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PASSO 1: OBTER AS INFORMAÇÕES INICIAIS

O primeiro passo possui fins informativos de maneira a incentivar a criação de estratégias e metas, auxiliar na obtenção de informações e para apresentar os conceitos de modularização para a equipe. Esta etapa inicial pode evidenciar problemas referentes à carência de estratégias na empresa, incentivando a equipe a buscar soluções e desenvolver uma nova visão voltada a modularização.

O projeto de um novo produto necessita ter claramente definidos quais são os objetivos que a empresa pretende alcançar e onde este projeto pretende chegar. N ota-se que este primeiro passo é introduzido antes da etapa inicial proposta por Erixon (1998) que esclarece os requisitos do cliente, isto significa que em um primeiro momento é necessário olhar para a empresa de forma interna e avaliar suas deficiências e carências, para somente depois iniciar o processo de obtenção de informações com relação aos fatores externos.

Com a aplicação do método pretende-se moldar a estratégia da empresa para que esteja preparada para ser flexível e intimamente ligada aos conceitos de modularização, além de disseminar as informações e o conhecimento entre os membros da equipe, contribuindo para o desenvolvimento de uma nova cultura.

A figura 4.3 representa de forma ilustrativa o processo de transformação de informações que ocorre durante o primeiro passo do método proposto, nota-se que a entrada é composta por informações gerais e na saída são esperadas informações estruturadas dentro do contexto da modularização. O núcleo deste passo é a aplicação do pensamento modular e a preparação para a modularização, como ferramenta sugere-se a preparação de um questionário de apoio para obtenção de informações.

Figura 4.3 – Passo 1: Obter as informações inicias.

Fonte: Autor.

O primeiro passo é dividido em cinco etapas descritas a seguir:

1. Estratégia da empresa;

2. Objetivos gerais de engenharia; 3. Conceitos;

4. Drivers de módulo;

5. Questionário de características e observações iniciais.

Estratégia da empresa

A aplicação do método MFD possui pré-requisitos que estão relacionados principalmente com a estratégia da empresa. É necessário ter claramente definidos quais são os objetivos e metas com relação aos produtos que devem ser modularizados. Estas informações são valiosas e fazem parte do método de modularização, pois servem como diretrizes para avaliar os conceitos criados e participam na formação dos módulos.

Este espaço é destinado para que a estratégia da empresa seja descrita, é o primeiro item, de modo que seja o ponto inicial do projeto, guiando e preparando a equipe para um pensamento que esteja de acordo com o que a empresa busca. O quadro 4.2 mostra um exemplo de estratégia de uma empresa que deseja atender o cliente com agilidade e qualidade,

buscando a liderança no mercado com a utilização de inovações tecnológicas. Esta estratégia já fornece fortes indícios de que a modularização pode seguir para o caminho da geração de variedade, através do uso de projetos de módulos que sejam utilizados em várias gerações de produtos “carry overs”, diminuindo o custo de futuros projetos e utilizando alta tecnologia.

Quadro 4.2 – Exemplo de estratégia da empresa. Estratégia da empresa

Oferecer produtos e serviços com agilidade e qualidade buscando sempre atender as necessidades dos clientes.

Ser líder no mercado e referência de tecnologia de ponta na área de produtos agroindustriais.

Fonte: Autor.

As empresas que buscam a modularização almejam atingir todos os benefícios que ela proporciona (conforme descrito no item 2.3 do trabalho), porém, dentre todas as vantagens possíveis, é necessário adotar uma delas como meta principal, sendo que todo o método de modularização deve ser preparado para conduzir as ações em busca deste objetivo, permitindo que os módulos sejam formados para contribuir para que isto ocorra. Erixon (1998) descreve doze drivers de módulo (ver item 3.4 do trabalho), ou razões para agrupar as funções ou componentes em módulos, tais razões abrangem todo o ciclo de vida do produto e são agrupadas em seis categorias, sendo elas:

1. Desenvolvimento de produtos e projetos; 2. Variedade;

3. Produção; 4. Qualidade;

5. Compra ou aquisição; 6. Pós-vendas.

Para cada novo projeto todo o ciclo de vida do produto deve ser considerado, porém cada empresa apresenta maiores dificuldades e carências em determinadas áreas, sendo que a estratégia deve demandar atenção especial nestes casos. As seis categorias descritas podem ser utilizadas como elementos da estratégia da empresa criando ações para a solução de problemas. Propõem-se sete diretrizes (seis com base nas categorias listadas por Erixon

(1998) incluindo a categoria de “Custo” sugerida), onde a empresa deve adotar uma delas como prioridade.

Desenvolvimento de produtos e projetos

Foco principal: engenharia, desenvolvimento, projetos.

