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Pedagogia Universitária: a afirmação de um campo científico

CAPÍTULO I PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA

1.1 Pedagogia Universitária: a afirmação de um campo científico

Vale ressaltar que o conhecimento pedagógico chegou tardiamente no espaço universitário e que trouxe consigo uma herança de desvalorização, por ser um campo que demorou ter um reconhecimento científico; que durante décadas ficou centrado na criança; que sua atuação é realizada pelas mulheres; e, que é compreendida no senso comum como um campo instrumental, numa perspectiva de racionalidade técnica (Cunha, 2010).

É somente a partir da década de 90, no século XX, que os estudos sobre a pedagogia universitária começaram a ter volume em quantidade e qualidade. Embora o conceito de pedagogia universitária não seja consensual, pretendo fazer um levantamento dos estudos sobre o tema, por meio da referência a determinados textos publicados, analisar as contribuições já realizadas para compreender o que se tem pesquisado na atualidade.

O conceito de pedagogia universitária traz consigo uma carga histórica das palavras que fazem parte da área da educação, porém, apesar de identificar que a pedagogia não nasceu no ensino superior, é nesse contexto que será compreendida como a ciência que estuda tanto a produção, quanto a aplicação dos conhecimentos pedagógicos na educação superior, os quais, durante anos, ficaram silenciados.

O termo pedagogia universitária pressupõe, especialmente, conhecimentos no âmbito do currículo e da prática pedagógica, incluindo as formas de ensinar e de aprender que impactam na profissionalidade docente. Incide sobre as teorias e as práticas de formação de professores e dos estudantes da educação superior.

Na Enciclopédia sobre Pedagogia Universitária - organizada por Morosini (2006) e produzida pelo grupo de professores integrantes da Rede Sul-brasileira de Investigadores da Educação Superior (RIES), encontra-se o registro de Denise Leite (2006), ao descrever a Pedagogia Universitária como um campo de conhecimento da educação que transita num espaço transdisciplinar dentro da academia, o seu objeto de estudo é o ensino, a aprendizagem e a avaliação na universidade.

Em linhas gerais, a Pedagogia Universitária responde ao desafio do ensinar e do aprender em diferentes carreiras profissionais, num espaço de uma instituição contraditória como é a universidade, submetida a processos constantes de avaliação, numa perspectiva integradora entre o ensino, a pesquisa e a extensão. (Leite, 2006, p.475)

A Pedagogia Universitária é um campo de conhecimentos no âmbito do currículo e da prática pedagógica que incluem formas de ensinar e de aprender. Incide sobre as teorias e as práticas de formação de professores e dos estudantes da educação superior. Articula as dimensões do ensino e da pesquisa nos lugares e espaços de formação (Cunha, 2010).

Ao compreender que a Pedagogia Universitária se constrói no processo de ensino e aprendizagem, à luz dos currículos e das avaliações das universidades, compreendo que “a Pedagogia Universitária atravessa visões antropológicas, culturais e sociológicas em cada momento histórico, sendo construída na relação do sujeito consigo próprio, relação entre sujeitos ou entre sujeitos e saberes, sendo reinterpretada e reinventada por cada indivíduo” (Sanches, 2014, p. 22).

Sendo assim, a Pedagogia Universitária envolve um contexto institucional e considera o conjunto de processos pedagógicos vividos no âmbito acadêmico (Cunha, 2006), observa o protagonismo pedagógico desses professores na singularidade dos seus contextos, principalmente aqueles que buscam romper com as práticas tradicionais de ensino nas universidades, promovendo com isso a inovação pedagógica.

A Pedagogia Universitária é um campo preocupado com a formação do professor para o exercício pedagógico profissional, “(...) Os docentes universitários necessitam refletir sobre suas práticas instituídas, sobre os conhecimentos de sua área, as formas de sua apropriação e os valores sociais e éticos que permeiam os currículos e precisam ser trabalhados dentro e fora da sala de aula”

(Leite, 2006, p. 501). Essa Pedagogia é um espaço de conexão de conhecimentos, subjetividade e culturas, que exige um conteúdo científico e tecnológico altamente especializados e orientado para a formação de uma profissão (Lucarelli, 2002).

