• Nenhum resultado encontrado

3.2 A VALIAÇÃO /A NÁLISE D OS P ROTOCOLOS AT-9

3.2.1 Participante ‘HCA-20.03.1944’

Na ocasião da primeira aplicação do AT-9 com o grupo, a participante HCA, do sexo feminino, com 60 anos de idade, aposentada, viúva, mãe de 3 filhos, que mora com um dos netos, o qual sustenta, afirma nunca ter feito nenhuma oficina de teatro e nada relacionado.

3.2.1.1 Primeira Aplicação

Em seu primeiro protocolo AT-9, de início, aparenta uma desestrutura com a enumeração descritiva dos elementos do teste que foram desenhados. Em seguida esta enumeração é substituída por uma história coerente envolvendo os elementos.

Figura 2: Protocolo AT-9 HCA-20.03.1944 (1ª aplicação)

Então aos poucos vai se configurando uma possível estrutura mística negativa. Aparece o monstro/medo que come o peixe e leva a melhor; o monstro, que no quadro síntese representa a “destruição”.

Y Durand (1988), sempre relacionando sua criação com a teoria de G Durand, e pela importância da “guela dentada” nos símbolos teriomórficos, que remete ao medo da morte e a angústia temporal, justifica a adoção da expressão “monstro devorante, por esta constituir, segundo ele (1988: 54), “um estímulo que dá conta do conjunto de símbolos teriomórficos e nictomórficos e que potencializa uma gama estendida de respostas possíveis sobre o plano morfológico como semântico”.

Apesar do monstro ser um dos elementos da tríade que remete a presença da estrutura esquizomorfa, ele aqui não ataca o personagem e sim, na dramatização imaginada, o assusta

comendo o peixe. Não há assim a luta que caracterizaria o heroísmo na aquetipologia durandiana.

A espada, símbolo heróico, está eufemizada, desenhada apontada para baixo, referenciada como utensílio15. No espaço do quadro síntese destinado a referir o que simboliza o elemento, é colocado sobre a espada o seguinte: “traz tristeza”. É representada por “homens que lutam”, com funções de “guerra”.

Figura 2.1: A espada

O refúgio é representado por “a toca”, com função de “se esconder” e simbolizando o “esquecimento, tristeza”. Também se nota o tom negativo.

Figura 2.2: A toca, o refúgio

Quanto ao personagem, há particularidades curiosas. No quadro síntese o personagem é representado por “a árvore”, com função de “esperança” e simbolizando “alegria”, o que pode levar a pensar em uma estrutura positiva. No entanto, a última frase da história imaginada/criada diz que “o vento girou e a árvore entortou”. Isto logo após o “bicho do mato” (o monstro devorante) ter comido o peixe, o que denota negatividade, pois representa uma “queda”, da árvore como uma frustração do personagem. É bom notar que o personagem vive com um neto, o qual sustenta, o que pode estar gerando o negativo.

Figura 2.3: A árvore

Nota-se o heróico na idéia de purificação, na imagem da cachoeira que serve para o banho. Na questão E, do elenco de questões apresentadas no teste, isto fica claro quando é dada a resposta, caso estivesse na história: “estaria na cachoeira tomando banho”.

Feita a análise, concluiu-se que se trata de um Micro-universo Mítico Pseudo-

desestruturado com forte tendência ao Místico Negativo.

Ao longo do processo de oficina muito se esclareceu em relação às evidências da primeira aplicação. De um modo geral, quando os participantes eram convidados a criar alguma cena em algum jogo, referências a situações do cotidiano, do trabalho no campo e de conflitos com jovens eram as mais freqüentes. A presença do jovem neto, é marcante na dramatização imaginada no AT-9; possíveis conflitos poderiam estar ocorrendo em casa.

Logo no início da oficina a participante HCA parecia não gostar muito de tomar a frente das ações sempre estava em algum grupo onde se destacava a liderança de outra pessoa. Não se recusava a participar de nenhum jogo, muito pelo contrário, buscava estar em todos, mas permanecia em silêncio até que os demais jogadores decidissem tudo.

Costumava ouvir mais do que falar, mesmo nas avaliações ou nos intervalos. Procurava estar junto aos demais, mas permanecia em silêncio. Limitava-se a rir e concordar com praticamente tudo. Mesmo quando o assunto visivelmente a desagradava ou desconcertava, continuava em seu silêncio.

Não se notava nenhuma reação negativa nem durante, nem após as atividades que pudesse tolher a participante, havia sim o estímulo por parte das amigas mais próximas para que ela se integrasse ao grupo, mas que se saiba, isto nunca foi falado abertamente.

