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3. A ESTREITA COOPERAÇÃO DENTRO DA REDE EUROPEIA DE

3.2 O Programa de Imunidade em Matéria de Coimas ou de Redução do seu Montante

3.2.1 Pedidos Múltiplos de Imunidade em Matéria de Coimas ou de Redução do

Não cabe aqui o tratamento detalhado de todos os termos e procedimentos do actual Sistema de Concessão de Imunidade em Matéria de Coimas ou de Redução do seu Montante vigente na União e seguido como modelo pelos Estados-Membros. No entanto, um dos mecanismos constituintes do Sistema merece destaque por sua realização ser directamente dependente da interacção entre os Membros dentro da REC. As Summary Applications, instituto central do Programa de Clemência instituído pelo ECN Model Leniency Programme à disposição das companhias suspeitas de atentarem contra a concorrência em casos nos quais a Comissão é tida como "particularmente bem posicionada" nos termos do parágrafo 14 da Comunicação sobre a Cooperação na REC.247

Nessa hipótese, as companhias que já submeteram ou estão em processo de submissão à Comissão de um pedido de imunidade ou redução de coimas podem simultaneamente 245 Commission Staff Working Paper Accompanying the Communication from the Commission to the European

Parliament and Council, Report on the functioning of Regulation 1/2003, cit. 20, p 68.

246 EUROPEAN COMMISSION – Competition: the European Compeititon Network launches a Model Leniency

Programme – frequently asked questions, MEMO/06/356, de 29 de Setembro de 2006 [Em linha]. [Consult. 11

Maio 2010]. Disponível em WWW: <URL: http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=MEMO/06/356&format=HTML&aged=0&language=

EN&guiLanguage=fr>.

apresentar Summary Applications (Pedidos Múltiplos de Imunidade em Matéria de Coimas ou de Redução do seu Montante) a qualquer autoridade nacional da concorrência que julgar poder ser bem posicionada para agir, conforme dispõe também a Comunicação da REC. Isto porque, ao fornecer informações essenciais à constatação da prática concertada à Comissão, as companhias interessadas no benefício da Clemência acabam por indiretamente também disponibilizá-las a todas as outras autoridades responsáveis em matéria de concorrência. Ocorre que por meio do sistema de troca de informações da Rede, baseado no artigo 12.° do Regulamento n.° 1/2003, as informações fornecidas pelas companhias podem desencadear o processamento do caso por qualquer outra autoridade, isto é, na intenção de gozar de Clemência perante um Estado-Membro ou perante a Comissão, as organizações ficam suscetíveis de sofrer processamento por outros membros da REC.

Retomando ao equilíbrio entre um sistema de competências paralelas entre as autoridades nacionais da concorrência e um sistema vertical de competências entre a Comissão e as autoridades dos Estados-Membros, para a aplicação conjunta entre os agentes responsáveis pelo atendimento aos artigos 101.° e 102.° do Tratado. Consequência lógica dessa responsabilidade conjunta é a possibilidade de execução paralela de mais de um Programa Nacional de Clemência (ou do Programa Comunitário juntamente com os nacionais). As Summary Applications são o recurso à disposição das empresas envolvidas em articulações anti-competitivas transfronteiriças (em dois ou mais Estados-Membros) para que possam beneficiar-se do Programa Comunitário de Clemência e dos demais Programas vigentes na União na hipótese de uma autoridade nacional eventualmente decidir também processar o caso.

O ECN Model Leniency Programme determina que informações serão sujeitas às autoridades nacionais, esclarecendo que as aplicações podem ser escrita ou oralmente submetidas. De acordo com o Programa Modelo, mediante solicitação do requerente de Clemência, a autoridade nacional responsável em matéria de concorrência pode proceder a Pedidos Orais de Clemência. Nesses casos, as declarações são gravadas da maneira que a autoridade julgar apropriada, não sendo excluída a obrigação do requerente de fornecer indícios documentais da existência da prática concertada. O acesso às gravações só pode ser disponibilizado após a comunicação de acusações à partes.248 Em Outubro de 2009, além da

248 Idem, p. 7. A comunicação de acusações aqui referida consiste na notificação pela Comissão às partes nos

termos do n.° 1 do artigo 27.° do Regulamento n.° 1/2003: “Antes de tomar as decisões previstas nos artigos 7.°, 8.° e 23.° e no n.° 2 do artigo 24.°, a Comissão dá às empresas ou associaçoões de empresas sujeitas ao processo instruído pela Comissão oportunidade de se pronunciarem sobre as acusações por ela formuladas. A Comissão deve basear as suas decisões apenas em acusações sobre as quais as partes tenham tido oportunidade de

Comissão Europeia, dezoito Estados-Membros já haviam integrado o Pedido de Clemência integralmente oral aos seus regimes, e dezassete Estados-Membros (excluída a Comissão) já haviam aderido à possibilidade de submissão de Summary Applications na forma oral.249

No entanto, o Programa Modelo da REC não é um documento jurídico vinculativo. Implica dizer que as autoridades nacionais da concorrência não irão conceder ou negar imunidade ou redução de coima com base em Summary Applications. Em razão da autonomia e divergências processuais e em termos de aplicação de sanções dos regimes de concorrência nos Estados-Membros, as aplicações (Summary Aplications) somente garantem o compromisso das autoridades da concorrência em utilizarem a ordem de chegada das aplicações previstas pelo Programa Modelo, caso decidam instaurar processo de imposição de sanção em matéria de concorrência contra as empresas autoras interessadas em Clemência.250

O poder uniformizador da Rede Europeia da Concorrência pode também ser nesse âmbito demonstrado. Em Abril de 2010, os Regimes de Clemência de 24 Estados-Membros já previam as aplicações por imunidade ou redução de coimas nos casos Tipo 1A (todos os membros da União com excepção de Chipre, Estónia e Malta),251 sendo que, em Outubro de apresentar as suas observações. Os autores das denúncias são estreitamente associados ao processo".

249 Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Finlândia, França, Hungria, Irlanda,

Itália, Letónia, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido, Roménia e Suécia já haviam, a esse tempo, integrado o Pedido de Clemência integralmente oral aos seus regimes. Quanto à adesão à possibilidade de submissão de Summary Applications na forma oral, refere-se a todos os Membros apenas citados, com excepção de Países Baixos; Report on Assessment of the State of Convergence, and Annex 1: list of applicable leniency programmes, cit. 224, p. 18.

250 Ver Competition: the European Compeititon Network launches a Model Leniency Programme – frequently

asked questions, MEMO/06/356, de 29 de Setembro de 2006 [Em linha], cit. 246. A companhia integrante de um cartel que em primeiro lugar denunciou a infracção por meio de uma Pedido de Clemência a Comissão, utilizando-se de Summary Applications, também será primeira na ordem de chegadas dos Pedidos de Clemência aos Estados-Membros, e assim, sucessivamente. Para as demais companhias cooperadoras, a concessão de imunidade ou de redução de coimas respeitam uma ordem de denúncia estabelecida pelo âmbito comunitário, mas aplicável como princípio para concessão dos benefícios nos Estados-Membros: “II. IMUNIDADE EM MATÉRIA DE COIMAS. A. Requisitos para poder beneficiar de imunidade em matéria de coimas. (8) A Comissão concederá imunidade relativamente a qualquer coima que de outra forma seria aplicada à empresa que revele a sua participação num alegado cartel que afecte a Comunidade, desde que essa empresa seja a primeira a fornecer informações e elementos de prova que, na opinião da Comissão, lhe permitam: (a) efectuar uma inspecção direccionada visando o alegado cartel (1); ou determinar a existência de uma infracção ao artigo 81.°

CE, relativamente ao alegado cartel. III. REDUÇÃO DO MONTANTE DA COIMA. A. Requisitos para poder beneficiar de uma redução do montante da coima. (23) As empresas que revelem a sua participação num alegado cartel que afecte a Comunidade, mas que não preenchem as condições previstas na Secção II supra podem ser elegíveis para uma redução da coima que de outra forma lhes seria aplicada. (24) Por forma a poder beneficiar desta redução, a empresa deve fornecer à Comissão elementos de prova da alegada infracção, que apresentem um valor acrescentado significativo relativamente aos elementos de prova já na posse da Comissão e preencher as condições cumulativas estabelecidas nas alíneas a) a c) do ponto 12”; Comunicação da Comissão Relativa à Imunidade em matéria de coimas e à redução do seu montante nos processos relativos a cartéis, cit. 218.

251 “16. The ECN Model Programme contains two different evidential thresholds for granting immunity:

– one for the first undertaking that provides the CA with sufficient evidence to enable it to carry out targeted inspections in connection with an alleged cartel (Type 1A); and – one for the first undertaking that submits evidence which in the CA’s view may enable the finding of an infringement of Article 81 EC in connection with

2009, somaram 20 os Programas nacionais que prevêem Summary Applications em condições equivalentes às previstas no ECN Model Leniency Programme (Alemanha, Bélgica, Bulgária, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, França, Hungria, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Países Baixos, Polónia, Portugal, República Checa, Reino Unido, Roménia e Suécia).252

3.2.2) Troca e uso de informações colectadas através dos Pedidos de Imunidade em