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PARTE II – O ESTUDO: METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DO

2. ESTUDO DE CASO

2.2. PARTICIPANTES NO ESTUDO

A seleção dos participantes adquiriu um sentido muito particular, decorrente das opções metodológicas que conduziram o estudo. Deste modo, a escolha dos participantes foi metodologicamente delimitada pelo caso tendo a investigadora escolhido os indivíduos mais adequados ao objeto de estudo. Pretendeu-se obter a máxima informação possível com a maior variação provável, não se privilegiando uma amostragem aleatória e numerosa mas sim criteriosa ou intencional, pelo que a seleção dos participantes obedeceu a critérios que permitiram à investigadora aprender o máximo sobre o fenómeno em estudo (Carpenter, 2002).

Ao circunscrever o contexto para estudar o caso a um CS e assumindo três unidades funcionais de saúde como unidade de análise, consideraram-se previamente como participantes os profissionais destas equipas de saúde e elegeram-se também os utentes considerando-se que são interlocutores privilegiados para obter informação relevante sobre o papel profissional do enfermeiro. O envolvimento do público em estudos que os afetem, mesmo que indiretamente, é cada vez mais percebido como eticamente adequado e há um emergente consenso de que a sua participação tem um impacto positivo sobre a qualidade da pesquisa (Resnik, 2011). Assim, os participantes foram enfermeiros, médicos, assistentes técnicos e utentes da USF, da UCSP e da UCC, procurando um olhar transversal sobre o papel profissional dos enfermeiros.

A seleção deste conjunto de participantes exigiu diferentes processos de amostragem e fez-se por etapas. No caso dos profissionais, pesquisou-se inicialmente o seu número efetivo nas fontes oficiais das três unidades funcionais, confirmando-se posteriormente através de contacto personalizado com os respetivos coordenadores. A totalidade dos participantes, dezasseis enfermeiros, doze médicos e treze assistentes técnicos, considerou-se acessível ponderando os recursos necessários e os limites temporais do estudo. Assim, incluíram-se todos os que voluntariamente se mostraram disponíveis para participar e consentiram em ser entrevistados pela investigadora, constituindo-se a amostra por exaustão (Patton, 2002; Denzin & Lincoln, 2005; Lincoln & Guba, 2006).

No decorrer do estudo excluíram-se da amostra os profissionais que entretanto se aposentaram, que se encontravam com ausências prolongadas por atestado, que foram transferidos para outros serviços e os que não se mostraram disponíveis para participar no estudo.

Em consequência da opção metodológica de utilização de Foto-Elicitação como instrumento de recolha de informação complementar às entrevistas individuais aos enfermeiros, incluíram-se também como participantes seis enfermeiros das USF, UCSP e UCC de outro CS do ACES do caso para realização de Focus Group Interviewing, estratégia para recolha de informação na qual se baseou a construção da fotolinguagem. Na seleção destes enfermeiros evidenciou-se necessário assegurar a participação dos responsáveis ou coordenadores de enfermagem dessas unidades de saúde à data da pesquisa empírica, percebidos como informadores chave para explorar o papel do enfermeiro. A cada um dos três enfermeiros coordenadores, solicitou-se a indicação de um enfermeiro da sua unidade funcional cujo contributo considerasse essencial para a discussão no grupo sobre o papel do enfermeiro na respetiva equipa de saúde. Por conseguinte, a escolha destes participantes obedeceu a critérios compreensivos indicados por Denzin and Lincoln (2006), combinando os mínimos de heterogeneidade e de homogeneidade recomendados por Freeman (2006) e por Krueger (2007) para assegurar a diferença necessária no processo comunicacional do Focus Group

Interviewing e manter alguma simetria na relação entre os participantes.

A escolha dos utentes também não foi aleatória porque, como adverte Stake (2012), as pessoas que estão no local quando o investigador se desloca ao campo não serão, provavelmente, as melhores fontes de informação. Esta seleção teve de ser baseada na intuição do investigador e no recurso a estratégias que tornaram mais eficaz a escolha para compreender e retratar o caso. Assim, antes da abordagem intuitiva de eventuais participantes, procuraram-se informações e atributos de interesse do utente, designadamente a idade, o género, o tempo como utilizador dos cuidados naquela unidade funcional de saúde, a frequência de procura de cuidados e a natureza dos cuidados proporcionados pelos enfermeiros.

A seleção fez-se gradualmente, procurando variedade de participantes mas não necessariamente representatividade. Considerou-se a particularidade como oportunidade de recolher informações e nesse pressuposto os utentes foram entrevistados em função destes critérios, da sua vontade em participar, da sua capacidade em consentir por

99  escrito, de ser utente de uma das unidades funcionais e com efetiva utilização dos cuidados de saúde no último ano. Este último critério assumiu-se como essencial uma vez que se pretendia obter informação contextualizada e não permeada pelos mitos históricos que constituem o universo de símbolos e o imaginário que se tem da profissão. A construção de uma representação realística sobre o papel profissional do enfermeiro concretiza-se na relação interpessoal que estabelece com o utente, a sua família ou comunidade envolvente e surge associada às suas competências e capacidades, ao seu saber ser, ao saber estar e ao saber fazer. Implica uma certa constância de vivências, esquemas de significado e experiencias práticas (Lopes, 2001; Pires, 2007). Deste modo, a investigadora selecionou os utentes em função de critérios estratégicos, como a acessibilidade e o eventual conhecimento contextualiza do fenómeno em estudo, constituindo-se uma amostra por opinião (Patton, 2002; Denzin & Lincoln, 2005; Lincoln & Guba, 2006).

