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2. A formação de um senhorio: os imóveis do Hospital

2.1. Património em Lisboa

Como antes referido, no século XVI, Lisboa transformou-se numa importante metrópole372, uma das maiores cidades da Europa, que, segundo Teresa Rodrigues, terá atingido os 70 mil habitantes na segunda década de quinhentos e mais de 100 mil a partir de 1550373. Uma grande e verdadeiramente relevante cidade — o Porto e Évora pouco ultrapassariam os 10 mil habitantes374 —, de um país parcamente povoado, como os historiadores têm demonstrado. Lisboa encontrava-se geograficamente bem colocada, no cruzamento das principais vias terrestres e na foz de um dos mais importantes cursos de água da Península Ibérica e, como tal, desde muito cedo se tornou um núcleo central da sua vida económica, social, política e cultural e um polo de atração para nacionais e estrangeiros.

A pressão demográfica refletiu-se, naturalmente, num acréscimo da área construída no centro da cidade. Consequentemente houve necessidade de aumentar a área cultivada associada, ainda, à prática de uma cultura mais intensiva, nomeadamente, no termo da cidade que servia de mercado abastecedor, tanto em direção a Sul como para Norte, ao longo da margem do Tejo. Como refere Joaquim Romero Magalhães «o estuário do Tejo faz a fortuna de Lisboa»375, uma vez que grande parte do comércio interno e mundial tinha em Lisboa o seu centro. As terras próximas, apesar de férteis,

372 Uma parte deste capítulo constitui uma versão revista do artigo publicado «O património do Hospital

de Todos os Santos na Cidade de Lisboa na segunda metade do século XVI», Revista Rossio: Estudos de

Lisboa, Lisboa, n.º 1, maio de 2013, pp.104-113. [Disponível online em < https://bit.ly/2uiLNGX >]

373 Segundo Teresa Rodrigues a cidade de Lisboa teria 70.000 habitantes em 1528, 114.969 em 1551e

120.000 em 1590. Teresa Rodrigues, «Lisboa: Das longas permanências demográficas à diversidade Social», in Actas da Jornada de Demografia Histórica de Lisboa, Lisboa, Gabinete de Estudos

Olisiponendes,2008, p.7. [Disponível online em <http://bit.ly/2f58kwV>].

374

Eugénia Mata e Nuno Valério, História Económica de Portugal: Uma perspectiva global, 2.ª ed, Lisboa, Presença, 2003.

375 Joaquim Romero Magalhães, «A Estrutura das Trocas», in Mattoso, José (dir.), História de Portugal,

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não chegavam para abastecer a cidade e, como afirma Margarida Sobral Neto, era necessário o «trigo do mar»376.

Espacialmente, a distribuição do património que o Hospital tinha na cidade de Lisboa está refletida no mapa 1. Refira-se, contudo, que não analisámos a relação foro/dimensão das propriedades o que, podendo fornecer informações bastante relevantes, fica fora do âmbito do nosso trabalho. O nosso único objetivo foi conhecer as receitas da instituição e sua tipologia para melhor entendermos as disponibilidades financeiras do Hospital de Todos os Santos.

Mapa 1: Tipos de Propriedades em Lisboa

Fonte: Tombo do Hospital. 1568.Hosp. S. José, liv. 1187; Reforma do tombo antigo. 1853. Hosp. S. José, liv. 1179 a 1185

376 Margarida Sobral Neto, «A historiografia rural portuguesa», Studia Historica, vol. 29, 2007, pp. 251-

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Mapa 2: Rendimentos de Propriedades em Lisboa377

Fonte: Tombo do Hospital. 1568.Hosp. S. José, liv. 1187; Reforma do tombo antigo. 1853. Hosp. S. José, liv. 1179 a 1185

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Quadro 1: Importância Relativa das Propriedades (por Freguesia)

Freguesia Nº de Bens Nº de Bens (% do total) Valor Total dos Foros (réis) Valor Total dos Foros (% do valor total) Valor médio dos Foros (réis) N. S. Conceição 27 4% 76.841 8% 2.845 N. S. Graça 2 0% 756 0% 378 N. S. Pena 2 0% 1.340 0% 670 N. S. Anjos 212 35% 51.957 5% 245 N. S. Mártires 8 1% 10.896 1% 1.362 St. André 1 0% 1.040 0% 1.040 S. Cristóvão 16 3% 12.002 1% 750 St. Cruz 3 0% 850 0% 283 St. Engrácia 34 6% 15.877 2% 467 St. Estêvão 18 3% 17.171 2% 954 S. João da Praça 2 0% 7.840 1% 3.920 S. José 1 0% 1.340 0% 1.340 S. Julião 37 6% 105.981 11% 2.864 St. Justa 114 19% 392.239 40% 3.441 S. Lourenço 6 1% 3.625 0% 604 S. Mamede 2 0% 1.280 0% 640 St. Maria Madalena 18 3% 43.573 4% 2.420 St. Maria Maior (Sé) 5 1% 11.959 1% 2.392 S. Martinho 1 0% 790 0% 790 S. Miguel 14 2% 60.485 6% 4.320 S. Nicolau 43 7% 116.330 12% 2.705 S. Pedro de Alfama 5 1% 15.780 2% 3.156 S. Salvador 13 2% 11.371 1% 875 S. Sebastião da Mouraria/ N. S. Socorro 21 3% 10.718 1% 510 S. Tiago 2 0% 303 0% 152 S. Tomé 1 0% 1.010 0% 1.010 S. Vicente de Fora 5 1% 5.373 1% 1.075 Santos-o-Velho 1 0% 1.265 0% 1.265

Fonte: Tombo do Hospital. 1568.Hosp. S. José, liv. 1187; Reforma do tombo antigo. 1853. Hosp. S. José, liv. 1179 a 1185

O que os mapas e a tabela nos mostram é que nos finais de quinhentos, o núcleo primitivo da cidade já não acolhia a população que continuava a crescer, provocando a

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expansão para fora das muralhas, dando origem à freguesia dos Anjos em terrenos outrora pertencentes à freguesia de Santa Justa (mapa 1). Nesta nova freguesia estavam 35% dos bens que o Hospital possuía na cidade, embora, entre foros de casas, chãos, terras, olivais, quintais, olarias, lojas e um lagar de azeite378 — boa parte, cremos, propriedades que haviam pertencido aos mouros e que tinham sido doadas pelo rei ao Hospital — não valessem mais de 5% do total das suas receitas (quadro 1). Tratava-se de uma zona pouco nobre, de foros baixos, numa média de 245 réis mas a maioria inferior a 100 réis, salvo exceções de pouco mais de 1.000 réis379 (mapa 2). Foi também nesta freguesia que o Hospital teve maiores dificuldades em cobrar as suas rendas, até porque, dado o valor das mesmas, é provável que optasse por evitar medidas coercivas, que lhes ficariam mais dispendiosas que os valores a receber.

A segunda freguesia onde o Hospital tinha mais bens era Santa Justa (19%)380, onde se localizava o próprio Hospital, o Mosteiro de São Domingos e o Palácio dos Estaus. O valor pago pelas casas era na ordem dos 1.000 réis, podendo frequentemente ascender aos 2.000, 3.000 e 4.800 réis anuais381. No total, daqui recolhia 392.239 réis, o que equivalia a 40% do total das receitas provenientes de foros em Lisboa.

378 Estes bens localizavam-se sobretudo na Mouraria, Almoçovar, Nossa Senhora do Monte, Beco dos

Captivos, Rua Direita das Olarias, Monte das Olarias, Beco do Alegrete, Rua do Pocinho, Rua Direita que vinha da Calçada de Santo André para Santa Bárbara, Rua Direita debaixo que vinha da Porta de São Vicente para Santa Bárbara, Rua Direita que ia para Santa Bárbara, Rua dos Lagares, Calçada de Santo André e Rua de João do Outeiro. Sobre a toponímia da cidade de Lisboa nas fontes do Hospital de Todos os Santos veja-se Rute Ramos, «A Toponímia de Lisboa nas fontes arquivísticas do Hospital Real de Todos os Santos (séc. XVI)», in Actas das 7ªs Jornadas de Toponímia: Memória do Tempo, Câmara Municipal de Lisboa, 2016, pp.105-109. [Disponível online em http://bit.ly/2xgQpxF].

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O foro mais elevado era de 2.533 réis e 2 ceitis pago por Ana Fernandes pelas casas e olarias que tinha na Rua Direita que ia da Porta de São Vicente da Mouraria para Santa Bárbara.

