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Pedagogia multicultural

No documento Maria José Camacho Gonçalves Fernandes (páginas 84-87)

CAPÍTULO V – Formação docente

2. Pedagogia multicultural

Desde a idade pré-escolar todas as crianças, independentemente da cultura, de- vem ter acesso aos meios necessários para aprenderem a exercer os seus direitos e deve- res, desenvolvendo a parcela pessoal de responsabilidade social. As Orientações Curri- culares para a Educação Pré-escolar (op. cit., p.20) referem a importância de neste nível de ensino se promover:

“ (…) o desenvolvimento pessoal e social da criança com base em experiências de vida democrática numa perspectiva de educação para a cidadania (…). Fo- mentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela plura- lidade das culturas, favorecendo uma progressiva consciência como membro da sociedade.”

Mais do que nunca, o educador depara-se na sua sala com crianças provenientes de famílias de origem não portuguesa que reforçam a diversidade dos contextos educa- tivos, marcados pela multiculturalidade. A compreensão dos educandos exige por parte do educador uma atitude reflexiva que, através de uma formação adequada, melhor os possa inserir ao contexto português, sem deixar de respeitar a sua identidade, aspecto que muitas vezes não é tido em consideração. De modo a privilegiar a cultura de todas as crianças, pensamos que aos professores compete promover inovações baseadas numa óptica que privilegie:

- A comunicação e o diálogo como meios de conhecimento do outro, da sua cul- tura, dos seus sentimentos, dos seus interesses;

- As aprendizagens activas através de actividades de descoberta e de questiona- mento crítico;

- Os processos de avaliação formativos, flexíveis e variados;

- O desenvolvimento de atitudes e valores para uma sociedade pluralista;

- O desenvolvimento do espírito de cooperação e partilha de saberes e experiên- cias entre as crianças das várias culturas;

- A consciencialização dos sentimentos sobre a etnia, a cultura e a língua;

- A cooperação entre os docentes na implementação de práticas inovadoras de educação multicultural;

- O diálogo entre a escola/pais/comunidade no sentido da cooperação e da parti- cipação de todos na educação das crianças.

Consideramos que um educador multi/intercultural é aquele que reconhece e in- tegra no contexto educativo o arco-íris de culturas, estabelecendo pontes entre elas. Ao analisar determinado tipo de sinais está a produzir um conhecimento de tipo etnográfico sobre os discentes. Delinear estratégias e construir materiais para poder interagir com a diversidade dos discentes é uma tentativa de contornar a função reprodutora das desi- gualdades sociais, muitas vezes, perpetrada pela escola, o que penaliza os grupos mais distantes da norma cultural. Este aspecto aflorado por Milice Ribeiro Santos (op. cit., p.19), de se “(…) agravar as diferenças entre os que sabem e os que não sabem, dando espaço aos alunos que têm culturalmente à vontade com estes saberes”, é uma das fragi- lidades do sistema educativo. Seria mais valioso se desse a palavra aos que, normalmen- te, permanecem calados, se aumentasse a confiança dos que se sentem desvalorizados, se motivasse aqueles a quem a escola nada diz, se aproximasse da escola os pais mais afastados, se o docente se realizasse profissionalmente, contribuindo para um clima de optimismo pedagógico.

Este, como actor social que age sobre aqueles que serão as próximas gerações, facilitará a emergência das atitudes de tolerância e compreensão, contrariando os pre- mentes movimentos etnocêntricos.

Passamos a apresentar um quadro que resume, em nosso entender, o perfil do professor inovador a nível da educação multi/intercultural. (Quadro 6)

Quadro n.º 6 – Perfil do professor multi/intercultural

DESEMPENHOS DO PROFESSOR MULTI/INTERCULTURAL

FORMAÇÃO PESSOAL FORMAÇÃO CURRICULAR ORGANIZACIONAL

- Assumir no quotidiano, como ci- dadão comum e educador, atitudes promotoras de uma sociedade mais justa;

- Empenhar-se na promoção da igualdade de oportunidades para to- das as crianças;

- Olhar a diversidade cultural como meio de enriquecimento pessoal, social, cultural e curricular;

- Adquirir um sentido de identidade étnica, de relativismo e de interde- pendência da sua cultura com as ou- tras;

- Analisar os seus sentimentos em relação aos alunos pertencentes a minorias étnicas;

- Desenvolver expectativas positi- vas relativamente à progressão e ao sucesso de todos os educandos e transmitir-lhes esse sentimento; - Tratar a diversidade cultural, sem esquecer que cada um tem a sua cultura.

- Valorizar e integrar nas actividades, os recursos, saberes e experiências das cri- anças, numa atitude de respeito pela di- versidade cultural;

- Explorar as similaridades entre as cri- anças de diferentes conjuntos culturais; - Desenvolver com e entre os seus alu- nos interacções baseadas em princípios de igualdade e de pertença ao mesmo grupo;

- Promover actividades em torno de fi- guras históricas, desportivas, artísticas, literárias, pertencentes aos diversos grupos étnicos;

- Promover actividades em torno das re- lações passadas e presentes entre os paí- ses e cultura das crianças do gru- po/escola;

- Adequar as metodologias a eventuais estilos específicos de aprendizagem de crianças pertencentes a minorias étni- cas;

- Implementar metodologias baseadas em ambientes de aprendizagem interac- tivos, cooperativo e interétnico.

- Promover práticas educativas para a igualdade, independente- mente da existência de educandos pertencente a minorias étnica; - Promover projectos cooperati- vos entre os educado- res/professores, tendo em vista a planificação, a implementação e avaliação de actividades multicul- turais;

- Contribuir para a estruturação e desenvolvimento de mecanismos de organização e gestão adminis- trativa e curricular da escola que englobam a natureza multiétnica da população que a frequenta e da comunidade envolvente;

- Contribuir para a elaboração e implementação dos projectos de escola que reflictam nas activida- des e nos espaços, as suas caracte- rísticas multiculturais;

- Promover ligações activas entre a escola e a família, facilitando o acompanhamento da educação dos seus filhos e a participação nos processos de tomada de deci- sões administrativas e curriculares na escola.

No documento Maria José Camacho Gonçalves Fernandes (páginas 84-87)