Estratégia: projetar/desenvolver produtos de modo a obter um planejamento que considera futuras mudanças tecnológicas, de materiais e lançamento de novos opcionais no mercado atendendo aos clientes. Projetar para utilizar em novas gerações de produtos o maior número possível de módulos e tecnologias, reduzindo assim o custo e o tempo de engenharia de futuros projetos.

Geração de variedade

Foco principal: gerar variedade de produtos, aumentar a flexibilidade da empresa.

Estratégia: projetar/desenvolver produtos para obter a variedade, de modo a atender ao maior número de clientes possíveis sem comprometer a escala de produção e elevar os custos. Atender as necessidades exclusivas do cliente, tornando-o individual e único. Obter uma resposta mais rápida da empresa frente às mudanças de mercado e novas exigências.

Produção

Foco principal: sistema produtivo.

Estratégia: projetar/desenvolver produtos para facilitar a produção e a sua organização, simplificar os processos, diminuir as perdas produtivas e obter a diferenciação tardia.

Qualidade

Foco principal: melhoria da qualidade.

Estratégia: projetar/desenvolver produtos para aumentar a qualidade, melhorar o acabamento, melhorar os processos, obter materiais de melhor qualidade, realizar o controle mais detalhado e rigoroso.

Compra e aquisição

Foco principal: compras e logística.

Estratégia: projetar/desenvolver produtos para facilitar a compra de matéria-prima, acelerar o processo de produção ou desenvolvimento adquirindo módulos prontos no mercado e melhorar a logística através da compra de materiais que compõem um mesmo módulo de um mesmo fornecedor.

Pós-Vendas

Foco principal: manutenção, serviço, upgrade e reciclagem.

Estratégia: projetar/desenvolver produtos para facilitar a manutenção e os serviços externos, permitir a troca rápida de módulos defeituosos ou o upgrade do produto, facilitar a reciclagem do material ao final da vida útil.

Custo

Foco principal: diminuir o custo.

Estratégia: projetar/desenvolver produtos para reduzir os custos internos e o custo do produto no mercado. Reduzir as perdas de produção, reduzir o desperdício de recursos em todas as áreas.

Com estas diretrizes sugeridas a empresa pode compor um nova estratégia que estará preparada para o processo de modularização, tendo como prioridade as soluções dos maiores problemas ou dificuldades observados.

Objetivos gerais de engenharia

A área de engenharia, além de projetar novos produtos, tem papel fundamental na estratégia da empresa, deste modo, deve possuir suas próprias metas e objetivos. Este espaço é destinado para incluir objetivos específicos de acordo com o tipo de projeto, o que conduz a equipe ao desenvolvimento de soluções adequadas. Outro aspecto importante é a utilização de objetivos de engenharia que estejam vinculados a deficiências constatadas na empresa. O quadro 4.3 mostra como exemplo a descrição dos objetivos de engenharia da mesma empresa cuja estratégia foi descrita no quadro 4.2, nota-se que os objetivos de engenharia devem conduzir os projetos para o mesmo caminho da estratégia geral, por exemplo, o desejo da empresa em tornar-se referência em tecnologia é traduzido no objetivo de engenharia que conduz a equipe a inovar e usar novas tecnologias sempre a frente da concorrência.

Quadro 4.3 – Exemplo de objetivos gerais de engenharia. Objetivos de engenharia

1. Projetar para atender a demanda de diferentes clientes; 2. Criar produtos de fácil operação, manutenção e montagem;

3. Inovar para ter tecnologias mais recentes e avançadas do que a concorrência; 4. Reduzir o custo sem abrir mão da qualidade.

Fonte: Autor.

Descrição de conceitos

Consiste em uma referência onde são descritos os conceitos de modularização de forma a instruir a equipe para uma mentalidade voltada ao projeto modular, estabelecendo uma linguagem padrão para as pessoas envolvidas com o projeto. Outros conceitos também podem ser adicionados nesta etapa, de acordo com o tipo de projeto ou com a necessidade da empresa em disseminar o conhecimento.

No exemplo apresentado no quadro 4.4 são descritos os conceitos de módulo, auto- contido e drivers de módulo, para que a equipe utilize-os no projeto. Cada membro da equipe pode incluir novos conceitos ou informações de maneira a aperfeiçoar a linguagem técnica utilizada.

Quadro 4.4 – Exemplo de descrição de conceitos. Descrição de conceitos

Módulo: é uma unidade funcional essencial e auto -contida em relação ao produto do qual faz parte,

possuindo interfaces padronizadas e interações que permitem, através de combinações a composição de produtos.

Auto-contido: é a característica do módulo de desempenhar uma função essencial e independente, que pode

ser isolada e testada, porém, deve ser combinada com outras funções provenientes de outros módulos para que forme um produto final.

Drivers de Módulo: são as razões para agrupar soluções técnicas ou componentes em módulos. Fonte: Autor.

