas entre as mulheres não ultrapassa 67%, sendo que a taxa de participação dos homens dessa idade atinge 99% em famílias com renda domiciliar per capita de mais de cinco salários mínimos, enquanto para as mulheres dessa idade e faixa de renda é de 87%.

Em suma, as dificuldades de participação na atividade econômica de mulheres jovens e adultas de famílias de baixa renda impedem que muitas dessas pessoas contribuam para elevar a renda de suas famílias, enquanto nas famílias de alta renda, a elevada participação na atividade econômica das mulheres colabora para ampliar ainda mais as diferenças de renda entre as famílias.

Ademais, o sexo marca, em geral, as oportunidades dos indivíduos no mercado de trabalho, criando restrições às mulheres para ocupar postos de trabalho de maior prestígio social, limitando suas possibilidades de mobilidade e reforçando a disparidade de remunerações entre homens e mulheres (LEONE; BALTAR, 2012). Do ponto de vista dos rendimentos, as mulheres têm renda inferior à dos homens, mesmo com níveis educacionais equivalentes e, embora essas diferenças tenham diminuído, continuam muito grandes (LEONE, 2010).

A diferença fundamental entre homens e mulheres no emprego formal reside na forte presença masculina em ocupações decorrentes da produção material de bens enquanto as mulheres estão dispersas em ocupações decorrentes de atividades não diretamente ligadas a produção material de bens, seja no apoio administrativo ou na prestação de serviços pessoais e sociais (LEONE; TEIXEIRA, 2010). Bruschini (1985), afirma que “uma coisa é certa: apesar dos deslocamentos, as mulheres que ingressam na força de trabalho continuam a fazê-lo em ‘guetos’

tipicamente femininos”. Hoje, há mais de 30 anos desta observação de Bruschini, é possível ainda verificar, conforme os dados da Pnad/IBGE, que existem determinadas ocupações como o trabalho doméstico e os serviços de uma forma geral, que são preenchidas predominantemente por mulheres. Um dado que também chama a atenção é a queda da proporção de mulheres jovens que trabalham como empregada doméstica. Do grupo etário de 15 a 19 anos, em 2004, 21% das mulheres ocupadas eram empregadas domésticas; esse número caiu para 14% em 2013. Entre as mulheres de 19 a 24 anos, a proporção reduziu de 16% para 8,5% no mesmo período; para o grupo de 25 a 29 anos, a queda foi de 17,3% para 9,2%. Observa-se ainda um aumento significativo dessas jovens nas ocupações do comércio e serviços.

Assim, as dificuldades de mulheres jovens e adultas de famílias de baixa renda para participar da atividade econômica é um aspecto importante da elevada desigualdade de renda que existe entre as famílias brasileiras, e um esforço do poder público para aliviar essas dificuldades é uma iniciativa importante na direção de reduzir as diferenças de nível socioeconômico entre as famílias, contribuindo para melhorar o funcionamento do mercado de trabalho.