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Pastore em seu “templo de arte”: um interessante circuito de exposições

Vestígios de práticas fotográficas errantes

2.5 Pastore em seu “templo de arte”: um interessante circuito de exposições

trabalhar por quinze anos na “industriosa”109 São Paulo, Pastore decidiu retornar a sua

província natal. No ano de 1914 abriu seu estúdio em Bari, iniciativa que documentaremos a seguir.

2.5 Pastore em seu “templo de arte”: um interessante circuito de exposições

Contar a história do estúdio Ai Due Mondi- Fotografia Italo-Americana é contar um sonho. Vincenzo Pastore no ano de 1914 reuniu todas as economias acumuladas em São Paulo e abriu seu estúdio na capital da província pugliese. Causou verdadeira comoção entre os moradores bareses. Seu trabalho foi recebido com entusiasmo, reconhecido como uma conquista de toda a região ao sul da Itália.

Na “Piccola Cronata”, publicada no jornal Corriere Delle Puglie, mostram-se vestígios do acolhimento dado a Pastore, prestigiado por um público “que julgava com um alto senso de justiça da qual se falava com entusiasmo em toda a província de Bari e fora dela”.110

O estúdio em Bari ocupava um ponto estratégico nas feições espaciais que a cidade adquiria. A imponente e “magnífica” Rua Sparano, hoje endereçando um circuito comercial de prestígio na cidade, já em 1914, era a principal rua de ligação entre a Estação Central de Trem e a Città Vecchia, que concentrava a maior parte de seus habitantes. Entre esses dois extremos, facilmente percorrido, uma Città Nuova crescia abrigando os símbolos de progresso urbano em expansão: A rua Sparano termina exatamente na principal avenida barese, a Corso Emanuelle II que delimita a divisão entre a nova e a velha cidade.

Além da expansão urbana vivenciada em Bari, outros aspectos ajudam a sondar o desejo de Pastore de retornar a sua província natal. Andar pelas ruas da Città Vecchia, ou pela Praça Humberto I, ligadas pela “Via Sparano”, ajuda a entender a dimensão daquilo que Pastore possivelmente tentava resgatar. Bari, ainda hoje é uma cidade resistente a novos costumes, mantendo ainda vivas relações estreitas de vizinhança, laços firmados na proximidade de cada casa com suas portas dispostas lado a lado. Cortinas quase sempre brancas e muito rendadas delimitam a intimidade dos lares e o movimento de gente, sendo muitos visitantes de fora, que caminham nas estreitas e antigas ruas de pedras largas; ruas feitas de quintais onde cadeiras e

109 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais, p. 53. Jornal Corriere Delle Puglie. 13 de

dezembro de 1914. Todas as traduções de recortes de jornais que integram a Coleção Dante devem ser consideradas como tradução nossa

110 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais, p. 53. Jornal Corriere Delle Puglie. 13 de

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varais dos moradores compõem um cenário de conversas ritmadas pela brincadeira de crianças e pela intensa convivência da qual parecem não abrir mão.

O primeiro vestígio que ajudou a documentar o retorno de Pastore à sua província, depois de viver por 15 anos em São Paulo, ou seja, uma década e meia ganhando dinheiro no Brasil, foi encontrado na revista A Vida Moderna, no dia 8 de janeiro de 1914. O fotógrafo que tentava de tudo para sobreviver de seu ofício firmou um contrato verbal com a revista paulistana, a qual se desculpava com seus assinantes porque o “sr. Pastore”, que havia se comprometido em fotografar todos os assinantes gratuitamente, “fornecendo um exemplar a cada um”, teria partido. A revista que tinha como “intuito augmentar o numero de vantagens que offerece aos seus assignantes”, 111 via-se obrigada a explicar o ocorrido.

O fotógrafo teria enviado uma carta ao diretor da revista informando o recebimento de um telegrama urgente obrigando-o a partir para a Itália. Sua demora “no estrangeiro” seria de 3 a 4 meses, prometera. Preocupados com os assinantes pensarem que tudo não havia passado de um engodo querendo os iludir, a revista reafirmava a suposta promessa de Pastore: “estamos certos que logo que regresse da Europa, há de cumprir o que conosco tratou”.112 O

motivo urgente talvez omitisse a circunstância real da viagem: abrir um estúdio em Bari com uma grande e aclamada exposição, onde aproveitou para mostrar aos seus compatriotas os trabalhos realizados no Brasil.

