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O objeto empírico desta pesquisa é São José do Rio Preto, que também foi objeto de estudo na pesquisa de mestrado, a qual tratava do processo de produção ilegal do espaço urbano no Município, com o objetivo de entender o processo de expansão dos parcelamentos ilegais, em grande parte, implantados de forma dispersa na zona rural, que teve início a partir da década de 1980 e que prossegue ao longo de duas décadas, até o início da década de 2000.

Na conclusão da pesquisa, a partir da análise dos dados levantados e da discussão dos resultados aferidos, apareceram como principais fatores intervenientes: ineficácia da política pública habitacional, altos custos para habitar a “cidade formal”, alto grau de concentração de renda, quantidade elevada de população moradora nestes loteamentos com renda média-baixa e baixa, e dificuldades no cumprimento e fiscalização da legislação urbanística.

Apesar da expressividade da expansão da ilegalidade no território municipal, ultrapassando uma centena destes parcelamentos, a Administração Pública ignorava a existência dos loteamentos ilegais e nem mesmo os incluía no seu mapa oficial. Somente, a partir da aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável, em 2006, que o Poder Público passa a reconhecer a cidade real, pelo qual passam a ser considerados Áreas Especiais de Interesse Social.

Muitas questões apareceram no decorrer daquela pesquisa, o que levou à necessidade de incluir e aprofundar novas questões como o papel do Estado e das políticas públicas, os conflitos sociais, o valor de uso e valor de troca da terra

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urbana, para a compreensão da relação entre a Política Urbana e a produção e configuração do espaço urbano.

São José do Rio Preto está localizada no interior do Estado de São Paulo, na região noroeste, a cidade é um polo regional e sua economia está fortemente ligada aos setores de comércio e de serviços, principalmente nas áreas de medicina, educação e serviços especializados de alta tecnologia. De acordo com o Censo 2010, conta com uma população de 408.258 habitantes, possui altos índices de qualidade de vida, como o índice de desenvolvimento humano municipal IDHM = 0,834 (SEADE, 2000), baixa taxa de mortalidade, apenas 9,6 óbitos de crianças menores de um ano de idade a cada mil nascidas vivas, inferior aos 11,9 da média do Estado de São Paulo (SEADE, 2010), o maior nível de esperança de vida do Estado é da Região Administrativa de São José do Rio Preto com 73,5 anos (SEADE, 2003), porém o coeficiente GINI, que mede a desigualdade, é de 0,47, no Estado de São Paulo não há nenhum município com o coeficiente GINI maior do que este. A área rural do Município é repleta de ocupações urbanas e o seu grau de urbanização do Município é de 95,43%. Prestação de Serviços 23% Comércio 19% Indústria de Transformação 16% Social 11% Indústria da Construção Civil 10% Transporte e Comunicação 5% Serv. Aux. Atividade Econômica 4% Administração Pública 4% Outras Atividades 4% Agropecuária, Extração Vegetal e Pesca

3% Outras Atividades Industriais 1%

Gráfico 1 - Distribuição das atividades

Fonte: Conjuntura, 2011.

A cidade foi a única do Estado de São Paulo a ser incluída no “Projeto Especial de Cidades de Porte Médio”, definido em 1979 e implementado na década

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de 1980. A cidade também estava inserida no programa anterior de “Apoio de Capitais e Cidades de Porte Médio”, ligado à Política Nacional de Desenvolvimento Urbano do II PND e implementado na segunda metade de 1970. Por meio de ambos, a cidade recebeu um volume expressivo de recursos públicos federais e de financiamento junto ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento - BIRD, além de vários outros investimentos feitos pelo governo do Estado e pelo próprio Município, voltados para a implantação de infraestrutura, construção de habitação popular, modernização administrativa e geração de emprego e renda, durante o período de 1976 a 1986. E por isso, o ponto inicial do recorte temporal da presente pesquisa é o início da década de 1980, época que a cidade passa a ter uma grande expansão da malha urbana, e o ponto final é o ano de 2013, quando se encerra o presente trabalho.

Foram analisadas, ao longo do período, as mudanças na forma do planejamento e da gestão urbana conduzida pela Administração Municipal, considerando as alterações normativas e seus conflitos com as legislações urbanísticas estaduais e federais, a participação da população na condução dos rumos da própria cidade. Buscou-se analisar a relação da Política Urbana Local com as políticas urbanas estaduais e federais, e as suas influências na expansão e na configuração da cidade.

Para isso, foi feito um levantamento da produção pública de loteamentos residenciais e industriais, da produção privada de loteamentos “fechados” e “abertos”, e condomínios horizontais, e a atualização dos dados sobre os loteamentos ilegais implantados na zona rural. Também foram analisadas as demais legislações municipais referentes ao parcelamento do solo e à regularização fundiária nos níveis federal, estadual e municipal, verificado a presença da população na participação das diversas etapas da gestão urbana democrática.

Foram fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho diversas teses e dissertações realizadas por pesquisadores locais que desenvolveram seus trabalhos em sua maioria nas universidades do Estado São Paulo como a

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Universidade Estadual Paulista - UNESP de Presidente Prudente e de Rio Claro, a Escola de Engenharia de São Carlos - EESC e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU da Universidade de São Paulo - USP, a Universidade Federal de São Carlos - UFSCar e a Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Destes pesquisadores, os que nos trazem maiores contribuições são: José Carlos de Lima Bueno (1979, 2003), Silvia Rodrigues (2006), Delcimar Marques Teodózio (2008), Andrea Celeste Petisco (2006), Luis Fernando de Lemos Barroso (2010), Alexandre Bergamin Vieira (2005, 2009) e Carlos da Silva Pateis (2007).

As entrevistas incluíram os representantes do Poder Público como os Secretários Municipais Milton de Assis Jr. do Planejamento, Fernando Yukio Fukassawa da Habitação, José Carlos Lima Buno do Meio Ambiente e Urbanismo e que também coordenou a implantação do Programa Cidades Médias, funcionários técnicos da Empresa Municipal de Construções Populares - EMCOP, a ex-vice- prefeita e ex-coordenadora do Orçamento Participativo Maureen Leão Cury, os vereadores Pedro Roberto Gomes, Nilson Paula da Silva, que era vice-presidente da Câmara Municipal no período de aprovação do Plano Diretor de 2006. E também um representante popular que foi membro do Conselho do Plano Diretor de Desenvolvimento - CPDD, pelo Fórum das Associações de Moradores Marcelo Henrique.

Procurou-se entender as mudanças, permanências, limitações e contradições contidas na Lei Federal 10.257 de 2001 e no Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável, aprovado em 2006, analisando seu conteúdo e avaliando as possíveis modificações no acesso à cidade principalmente por parte das camadas mais pobres da população.

Também foram analisadas as legislações municipais referentes ao parcelamento do solo e à regularização fundiária nos níveis federal, estadual e municipal e buscou-se verificar se houve, ou não, participação da população nas diversas etapas dos processos de regularização fundiária e urbanística.

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