380 Localizavam-se, entre outros, na Rua dos Vinagreiros, Rua Direita da Porta de São Vicente da

Mouraria, Rua do Monturo do Bonete, Rua da Praça da Palha, Rua das Arcas, junto do Pocinho entre as Hortas, Rua de São Pedro Mártir, Rua da Porta de Santo Antão, Beco de Rui da Grã, junto ao adro de Santa Justa, Praça da Palha, junto aos Estaus, Rua do Pato, Anunciada, Rua da Betesga, Poço do Borratém e Beco da Farinha.

381 Já em freguesias vizinhas, o número de propriedades era bem mais reduzido assim como o seu valor.

Em São Sebastião situavam-se na Rua de João do Outeiro, Rua Direita que ia da Porta de São Vicente para Santa Bárbara, Beco de Martim Vaz, Rua dos Cavaleiros, Rua do Capelão, Rua da Amendoeira, Rua que ia da Porta de São Vicente da Mouraria para Santa Bárbara, detrás da Capela-mor de Santo Antão; Em São Cristóvão distribuíam-se entre a Rua da Achada, Rua de São Cristóvão e Rua do Regedor; Na freguesia de São Lourenço localizavam-se na Rua das Fontainhas e na Rua Direita que ia para São Lourenço; Em São Mamede tinha duas casas defronte do Adro de São Mamede e na Rua que ia das Pedras Negras para a Costa; na freguesia de Nossa Senhora da Pena tinha uma casa junto ao Cemitério de Sant' Ana; e na freguesia de São José um olival junto no campo de São Lazaro.

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Bem localizados e rentáveis eram igualmente as propriedades da zona da ribeira, habitada por judeus até aos finais do século XV. Em 1496, o rei D. Manuel confrontado com uma imposição dos reis católicos para que pudesse casar com a sua filha382, seguiu- lhe o exemplo e decretou aexpulsão de todos os judeus. Dando-se conta dos potenciais prejuízos, o rei ordenou a conversão forçada dos que não tinham partido em 1497. As judiarias foram extintas, as sinagogas foram tranformadas em igrejas e os judeus foram sujeitos a um batismo forçado passando a ser oficialmente conhecidos como cristãos- novos383. Os seus bens, móveis e de raiz, situados na área correspondente às freguesias de Santa Justa, São Nicolau e São Julião, foram doados pelo monarca ao Hospital de Todos os Santos, uma acção que, segundo Isabel dos Guimarães Sá, funcionava como uma desculpabilização: a «perseguição aos judeus é conseguida através da doação dos seus bens em beneficio da caridade para com os pobres.»384

A expulsão dos judeus da zona ribeirinha e o incremento das atividades comerciais transformariam o local no centro económico e administrativo do reino e de todo o império português385. Para lá também se transfeririam, no início do século XVI, o

centro militar e político da Alcáçova, para o que ficou conhecido como Palácio da Ribeira. O mapa 1 mostra que o Hospital possuía sobretudo casas de habitação nesta área. Na freguesia de São Julião, era senhorio de 36 casas e de uma loja na Rua dos Anjos386, em São Nicolau tinha 43 imóveis387 e na freguesia de Nossa Senhora da

382 Expulsos dos seus reinos pelos reis católicos em 1492, os judeus tornaram-se um signficativo grupo de

imigrantes que veio juntar-se aos que já aqui se encontravam. Protagonizaram uma autêntica invasão autorizada, a título provisório, por D. João II, que viu neles a oportunidade de receber proventos, dotar o reino de gente e com ofícios úteis. Joaquim Romero Magalhães, «A sociedade», in Mattoso, José (dir.),

História de Portugal, vol. 3, Lisboa, Circulo de Leitores, 1993, pp 475-476.

383 Idem, ibidem, pp 475-480. 384

Isabel dos Guimarães Sá, «A reorganização da caridade em Portugal em contexto europeu …», pp. 47. No entanto, veremos que a prática de empréstimos a juro de que os judeus eram acusados passaram a ser realizados pelas instituições de assistência ainda que a juros mais baixos.

385 José Albertino Rodrigues, «Ecologia urbana de Lisboa na segunda metade do século

XVI», Análise

Social, vol. 8, n.º 29, 1970, p. 102.

386 As casas estavam repartidas entre a Rua dos Ourives do Ouro, Rua da Amoreira, Rua Nova de El Rei,

Rua dos Fornos, Rua do Vidro, Travessa que ia da Rua da Calcetaria para a Rua dos Fornos, junto à Igreja de São Julião, Rua das Esteiras que ia ter a São Julião, Rua Direita da Conceição, Fangas da Farinha, Rua do Álamo, Rua do Anjo, Rua do Anjo à Sobreiraria, Rua dos Pocinhos, Rua do Selvagem e Rua da Ferraria.

