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Participação no mercado de trabalho e nível socioeconômico da população no período 2004-2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LUCIANA BERNARDES VASQUEZ

PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO E NÍVEL

SOCIOECONÔMICO DA POPULAÇÃO NO PERÍODO

2004-2013

CAMPINAS

2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LUCIANA BERNARDES VASQUEZ

Participação no mercado de trabalho e nível

socioeconômico da população no período

2004-2013

Profa. Dra. Eugenia Troncoso Leone orientadora

Dissertação apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Desenvolvimento econômico, na área de Economia Social e do Trabalho.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA LUCIANA BERNARDES VASQUEZ E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. EUGENIA TRONCOSO LEONE

CAMPINAS 2016

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

LUCIANA BERNARDES VASQUEZ

Participação no mercado de trabalho e nível sócio

econômico da população no período

2004-2013

Defendida em 29/02/2016

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No momento de escrever esses agradecimentos há uma confusão intensa entre os sentimentos de alegria e medo. A alegria de chegar até aqui, apesar de todo o esforço para superar os incontáveis obstáculos do caminho e o medo de não agradecer a todos o suficiente pelo apoio das mais diversas formas. Alguém me disse um dia que: “ o que nos define é a forma como nos levantamos da queda...”. Levantei, tantas vezes que nem consigo contar. Em cada uma dessas vezes uma mão, um rosto, uma lágrima, um sorriso. Vejo através de cada pessoa a manifestação do amor de Deus por mim. Por isso, meu primeiro agradecimento é a Deus pela oportunidade diária de renovação interior e do mundo à minha volta.

Agradeço aos meus pais, Carmen e Antônio, pela vida, pelo cuidado e pela educação que me deram pois esta é a base para tudo o que me proponho a fazer. Também agradeço a todos os meus familiares que sempre torceram e ajudaram, cada um à sua maneira. Não posso deixar de registrar a gratidão ao apoio incondicional e à torcida dos meus queridos irmãos André e Adriana, que em todos os momentos estão ao meu lado. Aos meus padrinhos Getúlio e Regina meu carinho e gratidão pela ajuda desde a graduação. Devo dizer também da minha imensa gratidão e admiração aos meus sogros Dorival e Estela, pois sem eles dificilmente eu estaria escrevendo essas páginas.

Agradeço com carinho à minha orientadora Eugênia pela paciência, dedicação e contribuição inestimável para a realização dessa dissertação. Também sou imensamente grata ao professor Paulo Baltar pela ajuda ao longo da pesquisa, nos fazendo enxergar além daquilo que os dados estatísticos apresentavam, e principalmente, pelo incentivo e a sua generosidade em compartilhar a sua riquíssima bagagem de conhecimento.

Não posso deixar de registrar o agradecimento à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES) que proporcionou as condições materiais para a realização deste trabalho.

Aos meus amigos, é difícil descrever a importância de cada um nesse processo. Alguns com seu bom humor, outros com as palavras duras,

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Economia ao longo desses anos, mas em especial aos mais próximos: Delaíde, Taciana, Beatriz, Joana, Guilherme, Gustavo, Lilian, Vinícius. Não posso deixar de registrar um agradecimento especial ao amigo Marcelo Loural que desde o curso de especialização me socorre com sugestões preciosíssimas. Também aos amigos Bete, Moacir, Juliane e Rogério que estiveram de braços e ouvidos sempre abertos para os meus desabafos e para o cuidado carinhoso com meus filhos.

Aos professores da graduação que se tornaram amigos: Eliane Rosandiski, Adauto Ribeiro, Lineu Carlos Mafezzolli e Valdemir Pires.

Aos professores do Instituto de Economia da Unicamp pela contribuição à minha formação: José Dari Krein, Anselmo Santos, Geraldo Di Giovanni, Eduardo Fagnani, Denis M. Gimenez, Marcelo Proni, Márcio Pochmann, Wilson Cano, Ana Rosa Sarti, Adriana Nunes, Amilton Moretto e Ana Lucia Gonçalves.

A todos os funcionários do Instituto de Economia, em especial a Fatima, Marinete, Vânia e Andrea que sempre cuidaram para que tudo ocorresse em perfeita ordem.

Também o meu profundo agradecimento à melhor amiga e revisora de texto que eu poderia ter ao meu lado, Taciana Santos, com a sua competência, bom humor e torcida que me deram forças para chegar até o final.

O meu imenso carinho e gratidão à colega que acabou virando amiga, e depois irmã, Delaíde Passos, por estar sempre perto para rir ou chorar, para estudar, escrever um artigo, um projeto ou viajar para Buenos Aires.

Para os meus filhos, Guilherme e César, além do agradecimento especial, um pedido de perdão, pelo tempo que deixei de estar com eles e pela falta de paciência, torcendo para que eles um dia entendam que tudo isso foi por eles.

Por último, mas não menos importante, agradeço a banca de defesa, Profa. Angela Welters e Prof. Amilton Moretto pela contribuição inestimável.

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Esta dissertação teve o objetivo de investigar a queda da taxa global de participação da população com idade para realizar atividade econômica em um momento favorável do mercado de trabalho no Brasil. O período de crescimento econômico observado entre 2004 e 2013, teve a particular característica de redução da desigualdade da renda, ao contrário dos demais períodos de crescimento já verificados na história econômica do país. A análise dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) dos anos de 2004 e 2013 revela que, nesse período, a recuperação do poder de compra dos salários e o aumento do emprego elevaram a renda das famílias. Esse aumento da renda foi particularmente expressivo entre as famílias mais pobres, beneficiadas pela valorização do salário mínimo. Por isso, vem sendo denominado de período de crescimento com inclusão social. Os dados mostraram ainda, que a redução na participação global na atividade econômica ocorreu devido à forte queda da participação dos jovens ao arrefecimento do aumento da participação da mulher adulta. Avaliou-se a participação desses jovens em cada faixa de rendimento domiciliar per capita, para averiguar as diferenças de participação na atividade econômica segundo o nível socioeconômico das famílias. As famílias com renda domiciliar per capita muito baixa enfrentam enormes dificuldades para os jovens e as mulheres dessas famílias participarem da atividade econômica. Já nas famílias de renda elevada a participação dos jovens é pequena, mas a das mulheres adultas é elevada. É nos níveis intermediários de renda onde os jovens têm maior participação na atividade econômica.

Palavras-Chave: Economia; Inclusão Social; Mercado de Trabalho; Taxa de

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The purpose of this dissertation is to investigate the decline in the national rate of the economically active segment of the population’s participation in a positive period of the Brazilian labour market. The period of economic growth observed between 2004 and 2013 had the distinct characteristic of decreasing income inequality, unlike other periods of growth already documented in the economic history of the country. The analysis of data from the National Sample Survey of Households (PNAD) of 2004 and 2013 shows that in this period, the recovery of the purchasing power of wages and the increased employment rate improved household income. This increase in income was particularly noticeable among the poorest families, who benefited from the growth in the minimum wage. Therefore, it has been called the period of growth with social inclusion. The data also showed that the reduction in the national participation in the economic activity was due to the severe drop in youth participation and slow down in the growth of adult woman participation. The participation of these young people was evaluated in each per capita household income range, to determine the variances in participation in the economic activity according to the socioeconomic status of families. In families with minimal per capita household income, young people and women faced huge problems in participating in the economic activity. On the other hand, in high-income families the participation of young people was low, however participation by adult women was high. It’s in the intermediate levels of income where young people showed greater participation in economic activity.