Apesar da necessidade de haver espaços para refletir sobre o fazer docente e da importância do processo de ensino, os estudos mostram a ausência de programas continuados de formação de professores e as constantes pressões sobre os currículos das carreiras profissionais dos docentes trazidas pelos processos avaliativos, indicadores que mostram o quanto a formação pedagógica ainda fica secundarizada nas IES (Morosini, 2006).

Outro indicador que reflete a despreocupação com a Pedagogia Universitária é o processo de seleção docente para se trabalhar nas universidades. Morosini (2006) destaca que o fator definidor até então para seleção do docente universitário era o conhecimento e a competência científica na área. Ao analisar as determinações da legislação de ensino superior, a mesma autora tece críticas em relação às definições relativas à docência universitária, pois a exigência centra-se na competência técnica, compreendida como domínio da área de conhecimento. Em relação ao plano da formação didática dos docentes universitários, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - Lei n.° 9394/96, nada menciona.

Contudo, identifico que grande parte dos estudos sobre Pedagogia Universitária trata da crise de identidade e da profissionalização do trabalho docente. Frente a essa lacuna apresentada à docência universitária, passam a ser foco das pesquisas no campo da pedagogia universitária: as competências pedagógicas, as necessidades de formação profissional e a inovações pedagógicas.

Destaco aqui como espaços consolidados que refletem os estudos da área: o Congresso Ibero- americano de Docência Universitária (CIDU), o qual é dirigido pela AIDU (Associação Ibero- americana de Didática Universitária), que mantém o Congresso bianual, o qual se encontra na sua 9.ª oferta. Além desse, há outros eventos internacionais expressivos sobre a educação superior os quais destaco: o Fórum de Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões da Língua Portuguesa (FORGES); em Portugal a Association Francophone Internationale de Recherche Scientifique en Education (AFIRSE); o Colóquio Luso-Brasileiro de Currículo; e o Consórcio de Universidades Catalanas que desenvolvem o congresso bianual CIDUI (Congresso Internacional em Docência Universitária e Inovação). Esses são encontros entre os professores e pesquisadores de países Europeus e da América Latina, os quais propõem debater, refletir e trocar experiências sobre a pedagogia universitária frente aos desafios para pensar o passado, o presente e o futuro, que permitem a geração de sinergias institucionais e pessoais que avançam na melhoria da Educação Superior.

No contexto brasileiro, temos inúmeras instituições com grupos de pesquisas que se organizam para discutir as temáticas relacionadas à Pedagogia Universitária. Segundo o censo de 2014 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), estão cadastrados 35.424 grupos de pesquisa, desses, 7.408 são da área de Ciências Humanas, sendo que 3.214 são da educação, desses 20% se dedicam a estudos relacionados com a Educação Superior.

Destaco, também, outra forma de organização de pesquisadores sobre a Educação Superior, isto é, Grupos de Trabalho (GTs), junto às Associações como ANPED Nacional, ANPEDs regionais, ANPAE, ENDIPE, ANFOPE e SBPC2, Fóruns dos Pró-reitores de Graduação das Universidades Brasileiras; outras Associações Internacionais expressivas, como as da Espanha, AIPU (Asociación Internacional de Pedagogía Universitaria) e REDU (Red Española de Docencia Universitaria), que publicam uma revista3, socializando suas produções junto à comunidade acadêmico-científica, em forma de congressos, seminários, anais e publicações de livros e revistas científicas.

Outra fonte importante que verifiquei no Brasil é o livro N.º 13 da Série Estado do Conhecimento, publicada pelo Ministério da Educação (MEC) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 2014, organizada por Iria Brzezinski, a qual revela o estado do conhecimento sobre a Formação de profissionais da educação. Esse material inclui, principalmente, o mapeamento da produção científica em Formação de Docentes no Brasil, no período de 2003 a 2010. Na análise do conteúdo de 284 teses e dissertações do Estado do Conhecimento, defendidas nos Programas de Pós-Graduação em Educação credenciados na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e na ANPED, identifiquei uma preocupação em evidenciar uma incipiência com relação à formação continuada do professor para o ensino superior, deixando latente a necessidade de se realizar pesquisas dentro dessa área.