387 Situavam-se na Rua dos Douradores, Rua da Cutelaria, Rua do Poço do Chão Valverde, Rua que ia ter

à Calçada do Carmo e à Portaria do Mosteiro, Rua que ia de Nossa Senhora da Vitoria para o Paço dos Estaus, Travessa que ia dos Torneiros para as Pedras Negras, Rua do Espírito Santo da Pedreira, Rua do

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Madalena mais 18388. Das três freguesias recebia 27% do valor total dos foros da cidade, mais 8% que recolhia na contígua freguesia de Nossa Senhora da Conceição389, local onde as prestações individuais eram substancialmente mais elevadas. Como qualquer outra cidade, também Lisboa apresentava fortes contrastes em termos de valorização do espaço. Em zonas de forte densidade populacional os edifícios foram aumentados em altura levando ao aparecimento de sobrados390, alguns dos quais pertença do Hospital391. A instituição possuia também imóveis noutros espaços da cidade: casas de habitação no morro do castelo392, três alcaçarias na zona oriental da cidade, na freguesia de São Miguel393, e novamente casas em Santo Estêvão, São Salvador, São Pedro, São Vicente394, Santo André, São Tomé (junto aos adros das respetivas igrejas), Santa Engrácia, aqui juntamente com hortas e olivais395, (numa zona que funcionava como uma das principais fontes de abastecimento da cidade396). Casas também na freguesia de

Arco do Rossio, Lagar do Cebo, Rua que ia da Pecheleira para o Rossio, Calçada de Paio de Novais, Rua

do Calçado Velho e Travessa da Sombreiria.

388 Localizavam-se no Terreiro dos Martinis, Beco de João Cotrim, Rua que ia da Madalena para a

Conceição, Rua das Pedras Negras, Rua da Fancaria, Rua de Martim Alho, Rua da Ourivesaria da Prata e Portas do Açougue junto às Portas da Ribeira.

389 Situavam-se na Rua de Lava Cabeças, Poço da Fotea, Rua que vinha da Madalena para a Igreja da

Conceição, Rua da Chancuda, Rua da Tinturaria, Rua dos Mercadores e Rua da Jubetaria Velha.

390

«a casa de sobrados era a casa que se elevava em andares, para além do andar do rés-do-chão; a parte que se chamava sobrado situava-se sempre sobre um compartimento, ou conjunto de compartimentos, a que geralmente se chamava «logea» ou «casa sobrada» […] numa casa de diversos andares, o primeiro sobrado poderia designar-se por sobre-loja». José João Alves Dias, Gentes e Espaços em Torno da

População Portuguesa na Primeira Metade do Século XVI, [Lisboa], Fundação Calouste Gulbenkian, Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, 1996, pp. 105-106.

391 Nas freguesias de Nossa Senhora da Madalena o Hospital tinha três sobrados à entrada da Rua da

Ourivesaria da Prata pelos quais pagava Ana Vaz 3.500 réis e duas galinhas. Na freguesia de Nossa Senhora da Conceição tinha mais quatro na Rua das Cristaleiras, Rua da Tinturaria, outro junto ao Terreiro do adro da Conceição e mais um na Rua da Chancuda.

392 Na Sé tinha cinco casas defronte de Santo António; em São Tiago mais duas junto a São Brás; em São

João da Praça, outras duas; na de Santa Cruz, possuía umas casas junto ao castelo, um muro e barbacã no Postigo do Moniz; e em São Martinho apenas uma loja.

393 Estas três alcaçarias com casas rendiam à instituição mais de 35.000 réis, mais de metade do valor que

o Hospital auferia desta freguesia. Além destas tinha outros imóveis distribuídos pela Rua Direita que ia de São Pedro para o Chafariz dos Cavalos, Rua da Adiça e Rua da Regueira.

394 Em Santo Estêvão situavam-se nas proximidades da Rua Direita da Porta da Cruz; em São Salvador

tinha casas na Rua de Castelo Picão, Rua que ia do Mosteiro do Salvador para o Chafariz dos Cavalos, Rua da Rigueira e Rua Direita que ia da Igreja de São Tomé para Santo André; em São Pedro de Alfama, quatro casas e uma alcaçaria na Rua Direita que ia de São Pedro para o Chafariz dos Cavalos e junto à porta da Igreja de São Pedro; e, em São Vicente, casas na Rua do Cano de Alfugir, Rua de São Vicente e Bairro dos Escolares.