A escolha destes participantes acabou por decorrer durante o trabalho de campo, de acordo com a sua adesão voluntária à participação no estudo e à concessão do seu consentimento por escrito. O processo foi sequencial, selecionando-se os utentes à medida que se aprofundou e acumulou a informação. O critério metodológico para encerrar a amostra consistiu na constatação de redundância de informações. Para obviar alguma subjetividade inerente, uma vez que a constatação de saturação envolveu a perceção da investigadora, cruzaram-se na decisão os objetivos específicos do estudo e o referencial teórico de suporte, além da heterogeneidade dos participantes uma vez que o género, o grupo etário e a experiência vivida poderiam ter influência no momento de saturação (Patton, 2002; Lincoln & Guba, 2006). No início, os acréscimos de informação foram evidentes. Posteriormente foram rareando e começou a constatar-se alguma repetição a partir da sétima entrevista. Após entrevistar mais seis utentes confirmou-se a redundância das informações e encerrou-se a mostra que foi assim constituída por treze utentes.

As principais caraterísticas dos enfermeiros estão sintetizadas na Tabela 1. Têm idades entre os 28 e os 53 anos, sendo que a maioria se situa acima da faixa etária dos 40 anos. Relativamente à sua experiência em CSP varia entre os 2 e os 30 anos. Quanto ao tempo de serviço na respetiva unidade funcional é o mesmo para os enfermeiros da USF (7 anos) e da UCC (4 anos), uma vez que as integraram desde a sua constituição, variando entre 1 e 20 anos na UCSP.

Tabela 1 – Caraterização da amostra de enfermeiros

Enfermeiros

Idade Tempo serviço em CSP Tempo serviço na Unidade

≥ 20 1 <10 4 <10 12

30 - 49 9 10 - 19 5 10 – 19 1

50 - 59 4 20 - 29 4 20 – 29 1

≥ 60 - ≥30 1 ≥30 -

Na Tabela 2 reuniram-se as principais caraterísticas dos médicos e dos assistentes técnicos, consideradas de interesse para a caraterização destes participantes. Relativamente aos médicos, têm idades compreendidas entre os 29 e os 62 anos, a sua experiência em CSP é diversificada variando entre os 5 e os 31 anos, e o tempo de serviço na respetiva unidade funcional também, variando entre os 2 meses (integrou o mesmo tipo de unidade funcional noutro CS) e os 31 anos na UCSP, e os 2 e 10 anos na USF. Quanto aos assistentes técnicos, as suas idades variam entre os 39 e os 63 anos, o tempo de serviço em CSP é variável, indo dos 6 aos 41 anos, o mesmo sucedendo quando ao tempo de serviço na UCSP que varia entre os 2 e os 41 anos, e com um intervalo de tempo menor na USF (3 anos) variando entre os 7 e os 10 anos.

Tabela 2 – Caraterização da amostra de médicos e assistentes técnicos

Médicos

Idade Tempo serviço em CSP Tempo serviço na Unidade

≥ 20 1 <10 3 <10 4

30 - 49 3 10 – 19 1 10 – 19 4

50 - 59 3 20 – 29 2 20 – 29 -

≥ 60 1 ≥30 2 ≥30 1

Administrativos

Idade Tempo serviço em CSP Tempo serviço na Unidade

≥ 20 - <10 2 <10 4

30 - 49 6 10 – 19 3 10 – 19 2

50 - 59 - 20 – 29 2 20 – 29 1

≥ 60 2 ≥30 1 ≥30 1

Relativamente à amostra dos utentes participantes, a sua caraterização global pode consultar-se na Tabela 3. Acabaram por predominar as mulheres (9), o que decorreu naturalmente do facto de serem também as utilizadoras mais frequentes do CS. A amostra acabou por incluir utentes com idades compreendidas entre os 18 e os 69 anos,

101  com diversos níveis de escolaridade embora predominem os do Ensino Básico, com profissões diversificadas, sendo que quatro utentes se encontravam em situação de desemprego (auxiliar em lar de idosos, empregada fabril, assistente de venda, assistente social). São maioritariamente (8) utentes do CS há mais de 10 anos, o que significa que optaram por integrar a USF ou permanecer na UCSP aquando da sua reorganização funcional, e são múltiplos os motivos para procurarem o CS podendo acumular necessidades pessoais com o acompanhar filhos ou pais (sobretudo a consultas).

Tabela 3 – Caraterização da amostra de utentes

Idade Escolaridade Tempo como utentes

M H M H M H

<20 1 - 1º Ciclo E. B. 2 3 <10 2 3

20 - 39 4 1 2º Ciclo E. B. 2 - 10 - 19 1 1

40 - 59 2 1 3º Ciclo E. B. 3 1 20 - 29 4 -

≥ 60 2 2 Licenciatura 2 - ≥30 2 -

Situação profissional nº Motivo procura CS nº

Desempregado Agricultor Auxiliar Educativo Doméstica Empregado fabril Estudante Funcionário Camarário Pedreiro Professor

Serviço Limpeza profissional

4 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Penso diabetes

Consulta Consulta HTA Acompanhar familiar Consulta S. Infantil Consulta P. F. Vacinação Situação aguda Consulta vigilância 3 4 3 5 3 1 4 2 5

No total incluíram-se no estudo quarenta e três participantes das diferentes amostras: catorze enfermeiros, oito médicos, oito administrativos, e treze utentes.