Keywords : Economics ; Social inclusion; Labour market; Participation rate; income

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Tabela 1 – Atividade da Economia Brasileira (2003-2013) (em %) ... 7

Tabela 2 – Média da Renda Domiciliar per Capita ... 19

Tabela 3 – Indicadores de Mercado de Trabalho – 2003 – 2008 – 2013 ... 24

Tabela 4 – Taxa de Participação, por idade e sexo – 2004 e 2013 ... 31

Tabela 5 – Participação, por idade e sexo – 2004 e 2013 ... 45

Tabela 6 – Participação, jovens de 15 a 29 anos, por sexo – 2004 e 2013 ... 45

Tabela 7 – Participação e Composição etária da PIA e PEA – 2004 e 2013 ... 47

Tabela 8 – Simulações da taxa de participação e da composição da PEA em 2013, com as taxas de participação e composição da PIA de 2004. ... 48

Tabela 9 –5 Distribuição da PIA e PEA e taxa de participação dos jovens de 15 a 19 anos – 2004 ... 51

Tabela 10 – Taxa de participação por idade e nível socioeconômico – 2004 ... 53

Tabela 11 – Diferença da taxa de participação entre homens e mulheres, por idade e nível socioeconômico ... 54

Tabela 12 – Domicílios segundo Renda Domiciliar per Capita – 2004 e 2013 ... 57

Tabela 13 – Taxa de participação por idade e nível socioeconômico – 2004 e 2013 ... 59

Tabela 14 – Diferença da taxa de participação entre homens e mulheres por idade e nível socioeconômico – 2004 e 2013 ... 60

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Gráfico 1 – Taxa anual de crescimento do PIB – 1980-2013 ... 11

Gráfico 2 – Coeficiente de Gini – 2004-2013... 14

Gráfico 3 – Pessoas e domicílios – Variação total e anual – 2004 e 2013 ... 17

Gráfico 4 - Distribuição dos domicílios por Renda Domiciliar per Capita – 2004 e 2013 ... 18

Gráfico 5 – Média RDPC e Coeficiente de Gini – 2004-2013 ... 21

Gráfico 6 – Taxa de Desemprego – 2004 a 2013 ... 24

Gráfico 7 – Formalidade e Informalidade no mercado de trabalho – 2003 a 2012 .... 25

Gráfico 8 – Taxa média de crescimento anual da população total e por grupos de idade – 2004-2013 (em %) ... 28

Gráfico 9 – Taxas de participação (10 anos e mais) total e por sexo – 1950-2010 ... 30

Gráfico 10 – Taxa de Desemprego Total e Juvenil – 2004 a 2013... 32

Gráfico 11 – Taxa de Informalidade Total e Juvenil – 2003 a 2013 ... 33

Gráfico 12 – Composição etária da PIA – 1960 – 2010 ... 40

Gráfico 13 – Razão de Dependência – Total, Jovens e Idosos – 1960-2050 ... 41

Gráfico 14 – PIA e PEA, por idade e sexo – 2004 e 2013 ... 42

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BCB – Banco Central do Brasil

BPC – Benefício de Prestação Continuada

CEPAL – Comissão Econômica Para a América Latina CF - Constituição Federal do Brasil

CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPC –Índice Nacional de Preços ao Consumidor IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego OIT – Organização Internacional do Trabalho PBF – Programa Bolsa Família

PEA – População Economicamente Ativa PIA – População com Idade Ativa

PIB – Produto Interno Bruto

PME – Pesquisa Mensal de Emprego

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

RDPC – Renda Domiciliar Per Capita SM – Salário Mínimo

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ... AGRADECIMENTOS ... RESUMO... ABSTRACT ... LISTA DE TABELAS ... LISTA DE GRÁFICOS ... LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ... SUMÁRIO...

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO 1 – CRESCIMENTO ECONÔMICO COM INCLUSÃO SOCIAL ... 5

1.1. Desempenho da economia: 2004 a 2013 ... 6

1.2. Evolução da desigualdade da renda domiciliar ... 13

1.3. Mercado de trabalho: 2004 a 2013 ... 22

1.4. Taxa de Participação ... 27

CAPÍTULO 2 – A PARTICIPAÇÃO NA ATIVIDADE ECONÔMICA POR SEXO, IDADE E NÍVEL SOCIOECONÔMICO ... 37

2.1. Mudanças na PIA e PEA, por idade e sexo ... 39

2.2. Participação da população na atividade econômica, segundo nível socioeconômico, idade e sexo, em 2004 ... 49

2.2.1. A elevada participação na atividade econômica dos jovens de 15 a 19 anos ... 49

2.2.2. Participação na atividade econômica por idade, sexo e nível socioeconômico ... 52

2.3. Evolução da participação na atividade econômica, segundo nível socioeconômico, idade e sexo entre 2004 e 2013 ... 56

CONCLUSÃO ... 63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 67

(14)

INTRODUÇÃO

Os anos 2000 simbolizaram importantes transformações no cenário econômico e social brasileiro após 20 anos de crise, estagnação e retrocesso. A crise da dívida e a aceleração inflacionária nos anos 1980 e abertura comercial e financeira em meio às transformações da ordem econômica mundial, além de forte sobrevalorização cambial, nos anos 1990, representam um momento importante na história econômica e social do Brasil por significar o rompimento de uma trajetória de desenvolvimento socioeconômico que vinha ocorrendo desde 1930 e, particularmente desde 1950, baseado na industrialização como forma de superação do atraso1. O agravante é que esse rompimento se dá quando ainda não se havia completado o processo, ou seja, nas questões econômicas, não havia se superado a forte dependência dos recursos financeiros e tecnológicos externos3, e nas questões sociais, muito pouco, ou quase nada, se havia feito para eliminar, ou pelo menos reduzir, a exclusão social e a perversa distribuição da renda.

No período 2004 a 2013, o país teve uma experiência de crescimento econômico diferente das anteriores. Pela primeira vez desde o período da industrialização (1930-1980) houve um intenso crescimento da economia acompanhado de uma melhora na distribuição da renda. Uma conjuntura externa favorável foi a responsável pela retomada do crescimento econômico, seguida de um impulso interno com a ampliação do consumo e do investimento. Não obstante o governo tenha mantido as bases da política macroeconômica do período anterior, houve ajustes na gestão da economia, e as políticas governamentais adotadas ao longo da década (políticas de valorização do salário mínimo, de transferência de renda e de expansão do crédito) bem como as mudanças verificadas no mundo do trabalho (geração de empregos, formalização e aumento da renda) criaram as condições para o que vem sendo chamado de crescimento com inclusão social.

1

Cf PREBISCH (1961); FURTADO (1961; 1971;1970); CARDOSO DE MELLO (2009)

3 Como já alertava João Manuel Cardoso de Mello: “copiamos tudo menos o que é essencial: formas

de organização capitalista capazes de assegurar um mínimo de capacidade autônoma de financiamento e inovação” (CARDOSO DE MELLO; NOVAIS, 2009).

(15)

Neste contexto, um aspecto importante foi a queda da taxa de participação na atividade econômica da população com idade ativa, principalmente dos mais jovens. As variações nas taxas de participação dependem não só das condições gerais do mercado de trabalho, como nível de emprego, salário real, entre outros, mas também de fatores institucionais e socioculturais que afetam o comportamento dos segmentos populacionais. Ainda assim, como será mostrado ao longo da dissertação, ressalta-se a centralidade do crescimento real da renda do trabalho, sobretudo das rendas baixas, que diminui a desigualdade de renda como fator preponderante para a queda da taxa de participação dos jovens no mercado de trabalho, principalmente daqueles mais jovens (de 15 a 19 anos) e pertencentes às famílias de renda baixa já que o trabalho é mais intenso para os jovens dessas famílias, por ser mais necessária a contribuição dessa renda para a composição da renda familiar. Essas famílias situavam-se em faixas de renda muito baixas em 2004 e usufruíram do aumento do emprego formal e elevação do valor do salário mínimo, passando a faixas de renda mais elevadas. Continuaram nas faixas de menor renda domiciliar per capita, as famílias com dificuldade para participar da atividade econômica e que não puderam usufruir das melhoras do mercado de trabalho de baixa renda no crescimento com inclusão social. Já uma parte importante das famílias que mais aumentaram de renda domiciliar tem alta participação na atividade econômica e contribuiu para elevar a taxa de participação de jovens e de mulheres adultas das faixas de renda que passaram a fazer parte em 2013.

