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O sistema de saúde aplicável aos indígenas após a Constituição Federal de

3.3 O sistema de saúde direcionado aos indígenas

3.3.1 O sistema de saúde aplicável aos indígenas após a Constituição Federal de

Considerando que o sistema de saúde público brasileiro é destinado a todos, inclusive os estrangeiros, percebe-se que os indígenas brasileiros têm acesso integral e gratuito, devendo ser atendidos sem preconceito, mesmo diante das diferenças culturais. Entretanto, em muitas ocasiões, o difícil acesso à rede de saúde fez com que se pensasse em sistema diferenciado para a população indígena. Vale ressaltar que esse tratamento destinado às minorias étnicas pelo poder público representa um direito e não um ato de caridade.

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PIOLA, Sérgio Francisco. Financiamento público da Saúde: algumas questões. In: Sandra Mara Campos Alves, Maria Célia Delduque, Nicolao Dino Neto (Orgs). Direito Sanitário em perspectiva. v.2. Brasília: ESMPU:FIOCRUZ, 2013, p.95.

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WEICHERT, Marlon Alberto. Direito à Saúde, Sistema Único de Saúde e a integralidade da assistência. In: Lenir Santos. Direito da Saúde no Brasil. Campinas/SP: Saberes Editora, 2010, p.127.

Aith122 esclarece que a saúde é determinada por um conjunto de fatores concretos que orientam a vida do indivíduo. Dessa forma, influem na saúde, portanto, fatores individuais, como as condições físicas e mentais; fatores sociais, como o ambiente urbano insalubre ou a ausência de serviços básicos; fatores econômicos, como a recessão e o desemprego; fatores políticos, como a discriminação e as guerras civis. No caso dos indígenas, vários fatores citados pelo autor estão presentes nas comunidades, já que em muitos locais não existe saneamento básico, a alimentação dos índios não segue os padrões ideias para o desenvolvimento humano, além da proliferação mais fácil de doenças, haja vista as poucas políticas de vacinação nas aldeias.

O propósito de levar a assistência à saúde a todos os lugares do Brasil e a todos os grupos populacionais, coloca o SUS como uma política de proteção social comprometida com a redução das desigualdades sociais, com esteio em um sistema de cobertura universal, priorizando a Atenção Primária à Saúde. Quando a Lei 8080/90 foi editada, não se havia programado um sistema diferenciado aos indígenas, pois as ações de saúde estavam a cargo da FUNAI. Ademais, a própria Constituição Federal de 1988 não estabeleceu diretamente um sistema diferenciado aos indígenas, contudo, através de várias interpretações, pode-se concluir que há alguns dispositivos que protegem os índios.

Entretanto, com a criação da Lei 9836/99, conhecida como Lei Arouca, as autoridades sanitárias passaram a se dedicar ao tema. Com isso, a Lei 8080/90 foi alterada e criado o capítulo V, o qual disciplina o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. O artigo 19- C destaca que o financiamento desse subsistema é de responsabilidade da União, bem como a prioridade de execução, já que as tensões e disputas entre índios e não índios eclodem de forma aberta e cotidiana nos territórios municipais, segundo explica Garnelo123.

Complementando as normas dispostas na Lei 9836/99, foi editado o Decreto 3156/99, o qual apresenta várias diretrizes destinadas à promoção, proteção e recuperação da saúde do índio, como a redução da mortalidade, em especial a materna e a infantil, a interrupção do ciclo de doenças transmissíveis, o controle da desnutrição, da cárie dental e da doença periodental, a assistência médica e odontológica integral, prestada por instituições públicas em parceria com organizações indígenas e outras da sociedade civil, a garantia aos índios e às comunidades indígenas de acesso às ações de nível primário, secundário e terciário

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AITH, Fernando. Saúde Indígena no Brasil: Atual quadro jurídico-administrativo do Estado Brasileiro e desafios para a garantia do direito à saúde da população indígena. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, v.9, n.3, p.115-132, nov.2008/Fev.2009, p.121.

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GARNELO, Luiza. Política de Saúde Indígena no Brasil: notas sobre as tendências atuais do processo de implantação do subsistema de atenção à saúde. In: Luiza Garnelo; Ana Lúcia Pontes (Org). Saúde Indígena: uma introdução ao tema. Brasília: Mec-Secadi, 2012, p.24.

do Sistema Único de Saúde – SUS, entre outras. Vale ressaltar que o caput do artigo 2º do Decreto 3156/99 reconheceu o valor e a complementaridade da medicina tradicional indígena.

Dessa forma, após a promulgação da Lei 9836/99, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), órgão do Ministério da Saúde, passou a coordenar e executar as ações de saúde indígena. Entretanto, devido ao quadro reduzido de servidores públicos, houve uma subcontratação de municípios e organizações não governamentais para realizar ações em aldeias onde o órgão não possuísse rede própria. A coordenação passou a ser feita pelo Departamento de Saúde Indígena (DESAI). Posteriormente, foi publicada a Portaria do Ministério da Saúde, nº 254/2002, a qual trata da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. No referido documento são traçadas várias diretrizes, além das responsabilidades institucionais.

Considerando a atuação de diversos agentes e o surgimento de problemas de gestão, como um forte atrelamento da instituição a interesses partidários, além da dificuldade de organização dos valores destinados aos programas indígenas, já que houve uma terceirização muito grande de assistência à saúde da população indígena aldeada, através de convênios, optou-se por modificar o sistema de gestão, o que foi formalizado por meio do Decreto nº 7336/2010, o qual firmou a decisão do governo de repassar a gestão do subsistema de saúde indígena para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), que ficou responsável pelas atribuições outrora exercidas pela FUNASA. Tratou-se de uma mudança que foi bastante comemorada pelos povos indígenas, pois gerou expectativa de mudanças substanciais no sistema.

A Secretaria Especial de Saúde Indígena124 faz parte do Ministério da Saúde, sendo responsável por coordenar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e todo o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS). Tem como atribuições, por exemplo, ações de atenção integral à saúde indígena e educação em saúde, em consonância com as políticas e os programas do SUS e observando as práticas de saúde tradicionais indígenas. Ademais, a secretaria é composta de três departamentos, quais sejam: Departamento de Gestão da Saúde Indígena (DGESI), Departamento de Atenção à Saúde Indígena (DASI), Departamento de Saneamento e Edificações de Saúde (DSESI); 34 DSEIs (Distritos Sanitários Especiais Indígenas), os Polos Base, Casas de Saúde Indígena (Casais) e postos de saúde.

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BRASIL. Ministério da Saúde. Conheça a Secretária (SESAI). Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/conheca-a-secretaria-sesai>. Acesso em 07.03.2015.

Verifica-se, então, que existe uma estrutura toda coordenada para atenção à saúde dos indígenas, cabendo ao Poder Público apresentar prioridades para a efetivação desse direito fundamental.

3.3.2 Breves considerações sobre a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos