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3. Enquadramento teórico

3.5. PCIP

3.5.1. Projecto inicial do PCIP

O projecto inicial do PCIP foi aprovado em Dezembro de 1997 pela celebração de um acordo de cooperação entre a CERCI Lisboa e o Centro Regional de Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo (actual Instituto de Solidariedade e Segurança Social), para a valência de Apoio Precoce com a capacidade de 30 utentes. São regularmente adicionados anexos a este acordo, relativos aos utentes apoiados e ao financiamento anual do projecto pelo Instituto.

Nesta altura o PCIP surgiu como um projecto inovador, já que é anterior à primeira legislação de regulamentação da IPI no nosso país (Despacho Conjunto 891/99 dos Ministérios da Educação, Saúde e Trabalho e Solidariedade). Apresenta uma filosofia de intervenção de acordo com a preconizada pelos experts internacionais em IPI, com base num modelo ecológico e uma equipa com técnicos de diferentes formações e experiência de IPI noutros formatos. Foram, aliás, esta experiência anterior e a formação em IPI da maioria dos técnicos que constituíam a equipa do PCIP nesta fase inicial, os factores fundamentais para a adopção da filosofia de intervenção e desenho do projecto.

3.5.2. Objectivos iniciais do PCIP

No projecto inicial foram definidos como objectivos gerais:

―- Promover a articulação e potenciar a acção dos serviços existentes na comunidade; - Contribuir para uma melhor qualidade de vida das famílias em situação de risco;

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- Promover o desenvolvimento, a autonomia e a competência da criança;

- Elaborar programas individualizados e adaptados às necessidades, características, competências e recursos da díade criança/família;

- Desenvolver as capacidades e competências da família na mobilização e criação de redes de suporte social;

- Contribuir para uma melhor qualidade nas interacções pais/criança;

- Promover a desmultiplicação de informação e conhecimentos entre serviços, entre técnicos e entre famílias;

- Promover a detecção e prevenção das situações de risco;

- Promover a criação de um centro de recursos da comunidade, potenciando a intervenção dos técnicos das diferentes valências da CERCI Lisboa.‖ (CERCI Lisboa, 1997:4-5)

Foram ainda definidos objectivos específicos para as acções a desenvolver nas intervenções no sistema nuclear (criança/família), na comunidade e na dinamização da equipa, a saber:

 Intervenção no Sistema Nuclear – Pretende-se com estas acções potenciar a interacção família/criança/técnico.

Objectivos específicos:

Promover o desenvolvimento, a independência e as competências da criança, proporcionando-lhe experiências de vida normalizantes;

Identificar recursos e necessidades da criança;

Produzir modificações no sistema familiar (qualidade de vida), de forma a criar um envolvimento mais favorável ao desenvolvimento da criança.

Assim, o PCIP preconiza uma intervenção estruturada de acordo com programas individualizados, com uma componente domiciliária, uma organização transdisciplinar da equipa, incluindo a família como parceira, uma avaliação contínua e também sumativa, o trabalho em rede, a elaboração de um Plano Individual de Apoio à Família (PIAF) com identificação do gestor de caso, caracterização inicial da família, da criança e da comunidade envolvente, com identificação das áreas fortes, necessidades e prioridades e estabelecimento de objectivos de intervenção para a família, para a criança e para a comunidade. Através do acompanhamento à família, procura os mecanismos que

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propiciam uma integração também ela precoce e pretende respostas diversificadas em termos habilitativos, alargando assim a sua acção oferecendo-lhes um conjunto de acções optimizadoras e compensadoras, com as quais se pretende alcançar o máximo desenvolvimento pessoal e integração social.

 Intervenção na Comunidade – pretende-se intervir junto da comunidade no sentido de uma resposta mais eficaz às necessidades da família. Numa perspectiva mais globalizante, no sentido de rentabilizar a acção de todos os serviços da comunidade, com vista a um acompanhamento longitudinal do percurso das famílias abrangidas pelo projecto, articulando com os serviços envolvidos.

Objectivos específicos:

Elaborar um levantamento de recursos existentes de modo a dar uma resposta adequada às necessidades reais da família;

Utilizar e contactar esses recursos para uma melhoria das condições de vida da família;

Promover a articulação entre serviços;

Desenvolver um acompanhamento de retaguarda do percurso de vida das crianças com deficiência e suas famílias;

Sensibilizar organismos e entidades existentes na comunidade (médicos pediatras dos Centros de Saúde, consultas de neonatologia e gravidez de risco nos hospitais de Lisboa);

Promover a detecção precoce;

Funcionar como um centro de recursos e acompanhamento às futuras mães com gravidez de risco.