Assim, esta dissertação tem por objetivo contribuir para a investigação da relação entre o aumento da renda e a queda da taxa de participação, principalmente dos jovens, que, historicamente, tem sido muito alta no país, sendo marca indelével do seu atraso social. Para isso, é realizada uma avaliação quantitativa no período de 2003 a 2014. As análises foram baseadas nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) coletados em 2004 e 2013. Quanto ao recorte temporal da pesquisa, cabe ressaltar que, embora o período de crescimento tenha início em 2003, para fins de comparação é adotado o ano de 2004, quando a Pnad/IBGE ampliou a sua cobertura geográfica ao investigar a área rural dos estados que compõem a Região Norte do país. Segundo o IBGE, este avanço proporcionou um diagnóstico mais preciso dos indicadores sociodemográficos, inclusive àqueles que permitem traçar

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um perfil do mercado de trabalho brasileiro; em contrapartida, a comparabilidade nacional dos indicadores com os anos anteriores não pôde ser adotada.

O jovem é definido como uma pessoa com idade entre 15 e 24 anos, para os propósitos desta pesquisa, mas também se incorporou a população de 25 a 29 anos. Esta opção metodológica relaciona-se ao marco legal para as políticas de juventude e para a própria definição dessa condição existente no Brasil segundo o Estatuto da Juventude, disposto na Lei n° 12.852, de 05 de agosto de 2013 (BRASIL, 2013b).

Também foi utilizada a renda domiciliar per capita como indicador da situação socioeconômica no Brasil e o índice de Gini como medida da desigualdade de renda. A renda domiciliar inclui tanto aquela advinda do trabalho quanto do conjunto de rendimentos de todas as fontes, incluindo benefícios como os de previdência ou rendimentos de aplicações financeiras. A renda domiciliar considera os rendimentos de todos os moradores do domicílio que possuem laço de parentesco. Desse modo, muitas vezes, converte-se o valor domiciliar total médio pelo tamanho do domicílio, ou seja, é feito um ajuste da renda conjunta dos moradores do domicílio pelo número de membros das famílias do domicílio, chegando a um valor per capita (isto é, por cabeça). A suposição aqui é que todos os membros contribuem integralmente com toda a sua renda para a manutenção da unidade domiciliar e que a cada um dos membros seja destinada parcela de renda de igual valor. Portanto, para compor a renda domiciliar, o IBGE não considera os rendimentos de não parentes que moram no domicílio, tais como empregados domésticos, parentes de empregados domésticos e pensionistas, mas inclui a renda de agregados4.

Na análise da evolução das taxas de participação na atividade econômica por sexo, idade e nível socioeconômico utilizaram-se os conceitos de População em Idade Ativa (PIA) e População Economicamente Ativa (PEA) do IBGE e o indicador taxa de participação que equivale ao percentual da população em idade ativa que compõe a força de trabalho realmente ocupada ou apenas buscando um trabalho

4

Ver as Notas Técnicas da Pnad, disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/brasil_notas_tecnic as.pdf . Acesso em novembro de 2015.

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remunerado5. A variável idade foi agrupada em classes quinquenais e para a variável nível socioeconômico usou-se como proxy as faixas de rendimento conforme apresentadas pela PNAD.

Sendo assim, para cumprir com o objetivo de investigar a relação entre a queda da participação da população em idade ativa na atividade econômica com o aumento da renda domiciliar per capita que ocorreu no período de 2004 a 2013, este trabalho está dividido em dois capítulos. O primeiro apresenta o desempenho da economia brasileira no período 2004-2013, destacando o aumento da renda per capita com redução na desigualdade de renda. O segundo apresenta uma análise dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos anos de 2004 e 2013 referentes à população, ao trabalho e à renda domiciliar per capita. Ainda no segundo capítulo, a análise é composta por duas frentes: a primeira evidencia a importância das mudanças da composição da PIA e da PEA em decorrência da dinâmica demográfica, que vem alterando a distribuição etária da população brasileira; a segunda examina a queda da taxa global de participação econômica da população em idade ativa em um momento favorável do mercado de trabalho.

Com isso, pretende-se avaliar o impacto dos efeitos do período de crescimento com inclusão social no mundo do trabalho e, consequentemente, na estrutura social brasileira. A hipótese da menor participação do jovem como reflexo da melhoria da renda familiar aponta para as mudanças profundas em uma sociedade historicamente desigual e excludente e reafirma a importância das políticas públicas na orientação do crescimento econômico.

5

Neste estudo consideraram-se voltadas para a atividade econômica as pessoas de 15 a 64 anos. No Brasil a lei proíbe o trabalho de menores de 16 anos, salvo na situação específica de aprendiz.

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CAPÍTULO 1 – CRESCIMENTO ECONÔMICO COM INCLUSÃO SOCIAL

A retomada do crescimento econômico a partir de 2004, como resultado de um cenário externo favorável e de uma mudança de orientação da ação do poder público na economia, ocorreu com diminuição da desigualdade de renda. As mudanças positivas no mercado de trabalho, como a queda do desemprego, o aumento do grau de assalariamento, o aumento do grau de formalização dos contratos de trabalho e o aumento do nível de renda do trabalho com redução da desigualdade entre os trabalhadores foram aspectos importantes do crescimento com inclusão social verificado no período de 2004 a 2013.

Neste contexto, chama a atenção a diminuição da taxa de participação6 da população com idade ativa7, que contribuiu para as condições favoráveis do mercado de trabalho durante o período de crescimento com inclusão social. A diminuição da participação dos jovens de ambos os sexos que vem ocorrendo desde o início dos anos 1990, foi compensada pelo aumento da participação das mulheres adultas e não houve diminuição da taxa de participação do total da população com idade ativa até o início dos anos 2000. Desde 2004, a continuidade da redução da participação dos jovens ocorre em simultâneo a um arrefecimento do aumento da participação das mulheres adultas e uma pequena queda na participação dos homens adultos, provocando a mencionada redução na taxa de participação do total da população com idade ativa.

O propósito deste capítulo é apresentar brevemente tanto o desempenho da economia brasileira no período 2004-2013, destacando o aumento da renda per capita com redução na desigualdade de renda, quanto as melhorias no mercado de trabalho associadas a este desempenho da economia. Na exposição do mercado de trabalho associado ao crescimento com inclusão social este capítulo destaca a

6

Taxa de Participação: Percentagem de pessoas economicamente ativas de um grupo etário (PEA) em relação ao total de pessoas do mesmo grupo etário (PIA). [Taxa de participação = PEA/ PIA * 100] 7População em idade ativa (PIA) – pessoas de 15 a 64 anos

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importância da diminuição da taxa de participação do total da população com idade ativa.

1.1. Desempenho da economia: 2004 a 2013

A partir de 2003, a situação da economia mundial melhorou para os países emergentes, levando a uma redução da inflação e a um crescimento mais intenso do PIB. A retomada do crescimento econômico começou com as exportações e se consolidou com a ampliação do consumo e do investimento, num contexto em que ocorreu também um intenso aumento das importações (BALTAR et al., 2010).