111 Sic. Revista A Vida Moderna. 8 de janeiro de 1914. n. 203.

112 Revista A Vida Moderna. 8 de janeiro de 1914. n. 203. Foi impresso em outra página, nesta mesma edição

do mês de janeiro, outro comunicado avisando aos assinantes da impossibilidade de serem fotografados nos próximos meses, reiterando a cobrança ao fotografo para que continue a realizar os retratos quando de sua volta. No mês de outubro de 1914 anunciam o estúdio de Pastore colocando na capa da revista um retrato feito por ele, mas não mencionam mais a oferta prometida aos clientes de terem um retrato gratuito feito pelo fotógrafo.

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Figura 93: Foto tomada na frente do estúdio de Pastore aberto em Bari na Via Sparano, n. 117, uma das principais ruas

comerciais da cidade. Bari, Itália. 12 de abril 1914 © Vincenzo Pastore / Coleção Dante Pastore.

Figura 94: Fotografia feita no piso térreo do sobrado ocupado por Vincenzo Pastore. Nesta passagem que levaria ao primeiro

andar o fotógrafo organizou uma mostra permanente de retratos e, pequeno, médio e grande formato, possivelmente realziada no mesmo dia da foto externa acima apresentada. Bari, Itália. Sem data ©Vincenzo Pastore Coleção Dante Pastore.

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O estabelecimento anunciado como uma “bela jóia” foi inaugurado com uma exposição organizada pelo fotógrafo. A população local conferia “estarrecida a mais brilhante expressão artística” produzida pelo cidadão que retornava de sua experiência de imigração, enaltecida em vários textos de divulgação. Retratos em grande formato foram emoldurados ao gosto das exibições mais formais e apresentados no tempo-espaço do quase museu criado por Pastore (fig.94). Um museu aberto ao público que formou fila curiosa do lado de fora para ver a mostra. Pastore não perdeu a chance de organizar e registrar esse momento (fig.93).

No artigo “Il grande e moderno Stabilimento Fotografico del Sig. Vincenzo Pastore”, vê-se elogios nada comedidos, demonstrando o quão impactante foi a mostra apresentada sob “feixes de luzes, frisos decorativos, vitrine de luxo, exposições elegantes”.113 O trabalho de

“beleza fascinante” foi apresentado desde o piso térreo do sobrado, passando pelas escadas ao fundo até se chegar à sala de espera, no andar superior; fotografias com temas variados mostravam “os mais perfeitos e distintos processos da arte”.114 Vasos decoravam o centro da

imagem feita no andar térreo. O repertório visual realizado em São Paulo estava ali exibido aos visitantes bareses. Retratos foram ampliados em grandes quadros com molduras douradas ou em bronze; outros foram fixados nas paredes- vitrines estendidas por toda a entrada. O artigo parabenizava o distinto trabalho de Pastore, pontuando a rica diversidade da mostra criada para ser permanente, o que sugere o quanto Pastore pouco deseja retornar ao Brasil:

Basta dirigir-se até lá para notar todo o florescimento de fotografias de todos os tamanhos, desde a miniatura até a natural, de todos os estilos, todas as poses, todos os sistemas que as mais avançadas pinceladas da arte produziram sobre papel, sobre tela, madeira, porcelana, zinco, de todos os jogos de luz e sombra: tudo isso recolhido por uma familiar elegância e luxo agrupador e expositivo que leva ao fascínio, ao grito de milagre, ao entusiasmo por esse nosso artista tão jovem e valoroso que desconfianças, infortúnios, dificuldades de todo tipo felizmente superou para dar a Bari aquilo de que ela precisava.115

Técnicas de fotografia a carvão e fotos em relevo foram citadas em vários artigos como trabalhos inesquecíveis. Afirmava-se que a precisão nos registros em alto relevo e naqueles em tamanho natural foram de uma magnitude que “ainda não se conseguiu na Itália!”.

113 Coleção Dante Pastore, In: Caderno de Recortes de jornais.

114Coleção Dante Pastore, In: Caderno de Recortes de jornais, p. 29. Risveglio Commerciale. Bari, 21 de

novembro, 1914. Tradução nossa.

115 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais, p. 29. Risveglio Commerciale. Bari, 21 de novembro, 1914. Tradução nossa.