O PCIP procura então constituir-se como um centro de recursos da comunidade, cuja acção se centraliza cada vez mais no prognóstico, prevenção e tratamento da situação destas crianças, com um trabalho que se desenvolve no meio natural e em idades precoces com o objectivo final da sua inclusão sócio-educativa, através da diversificação dos atendimentos e da sua filosofia de intervenção.

 Dinamização da equipa – pretende-se a valorização e auto-formação dos técnicos e famílias envolvidas. As famílias são aqui consideradas como membros integrantes da equipa.

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Promover a formação e a auto-formação da equipa;

Promover a existência de uma equipa transdisciplinar onde todos os intervenientes (pais e equipa), se possam valorizar com a troca de experiências. (CERCI Lisboa, 1997)

Como suporte a estes objectivos e baseados nas recomendações internacionais para a IPI, estão os princípios orientadores da filosofia de acção do PCIP:

―Modelo Ecológico de Intervenção, centrado na interacção pais/ criança, tendo como pressupostos os princípios de individualização, normalização, transitoriedade e interferência mínima.

Intervenção estruturada de acordo com programas individualizados.

Componente domiciliária, assegurando a participação activa dos pais nas actividades desenvolvidas.

Metodologias interactivas que permitam aos pais e crianças ser agentes do seu poder, privilegiando uma centração na família.

Organização de equipa transdisciplinar.

Atitude de avaliação contínua, conjunta e activa por parte de todos os intervenientes.

Trabalho em rede, fomentando a articulação entre serviços.

Interacção entre as famílias e técnicos, promovendo a inter-ajuda e a multiplicação de informação e estratégias de intervenção.‖ (CERCI Lisboa, 1997)

Para além das acções directas a desenvolver com cada família/criança, foram definidas como acções gerais a desenvolver pela equipa:

 Pesquisa de documentos/instrumentos relativos à IPI, legislação e escritos, sua análise, levantamentos de dados relevantes e sua organização

 Levantamento de recursos da comunidade relativos à IPI e necessidades envolventes

 Levantamento, avaliação e reestruturação de instrumentos de trabalho

 Reuniões semanais de equipa

 Reuniões com serviços da comunidade

 Recurso a serviços da comunidade para complemento da intervenção

103  Formação periódica para pais

 Organização processual

O PCIP apresenta então uma organização funcional que se caracteriza por uma intervenção de carácter ecológico (nos contextos naturais de vida da criança), uma equipa transdisciplinar com um perfil flexível e dinâmico, onde para cada família existe um gestor de caso, sendo este técnico o responsável pela gestão da intervenção com a família.

3.5.3. Avaliação prevista no projecto inicial do PCIP

Em relação à avaliação deste projecto, no acordo de cooperação ficou estipulada na 2ª cláusula, alínea e) como obrigação da instituição fornecer ao Centro Regional informações e outros dados, designadamente de natureza estatística e, em especial, as alterações de frequência dos utentes; como obrigação do Centro Regional, na 3ª cláusula, alínea c), avaliar a qualidade dos serviços prestados e o sentido social das respostas desenvolvidas pela instituição. Até à presente data, porém, não foi efectuada nenhuma avaliação do PCIP com este teor pelo Centro Regional.

A avaliação do projecto foi nesta altura definida pela CERCI Lisboa com dois âmbitos de incidência, o processo e o produto. A avaliação do processo deveria ter em conta a caracterização das crianças a apoiar pelo projecto, a avaliação das crianças e das famílias, as relações estabelecidas entre famílias e profissionais, os programas desenvolvidos, a eficácia das respostas dos serviços envolvidos e o funcionamento da equipa do projecto, sendo processada semanalmente em reuniões da equipa. A avaliação do produto foi por sua vez definida tendo como objectivo principal o impacto do projecto junto da população abrangida directa e indirectamente e tendo como parâmetros o desenvolvimento da criança, a interacção pais/criança, o stress familiar, a qualidade dos contextos educativos e os serviços recebidos e actuantes para além deste projecto, sendo a sua periodicidade prevista de realização trimestral, ou por períodos inferiores se fosse sentida a necessidade de efectuar reformulações no processo.

No entanto, esta avaliação não é sentida como tal pela equipa. Expressa em relatórios anuais de actividades, destes a equipa tira apenas dados numéricos da sua intervenção, a avaliação da sua eficácia e eficiência. Com a introdução de um questionário de avaliação da intervenção junto das famílias e dos técnicos da comunidade com quem o PCIP articula no ano lectivo 2004/2005 e o consequente aparecimento de indicadores mais direccionados para a satisfação dos clientes e parceiros, a equipa do PCIP começa a

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sentir a avaliação mais direccionada para os processos da sua intervenção, mas ainda de forma insuficiente para perceber necessidades e adequar essa mesma intervenção.