Em 2004, o ritmo de crescimento da exportação de bens e serviços8 (15,3%) foi bem maior que o do crescimento do consumo (3,9%) e o do investimento (9,1%), levando a um superávit excepcional do comércio de bens e serviços no Brasil. Dessa forma, o intenso aumento do PIB no mesmo ano pode ser explicado preponderantemente pela absorção externa9, haja vista que a intensidade do crescimento do PIB (5,7%), conforme tabela 1, foi maior que a do crescimento da soma de consumo e investimento (4,7%) (BALTAR, 2015). Dessa forma, o comércio com outros países foi fundamental para aumentar o ritmo de crescimento do PIB e induziu um maior aumento do consumo e do investimento. Segundo Sarti e Hiratuka (2011), dependendo da intensidade do crescimento do consumo e do investimento, o crescimento da produção industrial pode ser vigoroso, não somente com produtos em que o país já tinha vantagem comparativa, mas também com produtos em que seja mais fácil construir estas vantagens quando é intenso o aumento da demanda doméstica por tais produtos. O aumento do superávit de comércio de bens e serviços foi o principal componente do aumento da demanda efetiva em 2004, fazendo o PIB crescer mais intensamente que a absorção interna10. No comércio de

8

O Brasil exporta commodities e produtos manufaturados – estes últimos principalmente para os Estados Unidos e para países em desenvolvimento que são exportadores de commodities.

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bens e serviços, destacou-se, inicialmente, a exportação de produtos manufaturados, colaborando para que em 2004 o ritmo de crescimento da produção manufatureira (8,5%) fosse bem maior que o do crescimento do PIB (5,7%).

Inicialmente, é o expressivo aumento das exportações, principalmente de produtos manufaturados, que reativa a economia e amplia o emprego e a renda, mas é o consumo e o investimento que reforçam o crescimento do PIB durante o período11. A ampliação do emprego e da renda foram acentuados pela valorização do salário mínimo, que afetou não somente os salários mais baixos, mas também o piso dos benefícios previdenciários (aposentadorias e pensões) e assistenciais (o Benefício de Prestação Continuada – BPC)12. Além disso, o governo assume

10

Absorção interna = Consumo (C) + Investimento (I) 11

Cf Baltar (2015), a continuação da redução na taxa nominal e real de câmbio deu prosseguimento à diminuição do superávit de comércio de bens e serviços em relação ao PIB, confirmando o deslocamento do eixo do crescimento da economia da absorção externa para a absorção interna.

12

Benefício de prestação continuada da assistência social - BPC-LOAS Programa social que garante um salário mínimo mensal à pessoa idosa ou ao portador de deficiência incapacitado para a vida independente e para o trabalho, ambos impossibilitados de prover sua manutenção ou tê-la provida por sua família. Todos os idosos com 65 anos ou mais de idade e os portadores de deficiência que se

Tabela 1 - Atividade da Economia Brasileira - 2003 a 2013 (em % )

Ano Investimento Consumo Exportação Importação PIB 2003 -4,6 -0,3 10,4 -1,6 1,2 2004 9,1 3,9 15,3 13,3 5,7 2005 3,6 3,9 9,3 8,5 3,2 2006 9,8 4,6 5 18,5 4 2007 13,9 5,8 6,2 19,9 6,1 2008 13,6 5 0,6 15,4 5,2 2009 -6,7 4,1 -9,1 -7,6 -0,3 2010 21,3 6,3 11,5 35,8 7,5 2011 4,7 3,5 4,5 9,8 2,7 2012 -4 3,3 0,5 0,2 0,9 2013 5,2 2,4 2,5 8,3 2,5

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postura ativa no combate à pobreza, reordenando todos os programas de transferência de renda existentes, consolidando-os no Programa Bolsa Família13.

O aumento do emprego e da renda da população ocorreu com diminuição da inflação e melhora do balanço de pagamentos e das contas públicas gerando expectativas de sua continuidade. Essas expectativas foram fundamentais para a ampliação da demanda e da oferta de crédito que teve um papel decisivo na aceleração do consumo das famílias. Nestas circunstâncias, e apesar das altas taxas de juros, as famílias são estimuladas a se endividar para comprar bens de consumo, especialmente bens duráveis. A compra a prazo desses bens pelas famílias significa uma antecipação de futuros aumentos de renda. Da mesma forma, as instituições financeiras são encorajadas a emprestar, porque acreditam que as famílias serão capazes de pagar suas dívidas. Assim, o mercado interno passou a se constituir na principal fonte de elevação da demanda e o PIB passou a apresentar um crescimento médio expressivamente superior à média dos anos anteriores (KREIN et al., 2012).

Entre 2004 e 2013, a política macroeconômica seguiu a mesma orientação do governo anterior, que teve como fundamento a combinação de regime de metas de inflação, câmbio flutuante e gestão rigorosa do orçamento fiscal, com a geração de superávits primários, colocando limites ao desenvolvimento (CARNEIRO, 2005)14. No entanto, o fato de terem sido mantidas as bases da política

encontram nessa situação têm direito ao benefício garantido pela Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, bastando comprovar que o rendimento familiar per capita é inferior a 25% do salário mínimo. 13

Bolsa família: Programa social destinado às famílias em situação de pobreza com rendimento familiar per capita até um determinado valor mensal, que associa à transferência do benefício financeiro o acesso aos direitos sociais básicos - saúde, alimentação, educação e assistência social. O bolsa família unificou todos os benefícios sociais (bolsa escola, bolsa alimentação, cartão alimentação e o auxílio gás) do governo federal num único programa.

14

Cf Baltar (2015), “o superávit fiscal primário foi obtido reduzindo o investimento público e deslocando para o pagamento dos juros, uma parte da arrecadação de contribuições sociais, previstas para operar um amplo sistema de proteção social, prometido pela Constituição Federal de 1988. A redução do investimento público, a contenção do atendimento da demanda doméstica de crédito, as altas taxas de juros e o baixo preço do dólar prejudicaram a realização dos investimentos necessários para o desenvolvimento do mercado doméstico e das exportações”.

(22)

macroeconômica adotada ao final da década de 199015, não significou que não tenha havido alterações e avanços na gestão da economia. A partir de 2005, com as mudanças da conjuntura nacional e internacional, o governo realizou alguns ajustes na condução da economia, que criaram as condições para uma redução da taxa de juros, de patamares superiores a 20% ao ano em 2002 para 11,25% no final de 2008. O crédito expandiu-se de 25% para 50% do PIB, beneficiando empresas e famílias. No mesmo período, houve redução da dívida líquida do setor público, de 60% para 35% do PIB. Além disso, houve aprimoramento do perfil da dívida por meio da menor participação de títulos indexados à taxa de juros de curto prazo e ao câmbio. A redução da dívida cambial combinada ao acúmulo de reservas diminuiu a vulnerabilidade do país a choques internacionais. O Governo passou a dar ênfase ao investimento público, o qual, associado ao ambiente favorável de juros relativamente mais baixos, crédito e renda em expansão, induziu o investimento privado. A soma dos investimentos público e privado cresceu mais que o dobro do PIB nos últimos anos, dando continuidade ao aumento da produção e do emprego.

A taxa de investimento aumentou no período 2004-2008, mas não chegou ao padrão prevalecente antes dos anos 1980, devido ao atraso nos investimentos para renovar e ampliar a infraestrutura e também aos efeitos da forte valorização do real sobre a expansão do setor industrial, o que implicou em um expressivo aumento das importações a preços baixos. Os crescimentos do PIB e da própria produção industrial foram muito expressivos nesse período, mas, conforme ressalta Baltar (2015), pela primeira vez desde o começo da industrialização do país, em meados da década de 1930, um forte crescimento do PIB foi acompanhado de crescimento da produção industrial em ritmo menor que o do PIB16. Este resultado reflete, em parte, o limitado aumento da taxa de investimento (a formação de capital passou

15

Cf Baltar (2015), “o estudo das relações entre produção, emprego, renda do trabalho e preço ajuda a revelar o mercado de trabalho implícito na forma de crescimento da economia brasileira depois da abertura comercial e financeira, com uma orientação de política macroeconômica que prioriza o controle da inflação, usando como instrumento principal o manejo da taxa básica de juros pelo Banco Central do Brasil (BCB), enquanto as autoridades fiscais executam o orçamento de modo a evitar que o déficit nominal amplie a relação entre dívida pública e PIB e o governo renuncia ao uso da taxa de câmbio como instrumento de política de desenvolvimento da produção doméstica de bens que concorrem com a produção de outros países”.

