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3.2 A Previdência Social dos indígenas

3.2.2 Os benefícios previdenciários destinados aos indígenas

3.2.2.3 Salário-maternidade e salário-família

O salário-maternidade é o benefício devido à segurada da Previdência Social, durante 120 dias, sendo o fato gerador do benefício o nascimento da criança, a adoção e o aborto não criminoso. Está previsto nos artigos 71 a 73 da Lei 8213/91. Somente é exigida carência de 10 contribuições mensais para as seguintes seguradas: contribuinte individual, segurada especial e facultativa. Dessa forma, a segurada empregada, a empregada doméstica e a avulsa não precisam demonstrar a carência.

No caso da segurada empregada o próprio empregador adianta o pagamento, havendo uma posterior compensação com o INSS, aplicando-se o teto dos Ministros do Supremo Tribunal Federal como o limite para essa compensação.

A Lei 12873/2013 provocou algumas alterações no benefício, pois é possível que o segurado também tenha direito ao salário-maternidade no caso de adoção, conforme artigo 71-A da Lei 8213/91, devendo o pagamento ser feito pela própria Previdência Social. Cabe destacar que o salário-maternidade no caso de adoção ou na guarda judicial para fins de adoção o benefício é devido por 120 dias, desde que a criança tenha até doze anos incompletos. Existia regra anterior que limitava o pagamento do benefício para as crianças de até oito anos, bem como o tempo de gozo do benefício era diferenciado.

Outra novidade relativa ao benefício é o artigo 71-B da Lei 8213/91, o qual permite o pagamento do benefício ao cônjuge ou companheiro sobrevivente que tenha qualidade de segurado, em caso de morte da segurada ou segurado que faça jus ao recebimento do benefício. Trata-se de regra que surgiu após algumas decisões judiciais autorizando o pagamento do benefício ao cônjuge sobrevivente, o qual necessitava desse amparo para cuidar da criança nos seus primeiros dias de vida.

Não se pode esquecer de que o salário-maternidade, benefício previdenciário, é diferente da licença-maternidade, a qual é um instituto trabalhista e tem a natureza de autorizar o afastamento do empregado do trabalho.

O salário-maternidade é um benefício bastante procurado pelas seguradas especiais indígenas, já que o índice de natalidade nas comunidades é bastante elevado, conforme pode ser visto no Censo demográfico de 2010 do IBGE. Dessa forma, a segurada deverá comprovar o nascimento da criança, ou o aborto não criminoso, considerado o evento ocorrido antes da 23ª semana, além da adoção, situação mais rara nas aldeias. Outro requisito é a comprovação da carência de 10 meses de atividade rural antes do parto, documento este que deve ser emitido pela FUNAI, a qual deverá atestar o pleno exercício da atividade campesina. Haverá o recebimento durante 120 dias, o que oportunizará uma maior interação da mãe com o bebê nos primeiros meses de vida deste.

Vale ressaltar que a Previdência Social autoriza a filiação à Previdência Social tão somente a partir dos 16 anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos de idade. Entretanto, é comum que jovens indígenas comecem a trabalhar cedo, bem como terem filhos no início da adolescência. Apesar da limitação etária, já existem julgados que permitem a concessão do benefício mesmo antes de 16 anos de idade114.

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BRASIL. Tribunal Regional Federal, 1. Previdenciário e processual civil. Ação civil pública. Salário- maternidade. Previdenciário. Atividade rural como indígena. Qualidade de segurada especial. Benefício devido a partir dos 14 anos de idade. Cabimento. Apelação Cível 54217620054013800. Relator: Desembargador Federal Kassio Nunes Marques, Primeira Turma. Data de Publicação: 10/12/2012.

A proteção à maternidade deve ser trabalhada nas aldeias indígenas como uma política pública de saúde, bem como para o reconhecimento desse direito previdenciário, o qual poderá garantir uma melhor qualidade de vida para a criança e sua mãe.

O salário-família é devido ao segurado empregado e ao avulso de baixa renda, desde que tenham filhos menores de 14 anos de idade ou inválidos, segundo dispõe o artigo 65 da Lei 8213/91. Entretanto, após a edição da Lei Complementar 150/2015, o empregado doméstico passou a ter direito ao salário-família, regulamentando, portanto, a Emenda Constitucional 72/2013. Ocorre que o parágrafo primeiro do referido dispositivo autoriza a concessão do benefício ao aposentado por invalidez ou por idade e os demais aposentados com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais de idade, se do sexo masculino, ou 60 (sessenta) anos ou mais, se do feminino, terão direito ao salário-família, pago juntamente com a aposentadoria. Dessa forma, nessa condição, os indígenas podem receber o benefício, conforme interpretação que existe do artigo 82, inciso III, do Decreto 3048/99.

Trata-se de um benefício pouco procurado pelos indígenas, seja por falta de conhecimento ou devido a interpretação restritiva que existe na Lei 8213/91. Amado115 entende dessa forma, pois defende que apenas os aposentados na condição de empregados, domésticos e trabalhadores avulsos podem receber o salário-família. Cuida-se de interpretação que fere o princípio da isonomia. Ademais, conforme destacado, o próprio Decreto 3048/99 permite o pagamento aos trabalhadores rurais. O valor do benefício não é muito atraente, pois, de acordo com a Portaria Interministerial MTPS/MF nº 01, de 8 janeiro de 2016, valor do salário-família será de R$ 41,37, por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, para quem ganhar até R$ 806,80. Já para o trabalhador que receber de R$ 806,80 até R$1.212,64, o valor do salário-família por filho de até 14 anos de idade ou inválido de qualquer idade será de R$ 29,16. Como a aposentadoria do segurado especial corresponde a um salário mínimo, a cota corresponderá a R$41,37, por filho de até 14 anos de idade ou inválido. Uma maior divulgação do benefício poderia ajudar bastante a complementar a renda dos aposentados.

Ademais, é um benefício que independe de carência, sendo a responsabilidade de pagamento do INSS, no caso do aposentado segurado especial. Outrossim, para o recebimento do salário-família é necessária a apresentação anual do atestado de vacinação obrigatória, no caso de crianças de até 06 anos de idade, e de comprovação semestral de frequência à escola do filho ou equiparado, a partir dos 07 anos de idade.

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