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CAPÍTULO 1 – CRESCIMENTO ECONÔMICO COM INCLUSÃO SOCIAL

1.4. Taxa de Participação

No período 2004-2013, o mercado de trabalho apresentou mudanças significativas que, no conjunto, resultaram em importantes melhorias: redução das taxas médias de desemprego; expansão do emprego assalariado formal; crescimento do emprego nos setores mais organizados da economia; redução do peso do trabalho assalariado sem registro em carteira (ilegal) e do trabalho por conta própria na estrutura ocupacional; elevação substantiva do valor real do salário mínimo; recuperação do valor real dos salários negociados em convenções e acordos coletivos; importante redução do trabalho não remunerado (BALTAR et al., 2010).

Nesse bom desempenho do mercado de trabalho um aspecto importante foi a queda da taxa de participação da população com idade ativa. Para Baltar e Leone (2015), a ampliação das oportunidades ocupacionais comparada ao crescimento do PIB nesse período, foi relativamente pequena, e mesmo assim suficiente para praticamente manter a taxa de ocupação no país, igualando o ritmo de crescimento da PEA.

A mudanças na taxa de participação recebem influência das transformações demográficas, na medida em que a diminuição do ritmo de crescimento populacional e as alterações na estrutura etária da população resultam em mudanças no tamanho das gerações de pessoas em idade ativa e inativa. Desde 1960, em consequência do conjunto queda na taxa de fecundidade, aumento da expectativa de vida da população e queda na taxa de mortalidade, a participação relativa dos jovens (menores de 15 anos) declinou de 42,7% em 1960, para 29,6% em 2000 e para 24,1% em 2010. Em contrapartida, a fração da população adulta (entre 15 e 64 anos) ampliou de 54,6% em 1960, para 64,5% em 2000 e 68,5% em 2010. A população idosa (acima de 65 anos) mais do que duplicou sua importância

relativa, passando de 2,7% em 1960, para 5,8% em 2000, e 7,4% em 2010 (Censo Demográfico, IBGE).

No período compreendido entre 2004 e 2013, conforme mostra o gráfico 8, a população em idade ativa cresceu 14,3% enquanto a população total cresceu apenas 9,8%, o que equivale a uma taxa média anual de 1,5%, superior à média nacional que foi de 1% no período, aumentando a participação na população total de 66,1% para 68,8% seguindo a tendência apontada pelos Censos Demográficos desde 1960.

Gráfico 8 – Taxa média de crescimento anual da população total e por grupos de idade - Brasil 2004 - 2013 (em %)

Fonte: Pnad/ IBGE 2004 e 2013. Elaboração Própria

Destaca-se, entretanto, como essas mudanças populacionais tem se refletido na população economicamente ativa (PEA), que também tem crescimento rápido e envelhece e, como essa mudança é acentuada pelo aumento da escolaridade da população brasileira acompanhada do adiamento da entrada no mercado de trabalho que reduz, especialmente no caso dos homens, a taxa de participação juvenil na atividade econômica que historicamente tem sido muito alta no Brasil (BALTAR; LEONE, 2015).

Como mostra o gráfico 9, a participação masculina tem mantido tendência de queda desde os anos 1950. Em 1950, cerca de 78% dos homens de 10 anos ou mais de idade estavam no mercado de trabalho. Eles entravam cedo e saíam tarde da atividade econômica. Porém, com o processo de modernização do país, os homens foram ficando mais tempo na escola e passaram a sair mais cedo da força de trabalho devido ao aumento da cobertura da previdência social. Em 2010, a taxa de atividade masculina era de apenas 66,8%.

No caso das mulheres, a participação tem crescido intensa e sistematicamente, em todas as idades, passando de apenas 13,6% em 1950 para 48,6% em 2010, apesar das dificuldades enfrentadas pelas mulheres em se incorporar e permanecer na atividade econômica, em razão das barreiras impostas pela sociedade por causa de seus papeis de mãe, esposa e dona de casa, somando-se a tudo isso, as dificuldades impostas aos trabalhadores no seu conjunto pelos diversos contextos econômicos vivenciados pelo país (LEONE, 2015). Vale lembrar, que o aumento da participação feminina no mercado de trabalho resultou de vários fatores como a emancipação econômica da mulher, a redução da taxa de fecundidade, a busca da realização profissional e a elevação da escolaridade. A taxa de atividade feminina era de apenas 13,6% em 1950 e passou para 48,6% em 2010. No entanto, na última década, a participação feminina no mercado de trabalho vem crescendo em ritmo mais lento, representando a acomodação de uma transição estrutural nesse mercado.

No período analisado, a população economicamente ativa (PEA) aumentou no ritmo anual de 1,2% enquanto a população em idade ativa (PIA) aumentou 1,5%, resultando na queda da taxa de participação, indicando uma provável mudança de comportamento da população com idade ativa com relação ao mercado de trabalho. Neste período, a taxa geral de participação total passou de 73,1% para 71,4% e, embora à primeira vista essa taxa possa parecer modesta, esconde algumas mudanças relevantes quando desagregadas por idade e sexo.

Gráfico 9 - Taxas de Participação (10 anos e mais) total e por sexo – Brasil 1950-2010

Fonte: Censo Demográfico/ IBGE. Elaboração Própria

Para Baltar e Leone (2015),

A importância da queda na taxa de participação para a redução no desemprego pode ser ilustrada estimando o que teria ocorrido com o desemprego caso a ampliação verificada das oportunidades ocupacionais tivesse sido acompanhada de crescimento da PEA no mesmo ritmo do crescimento da PIA. Neste pressuposto, o número de desempregados aumentaria 10,2% no período e a taxa de desemprego diminuiria de 9,1% para 8,8%, uma redução muito menor do que a realmente verificada. Já no caso da população ocupada se ampliar em um ritmo de 1,75% (crescimento do PIB de 3,5% e elasticidade emprego de 0,5), mantendo a mesma taxa de participação de 2004 em 2013, ocorreria uma redução do número de desempregados de 13% com a taxa de desemprego diminuindo de 9,1% para 7%, no período. Ou seja, uma ampliação mais intensa das oportunidades ocupacionais não teria provocado queda tão importante na taxa de desemprego, como a realmente verificada, a partir de crescimento mais modesto da população ocupada e diminuição da taxa de participação (BALTAR; LEONE, 2015).

Dessa forma, conforme ressaltam os autores, uma modesta ampliação das oportunidades ocupacionais foi suficiente para uma expressiva redução de

18,8% no número de pessoas desempregadas, fazendo a taxa de desemprego diminuir de 9,1% para 6,6%. Ou seja, a análise dos dados recentes mostra que a continuada queda da taxa de desemprego, mesmo tendo uma relação direta com a expansão da ocupação, também vem sendo favorecida pela retração das taxas de crescimento da PEA. Isso aponta para um adiamento da entrada de trabalhadores da PEA, principalmente de jovens de ambos os sexos.

Em 2004, de acordo com dados da Pnad, a população em idade ativa (PIA) entre 15 e 29 anos foi estimada em 49.637.293 pessoas, o que correspondia a 41,1% do total da PIA. Do total desses jovens, 69,2% compunham a população economicamente ativa, como ocupados ou desocupados. Entre 2004 e 2013, a população jovem diminuiu, tanto em termos absolutos, em quase 1 milhão de pessoas, quanto em relação à população em idade ativa. O percentual de jovens no total da população em idade ativa passou de 41,1% em 2004 para 35,3% em 2013.

Os dados analisados em conjunto sugerem a diminuição da parcela de jovens que buscavam por emprego no período entre 2004 e 2013, ou seja, além da diminuição da proporção representada pelos jovens na população em idade ativa, na última década, caiu também o número de jovens economicamente ativos. Nesse caso, a taxa de participação dessa faixa etária passou de 69,2% em 2004, para

2004 2013 2004 2013 2004 2013 15 a 19 59,4 47,7 41,2 33,6 50,5 40,8 20 a 24 88,5 84,8 66,8 65,2 77,5 74,9 25 a 29 94,2 92,2 70,4 71,5 82,0 81,5 30 a 34 95,5 93,9 71,9 72,7 83,2 82,9 35 a 39 95,2 94,8 72,8 73,2 83,5 83,6 40 a 44 93,8 93,7 70,9 71,7 81,9 82,1 45 a 49 92,1 91,0 65,3 67,4 78,1 78,7 50 a 54 85,8 86,7 57,2 59,1 70,7 72,1 55 a 59 77,7 78,6 45,4 46,5 60,6 61,5 60 a 64 65,0 63,2 30,8 31,2 46,7 46,0 15 a 64 85,3 82,8 61,5 60,6 73,0 71,4

Fonte: PNADs 2004 e 2013 Elaboração Própria

Homem Mulher Total

Faixa Etária

64,8% em 2013. A análise mostra também que diminuição da participação relativa de jovens ocorre para ambos os sexos.

Cabe ressaltar que esse menor envolvimento dos jovens com o mercado de trabalho ocorre justamente em um momento de menor desalento, ou seja, em um momento em que as oportunidades ocupacionais se ampliaram em ritmo mais intenso do que o da população voltada para a atividade econômica, com queda da taxa de desemprego, aumento da formalização dos contratos de trabalho e aumento da renda média do trabalho. Conforme mostra o gráfico 10, o desemprego dos jovens de 15 a 29 anos seguiu a mesma tendência de queda do desemprego total passando de 16% em 2004 para 13% em 2013.

Gráfico 10 – Desemprego total e juvenil – 2004-2013

Fonte: Pnad/ IBGE. Elaboração Própria

Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS, entre os exercícios de 2003 e 2012, o mercado de trabalho no Brasil foi marcado por ampla formalização de mão de obra. Nesse período, o número de postos de trabalho formal aumentou 18 milhões, alcançando 47,5 milhões de trabalhadores no final de 2012 (IPEA, 2013). Como é mostrado no gráfico 11, a queda na taxa de informalidade dos jovens acompanha a queda na taxa de informalidade total, caindo de 51,3% para 38,6% no período.

Gráfico 11 – Taxa de Informalidade Total e Juvenil – 2003- 2013

Fonte: Pnad/ IBGE. Elaboração Própria

É importante destacar que as características de inserção no mercado de trabalho variam conforme as condições específicas de cada jovem trabalhador (WELTERS, 2009). No conjunto de fatores que impulsionam o jovem a participar da atividade econômica, a situação familiar é fator preponderante, sobretudo na faixa de 15 a 19 anos, na decisão de ingressar precocemente no mercado de trabalho e, muitas vezes, abandonar a escola.

Dessa forma, a melhoria do padrão de renda das famílias como uma das causas da redução da atividade econômica dos jovens, que assim tiveram condições mais propícias para uma dedicação exclusiva aos estudos. A dinâmica da participação desses segmentos jovens pode ser atribuída ao alongamento do período dedicado à escola, principalmente na parcela mais jovem, e mudanças socioculturais em relação ao papel da mulher na sociedade entre o grupo juvenil de idade mais elevada.

No entanto, o IBGE destaca que, mesmo com avanços na inserção dos jovens na escola e no mercado de trabalho, merece destaque a proporção de jovens que, na semana de referência, não trabalhavam nem estudavam no ensino regular. Entre os jovens de 15 a 29 anos de idade, praticamente 1 em cada 5 não

frequentavam escola de ensino regular e não trabalhavam na semana de referência, em 2013 (IBGE, 2014).

Ainda segundo o IBGE (2014), para as mulheres que somente estudavam, 7,1% tinham ao menos 1 filho nascido vivo; entre aquelas que trabalhavam e estudavam, essa proporção foi de 14,4%; para as que somente trabalhavam o indicador se eleva a 44,0% das mulheres; enquanto para aquelas que não trabalhavam nem estudavam, 57,1% tinham ao menos um filho nascido vivo. Pode-se destacar também que grande parte (44,8%) dos jovens que não trabalhavam nem estudavam vivia em domicílio em que o rendimento mensal domiciliar por pessoa não ultrapassava ½ salário mínimo e somente 5,1% residiam em domicílio com rendimento mensal domiciliar por pessoa superior a 2 salários mínimos. Salienta-se que, para os jovens que não trabalhavam nem estudavam, a proporção de desocupados foi de 26,3%, sendo que este indicador foi maior para os homens (36,6%) que para as mulheres (21,6%). A proporção daqueles que cuidaram de afazeres domésticos na semana de referência foi mais elevada entre aqueles que não trabalhavam nem estudavam, especialmente para as mulheres. A principal diferença foi observada para o número médio de horas dedicadas aos afazeres domésticos, que variou de 13,1 horas para as mulheres que trabalhavam e estudavam a 28,0 horas para aquelas que não trabalhavam nem estudavam (IBGE, 2014).

Para a OIT (2014), dentre as principais razões para os jovens abandonarem os estudos, os motivos econômicos – como a necessidade de trabalhar para de se manter, ou para ajudar o trabalho da família, e a pobreza e dificuldade de custear as despesas para seguir estudando – foram os mais citados pelos jovens do sexo masculino (52,7%, contra 20,3% entre as mulheres, chegando a 61,4% entre os homens de 25 a 29 anos), seguidos pela busca de independência e autonomia (ter o próprio dinheiro, mencionado por 23,2 % dos homens e 7,9% das mulheres). Já os motivos familiares – sobretudo ter tido filho e ter casado – foram as razões mais citadas pelas jovens para abandonarem os estudos (63,1 %, contra apenas 14,2% entre os jovens homens, chegando a 70,1% entre as adolescentes de 15 a 17 anos e a 71,2% entre as jovens rurais).

Em síntese, no período analisado, não obstante a evolução positiva dos indicadores de mercado de trabalho, com redução das taxas de desemprego, aumento da renda e aumento da formalização, há uma queda na taxa global de participação no mercado de trabalho, causada principalmente pela queda da participação dos mais jovens (15 a 19 anos) e pelo arrefecimento do crescimento da participação da mulher. Cabe lembrar que esse movimento de queda da participação juvenil na atividade econômica já vem ocorrendo desde os anos 1990, mas era compensado pelo intenso aumento da participação feminina desde anos 1970. Considerando que o ingresso precoce dos mais jovens no mercado de trabalho está fortemente relacionado ao nível socioeconômico das famílias, principalmente entre os homens, é provável que a melhora do nível de renda das famílias tenha peso importante nesta queda da participação dos mais jovens. Assim, o próximo capítulo tem o objetivo de analisar a relação das taxas de participação e o nível socioeconômico das famílias.

CAPÍTULO 2 – A PARTICIPAÇÃO NA ATIVIDADE ECONÔMICA POR SEXO,