16

O PIB passou a crescer cada vez mais rápido, porém a um ritmo menor que o da absorção interna; em simultâneo, o ritmo de crescimento da produção industrial foi menor que o do crescimento do PIB.

(23)

aproximadamente de 16% para 19% do PIB), devido ao atraso nos investimentos em infraestrutura, que, por envolverem maiores montantes de recursos, escala e prazo de maturação, têm caráter mais autônomo, exigindo uma articulação mais complicada da autoridade pública com os interesses privados.

É importante ressaltar que a valorização do Real também limitou a expansão da indústria a ramos em que não fosse possível desenvolver vantagem em comparação com as importações, diante de intenso aumento na demanda doméstica pelos produtos, transferindo parte desse aumento para os produtores externos. Um crescimento mais forte do PIB, sem tanto aumento da taxa de investimento e com forte aumento da importação de produtos manufaturados, tem implicações sobre a relação entre os crescimentos do emprego e do PIB (elasticidade-emprego do crescimento da economia) e sobre a maneira como se logrou a elevação do poder de compra da renda do trabalho.

O período 2001-2003 se assemelhou ao que vinha ocorrendo desde o final da década anterior no que se refere ao crescimento da economia, com taxas de 1,3% em 2001, 2,7% em 2002 e 1,2% em 2003. A partir de 2004, a economia voltou a crescer em ritmo mais intenso, alcançando uma taxa de 6% ao ano em 2008, antes da crise global que atingiu o país no último trimestre do mesmo ano. Comparando-se 2008 com 2003, o produto interno bruto aumentou 26,5%, o que equivale a um crescimento médio anual de 4,8%. Em meio à crise, o PIB diminuiu muito pouco em 2009 e, para isso, a atuação do governo foi fundamental para sustentar a atividade da economia, no sentido de garantir o atendimento da demanda de crédito usando, de um lado, as reservas internacionais para financiar a exportação e, do outro lado, os bancos públicos para compensar a redução dos empréstimos dos bancos privados, garantindo, portanto, o acesso ao crédito para famílias e empresas. Algumas políticas setoriais, como isenções fiscais para os bens duráveis de consumo também foram importantes para que o consumo continuasse crescendo num ritmo expressivo em 2009, contribuindo para que a queda do PIB nesse ano fosse de apenas 0,3%, bem menos que as diminuições observadas no investimento (6,7%) e na exportação (7,6%). O gráfico 1 apresenta as taxas anuais de crescimento do PIB nas últimas três décadas.

(24)

Gráfico 1. Taxa anual de crescimento do PIB – 1980 - 2013

Fonte: Ipeadata. Elaboração Própria

Assim, a queda na atividade econômica foi relativamente pequena, e a recuperação que começou no último trimestre de 2009 foi muito rápida, tendo o PIB aumentado 7,5% em 2010 (gráfico 1). Houve uma nova fase do consumo e uma expressiva retomada da exportação e principalmente do investimento. A comparação dos anos 2008 e 2010 indica que o consumo cresceu no ritmo médio anual de 5,2%, não muito menos que o verificado antes da crise mundial atingir o país. Já o investimento em 2010 recuperou a queda de 2009 e ampliou o patamar atingido em 2008, no equivalente a um aumento médio anual de 6,4%, bem menos que o verificado antes da crise mundial, mas acima do ritmo de crescimento do PIB (3,5%), indicando que a defesa da atividade econômica em 2009 foi fundamentalmente pela sustentação do crescimento do consumo, mas na recuperação em 2010, houve novamente aumento da taxa de investimento. De fato, medida a preço constante, a relação entre a formação bruta de capital fixo e o PIB passou de 18,7% (2008) para 19,8% (2010), traduzindo a vigorosa retomada do investimento nesse último ano (BALTAR, 2015). No ano seguinte, porém, a economia voltou a crescer a taxas menores, com 2,7% em 2011 e apenas 1% em 2012 (gráfico 1). Esse crescimento, ainda que modesto, deve-se ao êxito dos

(25)

incentivos que interromperam a desaceleração do consumo, já que o investimento diminuiu 4% em 2012.

Segundo Baltar (2015),

É preciso que a formação bruta de capital fixo cresça mais que o PIB, o que não quer dizer que deva haver redução no consumo. Pelo contrário, o crescimento do consumo é um importante indutor do investimento. A peculiaridade do atual momento é que é preciso ir além do investimento induzido pelo aumento na demanda pelos produtos, com uma ampliação autônoma do investimento em infraestrutura e no desenvolvimento da produção manufatureira doméstica. O risco destes investimentos autônomos é muito maior, e sua realização requer complexa articulação de iniciativas públicas e privadas. Este é o principal desafio para a continuidade e o aprofundamento da melhora no mercado de trabalho. O aumento almejado da taxa de investimento, entretanto, deverá reduzir a elasticidade-emprego do crescimento do PIB e aumentar o ritmo de elevação do PIB por pessoa ocupada. Possivelmente, a elevação mais rápida do PIB por pessoa ocupada seria acompanhada de maior proporção de ocupações mais especializadas e mais bem remuneradas e de redução no ritmo de crescimento das ocupações menos especializadas e mais mal remuneradas. Assim como a atuação do Estado é fundamental para garantir a realização coordenada de iniciativas públicas e privadas necessárias para elevarem a taxa de investimento, esta atuação estatal ganharia mais legitimidade se acompanhada de outras atuações, visando facilitar a estruturação do mercado de trabalho necessária para que o nível da renda do trabalho acompanhe o aumento mais rápido do PIB por pessoa ocupada, evitando simultaneamente um aumento na dispersão relativa destas rendas do trabalho. (p.49)

Em síntese, a dificuldade para retomar o crescimento da economia a partir de 2011 mostra o esgotamento do padrão de crescimento da primeira década dos anos 200017. A sustentação da demanda doméstica, sobretudo do consumo, embora extremamente relevante, foi insuficiente para garantir a continuidade do crescimento, e a taxa de investimento que, embora tenha aumentado no período, se

17 Cf Baltar (2015), “a defesa da atividade econômica manteve o bom desempenho do mercado de trabalho, especialmente nas regiões metropolitanas do país, mas as evoluções do PIB e da inflação, em 2011 e 2012, mostraram a necessidade e a dificuldade de modificar a maneira de a economia brasileira crescer, tornando seu desempenho menos dependente da situação internacional. Estas mudanças seriam fundamentais para a economia brasileira se sobrepor à crise mundial, retornando a uma trajetória de crescimento, de modo a dar continuidade e aprofundar a melhora verificada no mercado de trabalho”.

(26)

manteve em um patamar relativamente baixo para as circunstâncias de um auge de atividade da economia.

1.2. Evolução da desigualdade da renda domiciliar

Historicamente, o Brasil figura entre os países com maior desigualdade de renda do mundo18. Segundo o Dieese (2012), além de serem muito elevados, os índices de concentração de renda no país revelaram grande resistência a um processo mais contínuo de queda por um longo período, desde o Censo de 1960, quando os dados começaram a ser calculados, até o ano 2000.

