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3.2 A Previdência Social dos indígenas

3.2.2 Os benefícios previdenciários destinados aos indígenas

3.2.2.4 Pensão por morte e auxílio-reclusão

A pensão por morte é um benefício devido aos dependentes do segurado. Os artigos 74 a 79 da Lei 8213/91 apontam algumas regras necessárias para a concessão. Inicialmente, quanto à pensão, deve-se comprovar o óbito, seja através da certidão de óbito, mediante sentença declaratória de ausência, expedida por autoridade judiciária, a contar da data de sua emissão; ou em caso de desaparecimento do segurado por motivo de catástrofe, acidente ou desastre, a contar da data da ocorrência, mediante prova hábil.

Caso o requerimento ocorra em até 90 dias, o benefício será concedido desde o óbito, conforme recente alteração apresentada pela Lei 13183/2015. Após esse prazo, o benefício será concedido do requerimento ou da decisão judicial, no caso de morte presumida. Ademais, há a necessidade de se demonstrar que o falecido era segurado da Previdência Social ou que estava no período de graça, conforme artigo 15 da Lei 8213/91.

Posteriormente, torna-se necessário comprovar a qualidade de dependente. No caso dos filhos, a certidão de nascimento é prova suficiente, bem como a certidão de casamento, no caso da esposa. Muitos problemas ocorrem quando existe apenas uma união estável, eis que o INSS exige pelo menos três provas para a concessão.

No caso do segurado especial indígena, o simples fato de exercer sua atividade laborativa já geraria a pensão por morte aos dependentes, caso viesse a ocorrer uma fatalidade. Não existe carência, o que autorizaria a concessão do benefício mesmo diante da comprovação de poucos meses da atividade rural. Entretanto, a Medida Provisória 664/2014, convertida na Lei 13135/2015 apresentou diversas exigências.

O artigo 74 da Lei 8213/91 esclarece que a pensão por morte será devida ao conjunto de dependentes do segurado que falecer. Houve o acréscimo do §1º, em que o condenado pela prática de crime doloso de que tenha resultado morte do segurado não terá direito à pensão por morte. Trata-se de uma medida coerente, talvez a que mais se adequou ao modelo de Previdência Social, pois pune o agressor por ato praticado. O §2º destaca que perde o direito à pensão por morte o cônjuge, o companheiro ou a companheira se comprovada, a qualquer tempo, simulação ou fraude no casamento ou na união estável, ou a formalização desses com o fim exclusivo de constituir benefício previdenciário, apuradas em processo judicial no qual será assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa.

O artigo 76, §2º, da Lei 8213/91, apresenta as hipóteses de cessação do benefício. Deve-se destacar o inciso V, que estabelece a concessão ao cônjuge ou companheiro durante 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o segurado tenha vertido 18 (dezoito)

contribuições mensais ou se o casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em menos de 2 (dois) anos antes do óbito do segurado. Assim, o cônjuge, a companheira ou companheiro deverão comprovar essa relação, o que vai de encontro ao propósito do benefício, que é o amparar os dependentes diante de um risco social. Ademais, na prática, o INSS exige pelo menos três provas para a comprovação da união estável, a qual, sendo recente, dificilmente terá todos os elementos para a comprovação. Após o transcurso de mais de 18 meses de contribuição ou o casamento tiver ocorrido há mais de dois anos, a pensão por morte passa a seguir uma tabela, variando o tempo do benefício de três anos até se tornar vitalícia, quando o cônjuge ou companheira tiver mais de 44 anos de idade.

Existe uma exceção à regra do tempo mínimo de contribuição e de casamento, que se refere ao caso de o óbito do segurado decorrer de acidente de qualquer natureza ou de doença profissional ou do trabalho, independentemente do recolhimento de 18 (dezoito) contribuições mensais ou da comprovação de 2 (dois) anos de casamento ou de união estável. Vale lembrar que não se exige carência para a concessão do benefício e essa regra aplica-se apenas ao cônjuge, companheira e companheiro, não sendo exigível aos demais dependentes.

A regra do tempo mínimo de contribuição e de casamento é uma situação muito complicada, pois muitos segurados jovens, principalmente aqueles que já possuem uma família constituída, ou seja, com esposa e filhos, poderão falecer e, por conseguinte, deixarão os dependentes desamparados, geralmente em um momento da vida em que mais precisam de auxílio financeiro.

Vale ressaltar que a Constituição Federal de 1988, no artigo 201, inciso I, determina que a previdência social atenderá a cobertura do evento “morte”, sendo, portanto, uma contingência social que decorre da imprevisibilidade, motivo pelo qual é muito arriscado fixar um período de carência diante da possibilidade do acontecimento de um infortúnio tão grave.

