• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 – ANTECEDENTES HISTÓRICOS

1.3 São José do Rio Preto: antecedentes históricos

1.3.2 Período do Governo Militar: política e planejamento

A década de 1960 inicia-se de forma bastante atribulada politicamente: o presidente Jânio Quadros, após poucos meses na Presidência da República, renuncia, e seu vice, João Goulart, assume em meio a um impasse com os militares, que eram contrários à sua posse em decorrência do receio dos rumos que o seu governo poderia tomar por conta de seu posicionamento político “esquerdista”.

O intervencionismo militar foi alimentado pela ação das correntes contrárias ao regime populista, notadamente a União Democrática Nacional — UDN, que tendiam a recorrer à intervenção militar como forma de corrigir o que consideravam como desvios do meio político e dos resultados eleitorais (DREIFUSS; DULCI, 1984, p.137).

Inicialmente, a medida tomada foi estabelecer o regime parlamentarista por dois anos. Em 1963, após a realização de um plebiscito, houve o restabelecimento do sistema presidencialista. Entretanto, o governo de João Goulart se dá sob intensos conflitos políticos, tensões sociais e grande avanço das mobilizações populares45, e em março de 1964, ocorre o golpe militar.

A partir de então, fixou-se a necessidade do desenvolvimento programático, e a sua ênfase correspondia a uma visão globalizante da sociedade e dos seus problemas, que orientava o esforço por adotar o planejamento estratégico,

43 Lei Municipal nº 1.143, de 20 de novembro de 1965. 44 Lei Municipal nº 1.411, de 20 de junho de 1969.

45 O fortalecimento do Movimento das Ligas Camponesas, apoiado por operários, estudantes e intelectuais, e a mobilização da União dos Estudantes – UNE e de alguns setores dentro da Igreja Católica, e outros, além do impacto provocado pela proposta das Reformas de Base e pela aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural.

55

próprio da instituição militar, como padrão da atividade do Estado. Um “elemento importante dessa visão globalizante era seu tom fortemente antipolítico, antagônico de fato ao que caracteriza a política: a existência de interesses particulares em conflito a serem conciliados no âmbito do Estado” (DREIFUSS; DULCI, 1984, p.138). No poder municipal, toma posse Philadelpho Gouvea Netto (Coligação PDC–UDN–PRP). Os representantes do Legislativo Municipal apoiavam, em sua maioria46, o golpe militar. No Governo Estadual, Ademar de Barros repremia as

greves e combatia fortemente as invasões de terra ocorridas na região, e dessa forma, conquistava o apoio explícito das elites locais. Em 1961, a ACIA lança um documento em que solicitava apoio das entidades de classe47 para a organização de

um movimento contra as atividades das Ligas Camponesas, pois as consideravam atividades subversivas e que partiam de desordeiros e agitadores (TEODOZIO, 2008).

O vice-presidente48 da ACIA já vinha “alertando” os rio-pretenses sobre a

importância da defesa da “liberdade da nossa livre iniciativa, o cuidado com nossa família e o sentido vigilante junto ao governo”. Em 1963, após uma reunião do Conselho de Associações Filiadas em São Paulo, volta a Rio Preto para declarar o posicionamento adotado pelo conselho, que diante da “situação crítica” em que se encontrava a política nacional, que seria necessário:

tomar uma posição, já que na esfera federal o problema é alarmante, onde o governo se encontra cercado por elementos declaradamente comunistas, o que nos obriga a tomar uma posição aberta, dando apoio condicional a qualquer iniciativa de cunho patriótico (ARANTES; PARISE, 2000, p. 295).

46 Entre aqueles que eram favoráveis à legalidade estavam os vereadores Benedito Rodrigues Lisboa (cassado em 1964) e Gumercindo Sanches Filho.

47 Sociedade dos Engenheiros, Associação Rural, OAB, Sindicato do Comércio Varejista, Sociedade Amigos de Rio Preto, Associação Profissional dos Contabilistas, Associação Odontológica, Rotary Club, Círculo Operário Rio Pretano, ALARME, Associação de Funcionários Públicos Municipais, entre outras. 48 Empresário Waldemar Verdi.

56

E lança o “Movimento Cívico Eleitoral da ACIA”49 para selecionar

“candidatos afinados com a política e o pensamento das classes conservadoras”, que receberiam o apoio eleitoral da instituição, desde que assinassem uma carta50 de

princípios, atendendo aos ideais políticos considerados merecedores de confiança e seguissem uma linha de conduta que representasse “condignamente as classes produtoras”, e também, que negasse “apoio a qualquer iniciativa ou movimento que não seja baseado fielmente nos princípios democráticos e cristãos” (ARANTES; PARISE, 2000, p. 304-306).