Um estudo do IPEA (2011) mostra que entre 1960 e 1981 o crescimento do PIB foi acompanhado de uma piora na concentração da renda. Entre 1981 e 2003, a renda per capita manteve-se estagnada. A desigualdade na distribuição da renda permaneceu inalterada até o final dos anos 1990, mas no início dos anos 2000 houve queda de renda per capita acompanhada de redução na desigualdade. Entre 2004 e 2010, pela primeira vez o crescimento do PIB veio acompanhado da redução das desigualdades no interior da distribuição da renda do trabalho. Nesse último período, conforme ressalta Fagnani (2015), o crescimento potencializou os efeitos redistributivos da proteção social instituída pela Constituição de 1988, inspirada em alguns dos valores do Welfare State19.

A partir de 2003, conforme revelam os dados disponíveis, pela primeira vez o aumento da renda per capita foi acompanhada da redução da desigualdade de renda. Conforme mostra o gráfico 2, o Coeficiente de Gini21 passou de 0,572 em

18

Sobre a Desigualdade de renda ver: BARROS; FOGUEL; ULYSSEA (2006),BARROS; MENDONÇA(1989), HOFFMANN (2002, 2003), HOFFMANN; KAGEYAMA(1986), IPEA (2006).

19

Sobre o Welfare State brasileiro ver DRAIBE e AURELIANO (1989)

21

O Coeficiente de Gini mede o grau de desigualdade na distribuição da renda domiciliar per capita entre os indivíduos. Seu valor pode variar teoricamente desde 0, quando não há desigualdade (as rendas de todos os indivíduos têm o mesmo valor), até 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). Série calculada a partir das respostas à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE).

(27)

2004 para 0,527 em 2013. Para Hoffmann (2009), quase 50% dessa redução no índice de Gini está associada a modificações no rendimento dos salários no setor privado.

Gráfico 2 – Coeficiente de Gini – Brasil – 2004-2013

Fonte: Ipeadata. Elaboração Própria

Para avaliar o que ocorreu com a renda é importante levar em conta que houve no período um aumento substancial do número de domicílios e uma diminuição significativa no número de pessoas por domicilio. A redução no número de pessoas por domicílio está relacionada com as mudanças demográficas que vem ocorrendo no país desde o final da década de 1960. Nessas mudanças, destaca-se a diminuição da fecundidade das mulheres e o aumento da expectativa de vida da população22. Deve-se notar, entretanto, que a diminuição do número de pessoas por domicilio ocorreu em simultâneo a um intenso aumento do número de domicílios indicando que também foram importantes as alterações na própria estrutura das famílias. Segundo Wajnman (2012), tão importante quanto analisar a queda da

22

Em 1980 a taxa de fecundidade era de 4,06 filhos por mulher, em 2010 já havia se reduzido a 1,76 e a projeção do IBGE para 2030 indica que esse número deve chegar a 1,5 filhos por mulher (Censo Demográfico/ IBGE).

(28)

fecundidade e o aumento da expectativa de vida da população e considerar os efeitos que esse fenômeno produz sobre a distribuição etária, é entender as mudanças que vem ocorrendo no processo de formação das famílias e nas suas formas de reprodução23. Nesta pesquisa, entender as mudanças que vem ocorrendo na distribuição etária da população é importante para estudar as mudanças no mercado de trabalho como será destacado no item 1.4 deste capítulo.

Não há um consenso na literatura sobre a influência do tamanho e da composição dos domicílios na determinação da desigualdade da distribuição das rendas familiares. Conforme mostra Wajnman (2007), as experiências internacionais de pesquisa sobre esse assunto são bastante diferenciadas e adaptadas às realidades locais. Em linhas gerais, pode-se classificar a literatura em dois grupos, a saber: no primeiro estão aqueles autores que, de alguma forma, relacionam as alterações demográficas, com destaque para a diminuição do tamanho das famílias, com a desigualdade da renda familiar (Burtless, 199924; Martin, 200625; Garner e Terrel, 200126; Schultz, 199927; O’Dea, 200028 apud WAJNMAN, 2007), e no segundo grupo, os autores que sugerem um efeito reduzido da composição familiar sobre a desigualdade de renda (Brandolini e D’Aléssio, 200129

apud WAJNMAN, 2007).

23

A demografia da família estuda o número, tamanho e composição das famílias e a identificação dos processos populacionais que geram esses resultados e suas mudanças ao longo do tempo” (RYDER, 1975 apud WAJNMAN, 2012).

24

BURTLESS, G. Effects of growing wage disparities and changing family composition on the

U.S. income distribution. Washington, D.C.: Center on Social and Economic Dynamics, 1999

(Working Paper, n. 4). 25

MARTIN, M.A. Family structure and income inequality in families with children 1976 to 2000. Demography, v. 43, n. 3, p. 421,-445. 2006.

26

GARNER, T.; TERRELL, K. Some explanations for changes in the distribution of income in

Slovakia: 1988 and 1996. Bureau of Labor Statistics, BLS Working papers, Jul. 2001.

27

SCHULTZ, P. 1997. Income Inequality in Taiwan 1976-1995: Changing Family Composition, Aging and Female Labor Force Participation. In: RANIS, G.; HU, S.-C.; CHU, Y.-P. (Eds.). Political

economy of Taiwan’s development in the 21st Century. England: Edward Elgar Publishing, 1999.

28

O’DEA D. The Changes in New Zealand’s income distribution. Econ - Papers, n. 00/13. (Treasury Working Paper Series).

29 BRANDOLINI, A.; D’ALESSIO, G. Household structure and income inequality. Turin: Center

(29)

No Brasil, Barros et al. (2006)30 (Apud Wajnman, 2007)

(...) testam o efeito da proporção de adultos sobre a desigualdade da distribuição de rendimentos, demonstrando que o fato de as famílias com maior proporção de crianças se concentraram nos decis mais pobres da distribuição tem um efeito concentrador sobre a desigualdade. No entanto, as mudanças demográficas observadas no período recente contribuíram, ainda que muito discretamente, para reduzir a desigualdade, uma vez que os decis de renda tornaram-se mais homogêneos do ponto de vista da proporção de adultos em suas famílias.

Desde 1960, verifica-se a tendência de redução da proporção de pessoas em domicílios do tipo nuclear mais tradicional - casais e filhos -, cedendo espaço para as formas alternativas de núcleo – casais sem filhos, domicílios unipessoais e monoparentais (WAJNMAN, 2012).

Entre 2004 e 2013, conforme os dados publicados pela Pnad/IBGE e apresentados no gráfico 3, observa-se um aumento de 25% do número de domicílios, o que representa um acréscimo de aproximadamente 13 milhões de novos domicílios, o equivalente a um crescimento de 2,5% ao ano, enquanto o número de pessoas aumentou a um ritmo de 1,05% ao ano, atingindo no período 9,8%. Além disso, o aumento do número de pessoas residentes nos domicílios foi menos intenso do que o aumento do número de domicílios, resultando na diminuição do número médio de pessoas por domicilio de 3,5 para 3,08.

30

BARROS, R. et al. Uma análise das principais causas da queda recente da desigualdade de

(30)

Gráfico 3 – Pessoas e Domicílios – variação total e anual 2004 e 2013

Fonte: Pnad/ IBGE. Elaboração Própria

Os dados refletem as mudanças no tamanho e na composição dos arranjos domiciliares nas últimas décadas. Segundo Leone, Maia e Baltar (2010), o declínio da fecundidade promoveu uma redução do tamanho médio das famílias, mas houve também um aumento no número de famílias unipessoais, casais sem filhos, mães com filhos e redução dos arranjos casal com filhos. Ressalta-se que a redução da fecundidade ocorreu em todos os estratos socioeconômicos, mas com um timing diferente. Inicialmente a redução da fecundidade é maior nos estratos renda alta e média, mas depois vai se difundindo e abrangendo os estratos de nível socioeconômico mais baixos.