395 Em Santa Engrácia as casas localizavam-se maioritariamente fora da Porta da Cruz e as hortas e os

olivais situavam-se sobretudo no vale de Xabregas.

396

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Nossa Senhora dos Mártires397 (além de uma loja e sobreloja na Rua da Manja) e em Santos-o-Velho398.

Além de Lisboa, o Hospital também tinha propriedades noutras zonas do reino, sobretudo em áreas eminentemente rurais, como a seguir se verá.

397 Situavam-se na Cordoaria Velha, Beco de Pedro Rodrigues, Rua da Comendadeira e Rua dos Cobertos

de Cataquefarás.

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2.2. Um proprietário no campo

Mapa 3: Tipos de Propriedades no Reino

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Verificamos pelo mapa 3 que os bens que o Hospital de Todos os Santos possuía fora de Lisboa e termo se localizavam sobretudo no centro do país399 e no Algarve. Em Sintra tinha 30 propriedades: 20 casais, sete terrenos agrícolas, duas casas de habitação e uma quinta. Já em Torres Vedras o destaque vai também para os 11 casais e os seis terrenos agrícolas, e, sobretudo, para os 15 terrenos no Torrão e dois em Alcácer do Sal. No total, espalhadas pelas localidades do reino – excetuando Lisboa e termo –, a instituição detinha 89 terremos agrícolas e 49 casais (além dos mencionados, mais quatro em Cascais e Sobral de Monte Agraço; dois em Alenquer, Arranhó, Colares, e Santarém e, apenas um em Arneiro e Óbidos) e, ainda, dois moinhos em Faro e um outro em Muge.

Pela leitura do quadro 2 verificamos que só na zona de Sintra o Hospital recolhia 35% das suas rendas, ou seja 176.578 réis. Seguia-se a Malveira, com 18% do total de rendimentos (91.000 réis.), provenientes de 14 propriedades agrícolas. Em Torres Vedras colhia 64.518 réis que correspondiam a 13% do valor total. Por sua vez, do Torrão, onde tinha o mesmo número de bens que em Torres Vedras, apenas trazia 5.078 réis, o que se justificava em função do valor médio dos foros, na ordem dos 254 réis.

399

Sobre os bens que o Hospital tinha no Ribatejo veja-se, Rute Ramos, «Os campos do hospital: Os bens do Hospital de Todos os Santos no Ribatejo — séculos XVI-XVIII», CIRA. Boletim Cultural. Percursos do

Património e da História, Vila Franca de Xira, n.º 12, maio de 2015, pp.35-44, [Disponível online em <

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Quadro 2: Importância Relativa das Propriedades do Reino (por Localidades)

Localidades N.º de Bens N.º de Bens

(% do total) Valor Total dos Foros (réis) Valor Total dos Foros (% do valor total) Valor médio dos Foros (réis) Alcácer do Sal 2 1% 2.820 1% 1.410 Aldeia Galega 1 1% 1.200 0% 1.200 Alenquer 5 3% 18.833 4% 3.767 Almada 5 3% 2.710 1% 542 Arneiro 1 1% 40 0% 40 Arranhó 2 1% 5.090 1% 2.545 Arruda dos Vinhos 4 2% 2.560 1% 640 Azambuja 5 3% 320 0% 64 Benavente 1 1% 1.133 0% 1.133 Cascais 5 3% 36.950 7% 7.390 Colares 2 1% 4.440 1% 2.220 Enxara dos Cavaleiros 5 3% 6.460 1% 1.292

Ericeira 3 2% 0 0% 0 Faro 10 6% 21.660 4% 2.166 Lourinhã 2 1% 1.000 0% 500 Mafra 3 2% 1.720 0% 573 Malveira 14 8% 91.000 18% 6.500 Monte Agraço 10 6% 11.640 2% 1.164 Montemor-o-Novo 2 1% 1.740 0% 870 Muge 1 1% 6.000 1% 6.000 Óbidos 1 1% 160 0% 160 Samora Correia 1 1% 8.000 2% 8.000 Santarém 11 6% 21.800 4% 1.982 Sintra 30 17% 176.578 35% 5.886 Torrão 20 11% 5.070 1% 254 Torres Vedras 20 11% 64.518 13% 3.226 Vila Franca de Xira 8 5% 12.000 2% 1.500

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No termo da cidade de Lisboa mantinha-se a tendência para as propriedades agrícolas, o que era expectável visto serem áreas predominantemente de cultivo que serviam de abastecimento à cidade (mapa 4 e quadro 3).