Loft João Bassitt (1964-69), apoiado pela ACIA, ganha as eleições e em seu discurso ressalta o combate à ação de sindicatos e organizações subversivas, e qualquer manifestação de esquerda “que feria o sentido de liberdade da democracia, disfarçando com sua roupagem de forma de base e reforma agrária, gerando confusão e anarquia” (p.102). Em 21 de março de 1964, Carlos Lacerda é prestigiado na Câmara Municipal, a convite da ACIA, para mostrar que os riopretenses defendiam os “ideais de democracia e liberdade” desejados pela classe conservadora e produtora, e, para completar, dois dias depois, Valdemar Verdi envia um telegrama aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado representando a unanimidade riopretense na manifestação irrestrita de solidariedade à “tomada de decisão destemida e patriótica” (TEODÓZIO, 2008, p.104).

Após uma série de eventos que culmina no Golpe Militar, Waldemar Verdi pede vigilância à influência comunista sobre os trabalhadores rurais, considerados em “condição de subdesenvolvimento cultural” e um associado da ACIA denuncia presença de comunistas na Faculdade de Filosofia, levando à expulsão e ao remanejamento de uma dezena de professores. E, antes mesmo de o Ato Institucional nº 1 ser baixado, no dia 4 de abril, foi votada a cassação de três vereadores do PTB51, por unanimidade entre os presentes, e justificada em ata52 por

49 A movimento foi lançado em 5 de junho de 1963, na sede da ACIA, em que estiveram presentes representantes dos diretórios políticos, imprensa e convidados, e inexpressiva participação de seus associados.

50Foi redigido um texto e anexado a ele uma lista contendo 10 princípios.

57

serem “adeptos das doutrinas comunistas e membros ocultos do PCB” (TEODÓZIO, 2008, p.105).

Em outubro de 1965, foi extinto o multipartidarismo por meio do Ato Institucional n° 2, e, no início de 1966, dois partidos foram organizados e passaram a dividir a cena política no Brasil: o Movimento Democrático Brasileiro - MDB e a Aliança Renovadora Nacional – ARENA. Em linhas gerais, o primeiro assumiu o papel de partido de “oposição”, enquanto o segundo se tornou o partido de sustentação política do governo militar instituído a partir do Golpe de 1964.

No plano econômico, o objetivo era reformar o sistema, “modernizando-o como um fim em si mesmo e como forma de conter a ameaça comunista”, e para isso seria necessário resolver a situação econômico-financeira resultando do governo anterior, controlar as mobilizações urbanas e rurais e promover uma reforma no aparelho de Estado. Entre as medidas tomadas, foi lançado o Programa de Ação Econômica de Governo – PAEG e a perda do direito à estabilidade no emprego, por meio da criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS (FAUSTO, 2001, p.259).

Em 1969, Adail Vetorazzo53, filiado à ARENA, vence as eleições e, no início

do seu primeiro mandato de prefeito, nomeia uma Comissão Municipal de

Industrialização54 para elaborar e executar um plano municipal de

industrialização55. Essa comissão sugere a implantação de um Distrito Industrial

em área pertencente ao Estado, que se localiza próximo à rodovia, à ferrovia e ao aeroporto. E, por intermédio do prefeito que era do mesmo partido do governador, o Município recebe 42 alqueires em doação por meio do Decreto Lei nº 1.296/1970 (TEODÓZIO, 2008, p.107-108).

52 Ata da Câmara Municipal de São José do Rio Preto, em 4 de Abril de 1964.

53 Professor e cirurgião dentista; foi vereador de 1964 a 1968 e presidente da Câmara Municipal em 1967; prefeito por dois mandatos, de 1969 a 1972 e de 1977 a 1982; deputado estadual de 1975 a 1977; deputado federal de 1982 a 1986.

54 Comissão criada através do Decreto nº 01/1969, composta por empresários e diretores de empresas vinculadas à ACIA, e presidida por Waldemar Verdi.