A mudança da estrutura familiar é um dos diversos aspectos inseridos no processo mais amplo de mudança social que tem efeitos sobre o comportamento das pessoas, inclusive, com relação ao comportamento no mercado de trabalho. Os novos tipos de arranjos familiares demonstram uma mudança no comportamento social que não se reduz ao um cálculo individual de custo-benefício.

A renda domiciliar provém do trabalho e também de outras fontes incluindo benefício de previdência e assistência social ou rendimento de aplicações financeiras. Consideram-se os rendimentos de todos os moradores do domicílio que

(31)

possuem laço de parentesco31. No entanto, a renda do trabalho continua sendo a principal fonte de renda domiciliar, cuja participação ficou aproximadamente constante no período, em torno de 76%. A segunda fonte de renda em importância foram os benefícios da Seguridade Social (aposentadoria e pensões por morte). A contribuição destes dois tipos de benefícios ficou aproximadamente constante no período, em torno de 19% (CAMARANO; FERNANDES, 2015).

No período 2004-2013, a distribuição de renda captada pela Pnad melhorou a cada ano: a média cresceu e a desigualdade diminuiu. A análise da distribuição dos domicílios por classes de rendimento domiciliar per capita, apresentada no gráfico 4, mostrou que aqueles com rendimento de até meio salário mínimo de 2013 representavam 39,6% em 2004 e passaram a ser 19,8% em 2013. Os resultados para os domicílios situados na classe de rendimentos com maior poder aquisitivo (mais de 2 salários mínimos per capita) mostraram, crescimento de 12,3% para 19,5%.

Gráfico 4 – Distribuição dos domicílios por renda domiciliar per capita 2004 e 2013*

Fonte: Pnad (IBGE). Elaboração Própria

31

Para compor a renda tanto domiciliar quanto familiar em suas pesquisas, o IBGE não considera os rendimentos de não parentes que moram no domicílio, tais como empregados domésticos, parentes de empregados domésticos e pensionistas, mas inclui a renda de agregados. A diferença entre “renda familiar” e “renda domiciliar” para o IBGE refere-se àqueles domicílios em que existem duas ou mais famílias conviventes. Ver as Notas Técnicas da Pnad, disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/brasil_notas_tecnic as.pdf . Acesso em 6 de junho de 2011.

(32)

*A renda domiciliar per capita foi expressa em frações do salário mínimo de 2013 usando-se o INPC para medir o valor deste salário mínimo em 2004.

Outro indicador importante é a média da renda domiciliar per capita. A preços de junho de 201132, a média passou de R$ 549,83/mês em 2004 para R$ 836,02/mês em 2013 (tabela 2). O crescimento real no período foi de 52,05% ou 4,8% ao ano.

Ainda que de forma complexa e combinada a outros fatores (como a extensa ampliação da concessão dos benefícios assistenciais, inclusive do Programa Bolsa Família), o processo de elevação do salário mínimo real tem constituído motor da redução da desigualdade salarial, em específico, e da concentração de renda, em geral (SABOIA, 2007). Como o salário mínimo estabelece o piso dos benefícios previdenciários e dos Benefícios de Prestação Continuada (BPC) da Assistência Social, o poder do mínimo na promoção da equidade é potencializado, alcançando além do mercado de trabalho.

32

A deflação é feita pelo INPC

Ano Média RDPC 2004 549,83 2005 582,71 2006 637,71 2007 655,30 2008 686,06 2009 705,32 2011 747,93 2012 806,86 2013 836,02

Fonte: Pnad/IBGE Elaboração Própria * Em R$/ Mês Junho - 2011

(33)

Dessa forma, osalário mínimo tem papel extremamente importante para o padrão de rendimento das famílias de baixa renda33, seja como base do seu rendimento, seja como piso dos benefícios previdenciários e assistenciais.

Segundo o Dieese (2009), no Brasil, assim como em muitos países, o Salário Mínimo tem por objetivo proteger as categorias de trabalhadores mais vulneráveis no mercado de trabalho, além de servir como parâmetro mínimo para o pagamento dos benefícios da Seguridade Social34. Para Cacciamali (2005), o estabelecimento de um salário mínimo, objetiva além de estabelecer um piso de remuneração, proteger categorias de trabalhadores mais vulneráveis incluindo os não sindicalizados, estabelecer normas para que trabalhos iguais tenham a mesma remuneração, além de tornar-se instrumento de política pública. Atuando assim, tanto na diminuição da dispersão salarial, quanto na elevação da demanda agregada, o salário mínimo representa eficaz instrumento que tem a função de sustentar os rendimentos de base no mercado de trabalho e reduzir as desigualdades.

A partir de 2004, a reativação da economia com menor inflação favoreceu a recuperação do poder de compra dos salários que estava muito baixo, em consequência das elevadas taxas de inflação e de desemprego do período anterior. Em 2004, 68,3% dos domicílios tem renda domiciliar per capita de até 1 salário mínimo e 17,0% dos domicílios de 1 a 2 salários mínimos, o que representa grande parte da população brasileira, dando centralidade inequívoca à necessidade de uma política de valorização do salário mínimo, para construção de uma ordem social mais igualitária no país35.

33

A Lei no. 8.742/93 define como família carente (ou família de baixa renda) aquela cuja renda mensal per capita é inferior a ¼ do salário mínimo.

34

Art 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...)

IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim... (BRASIL, 1988)

35

Para uma visão geral das diversas posições sobre a importância da valorização do salário mínimo na redução da desigualdade de renda, ver Barros; Corseuil e Cury (2000), Neri; Gonzaga e Camargo (2001), Corseuil e Servo (2002), Baltar; Dedecca e Krein (2005), Soares (2006) e Saboia (2007).

(34)

Gráfico 5 – Média RDPC e Índice de Gini – Brasil - 2004-2013

Fonte: Pnad/ IBGE. Elaboração Própria

*A Pnad não foi coletada em 2010 devido à realização do Censo Demográfico do IBGE

Ademais,

(...) a incidência do salário mínimo é maior entre mulheres, trabalhadores sem carteira, trabalhadores que vivem no Nordeste, cônjuges e filhos, pessoas com pouca instrução (0-3 anos de escola), jovens, trabalhadores no setor agrícola, trabalhadores domésticos, negros e pessoas nos primeiros três décimos da renda domiciliar per

capita (especialmente o segundo e o terceiro). Em outras palavras, o

salário mínimo tem maior incidência justamente entre os trabalhadores cuja inserção no mercado de trabalho se faz de modo mais frágil. (...) Nesse sentido, o salário mínimo parece ser um instrumento eficaz para proteger os trabalhadores que são os perdedores na barganha salarial (SOARES, 2002, p. 12.).

Na mesma direção, Santos e Gimenez (2005), argumentam que

A valorização do salário mínimo funciona como um poderoso instrumento de redução da desigualdade de rendimentos entre as categorias profissionais, entre os setores ou ramos de atividades, entre distintas regiões do país, entre profissionais com níveis diferenciados de instrução e qualificação profissional, combatendo elevada dispersão salarial e as desigualdades sociais e regionais,

(35)

protegendo os trabalhadores de menor qualificação e de categorias menos organizadas (...) (p. 92).

Além disso, a promoção dos salários de base agiria como um dos principais mecanismos de combate à desigualdade e também de redução da pobreza. Nesse sentido, a Política de valorização do salário mínimo, merece destaque não apenas pelo seu papel na estruturação do mercado de trabalho, mas também como uma política social de longo alcance, seja pelos seus impactos qualitativos sobre as condições de vida e de sociabilidade da população, seja por sua dimensão quantitativa, já que pode atingir parcela expressiva da população brasileira.

A valorização do salário mínimo e os programas de transferência de renda em conjunto com as medidas de expansão e barateamento do crédito foram essenciais para elevar o poder de compra das famílias, especialmente das mais pobres. Nesse processo, consumo e investimento doméstico, tornaram-se o principal motor do crescimento econômico, contribuindo para reforçar ainda mais a expansão da renda.