Entre as pesquisas realizadas sobre as formas encontradas para pensar a pedagogia universitária, relacionadas à formação docente, encontram-se os estudos de António Nóvoa, Manuela Esteves, Carlinda Leite e Isabel Alarcão, os quais estudam processos de Portugal; Maurici Tardiff do Canadá, Eliza Lucarelli na Argentina e Miguel Zabalza na Espanha. Quanto a pesquisadores que estão estudando questões relacionadas com a formação docente no Brasil, temos: Marcos Masetto, Maria Isabel Cunha, Marilia Costa Morosini, Selma Garrido Pimenta e Léa das Graças Camargo Anastasiou, entre outros.

2ANPED-Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação; ANPAE-Associação Nacional de Política e Administração da Educação; ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino.ANFOPE-Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação; SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. 3 Disponível em <http://redaberta.usc.es/redu>

São nesses espaços que pesquisadores evidenciam os estudos produzidos no âmbito da docência no ensino superior, os quais têm servido de apoio para constituir e referenciar saberes profissionais para o exercício docente na universidade.

Alguns estudos se destacam, como é o caso de Elisa Lucarelli, a qual participa do Programa

Estudios sobre el aula universitaria del Instituto de Investigaciones em Ciencias de la Educación -

Argentina. O foco das discussões de Lucarelli (2002, 2004, 2006, 2012) e Lucarelli e Mallet (2010), centra-se no desenvolvimento de práticas de ensino que sejam inovadoras no nível superior. Como principal conclusão ela aponta que o docente universitário é elemento central na construção de um espaço de qualidade de ensino no nível superior. Esse é reconhecido por seu alto grau de preparação acadêmica e profissional em seu campo disciplinar, no entanto, essa formação não está acompanhada por conhecimentos específicos sobre a prática de ensino, ou quando está, representa uma reprodução das suas experiências dos modelos de professores que passaram por sua vida (Lucarelli, 2004). Para haver essa formação, a pesquisadora propõe uma inovação em relação à prática de ensino, ela pressupõe uma ruptura com um estilo didático imposto por uma epistemologia de caráter positivista, e conceitua inovação pedagógica como:

Innovación en una perspectiva didáctica fundamentada, la innovación es aquella práctica protagónica de enseñanza o de programación de la enseñanza, en la que a partir de la búsqueda de la solución de un problema relativo a las formas de operar con uno o varios componentes didácticos, se produce una ruptura en las prácticas habituales que se dan en el aula de clase, afectando el conjunto de relaciones de la situación (Lucarelli, 2006, p. 356)

Esse conceito se aproxima do entendimento de Leite (2012) quando define inovação pedagógica como: “(...) ruptura que coloca em perspectiva formas de ensinar e aprender que ultrapassam o modo reprodutivo e positivista e que compreende a busca de diferentes epistemes para ampliar a compreensão de conhecimento, ciência e mundo” (p. 224).

Para ajudar nessa tarefa de inovação pedagógica, Lucarelli levanta a figura importante do assessor pedagógico, como uma estratégia institucional para ajudar os professores a qualificar o processo de ensino e aprendizagem na universidade. “En Argentina y Uruguay, y con características particulares en otros países del Mercado Común del Sur, como Brasil, se reconoce al asesor pedagógico como sujeto de un rol que se construye y que va definiéndose en la acción como profesión de ayuda” (Lucarelli e Finkelstein, 2012, p.18).

Lucarelli (2004) propõe que o assessor pedagógico ajude a desenvolver um perfil de docente que seja mediador ativo capaz de trabalhar entre um conhecimento altamente especializado, proveniente de um campo acadêmico profissional e um sujeito em formação.

Esse perfil docente vem atender ao conceito de qualidade da pedagogia prescrito por um grupo de investigadores da Universidade do Minho:

(...) a qualidade da pedagogia é compreendida como a finalidade e o processo de transformação dos alunos em consumidores críticos e produtores criativos de saberes (saber, saber fazer, saber aprender, saber ser), ativamente implicados na aprendizagem escolar e, ao longo da vida, intervenientes críticos na melhoria da racionalidade e justiça dos contextos em que (inter)agem (Vieira et al. 2002, p.30).

Nessa perspectiva, a qualidade pedagógica está diretamente ligada ao compromisso da qualidade na formação dos estudantes que preconizam, além dos conhecimentos para uma formação profissional, também uma formação crítica, autônoma e contínua, para atuar nos processos da vida em sociedade.