55 A delegacia regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – CIESP já havia sido instalada em 1967.

58

Em 1970, é criado o Projeto para o Desenvolvimento Industrial – PRODEI56, que se destinava a incentivar a instalação e ampliação de indústrias no

Município, por meio de doação ou cessão de imóveis de Patrimônio Municipal e a concessão de benefícios fiscais, “de forma a aumentar a demanda de mão de obra e a arrecadação de receita pública” (Art.1). Apesar de tal justificativa, as indústrias seriam isentadas de “todos os impostos municipais por dez anos” (art. 14). Além disso, ficou a cargo da Prefeitura arcar com a extensão das redes de energia elétrica, de água e de coleta de esgotos, e as galerias de águas pluviais (Art. 15) e, ainda:

Art. 16 – Às empresas habilitadas e beneficiadas pelo PRODEI serão prestados pelo município, os seguintes serviços:

a) Fornecimento de materiais produzidos pelo município, mediante preços regulamentares;

b) Execução de serviços de limpeza de terreno e de terraplanagem gratuitos para fins de início de obras;

c) Execução de vias de acesso que se fizerem necessárias para adaptar-se à área de terreno ao fim a que se destina;

d) Fornecimento de projetos de arquitetura desde que atendam aos padrões estabelecidos pela Secretaria de Obras da Prefeitura Municipal;

e) Isenção de emolumentos relativos à aprovação de projetos.

Instituiu-se, também, o Conselho57 Diretor do PRODEI (art. 2º), “a quem

incumbe o planejamento, a direção e a execução” do programa. E, logo em seguida, é implantado o primeiro Distrito Industrial da cidade, com verba previamente indicada, e ficou definido pela lei que, a partir dos anos seguintes, seriam fixadas anualmente dotações orçamentárias específicas para a continuidade do PRODEI (art. 17).

José Carlos de Lima Bueno58 foi um dos idealizadores do Distrito

Industrial, num primeiro momento, por meio de um projeto que propunha a

56 Lei Municipal nº 1.496, de 25 de Setembro de 1970.

57 Composto por sete membros não remunerados: José Carlos de Lima Bueno, José Cury, Walter Aielo, Anatol Konarski, Rapiel Parsekian, Celso Silva Melo e presidido por Waldemar Verdi.

58 Em 1968, ainda durante a graduação, o então estudante de arquitetura da UNB, junto a outros dois colegas, vieram a Rio Preto apresentar para a ACIA seus projetos que destacavam a importância de se incentivar a implantação de pequenas e médias indústrias ligadas à matérias-primas regionais.

59

implantação de um distrito industrial coincidentemente no local onde foi efetivamente instalado, e, posteriormente, como funcionário da Administração Municipal. Também foi membro da primeira formação do Conselho Diretor do PRODEI e na sua avaliação:

Foi muito importante o distrito industrial, porque capitalizou aquelas indústrias. E capitalizou de que jeito? Grande parte dessas indústrias já possuía o imóvel, e elas puderam vender, e era um recurso... Havia também a facilidade do financiamento, e o terreno era de graça. Eles puderam construir ao mesmo tempo em que, grande parte dessas indústrias, contratou uma reformulação administrativa. E elas cresceram... e foi muito importante pra cidade59.

Figura 3 - Distrito Industrial Waldemar Verdi

Fonte: Diário da Região, 2009.

Posteriormente, na exposição de seu Trabalho Final de Graduação, o jornal Folha de São Paulo publicou seu projeto no primeiro caderno de um domingo de julho de 1969, e, no mesmo ano, também o apresentou em uma feira promovida pela ACIA, o que chamou a atenção do então prefeito Adail Vetorazzo, que o convida para vir trabalhar na Administração Municipal (Informações relatadas em entrevistada concedida à autora em setembro de 2012).

60

Confirmando a afirmação de Milton Santos (2009) de que:

O lucro na produção é, em grande parte, obtido graças às condições que se preparam e se entregam de mão beijada às firmas interessadas. [...] Daí os zoneamentos especiosos, a implantação generosa de infraestruturas especializadas e sob medida, o aproveitamento da luta em defesa do meio ambiente num objetivo mercantil, a criação com o dinheiro público de Distritos Industriais que vão beneficiar certo tipo de indústrias e não outras (SANTOS, 2009, p. 133).

Em 197760, o PRODEI tem sua denominação alterada para Programa de

Desenvolvimento Industrial, e o Conselho passa a ser constituído por nove membros61. Além disso, excluiu os incentivos para as indústrias implantadas fora

do Distrito Industrial, mas foram mantidos o benefício de isenção de impostos por dez anos às indústrias instaladas no distrito, assim como o provimento das redes de infraestrutura.

Nesta década de 1970, o Governo Estadual inicia uma reforma administrativa para reorganizar e modernizar sua estrutura de gestão, instituindo a Coordenadoria de Ação Regional - CAR62, por iniciativa da Secretaria de Economia e

Planejamento, que tinha como papel principal, a introdução da dimensão espacial no processo de planejamento realizado pelo governo do Estado.