Em síntese, os dados do período estudado mostram que a recuperação do poder de compra dos salários e o aumento do emprego elevaram a renda das famílias. Esse aumento da renda foi particularmente expressivo entre as famílias beneficiadas pela valorização do salário mínimo. Assim, o aumento da renda familiar repercutiu no consumo e este efeito foi reforçado pelo aumento na demanda e oferta de crédito para compra de bens e serviços.

1.3. Mercado de trabalho: 2004 a 2013

As relações destacadas na introdução deste capítulo são importantes para compreender o crescimento da economia desde 2004 e a evolução do mercado de trabalho já que o mundo do trabalho é o lugar em que se expressam de forma mais evidente os efeitos positivos e negativos de uma determinada conjuntura ou

(36)

ciclo econômico. No início, a intensificação do crescimento do PIB foi provocada pelo aumento da exportação com forte conteúdo industrial. Esta intensificação do crescimento do PIB, com moeda nacional ainda desvalorizada, repercutiu na geração de emprego e, ao mesmo tempo, fortaleceu o balanço de pagamentos, reduzindo o preço do dólar e a inflação, criando as condições favoráveis para a aceleração do consumo e do investimento.

Segundo o DIEESE (2009), as políticas governamentais adotadas ao longo da década de 2000 (políticas de valorização do salário mínimo, de transferência de renda e de expansão do crédito) e as mudanças verificadas no mundo do trabalho (geração de empregos, formalização e aumento da renda) foram, ao mesmo tempo, causa e efeito do processo de crescimento econômico no Brasil.

Cabe ressaltar que, no período anterior a 2004, a abertura comercial e financeira promoveu uma série de mudanças econômicas com ampla repercussão social, sobretudo, no mercado de trabalho. Houve uma forte redução da oferta de postos de trabalho e uma mudança radical na composição da ocupação, com aumento expressivo dos trabalhadores sem carteira assinada e por conta própria, além da diminuição da participação dos jovens e redução do emprego nas grandes empresas (BALTAR, 2005). Observou-se uma ampliação acentuada de ocupados nas faixas de remunerações mais baixas, reforçando o papel fundamental das rendas não provenientes do trabalho, em especial das aposentadorias, dos Benefícios de Prestação Continuada (BPC) e do Programa Bolsa Família (PBF), para manutenção dessas famílias.

Ainda segundo Baltar (2015), o ponto de partida da retomada do crescimento da economia foi um mercado de trabalho que estava muito deteriorado em 2003. Conforme os dados da tabela 3, nesse mesmo ano, o número médio mensal de desempregados correspondia a 12,8% da população ativa nas regiões metropolitanas do país e o número de empregados sem carteira representava 29,8% dos ocupados. Observa-se que ao longo do período analisado houve significativa queda da taxa de desemprego (tabela 3 e gráfico 6), que foi de 7,9% em 2008 e chegou a 5,8% em 2013.

(37)

Gráfico 6 – Taxa de Desemprego – 2004 a 2013

Fonte: Pnad/ IBGE. Elaboração Própria

Além disso, a retomada do crescimento da economia brasileira a partir de 2004, intensificou a geração de emprego assalariado (tabela 3), e houve aumento da formalização dos contratos de trabalho (CARDOSO JR, 2007; BALTAR; KREIN; MORETTO, 2006). Uma das expressões mais importantes da reativação do mercado de trabalho, foi a forte ampliação do emprego formal no mesmo período. Segundo o DIEESE (2009), é possível identificar com nitidez a correlação entre o crescimento da economia e a geração de emprego formal. O emprego formal, entendido aqui como aquele com carteira assinada, sugere a maior qualidade do vínculo de emprego, no que diz respeito aos direitos trabalhistas, remuneração e proteção da

2003 2008 2013

Taxa de desemprego (%) 12,8 7,9 5,8

Taxa de participação (%) 57,1 57,0 57,1

Taxa de ocupação (%) 50,0 52,6 53,7

Emprego assalariado (%) 73,5 75,9 76,3

Emprego sem carteira (%) 29,8 26,0 18,9

Fonte: PME/ IBGE Elaboração Própria

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seguridade social. O emprego formal, que antes da retomada do crescimento da economia já vinha crescendo em ritmo maior que o do número total de pessoas ocupadas, ampliou ainda mais esta diferença após a retomada do crescimento. Segundo dados da RAIS-MTE, entre 2000 e 2009, o país criou 16,2 milhões de empregos formais. As informações da Pnad-IBGE mostram que de cada 10 novas ocupações criadas, sete foram empregos formais. Para efeito de comparação, na década anterior, aproximadamente três em cada 10 novas ocupações criadas eram empregos formais (DIEESE, 2012).

Gráfico 7 – Formalidade e Informalidade no Mercado de Trabalho 2003-2012

Fonte: Pnad/ IBGE – Elaboração Própria

Além disso, mecanismos institucionais, como a imposição do salário mínimo como menor contrapartida remuneratória permitida em uma relação de emprego formal, também afetam a distribuição de renda em um país. Dessa forma, acrescenta-se o processo de aumento do valor real do salário mínimo tem sido importante mecanismo de redução da amplitude do leque salarial. Embora as desigualdades da remuneração média do trabalhador persistam, observou-se diminuição dessas diferenças ao longo da década estudada.

É importante ressaltar que, além dos impactos positivos do crescimento econômico sobre o mercado de trabalho, este também recebeu impactos positivos

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da implantação de uma política de valorização do salário mínimo. O nível da renda do trabalho estava muito baixo em 2004. A queda generalizada do poder de compra das rendas do trabalho maiores que o salário mínimo, entre 1998 e 2003, tem relação com o lento aumento do PIB, o elevado desemprego e a alta inflação. Por consequência, em conjunto com o aumento do valor do salário mínimo e a geração expressiva de empregos com renda entre o percentil 25 e a mediana, provocou uma redução nas diferenças de renda entre os trabalhadores. A média das diferenças de renda entre os trabalhadores diminuiu mais que a média das rendas do trabalho, como indica a redução do índice de Gini ocorrida entre 1998 e 2004 (LOPES, 2009). No período de 2004 a 2013, o índice de Gini mantém a tendência de queda de 0,572 para 0,527.

Houve também no período, uma maior fiscalização do cumprimento da legislação do trabalho, das pressões e negociações sindicais, de políticas governamentais nas áreas social e do trabalho, de mudanças institucionais, ou seja, de um conjunto importante de transformações que não estavam asseguradas como consequências imediatas do crescimento econômico, mas que foram definidas nas relações de poder e nas negociações estabelecidas entre trabalhadores, empresários e governo.

Em síntese, a retomada do crescimento com inflação baixa em uma situação internacional favorável reforçou a formalização dos contratos de trabalho e recuperou o nível das rendas do trabalho, que estava muito baixo em 2004. Ao mesmo tempo, prosseguiram e até se acentuaram os aumentos das baixas remunerações e dos benefícios da seguridade social, por meio de expressivos aumentos no valor do salário mínimo. As diferenças de renda do trabalho diminuíram relativamente, mas a parcela do trabalho na renda nacional recuperou somente uma parte da queda observada em 1998-2004. Uma parte crescente da renda nacional correspondeu a impostos indiretos e contribuições sociais. Esta foi a principal contrapartida da queda na parcela do trabalho na renda nacional; portanto, deveria ser a base para aperfeiçoar o sistema nacional de proteção social, como determinado pela Constituição Federal de 1988. Uma parte importante do crescente montante arrecadado de impostos indiretos e contribuições sociais, entretanto, serviu para o pagamento de metade dos juros da dívida pública, beneficiando os

Referências

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