Os acontecimentos ao longo da oficina trataram de jogar um foco de luz no assunto. Durante o período inicial da oficina notava-se uma relativa dificuldade da parte da participante em lidar com determinadas situações, as quais, segundo ela própria em mais de uma ocasião, eram “tristes”, “fico assim sem vontade de fazer mais nada, dá vontade de desistir de tudo e sumir”.

Esta ultima frase foi dita a todos no momento da avaliação de uma cena16. Vale ressaltar que a participante não fazia parte do grupo que realizou esta cena, estando na platéia.

Outro exemplo é a postura adquirida pela participante HCA durante a avaliação da Cena I17. Embora o facilitador tenha tentado manter o foco da avaliação no jogo em si, ela se encaminhou para a discussão das atitudes dos personagens. Em todo o tempo no qual a

16 Ver Cena II e Avaliação da Cena II no anexo V. 17 Ver Cena I e Avaliação da Cena I no anexo V.

avaliação se processou a participante se manteve indiferente às opiniões dos demais jogadores. Deve-se dar especial destaque à seguinte frase dita pela participante na ocasião: “O mundo mudou (...) é normal essas brigas, toda casa é igual”.

Ao longo da oficina, com a troca de experiências e com o convívio com a diversidade que eram os participantes, houve mudanças na postura da participante HCA diante do grupo.

Mais solta, passou a falar mais e até tomou a frente de um ou outro jogo. Arriscava-se a lançar propostas e opiniões na avaliação de vez em quando. No entanto, essa mudança foi sutil, tanto que, por vezes, era possível notar no semblante de alguns dos demais participantes um certo espanto e alegria.

3.2.1.2 Segunda Aplicação

Seu segundo protocolo do teste AT-9 evidenciou uma Pseudo-desestrutura com forte tendência a estrutura mística positiva como será apresentado a seguir.

A participante desenhou apenas três elementos de forma explodida, distantes e aparentando não haver ligação entre eles (Figura 3), denotando uma desestrutura ou pseudo- desestrutura. No entanto, a história foi construída de modo coerente; um relato curto, mas com ordem cronológica dos fatos, com coerência mítica evidente.

“Fui no rio, pesquei um peixe e fui fazer o almoço pro meu neto”. Aqui novamente lembra-se que o sujeito-autor mora com o neto. Continuando escreve “o sol tava quente e parei numa árvore pra descansar. Ai vi uma espada que nunca tinha visto”. O personagem começa a ver positivamente a possibilidade de se defender ou de atacar, mas ludicamente a eufemiza dizendo “levei pro meu neto de presente” o que reforça no quadro síntese do teste ao simbolizar a dita espada, “era de brincar” atribuindo ao elemento a função de ser “pro meu neto brincar”.

Figura 3: Protocolo AT-9 ‘HCA-20.03.1944’ (2ª aplicação).

Nota-se a tendência ao universo mítico místico positivo na ausência de monstro e luta. A espada serve, na história, como presente ao neto.

O peixe é apresentado com função de “alimentar” e simbolizando o bem, o que evidencia ligação ao universo mítico místico positivo.

A árvore serve para descansar e remete à idéia de contemplação que explicita o universo mítico místico e, como expresso no quadro síntese, proporciona o “fruto” que também é alimento remetendo ao místico; deste modo, a árvore simboliza “tranqüilidade”, conforme expresso no quadro síntese.

Dadas as características citadas, pode-se identificar a presença de um imaginário com estrutura, conforme Y. Durand (1988: 131 – 132), Pseudo-desestruturado, com tendência

ao Místico Positivo. Trata-se de um Micro-universo Mítico Pseudo-desestruturado, com

tendência Mística (“adoça os desgostos e as decepções...escamoteia a morte” – G Durand, 2002: 421), desta feita, positivo, diferindo do primeiro micro-universo evidenciado no 1º protocolo do teste que o mesmo sujeito-autor realizou.

Neste caso parece ter havido uma mudança não na estrutura, mas na conotação positiva na “maneira deste sujeito autor carregar as coisas”, o mundo, a vida, como diz G Durand (idem: 378).

3.2.2 Participante ‘OAG-22.12.1928’

A participante OAG, do sexo feminino, com 76 anos de idade no período da primeira realização do teste, aposentada, viúva, não teve filhos, mora sozinha e afirma nunca ter feito nenhuma oficina de teatro e nada relacionado.

