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II. REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS

III.4. E STUDO DE DOIS CASOS

III.4.1. Edifício em Évora

III.4.1.4 Patologia encontradas no edifício

Todos os edifícios apresentam patologias durante a sua vida útil, que condicionam o seu uso, desvalorizando-o e, por vezes, colocando em risco as condições de segurança da sua utilização. Estas patologias na construção são geralmente causadas por:

 erros de projeto ou de construção;

 degradação normal dos sistemas e materiais de construção;  ausências de manutenção adequada;

 inadequada utilização do edifício.

Normalmente um dos problemas mais correntes dos edifícios é a presença de humidade nos materiais de construção. A permeabilidade à humidade ocorre por má execução ou degradação dos sistemas de impermeabilização.

A penetração de humidade é um processo exponencial – a sua presença gera a dissolução de sais presentes nos materiais de construção, que, no processo de secagem, cristalizam aumentando de volume e desagregando as argamassas. Esta desagregação aumenta, por sua vez, a permeabilidade à humidade.

No caso do edifício em estudo, a metodologia de inspeção e diagnóstico utilizada foi a do nível 1, isto é análise visual e instrumental incluindo o registo fotográfico das patologias observadas e a análise de comentários registados no sistema informático de gestão de reclamações de alguns utilizadores do edifício.

As reclamações por parte dos utilizadores irão ajudar os técnicos a identificar algumas patologias que ocorrem em condições atmosféricas agressivas, ou seja intensas precipitações num curto período de tempo, ventos fortes, granizo, e outros fenómenos que possam surgir na ausência da equipa de manutenção ou de gestão. A monitorização dos edifícios decorre de modo contínuo, com o objetivo de resolver patologias num curto espaço de tempo possível, minorando a degradação dos edifícios e o custo decorrente da intervenção.

No entanto, todo este processo de diagnóstico e inspeção, deverá ser realizado num período inferior a um ano. Os edifícios, ao passarem pelas quatro estações, apresentam todas as patologias que contêm, ao enfrentarem elevadas temperaturas, ventos fortes, grandes chuvadas ou uma mistura de ambos. Este processo também permite identificar e corrigir problemas térmicos e acústicos ou mau funcionamento do sistema de AVAC.

No edifício em estudo, os utilizadores referem infiltrações de águas pluviais nos paramentos e tetos podendo observar-se descolagens de materiais e pinturas (Figura III:6).

Figura III:6 – Empolamento e destacamento da pintura nos tetos e paramentos (zona destacada)

As inspeções incidiram na observação de coberturas, terraços, sótão e nos espaços situados no último piso do edifício, de forma a detetar as causas das patologias observadas no interior do imóvel.

A degradação da cobertura provocou manchas de humidade e deposições de sais (vulgarmente denominadas salitres) em compartimentos localizados nos pisos superiores sob a cobertura plana provocando a degradação dos mesmos (Figura III:7).

Figura III:7 – Aparecimento de humidades nos paramentos e tetos

Nas coberturas inclinadas, com revestimento cerâmico tipo telha de canudo, verificou-se um desgaste acentuado das mesmas, estimando-se que o tempo de vida útil do revestimento tenha sido ultrapassado, isto é, o tempo que um determinado material/produto mantém as mesmas características que tinha inicialmente sem necessitar de manutenção, embora este factor dependa da zona de aplicação (no exterior ou no interior ou se está num ambiente agressivo como por exemplo próximo do mar) que aumenta ou diminui a vida útil do mesmo. As coberturas devem ter sido executadas na altura da construção, e até à atualidade nunca devem ter sido intervencionadas senão pontualmente, pelo que não é de estranhar o seu estado de degradação. Em algumas das coberturas inclinadas verificam-se inclinações insuficientes,

favorecendo-se assim a entrada de água de precipitação, quando ocorrem chuvas intensas (Figura III:8).

Figura III:8 – Degradação do revestimento das coberturas inclinadas (Figura à esquerda) e Coberturas

inclinadas com inclinações insuficientes (Figura à direita).