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Visitantes afirmaram que se a mostra não era tão grande, havia sido inédita naquele país.116

Percorria-se os cômodos do estabelecimento com um “verdadeiro prazer intelectual”, deixando a sensação de Bari ocupar um lugar na produção da arte mundial:

Bari, espalhando a cada dia, nas instalações magníficas na Rua Sparano, toda a nossa verdadeira elite e uma multidão de pessoas em êxtase, demonstra ser capaz de entender a arte em todas as suas grandiosas manifestações e de saber bem como compensar os esforços, os suores, a tenacidade e a audácia de seus filhos trabalhadores, talentosos e honestos.117

Deve-se ressaltar o volume de artigos e notas saudando a inauguração do estúdio com “admiração e louvor”, em nome de todos os cidadãos bareses. Além de ricas descrições de seu interior, denotam a repercussão social alcançada pelo fotógrafo e todo desejo desses agentes de divulgação em superar os limites da província.

Com a instalação da grande filial do estúdio fotográfico italo-americano, Bari inteira teve a impressão de encontrar-se em pé de igualdade com grandes cidades do novo mundo, e com tal perspectiva o entusiasmo e o delírio chegaram ao ponto mais alto. Independentemente do que foi descrito em termos genéricos por outros periódicos, nós quisemos nos demorar um pouco no vasto estúdio fotográfico, que é um verdadeiro ninho de elegância e gosto artístico impressionantes.118

O fotógrafo que sonhou em regressar à terra de origem recebeu felicitações vindas também de Milão:

Aqui de Milão, de onde talvez mais do que em qualquer outro lugar, aprecia- se e admira-se a energia soberba que honra o país com a poderosa arma do trabalho e da honestidade, ao artista valoroso da Puglia enviamos na feliz ocasião a mais viva felicitação com que desejamos à nobre iniciativa que seja correspondida com o maior e mais merecido sucesso.119

Ai Due Mondi, Fotografia Ítalo Americana foi o nome colocado ao centro da entrada principal do edifício, anunciado algumas vezes como sucursal do estúdio de São Paulo, que havia sido na verdade fechado. Elvira, em seu diário, afirmou ter sido um golpe de sorte retornarem e conseguiren ocupar o mesmo endereço.

116 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais, p. 33. Artigo:à Indimenticabile festa del lavoro .

Tradução nossa.

117 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais, p. 33.à á tigoà Indimenticabile festa del

lavoro . Tradução Nossa.

118 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais. Tradução Nossa. 119 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais, p. 57. Tradução Nossa.

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Aqueles que queriam visitar o estúdio ficaram atraídos por duas bandeiras: a italiana e a brasileira.120 A experiência adquirida na “cosmopolita São Paulo”, dava distinção ao

fotógrafo, rompendo com uma conhecida visão naturalizada na introjeção de uma perspectiva eurocêntrica. São Paulo era citada como a referência de modernidade:

Bari inteira soube dar a sua modesta homenagem de afeto e simpatia ao seu compatriota, um trabalhador que, depois de ter trazido o seu trabalho realizado longe de sua terra natal, depois de ter aperfeiçoado e obtido a aprovação da industriosa São Paulo retorna à sua terra, coberto de louros e de um nome invejável.121

No “belo cenário” criado no estúdio barese, Pastore fixou um quadro que causou admiração pelos “vários autógrafos com palavras elogiosas de homens iminentes, entre os quais Guglielmo Ferrero, arcebispo de São Paulo, Exmo. Leopoldo Duarte, etc”; o próprio fotógrafo mobilizava o prestigio obtido na São Paulo “industriosa” reunindo cartas de amigos conterrâneos e artigos publicados jornais, enaltecendo “a grandeza e as proezas do estabelecimento”, aberto no Brasil.

Em uma bela moldura, pode-se admirar - entre os muitos quadros – um que recolhe os vários atestados emitidos pelas autoridades do Brasil, os muitos artigos de jornais que louvam a grandeza do estabelecimento e a proeza do Sr. Pastore. Nós gostaríamos de publicar a seguinte carta que um nosso concidadão, tendo vivido muito tempo no Brasil, escreveu para Sr. Pastore após tê-lo re-encontrado, com alegria, em Bari. 122

A carta, testemunha do reencontro e da convivência compartilhada na capital Paulista, estava exposta no quadro acima citado. Além do arranjo desajeitado da confluência entre o português e o italiano, desvelam-se laços de solidariedade construídos além-mar.