3.2.2.1 Primeira Aplicação

Seu protocolo do teste AT-9 tem um início descritivo, contando ter desenhado um “coelho comendo um peixe”, passando em seguida a contar uma história da qual participa.

Figura 4: Protocolo AT-9 OAG-22.12.1928 (1ª aplicação)

A queda e a espada são imaginadas de forma negativa. A queda é simbolizada por “uma doença”, representada por “me assustando”. E a espada: “me bater”, “me assustar quando eu vinha do banho”, “uma coisa que mata”. Nenhum destes elementos foi desenhado.

Também o fogo, o monstro e o animal são representados, no quadro do teste, negativamente. O animal, “um bicho valente”; o fogo, “uma febre muito horrível”; e o monstro, “bicho feroz”, “acaba com tudo”.

Figura 4.1: O Monstro "Coelho comendo peixe"

Sobre o elemento cíclico, no quadro colocou que é “algo muito importante”, “memória”. O que pareceu bastante confuso neste momento da avaliação, durante a oficina e nas conversas com a participante adquiriu forma.

As questões relacionadas à memória, dentro da oficina, sempre interessavam muito a participante. Durante a explicação de cada jogo, sempre era comentado sobre os pontos que estes trabalhavam e estimulavam. Quando um jogo focava memória no sentido de trabalhá-la buscando melhorá-la e desenvolvê-la, a participante sempre se animava e se empenhava no mesmo. Não era incomum serem sugeridos estes jogos pela participante para serem repetidos. No quadro síntese refere-se ao refúgio que “tem muito valor”, quanto à função colocou que é “um pássaro” e como simbolismo coloca que “foge da mente”. Sobre o fogo coloca que é “a brasa”, “uma brasa quente” e que simboliza “uma febre muito horrível”.

CHEVALIER (2005: 442) afirma que “o isomorfismo do fogo aproxima-o do isomorfismo do pássaro, símbolo uraniano”. Também para G. Durand (2002: 175) ao afirmar que “para diversas populações o fogo é isomórfico do pássaro”.

Segundo Chevalier (2005: 687)

“O vôo dos pássaros os predispõe, é claro, a servir de símbolo às relações entre o céu e a terra. (...) Na mesma perspectiva, o pássaro é a representação da alma que se liberta do corpo”. O sujeito autor se projeta no pássaro para cantar, simbolizando alegria. “A linguagem dos pássaros de que fala o Corão é a dos anjos, o conhecimento espiritual. (...) O poeta Saint-John Perse tem, sem dúvida, a intuição de uma espécie de pureza primordial nesta linguagem, quando escreve: ‘Os pássaros guardam entre nós alguma coisa do canto da criação”. (CHEVALIER, 2005: 687).

Nota-se uma perspectiva negativa quanto ao fogo e à ligação deste com a memória no refúgio, o qual é o pássaro, a ligação entre o céu e a terra, que guarda “entre nós alguma coisa do canto da criação”. (CHEVALIER, 2005: 687) Algo bom que pode nos pertencer, mas que pode nos ser roubado.

Só após vários dias de atividades na oficina estas informações foram tomando forma mais clara. Em um momento de descontração após a oficina, conversou-se sobre o cuidado com os parentes e, nesta conversa, a participante contou que cuidou da mãe até o ultimo dia de vida desta. Contou que “o mais triste foi ver ela perdendo tudo, arruinando da cabeça. No fim, nem sabia direito o próprio nome. Foi uma coisa horrível. Não gosto nem de lembrar!”.

Depois disto, ela nunca mais tocou novamente no assunto e sempre foi evasiva quando o mesmo era tocado ou de forma direta ou indireta, com ou sem o grupo.

Deste modo ficou evidente, segundo a arquetipologia durandiana, tratar-se de um

3.2.2.2 Segunda Aplicação

No segundo protocolo do teste AT-9 os elementos foram desenhados afastados, “explodidos”, conforme Yves Durand (1988; 132), sem relação aparente entre eles, não expressam uma coerência mítica (Figura 5). Na história, relata os fatos com coerência.

“(...) ..o discurso, mesmo se ele expõe uma forma analítica do desenho, obriga a reconhecer a existência de uma coerência mítica subjacente ao desenho: as figurações que o compõem não são em efeito nulamente arbitrárias; elas tem significações articuladas a uma ordem simbólica geradora de uma estrutura: a vida e a morte por exemplo (...)” (Y Durand, 1988; 132)18.

Entretanto, nota-se que desenhou elementos dos quais não faz comentário algum na história.

Figura 5: Protocolo AT-9 ‘OAG-22.12.1928’ (2ª aplicação).