Criaram-se unidades territoriais polarizadas63, no intuito de que as

divisões geográficas evitassem a excessiva centralização administrativa e facilitasse o diálogo entre Estado e Municípios. A proposta de regionalização se realizaria por meio de uma rede de escritórios, responsáveis pela condução da política regional do Governo nas respectivas áreas de abrangência. Os Escritórios Regionais de Planejamento – ERPLAN tinham a função de desempenhar diversas dimensões:

60 Lei Municipal nº 2.129, de 24 de junho de 1977.

61 (Art. 2º) Membros do conselho: (3) Câmara Municipal, (1) Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – CIESP, (1) Associação Comercial e Industrial – ACIA, (1) Associação dos Engenheiros, (1) Conselho Regional de Economia, (1) Sindicato Rural e (1) uma pessoa de livre escolha do prefeito. 62 Decreto nº 52.548, de 29 de outubro de 1970, reorganiza a Secretaria de Economia e Planejamento. 63 Decreto nº 53.576, de 12 de dezembro de 1970, dispõe sobre as regiões que deverão ser adotadas pelos órgãos da Administração Pública.

61

mobilizadora, política, técnica, informacional e assessoria. E partir dessa remodelação, São José do Rio Preto torna-se a sede da 8º região administrativa do Estado e estabelece o seu ERPLAN64.

Esse planejamento realizado pelo governo do Estado de São Paulo foi, em grande parte, responsável pela consolidação da rede urbano-regional tanto sob o ponto de vista institucional, como sob a óptica da configuração territorial, principalmente, no que diz respeito à estrutura viária, como por exemplo, a interiorização e duplicação da Rodovia Washington Luis.

Havia duas propostas para o trecho que passava dentro da área urbana de São José do Rio Preto, uma mais simples, pela qual seria feita uma mudança no traçado da rodovia, contornando o antigo perímetro urbano, sem ônus para a Prefeitura, e a outra, de maior complexidade, que necessitaria de grandes desapropriações, além da construção de várias obras como passarelas e viadutos, “onerando os cofres públicos municipais, mas permitindo a implantação de uma moderna Via Expressa” (FURLANETTO, 2008, p.171).

Optou-se pela segunda proposta, justificando que, devido ao permanente crescimento da cidade, logo seriam necessárias novas alterações viárias. Então, foi assinado um convênio Prefeitura-Departamento Estadual de Estradas de Rodagem - DER, pelo qual o Município se responsabilizaria pela desapropriação, implantação das avenidas marginais e construção dos viadutos, e o Estado assumiria a duplicação e o rebaixamento em todos os trechos que fossem necessários, além das obras nos cruzamentos em fundo de vale, caso das avenidas Alberto Andaló, Bady Bassitt e Murchid Homsi. E, posteriormente, em novo convênio, incluiu-se a construção do cruzamento entre BR-153 e SP-310, obras no córrego dos Macacos, com as respectivas avenidas marginais (FURLANETTO, 2008).

64 Instalado oficialmente no dia 9 de março de 1971, dirigido inicialmente por Roberto Lopes de Souza e posteriormente por José Carlos de Lima Bueno, que participaria de todas as etapas do Programa Especial de Cidades de Porte Médio.

62

Figura 4 - Obras na Rodovia Washington Luís (SP-310)

Fonte: (FURLANETTO, 2008)

A imprensa teve um papel fundamental na formação de opinião tanto em relação ao projeto de modernização da cidade, quanto na orientação política e ideológica difundida pela classe dominante por meio da parcialidade no conteúdo das notícias divulgadas pelos principais jornais da época, como: A Notícia65, a Folha

de Rio Preto66, o Diário da Região67 e o Diário da Alta Araraquarense68. A seguir, um

trecho de uma reportagem sobre o final da administração de Adail Vetorazzo publicada pelo Diário da Região, em 31 de janeiro de 1973:

Com a regularidade de um trabalho ordeiro e cientificamente traçado [...] E o resultado aí está: a cidade enriquecida em todos os seus setores (inclusive no industrial que sempre foi uma utopia em nossa terra) revitalizada, vibrante, derramando-se em vida por toda parte [...] Como aconteceu este milagre? Muito simples: o prefeito Adail é um homem de ação e de visão [...] cercou-se de secretários honestos, trabalhadores e capazes. (FURLANETTO, 2008, p. 74-75)

65 Leonardo Villarroel, jornalista, contador, ex-vereador e diretor do jornal A Notícia entre 1936 e 1970. 66 Bento Abelaira Gomes, fundou a Folha de Rio Preto e foi redator de A Notícia e também do Diário da Alta Araraquarense.