As coberturas inclinadas, para além das patologias descritas, apresentam telhas partidas e desalinhamento das mesmas. O desalinhamento de telhas poderá dever-se a inexperiência da equipa que executou os trabalhos, quando da construção do edifício.

Por vezes a complexidade das coberturas e a falta de experiência/conhecimento por parte do empreiteiro ou do dono de obra, torna a reabilitação ineficiente.

Figura III:9 – Desalinhamento e/ou deslocamento de telhas (Figura à esquerda) e telhas partidas (Figura à

direita)

Nas zonas das descargas de água, ou seja nos encaminhamentos de águas de precipitação para os tubos de queda, a ausência de manutenção e de ralos de pinha nos algerozes e nos terraços (proteção que impossibilite a entrada de detritos para os tubos de queda), conduziu ao entupimento destes, tornando-os incapazes de desempenhar as funções de escoamento das águas. O entupimento dos tubos de queda ou a acumulação de detritos junto a zonas de encaminhamento das águas para os tubos de queda poderá conduzir a inundações, com infiltrações em espaços sob os terraços ou em compartimentos adjacentes com acesso direto

aos terraços (Figura III:10). A acumulação de águas pode ainda provocar o empolamento das telas de impermeabilização.

Figura III:10 – Zona de conflitos de águas, falta de proteção dos ralos de escoamento

Nas coberturas inclinadas com algerozes no interior do edifício, se se exceder a capacidade máxima de escoamento do algeroz, registar-se-ão acumulações de água com infiltrações para o interior do edifício. No imóvel encontra-se algerozes de pequena secção que recebem volumes significativos de água de telhados com área mais significativa (Figura III:11). De facto, as dimensões dos algerozes e as deficientes proteções das zonas de descarga junto aos tubos de queda, conduziram a infiltrações de água no interior do edifício.

Figura III:11 – Zona de conflitos de águas em coberturas inclinadas (caleiras interior)

Os rebocos das paredes próximas destas coberturas, onde também se encontram fixados alguns aparelhos de ar condicionado, apresentam as seguintes patologias:

 Fissuração e fendilhação (Figura III:12)  Salitragem

 Oxidação

 Infiltração (Figura III:11)  Degradação (Figura III:12)

Figura III:12 – Degradação da pintura e fissuração no reboco (Ambas as figuras).

Ao nível da envolvente exterior puderam observar-se espécies vegetais (musgos e líquenes) nos paramentos junto aos beirados. Este tipo de espécies vegetais é comum na presença de detritos/impurezas e de humidade permanente que potencia o crescimento destas espécies normalmente nas paredes junto aos beirados, nos passeios com revestimentos muito porosos, entre outros locais em geral situados nas fachadas a norte.

Consequentemente, as deficiências encontradas no exterior do imóvel originam infiltrações para o interior, que provocam a degradação dos materiais e de equipamentos instalados. No sótão pode-se observar essa situação com a presença de humidade na estrutura de suporte do telhado (madres e varas) (Figura III:13) devido ao estado de deterioração e ao deslocamento das telhas (Figura III:14).

Figura III:13 - Infiltrações provenientes das coberturas inclinadas.

Figura III:14 – Estado do revestimento da cobertura verificado através da presença da luz do sol nas zonas das

No interior do edifício observou-se uma fenda com uma espessura considerável devendo-se verificar se se trata de fenda passiva ou de fenda ativa em evolução. Com o auxílio de um fissurómetro poder-se-á observar mediante monitorização ao longo do tempo se a fenda é ativa ou passiva (Figura III:15).

Os revestimentos interiores, nas zonas onde ocorrem infiltrações, apresentam alguma fissuração e manchas de humidade (Figura III:15).

Figura III:15 – Fissuras em paredes de alvenaria de tijolo maciço (figura à esquerda) e fendilhação e manchas

de humidade/infiltrações (figura à direita).