Embora tenha desenhado uma casa, atribui ao lago o status de refúgio, “bom para

descansar”, “calmo”. A fusão e confusão na velhice, aludidas por Hillman (2001), neste

protocolo estão presentes.

Notam-se evidências de um Micro-universo Mítico Pseudo-desestrutura com tendência ao Místico Negativo.

O monstro antropomórfico é desenhado sem os braços e pernas, mas com cabeça humana e com proporções maiores que as dos outros elementos, tendo a função de assustar.

Encontra uma espada perto do fogo, mas não há luta; há apenas a fuga “Corre do

monstro, mas não era pra corre, era pra ver o mar”. Tenta disfarçar, eufemizar misticamente

o medo.

O fogo tem conotação negativa: “tava muito quente, tava machucando”. No quadro síntese, o fogo “queima tudo, machuca a gente e os bicho”, e simboliza “o ruim”.

Em menor quantidade, há a presença de elementos com conotação positiva. O refúgio “no lago” com função de ser “bom pra descansar” e simbolizando calma.

A água, que é representada pelo mar, tem função de servir “pra gente olhar” e que simboliza o “bonito”. E o animal, que foi representado pelos peixes, cuja função é “acalma a gente” e que também simboliza o “bonito”.

Ainda no quadro síntese, coloca como função do elemento cíclico “algo bom”, mas quanto à representação, afirma não ter desenhado o elemento em questão.

Neste Protocolo é evidenciado um Micro-universo Mítico Pseudo-desestruturado,

3.2.3 Participante ‘MGPSB-08.09.1939’

A participante MGPSB - do sexo feminino, com 65 anos de idade, aposentada, casada, 49 anos de idade, mãe de 5 filhos, mora com o esposo, também aposentado -, ao realizar o teste afirma nunca ter feito nenhuma oficina de teatro ou nada relacionado com teatro.

3.2.3.1 Primeira Aplicação

Assim como nos primeiros protocolos avaliados, os primeiros AT-9 aplicados e já mostrados anteriormente, este protocolo se inicia com a descrição dos elementos desenhados. Neste caso, na ordem em que foram desenhados, uma ordenação cronológica.

Figura 6: Protocolo AT-9 MGPSB-08.09.1939 (1ª aplicação)

Nota-se a presença de dois personagens: um, que é o sujeito-autor do protocolo, e outro, seu esposo, cada um se desdobrando em uma ação diferente.

Figura 6.1: Dois personagens

A personagem na qual o sujeito-autor se projeta realiza a ação mística enquanto seu esposo (o outro personagem) realiza a ação heróica. De acordo com Yves Durand (1988:106 – 107) os micro-universos com esta característica são do tipo “Micro-universo Mítico

Sintético Existencial Sincrônico do tipo Desdobrado”.

Ambos os personagens estão na cachoeira, onde ela deseja ficar ou voltar, conforme resposta à questão E do teste.

Na cachoeira estavam tranqüilos, desfrutando da queda d’água (“linda demais”) quando surge o monstro (“o tubarão”) que é a ameaça de morte, “bicho que ataca as pessoas”.

Figura 6.2: O monstro - "Tubarão"

Quando surge o monstro, o esposo sobe por uma corda até a espada. Subida que, para G. Durand (2002: 125-146), quando fala dos símbolos ascensionais, relaciona-se com “a

preocupação da reconquista de uma potência perdida”19, que remete ao regime diurno das imagens.

Figura 6.3: Símbolos ascensionais: esposo subindo por uma corda até a espada

As ações do esposo são heróicas: após a ascensão, apossa-se da espada e degola o monstro na luta.

Mas há também a presença de símbolos do regime noturno, remetendo a presença de um universo místico. Os símbolos da gulliverização, o peixe (tubarão) desenhado em proporções bem maiores que as dos personagens e que, depois de assado, é devorado, engolido pelos personagens20. Também se deve ressaltar que, conforme G. Durand (2002: 214 – 215), “é a confirmação natural do esquema do engolidor engolido”21.

19 Ver tópico 1.1.1.4 deste trabalho.

20 Ver “símbolos da inversão”, tópico 1.1.2.1 deste trabalho. 21 Idem nota 17.

Ao longo da oficina a participante foi se mostrando bastante ligada, e porque não dizer dependente, do marido. Nos jogos em dupla ou em time, buscava sempre a companhia dele.

Esta característica mudou muito pouco ao longo da oficina, via-se que, ao fim do processo ela ainda buscava a companhia dele e nos jogos em que não dispunha desta, ficava um pouco mais inibida e insegura.