67 Jornal fundado por Euplhy Jalles, engenheiro civil, diretor da ACIA, presidente da Associação Rural, e seu sucessor foi Norberto Buzzini, advogado, ex-vereador e candidato a prefeito, conselheiro da ACIA. 68 Coutinho Cavalcanti, proprietário do jornal, médico, ex-vereador, deputado federal por três mandatos, candidato a prefeito.

63

Nas eleições municipais seguintes, mantiveram-se as regras de poder estabelecidas nas eleições anteriores. Wilson Romano Calil (1973-1976) foi eleito prefeito com o apoio da classe dominante, mas, pela primeira vez, um prefeito foi à ACIA no início do mandato expor seu plano de governo. Juntamente com seus assessores, declarou que sua administração atenderia as reivindicações da entidade, seguindo uma linha desenvolvimentista, e agradeceu “a cobertura que vinha recebendo da população e das entidades de classe, para a execução das obras necessárias” e que a “ACIA poderia sempre contar com o Poder Público Municipal em suas reivindicações” (ARANTES; PARISE, 2000, p.398).

Durante a gestão de Calil, foi realizada uma série de obras, como o complexo de viadutos Jordão Reis - a maior estrutura viária da cidade, que passa sobre a ferrovia e o rio preto, liga o centro da cidade à Região Leste, e também, dá acesso à Zona Norte e às rodovias Assis Chateaubriand e BR-153 -, a Praça Cívica, a canalização do trecho do rio Preto, as piscinas públicas, o bosque municipal, e, também, foram doados terrenos para a implantação do primeiro Conjunto Habitacional da cidade. Outro fato importante para o desenvolvimento da cidade foi a criação da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP, em 197669, com a incorporação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José

do Rio Preto, tornando-se Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas - IBILCE.

Figura 5 - Complexo de viadutos Jordão Reis (à esq.) e IBILCE (à dir.)

Fonte: Diário da Região, 2009.

64

Conjuntamente à implementação da primeira Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, parte integrante II Plano Nacional de Desenvolvimento, lançado em 1974, estiveram as ações realizadas por parte do Governo Estadual, o qual vinha desenvolvendo um sistema de planejamento urbano e regional já há alguns anos, mas é em 197670, que é aprovada a Política de Desenvolvimento

Urbano e Regional – PDUR do Estado de São Paulo. O seu conteúdo estava alinhado às prioridades estabelecidas II PND para a região Sudeste, que eram o planejamento da expansão e o reforço da infraestrutura das cidades beneficiárias da desconcentração intrarregional, com atuação preferencial sobre os núcleos urbanos com mais de 50 mil habitantes.

Os objetivos básicos da PDUR eram o controle do crescimento e recuperação da qualidade de vida da Região Metropolitana e a atenuação dos desequilíbrios regionais no território paulista. O governador Paulo Egydio Martins, durante sua administração (1975-1979), consolidou o sistema de planejamento estadual, instituiu os Conselhos de Desenvolvimento Regional - CDRs, incorporou a Secretaria de Estado de Economia e Planejamento ao seu gabinete, foi responsável pela elaboração e execução parcial da Política de Desenvolvimento Urbano e Regional – PDUR, e, relacionados a este, também desenvolveu vários planos

regionais71 (SECRETARIA DE ECONOMIA E PLANEJAMENTO, 2009).

Um destes planos foi o “Plano Regional de São José do Rio Preto - 8º

Região Administrativa”, desenvolvido pela Secretaria de Economia e Planejamento do

Governo do Estado de São Paulo, em 197872, por meio da Coordenadoria de Ação

Regional – CAR e do ERPLAN. A CAR coordenava toda a política de desenvolvimento regional, assim como a articulação entre os Municípios. A região de Rio Preto foi a

70 Aprovado em 23 de janeiro de 1976 pelo Conselho o Governo.

71 Além do Plano Regional de São José do Rio Preto, também foram elaborados os planos regionais: do Litoral, de Sorocaba, de Campinas, de Ribeirão Preto e do Macro-Eixo Paulista.

72 À época da elaboração do Plano Regional de São José do Rio Preto, a Coordenadoria de Ação Regional estava sob a responsabilidade da Professora Maria Adélia de Souza, e Jorge Wilhein era o Secretário de Estado dos Negócios de Economia e Planejamento, o Gerente da Ação Regional era Sabetai Calderoni e o diretor do ERPLAN de São José do Rio Preto era José Carlos de Lima Bueno.

65

única do Estado em que o plano foi realizado pelo próprio escritório local, apenas com apoio dos técnicos da Secretaria do Estado.

Gráfico 2 - Processo de Desenvolvimento em São José do Rio Preto - 8º R.A.

Fonte: Plano Regional de São José do Rio Preto, 1978. Modelo Econômico Concentrador Baixa Remuneração