Drivers de módulo

Trata-se da descrição dos drivers de módulo utilizados pela empresa de acordo com a estratégia, com os objetivos e com as metas propostas anteriormente, devem traduzir a necessidade de agrupar os componentes e as funções em módulos.

Como ponto de partida adota-se os doze drivers de módulos propostos por Erixon (1998) (descritos no item 3.4 do trabalho), porém a empresa pode incluir ou modificar os drivers de módulo de acordo com as suas estratégias, por exemplo, caso a empresa deseje dar ênfase na produção e pretenda obter um processo com diferenciação tardia, dividido em áreas com pré-montagens, pode-se criar drivers de módulos específicos para o projeto, como é apresentado no exemplo do quadro 4.5.

Quadro 4.5 – Exemplo de drivers de módulo com ênfase na produção. Drivers de módulo

Reutilização de processo/organização: formar módulos para reutilizar equipamentos e h abilidades

existentes. Produção realizada por pessoas com necessidades especiais, ou pessoas especializadas em determinada função.

Diferenciação tardia: agrupar funções ou componentes que permit em a diferenciação tardia durante o

processo produtivo.

Divisão da produção em áreas: agrupar funções ou componentes montados em uma mesma área da

empresa.

Pré-montagem: agrupar funções ou componentes em um módulo para permitir uma pré -montagem. Fonte: Autor.

Deve-se ter dois cuidados principais ao compor os drivers de módulo: 1) a exclusão de drivers de módulo pode acarretar na perda de fatores que fazem parte de uma determinada fase do ciclo de vida do produto, deixando de ser considerada na formação dos módulos; 2) a inclusão de muitos drivers de módulo em uma mesma categoria pode tornar o processo de agrupamento em módulos tendencioso, dando menos importância para as demais categorias.

Uma análise criteriosa deve ser realizada, é possível que diferentes tipos de projetos possam ter diferentes tipos de drivers de módulo. A experiência da equipe ao aplicar o método colabora para uma escolha mais precisa.

Questionário de características e observações iniciais

Consiste em um questionário elaborado para obter as informações iniciais sobre o projeto. Tal questionário é proposto para incentivar a equipe a ter uma visão mais detalhada do projeto e adquirir mais informações.

São propostas doze questões que abordam diferentes aspectos do produto, tais questões podem ser modificadas e outras podem ser inseridas conforme a necessidade da empresa. A ideia é criar um panorama geral sobre o produto, do ponto de vista do cliente e da empresa. Caso tenha sido feita uma pesquisa de mercado é possível que muitas destas questões já tenham sido respondidas, mas é importante que as informações sejam compartilhadas com a equipe. Por outro lado, caso nenhuma pesquisa de mercado tenha sido realizada é possível que ao responder estas questões muitas ideias ocorram ou até mesmo seja constatado que a empresa não tem os recursos necessários para projetar ou produzir o produto.

No quadro 4.6 são descritas as doze questões propostas, que podem ser utilizadas como ponto de partida para a equipe.

Quadro 4.6 – Questionário de características e observações iniciais proposto. Questionário para obter informações iniciais

1. Com base na estratégia da empresa, nos objetivos gerais de desenvolvimento /projeto e nos conceitos, descreva quais são as principais características que o produto deve possuir e quais as principais metas. Ordenar as características por grau de importância.

2. Descreva quais são as características desejáveis ou solicitadas pelos clientes. Ordenar as características por grau de importância.

3. Quais são os principais problemas, ou futu ros problemas deste produto? Referentes à: compra, venda, produção, estoque, teste, padronização, manutenção, assistência, normas.

4. Qual é a expectativa de venda? Quantas unidades serão vendidas/fabricadas por mês?

5. Quais os principais concorrentes? Quais os diferenciais dos produtos dos concorrentes? Quais os pontos fortes e fracos?

6. Quais setores da empresa serão envolvidos com a produção? O que poderá ser terceirizado? 7. Quais normas ou regulamentações devem ser atendidas?

8. O que será oferecido como padrão no produto e o que poderá ser oferecido como opcional? Quais as possíveis variações que serão ofertadas?

9. Quais são os limites de peso, tamanho, volume, tensão elétrica de alimentação, temperatura, umidade, poeira e demais condições ambientais que o prod uto irá operar?

10. Qual o tempo de produção estimado?

11. Quais possíveis materiais ou tecnologias serão difíceis de adquirir ou desenvolver?

12. Quais são os riscos ambientais que o produto irá proporcionar? Usará materiais nocivos? Irá gerar impacto ambiental?

Fonte: Autor.

Com estas informações iniciais preparadas é possível fornecer aos demais passos do método um pensamento modular vinculado com a estratégia da empresa e as necessidades do cliente.

Este primeiro passo é de constante aperfeiçoamento, a cada aplicação do método pela equipe mais informações e conceitos podem ser agregados criando um importante banco de dados para futuros projetos.