Ao eminente Photografo,

Parabeis (congratulazioni) pela bôa recorda con Paulista desejando. Che feliz esito que umito valor mostraste en S.Paulo gloriando a Colonia Italiana. Un seu admirator Paulista. (Pasquale Salvatore- Cavour 126 Bari).123

Outros artigos davam destaque à atuação de Pastore no Brasil, onde “manteve sempre em alta o prestígio da nossa Itália”.124 Algumas vezes se exagerava o período de permanência de

120 Coleção Dante Pastore. In: Caderno Recortes de jornais, p. 26. Reportagem A Ba i L’esposizio e di u ost o

concittadino. Tradução Nossa.

121 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais, p. 44. Jornal Corriere Delle Puglie. 22 de

novembro de 1914. Tradução Nossa.

122 Coleção Dante Pastore. In: Cade oàdeà‘e o tesàdeàjo ais,àp.à .àá tigoà Indimenticabile festa del lavoro .à 123 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais, p. .àá tigoà Indimenticabile festa del lavoro .à

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Pastore em São Paulo. Em “Picola cronaca” afirmam os supostos “trinta anos transcorridos no distante Brasil”, onde teria alcançado uma posição “moral e materialmente privilegiada”.125 Pastore permaneceu no Brasil, contudo por dezoito anos.

O verso do cartão postal oferecido por Pastore a sua clientela barese (fig.95) indícia o quanto a aproximação de dois mundos vinha como retórica textual e gráfica explorada pelo fotógrafo, conferindo-lhe destacada distinção, sobretudo, em sua terra natal, onde afirmara a sucursal de São Paulo como atributo qualificador.

Figura 95:

Reprodução de verso de cartão postal possivelmente comercializado em Bari, entre os anos de 1914 e 1915. Coleção Dante Pastore.

A cultura dinâmica do retrato, marcada pelo ir e vir daqueles que viviam desse ofício, trancendia a visão de dois continentes na criação da identidade do fotógrafo que “tudo fez para honrar este nosso compatriota, que abandonou toda uma florescida reputação e posição, abandonou clientes e renda promissora, adquiridos pela lida de trabalho honesto para dar o que estava faltando em Bari”.126

Ao redor da fachada do estúdio retratos realizados no Brasil foram emoldurados e colocados na vitrine externa. Propomos aqui um recorte na foto para melhor mostrar a variedade de retratos expostos (fig.96) que expressavam o “poder de sua arte” já evidenciado logo na entrada, segundo artigo intitulado “A exposição do nosso concidadão”. Nuançava-se a dimensão do volume de trabalho realizado no Brasil: “A infinidade de trabalho exposto, prova como a arte requintada do Sr. Pastore, proprietário do estabelecimento, nos faz pensar

124Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Re o tesàdeàjo ais,àp.à .àá tigoà L’i augu azio e di u uo o

Stabilim. Fotografico ítalo-a e i a o . Tradução Nossa.

125 Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes de jornais, p. 42. Jornal Corriere Delle Puglie.à Picola

Cronaca Alla Grande Fotografia Artica italo-americana .àT aduç oàNossa.

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com orgulho sobre o fluxo de pessoas de todas as classes que se reuniram para o nosso conterrâneo quando ele estava na América”.127

Figura 96:

Reprodução de detalhe da fachada e da vitrine do estúdio de Vincenzo Pastore. Bari, Itália. 12 de abril 1914. Coleção Dante Pastore.

Outros artigos, no entanto, tentavam distinguir a clientela de Pastore, dando sinais de que na mostra alguns retratos apresentados já teriam sido realizados na Itália:

O número dos trabalhos expostos, todos bonitos, todos valiosos, finalmente revelam não só o trabalho do fotógrafo, mas dão indícios da qualidade e do tipo de clientela que posava do outro lado do oceano e daquela que começou a posar aqui: a grande clientela com a qual só um verdadeiro artista pode se comprometer e pela qual somente ele pode dar o merecido valor ao seu trabalho.128

Pastore, ao compor a fotografia do dia da inauguração do estúdio colocou parte dos visitantes e talvez transeuntes curiosos enfileirados, dando perspectiva a foto externa do estúdio. O eloqüente artigo publicado no jornal Corriere Delle Puglie, retrata aquilo que Pastore queria registrar nesta imagem (fig.93): a grande multidão que se concentrou na frente do estúdio, mal era contida pelos agentes de segurança municipais enviados, segundo texto impresso na coluna intitulada “I Sucesssi nel Brasile”. Já no artigo “A Bari L’esposizione di