Tentou-se implantar, através da MP 664/2014 uma regra que representava um claro retrocesso social, pois o valor mensal passaria a ser de 50% do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento, acrescido de tantas cotas individuais de 10% do valor da mesma aposentadoria, quantos forem os dependentes do segurado, até o máximo de cinco.

Tratava-se de regra que existia no artigo 37 da Lei nº 3807/1960 (LOPS). Após a edição da Lei 8213/91, a renda passou a ser de 80% do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu

falecimento, acrescido de tantas cotas individuais de 10%, e podia chegar até o máximo de duas. A partir da Lei 9032/95, a renda mensal passou a ser de 100% do salário de benefício.

Diante disso, percebe-se que o Executivo queria resgatar uma regra que vigia em 1960, prejudicando, portanto, os dependentes. Haveria uma grande violação ao princípio da vedação ao retrocesso, mas o Legislativo não aceitou as mudanças e manteve a regra de 100%.

Dessa forma, fazendo-se uma interpretação das regras acima, percebe-se que também são aplicadas ao segurado especial indígena, mas com as devidas adaptações. Caberá, ao cônjuge ou companheiro a comprovação de mais de 18 meses de atividade rural do segurado, para que ocorra o enquadramento na tabela do artigo 77, inciso V, alínea “c,” além, de mais de dois anos de relacionamento. Caso contrário, o benefício será pago por apenas quatro meses.

O auxílio-reclusão, por sua vez, encontra-se previsto no artigo 80 da Lei 8213/91 e é devido nas mesmas condições da pensão por morte, ou seja, somente os dependentes que podem requerer. A prisão deverá ser no regime fechado ou semiaberto e o segurado de baixa renda. Apesar disso, é possível a concessão do auxílio-reclusão que esteja preso de forma provisória.

Os dependentes deverão comprovar, então, a condição de preso, a qualidade de segurado do preso e a condição de dependente. Assim, deverão demonstrar que o preso era segurado da Previdência Social, ou seja, que contribuía ou estava no período de graça, bem como apresentar uma certidão carcerária a cada três meses, além de documentos que comprovem que são dependentes, conforme o artigo 16 da Lei 8213/91. Outrossim, caberá aos dependentes demonstrarem que o preso era segurado de baixa renda, ou seja, o último salário-de-contribuição correspondia a R$1.212,64 ou menos.

Os dependentes dos segurados especiais indígenas possuem direito a esse benefício, principalmente porque alguns índios são presos por problemas de disputas de terras. Assim, deverão procurar o INSS e demonstrar o preenchimento das condições exigidas. O problema é que muitas vezes os dependentes não sabem que possuem o direito ao benefício, cabendo ao Estado incentivar políticas públicas de fortalecimento da assistência jurídica gratuita, através da Defensoria Pública, a qual poderá ajudar no acesso à justiça.

Quanto ao critério da renda, trata-se de regra objetiva que pode acarretar algumas injustiças, pois se a renda do segurado ultrapassar o limite acima disposto os dependentes não terão direito ao benefício. Apesar disso, o STJ já flexibilizou o limite de baixa renda, conforme pode se vê no julgado do Recurso Especial 1479564, de 06 de novembro de 2014.

Não se pode esquecer de que as regras apresentadas pela Lei 13.135/2015, as quais tratam da pensão por morte aplicam-se também ao auxílio-reclusão. Assim, o cônjuge, companheiro ou companheira receberão o benefício por apenas quatro meses, caso o segurado tenha recolhido menos de dezoito contribuições ou tenha menos de dois anos de casamento ou união estável, bem como poderá submeter-se à tabela de concessão do benefício entre 3 anos e de prazo indefinido, a depender da idade do cônjuge ou companheira, caso o recolhimento tenha sido superior a 18 contribuições.

A garantia dos direitos do segurados especiais indígenas também está condicionada a um maior incentivo de políticas públicas de divulgação do conhecimento. Não se pode esquecer de que os índios brasileiros possuem etnias diversas, cada uma com suas peculiaridades, seja na forma de plantar, caçar, ou trabalhar de um modo geral, mas a grande maioria faz parte da Previdência Social, na condição de segurado especial, contudo esse contingente não tem o devido conhecimento sobre os direitos, o que acarreta uma constante omissão estatal na prestação de serviços e concessão dos benefícios.

Ademais, conforme lembrado por Villares116, apesar de o benefício previdenciário ser individual, é aproveitado na maioria das vezes como um provento a ser distribuído coletivamente ou mesmo no núcleo de cada família. Ocorre uma distribuição de renda na comunidade, diminuindo a pobreza e a insegurança. Trata-se de uma medida de justiça social, pois os índios devem ser compensados pelas perdas ocorridas durante os últimos anos, seja de territórios, tradições, culturas e até da própria dignidade, já que em muitas ocasiões são tratados com desprezo pela população e não recebem o tratamento ideal do Estado, mesmo existindo normas internas e internacionais garantidoras de direitos.