Dando continuidade à discussão a qual me propus sobre Pedagogia Universitária, outro nome de pesquisador que é referência na área chama-se Miguel A. Zabalza, da Universidade de Santiago de Compostela/Espanha, o qual discute, no âmbito da Pedagogia Universitáriaa qualidade docente, o ensino na universidade, as competências pedagógicas, a importância da formação continuada e a inovaçãodo currículo. Obras que se destacam são: La ensiñanza universitaria: El escenario y sus

protagonistas (2004), Competencias docentes del professorado universitário: calidad y desarrollo profesional (2011) e suas inúmeras publicações na Revista de Docencia Universitaria (REDU), da qual é diretor.

Zabalza (2004) desenvolve suas pesquisas sustentando a teoria de que a grande inovação pedagógica está no desafio da passagem da função docente de ensinar para a função docente de fazer aprender. Essa transformação pressupõe docentes com duas grandes competências: competência científica (possuidores deconhecimentos fidedignos no âmbito do que ensinam) e competência pedagógica (como pessoas comprometidas com a formação e aprendizagem dos seus estudantes). Argumenta que a formação dos professores universitários, no sentido de qualificação científica e pedagógica, é um dos fatores básicos da qualidade na universidade.

No âmbito da qualidade da docência universitária, Zabalza (2011) esclarece que é um conjunto de condições tanto estruturais (currículo, legislação, políticas), como materiais e organizativas que afetam o desenvolvimento e a excelência da docência universitária. Nesse sentido, reconhece 10 dimensões de uma docência de qualidade: 1) Planejamento da ação educativa; 2) Organização das condições e do ambiente de trabalho; 3) Seleção de conteúdos interessantes e forma de apresentação; 4) Materiais de apoio a aprendizagem; 5) Metodologia didática; 6) Incorporação de novas tecnologias e recursos diversos; 7) Atenção pessoal aos estudantes e sistemas de apoio; 8)

Estratégias de coordenação com outros professores; 9) Sistema de avaliação utilizado; 10) Mecanismos de revisão do processo.

Essas dimensões são desdobradas por esse mesmo autor em seus estudos sobre competências pedagógicas, das quais serão abordadas neste capítulo mais à frente. As contribuições desses estudos trazem elementos importantes para planejar e organizar programas de formação universitária, como também, para avaliar a qualidade do trabalho docente.

A portuguesa Carlinda Leite (2010), da Universidade do Porto, tem debruçado também suas pesquisas sobre a pedagogia universitária, como organizadora da obra Sentidos da pedagogia no

ensino superior, reuniu vários pesquisadores que também discutem a temática, entre eles destaca-

se Maria Teresa Estrela da Universidade de Lisboa. Apresenta o conceito de Pedagogia Universitária de forma contextualizada, relacionando-o com a formação ética de professores no ensino superior. Os estudos apontam que o tema pedagogia e ética são dimensões ainda incipientes no pensamento e na prática dos professores do ensino superior, e enfatiza dizendo:

não só os princípios éticos fundamentam e orientam ação moral, como têm implicações no relacionamento com a sociedade, na definição do profissionalismo docente, na configuração identitária dos professores e também dos estudantes, enquanto futuros profissionais e cidadãos de espaços nacionais e transnacionais (Estrela, 2010, p.11).

Temas como esse, sobre a pedagogia universitária e a ética mostram-se urgente, tendo em vista que muitos professores ignoram sua existência, por acreditar ainda no mito de que “basta saber para ensinar, afirmação que gera altas taxas de insucesso escolar, associada à massificação do ensino superior e reflexo nas avaliações que evidenciam a insatisfação dos estudantes face à formação pedagógica de muitos dos seus docentes” (Leite, 2010, p.12).

Nesse sentido, a autora nos sensibiliza na compreensão que o ato pedagógico constitui uma ação intencional, relacionada a um projeto social de formação, conforme ainda afirma:

O professor transmite constantemente princípios e valores através dos conteúdos que seleciona (tolerância e abertura ao pluralismo de pontos de vista...); dos métodos que utiliza (na cooperação ou na competição...); pelo uso democrático ou arbitrário da autoridade; pela justiça da avaliação e das regras que estabelece e vinculam os valores. (Estrela, 2010, p.13)

As questões acima levantadas incidem sobre o professor enquanto formador ético-moral, no entanto, os dados da investigação obtidos pela professora Estrela revelam que nem todo professor compreende essa responsabilidade como sua competência e que é papel da universidade ofertar atividades formativas extra classe que deem conta dessa formação ética.

Há necessidade da construção de um docente que, além de desempenhar com êxito a profissão, possa contribuir na construção efetiva de cidadãos críticos, criativos, participativos e comprometidos com o desenvolvimento da sociedade. Quando se propõe a discutir a pedagogia universitária, essa dimensão sobre pedagogia e ética é fundamental que apareça nos estudos e espaços de formação de professores e estudantes.

Além dos autores já mencionados, considero inevitável falar de pedagogia universitária sem relacionar os estudos de Maria Isabel Cunha, brasileira atuante na Universidade do Vale dos Sinos e de Pelotas, no Estado do Rio Grande do Sul, a qual esta região se caracteriza pela presença marcante de uma rede de pesquisadores que têm como objeto de investigação a educação superior. Entre eles, se destacam: Marília Morosini e Denise Leite que também são mencionadas no decorrer desta tese. Sobre as temáticas que Cunha pesquisa e publica no campo da Pedagogia Universitária, destacam-se: educação superior, formação de professores, ensino superior e docência universitária, inovação pedagógica, assessoria pedagógica e internacionalização.

Maria Isabel Cunha publicou obras sobre o professor universitário na transição de paradigmas (2003); a pedagogia universitária: energias emancipatórias em tempos neoliberais (2006); reflexões práticas em pedagogia universitária (2007); as trajetórias de lugares de formação da docência universitária: da perspectiva individual ao espaço institucional (2010); o bom professor e sua prática (2011); Qualidade da Graduação: a relação entre ensino, pesquisa e extensão e o desenvolvimento profissional dos docentes (2012).

Tais livros nasceram da coordenação ou participação da autora em projetos de pesquisas realizados, como: Projeto 1 – Pedagogia Universitária: energias emancipatórias em tempos neoliberais (2006), que buscou identificar as concepções de inovação que os docentes da educação superior possuem e analisá-las a partir do referencial da ruptura paradigmática. Projeto 2 - Consolidação da RIES (2008) – o objetivo foi mapear e fomentar a educação superior como campo de produção e pesquisa no Rio Grande do Sul. Projeto 3 – Qualidade do ensino de graduação: a relação entre ensino, pesquisa e desenvolvimento profissional docente (2011), realizou uma análise intensa da relação ensino pesquisa, aprofundando o conceito de qualidade do ensino superior e de como reflexões políticas e posições epistemológicas incidem sobre os currículos e sobre as práticas de ensinar e aprender que se desenvolvem na universidade. Projeto 4 – Estratégias Institucionais para a Melhoria da Qualidade da Educação Superior e do Desenvolvimento Profissional Docente (2013) – foram investigadas estratégias institucionais para a melhoria da qualidade da educação superior e o desenvolvimento profissional docente, num processo histórico, que remonta há mais de vinte anos.

O contributo da pesquisadora Maria Isabel Cunha (2010) sobre a compreensão da Pedagógica Universitária está em analisar a docência universitária como uma ação complexa, defende a teoria da necessidade de fortalecer a capacidade de reflexão do professor, enquanto um profissional intelectual, capaz de trabalhar com os argumentos de racionalidade, próprios de quem tem consciência de justificar suas escolhas, projetos e ações.

A autora reconhece a condição do trabalho docente no atual contexto político e social que tende a alienar o professor na estrutura das políticas educacionais e argumenta sobre a importância dos professores alcançarem a autonomia intelectual da sua prática docente, deixando-os a condição de meros reprodutores operacionais. Propõe como estratégia a formação continuada consistente, que dê ao professor argumentos epistemológicos e políticos para compreender a complexidade da sua profissão e exercer com autonomia sua prática pedagógica docente (Cunha, 2006).

Nesta breve discussão sobre o conceito de pedagogia universitária, os espaços e estudiosos que a investigam, percebe-se que há um esforço para despertar sobre a importância de se discutir a pedagogia como um campo científico em que o professor necessita mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes para alcançar sua dimensão política, social e pedagógica, rumo à construção da sua profissionalidade docente. Partindo desse pressuposto, tal pesquisa pretende somar a estes estudos, rumo ao entendimento de como se ensina e aprende no ensino superior.