127 Coleção Dante Pastore. In: Caderno Recortes de jornais, p. 47. Nota intitulada L’a i azio e pe La

fotografia ítalo-Americana

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un nostro concittadino”, afirma-se que tal multidão havia esperado à noite, apesar da chuva, para assistir ao cinematografo e participar do programa musical organizado por Pastore.129

Detalhes da celebrada inauguração nos aproximam dos esforços do fotógrafo: “Durante o dia, a música tocou sempre no estabelecimento Pastore onde uma grande multidão se concentrou mal contida pelos agentes de segurança enviados para lá pelo Comissário da seção San Ferdinando”. A conquista de Pastore era relatada lembrando-se dos “fotógrafos talentosos movidos pelo sucesso longe de sua casa”:

A noite foi mostrado ao público um excelente programa cinematográfico que divertiu muito. Assim realizou-se o evento que durante vários dias anunciamos nesta coluna, e tivemos razão para prever que seria tão importante a ponto de impressionar todos os cidadãos. De fato, ontem, em todos os locais públicos da cidade e pelas ruas, o tema das conversas era a inauguração do estabelecimento fotográfico ítalo-americano e a solenidade que havia conferido elementos diversos à cerimônia. Os mais céticos elogiavam o nobre impulso que levou Pastore a criar em Bari uma digna sucursal de seu grande estabelecimento no Brasil e seu valor na arte, que todos puderam apreciar observando as fotografias, cada uma das quais representando uma pequena obra-prima.130

Deve ter sido com muita satisfação que Pastore recebeu os numerosos visitantes, entre eles políticos e vários membros da Igreja, que não deixaram de abençoar o novo estúdio: “na conversa também estava presente o bispo Monsenhor Lamberti acompanhado por vários sacerdotes para a bênção do estabelecimento”.131 Todos tomavam o piso térreo para ver a

exposição que expande o conceito de museu: “o público numeroso que se amontoava no salão do piso térreo da exposição espalhava-se também pelos aposentos do primeiro andar”.132

Champagne foi oferecida a todos os convidados. As fontes indicam a presença do prefeito, de tenentes, vice-cônsul e outras personalidades notáveis de Bari, que percorriam a mostra ao som de músicas que alegravam o ambiente.133

129Coleção Dante Pastore. In: Caderno Recortes de jornais, p. 26. Reportagem A Ba i L’esposizio e di u ost o

concittadino. Tradução Nossa.

130Coleção Dante Pastore. In: Caderno de Recortes, p. 25. Jornal Corriere Delle Puglie. N.318. Tradução Nossa. 131 Coleção Dante Pastore. In: Cade oà deà ‘e o tesà deà jo ais,à p.à .à á tigoà L’i augu azio e di u uo o

Stabilim. Fotografico ítalo-a e i a o . Tradução Nossa.

132Coleção Dante Pastore. In: Caderno Recortes de jornais. Tradução Nossa.

133Em quase todos os artigos não havia nenhuma economia de elogios, fazendo referência a tais presenças no diaà daà i augu aç o:à Ao longo do dia, houve um verdadeiro plebiscito. A benção foi dada pelo Bispo Monsenhor Lamberti em presença das personalidades mais notáveis de Bari, entre os quais: Sua excelência o Senador Balenzanno, o prefeito Comendador Facciolati com o chefe de gabinete Cav. Lamarqne, Tenente- General Mazzoli e cav. De Grecis vice-cônsul do Brasil. Após a benção, enquanto a música alegrava as muitas pessoas que admiravam a exposição; Pastore ofereceu champagne às autoridades. Ao valoroso artista que

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Figura 97:

Auto-retrato de Vincenzo Pastore. S/d. Instituto Moreira Salles.

O auto-retrato do fotógrafo (fig.97) foi exposto logo na entrada de seu estabelecimento. O uso da goma-bicromatada enunciava Pastore em diálogo com os procedimentos da fotografia artística:

Mais à frente, ainda à esquerda, o retrato de um fumante, enrugado de frio, que acende seu cachimbo na chama de uma vela, protegido por casaco. Nem as fotografias em porcelana são menos valiosas que as anteriores. Mas Pastore parece inatingível nas fotografias com processo de goma e naquelas com pigmentação colorida. Aquela varanda sobre as escadas é ela própria uma grande revelação do valor do homem que depois ter mantido o nome da