Não parecia se preocupar com aprovação ou desaprovação, mas notava-se que ela ficava mais segura. Arriscava-se mais, tentava e se empenhava mais quando se encontrava na companhia de seu esposo.

3.2.3.2 Segunda Aplicação

No segundo teste a participante representa o monstro por um peixe (“a pirarára”) típico dos rios da região norte. É um peixe grande que,segundo as lendas da região e o senso comum dos habitantes ribeirinhos, puxa pelos pés as pessoas que nadam no rio, matando-as por afogamento para depois devorá-las.

Figura 7: Protocolo AT-9 ‘MGPSB-08.09.1939’ (2ª aplicação).

O monstro tenta puxá-la para dentro do rio, pelo anzol (Figura 7.1), mas ela solta a vara antes de cair no rio.

O que parece ser, em um primeiro momento, uma espada na mão do personagem, é, na verdade, uma vara de pescar (Figura 7.2). Sobre a espada a participante afirma não tê-la desenhado.

Figura 7.2: Personagem com a vara de pescar – espada

Desenha o cavalo que conforme G. Durand (2002: 75-78) “estrutura moralmente a fuga”, “o cavalo é o símbolo da fuga do tempo”. A cavalgada antecede a pesca que, para Chevalier (2005: 714) é a busca de algo bom, e que, por exemplo,

“no Egito, é graças à pesca que Osíris reencontra sua integridade; igualmente a Lua, olho arrancado de Hórus celeste, foi reencontrada em uma rede. (...) Jean Yoyotte se questiona se a pesca de belos peixes representada sobre um hipogeu tebano não esconde a pesca da felicidade eterna”.

Figura 7.3: O Cavalo

O fogo (Figura 7.4) tem função utilitária. No quadro síntese coloca como função “fazer a comida, luz e calor nas noites” e como simbolismo “é de ajuda do homem nas necessidades da gente”. Como visto no primeiro capítulo deste trabalho22, o fogo se presta a uma polivalência de significados, que conforme G Durand (2002: 174) “é chama purificadora,

mas também centro genital do lar patriarcal”, do “sentido purificador do fogo à cozedura culinária”.

Figura 7.4: O fogo

Já o rio serve como auxiliar ao personagem na limpeza, na purificação evidenciando o heroísmo, útil para “lavar as vasilhas” e para “tomar banho”; a água que limpa, que lava, que purifica.

E, por fim, o refúgio, a casa onde se encontra o esposo, para onde ela quer retornar (Figura 7.5). A casa, que simboliza a proteção.

Figura 7.5: A casa para onde deseja retornar

3.2.4 Participante ‘GJS-24.07.1930’

No período da primeira aplicação do teste AT-9 com o grupo, o sujeito-autor do protocolo, a participante GJS, do sexo feminino, com 74 anos de idade, aposentada, viúva, mãe de 3 filhos, mora com a filha caçula, o marido desta e os 2 netos. Afirma nunca ter feito nenhuma oficina de teatro e nada relacionado.

3.2.4.1 Primeira Aplicação

Em seu AT-9, na primeira aplicação, nota-se

Neste protocolo fica bastante evidente o tipo de Micro-universo Mítico Não-

estruturado Verdadeiro ou Desestruturado. Podem-se observar as características citadas

por Y. Durand (1988: 132): o desenho é explodido; nele, os elementos são desenhados separadamente, aparentemente sem ligação entre si (Figura 8) e com o nome deles escrito próximo ou sobre os mesmos (Figura 8.1).

Figura 8.1: Nome dos elementos escrito no desenho

No lugar da história, há apenas uma descrição dos elementos desenhados. São visíveis os indícios de uma Não-estrutura Verdadeira ou Desestrutura.

No questionário e no quadro síntese é possível notar uma tendência à estrutura mítica mística positiva, ao atentar-se para o peixe que pertence à dominante digestiva, “pescando o peixe para comer”. Também a ave, talvez um galo, que devora o outro menor, como referido na história.

A espada é eufemizada e serve como utensílio “anzol” (como se pode notar na mão da personagem, na figura 8.2) remetendo à estrutura mística.

Figura 8.2: Pescando o peixe

No entanto, tem-se a água (Figura 8.1) para o banho representando a limpeza que faz alusão à purificação que, como visto anteriormente, remete à estrutura esquizomórfica (heróica).

3.2.4.2 Segunda Aplicação

No segundo AT-9 o desenho evidencia uma Não-estrutura Verdadeira ou Desestrutura, ele também é explodido e esta característica é visualmente mais explicita neste

Documentos relacionados