Mapa 4: Tipos de Propriedades no Termo de Lisboa

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Quadro 3: Importância Relativa das Propriedades do Termo de Lisboa (por Localidades)

Localidades N.º de Bens N.º de Bens

(% do total) Valor Total dos Foros (réis) Valor Total dos Foros (% do valor total) Valor médio dos Foros (réis) Alboeira 1 0% 1.365 1% 1.365 Alhandra 2 1% 5.134 2% 2.567 Almargem do Bispo 1 0% 15.240 7% 15.240 Alvalade 6 3% 2.660 1% 443 Alverca 3 1% 5.228 2% 1.742 Arroios 3 1% 400 0% 133 Belas 9 4% 17.110 7% 1.901 Benfica 8 4% 12.800 5% 1.600 Bucelas 28 13% 650 0% 23 Calhandriz 1 0% 50 0% 50 Camarate 5 2% 620 0% 124 Campolide 8 4% 4.115 2% 514 Carnaxide 1 0% 6.420 3% 6.420 Carnide 7 3% 1.620 1% 231 Charneca 2 1% 5.263 2% 2.632 Loures 29 13% 47.631 20% 1.642 Lumiar 8 4% 5.120 2% 640 Odivelas 1 0% 240 0% 240 Oeiras 8 4% 940 0% 118 Olivais 22 10% 25.178 11% 1.144 Portela de Sacavém 15 7% 9.614 4% 640 S. Sebastião da Pedreira 12 5% 22.244 9% 1.854 S. Iria de Azoia 3 1% 6.540 3% 2.180 Santo António do Tojal 2 1% 2.112 1% 1.056 São João da Talha 3 1% 6.445 3% 2.148 Santos Reis 15 7% 11.241 5% 749 Vialonga 19 8% 17.852 8% 940

Unhos 2 1% 400 0% 200

Fonte: Tombo do Hospital. 1568.Hosp. S. José, liv. 1187; Reforma do tombo antigo. 1853. Hosp. S. José, liv. 1179 a 1185

Das propriedades agrícolas indicadas salientam-se, entre outras, 23 em Bucelas, 20 nos Olivais, 14 em Loures, 13 em Vialonga e nos Santos Reis e dez na Portela de

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Sacavém e S. Sebastião da Pedreira, num total de 161. Em Loures detinha sete casais e seis casas de habitação, os que mais rendiam ao Hospital no termo da cidade 47.631 réis, ou seja, 20% do total dos rendimentos nesta zona. Seguiam-se os Olivais, com 25.178 réis, o equivalente a 11%, e São Sebastião da Pedreira, com 22.244 réis (9%). Havia ainda situações, como a de Bucelas, local onde o Hospital possuía 13% dos bens, da área em causa, que rendiam apenas 650 réis (a média dos foros era de 23 réis).

Em suma, e como mostram os mapas 3 e 4 e os quadros 2 e 3, no exterior da área urbana de Lisboa, o Hospital detinha propriedades maioritariamente agrícolas, quer de terrenos de exploração propriamente dita (250), quer de propriedades mistas (64 casais e 17 quintas), embora também apareçam identificadas 40 casas de habitação. Loures, Olivais, S. Sebastião da Pedreira e, mais afastados, Sintra, Malveira, Torres Vedras, Torrão, Alcácer do Sal e Montemor-o-Novo, foram os locais onde encontrámos este património. Uma situação não muito diferente da identificada por Nuno Gonçalo Monteiro para as grandes casas senhoriais400.

400

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Mapa 5: Rendimentos de Propriedades no Reino401

Fonte: Tombo do Hospital. 1568.Hosp. S. José, liv. 1187; Reforma do tombo antigo. 1853. Hosp. S. José, liv. 1179 a 1185

401

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Mapa 6: Rendimentos de Propriedades no Termo de Lisboa402

Fonte: Tombo do Hospital. 1568.Hosp. S. José, liv. 1187; Reforma do tombo antigo. 1853. Hosp. S. José, liv. 1179 a 1185

Apesar da dispersão territorial das propriedades do Hospital de Todos os Santos (mapas 3 e 4), o que os mapas 5 e 6 e os quadros 2 e 3 mostram é, pelo contrário, uma