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1.3 Histórico da Educação no Brasil

1.3.4 Período IV: Constituição de 1988 ao Governo FHC (2002)

O sistema educacional já apresentava tendências importantes no final da década de 80. Com o processo de transição, ocorreu a inclusão na Constituição Federal (CF/88) do artigo 212:

“a União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”.

Esse dispositivo constitucional, portanto ampliou cerca de 40% o valor mínimo que deveria ser aplicado no setor educacional pelo Governo Federal. Mesmo assim, as políticas educacionais implementadas não corresponderam às expectativas criadas pela nova Constituição. Desde novembro de 1988, na Comissão de Educação do Congresso Nacional havia um montante de anteprojeto de LDB n° 1.258-CF/88, cuja tramitação não foi tão longa como a da Lei n. 4.024/1961, abordada anteriormente, mas percorreu por oito anos até fechado o texto final, sendo promulgada em 17 de dezembro de 1996.

Após o final do regime militar, particularmente nas duas primeiras décadas, o Brasil enfrentou um processo de desmonte do Estado. Propagaram-se, veemente, as políticas neoliberais, conforme sugestões de órgãos como Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que controlavam o país, e assim,

7 Geres foi criado pelo MEC, pela Portaria n. 100, de 6 de fevereiro de 1986, e instalado pela Portaria n.170, de 3

de março de 1986. Tinha por objetivo dar seguimento ao conjunto de proposições elaboradas pela “Comissão de Alto Nível” para a educação superior, através de uma proposta operacional (MEC, 1986).

afundado numa dívida externa. Aliás, é preciso reconhecer que essas políticas econômicas buscam, cada vez mais, mercado e menos Estado, tentando eliminar o poder dos sindicatos e movimentos de trabalhadores, para que se mantivesse a desigualdade social como fator positivo de incentivo à concorrência, rigoroso controle dos gastos públicos (ou até mesmo insignificante) com as despesas sociais, ocasionando a elevação induzida da taxa de desemprego (CARDOSO, 2013).

Percebe-se que as ideias neoliberais têm supremacia do indivíduo sobre o coletivo, imperando o individualismo e a propriedade privada como direito natural do indivíduo, consequentemente pregando a liberdade como condição indispensável para a autorrealização do indivíduo.

No ano de 1995, finda o Governo Itamar, o qual teve início em 1992 após assumir no lugar do então Presidente Fernando Collor de Melo que sofreu impeachment sem completar dois anos de mandato. Nesse período, o ensino superior continua sem ter modificações significativas, continuando o MEC a estabelecer as bases a partir das quais deveria se promover a crescente privatização neste nível educacional.

Durante esse período são retomados os mesmos princípios do Projeto Geres. Essas bases abrangiam desde as dificuldades na tramitação da LDB, até a definição da autonomia para as universidades, passando pelo modelo de Financiamento para as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES).

A nova LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996, trouxe algumas inovações importantes em todo o sistema, definindo claramente o papel das universidades no sistema do ensino superior, exigindo o vínculo entre o ensino e a pesquisa, comprovando ser a produção científica obrigatória para o credenciamento e o recredenciamento. Verdade que essa associação estava presente nas legislações anteriores, mas não havia vínculo com as instituições do setor privado, o qual ocorreu na atual.

Outra iniciativa importante da nova LDB foi à construção de um sistema de avaliação de curso, com a criação do Exame Nacional de Cursos o “provão” obrigatório para alunos e condição do diploma.

Deve-se considerar que para a política pública de expansão e interiorização do ensino superior houve, pelo menos, três momentos importantes anteriores à proposição da reestruturação/expansão propriamente ditas: a) a aprovação pelo Congresso Nacional da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996; b) o lançamento do Plano Nacional da Educação (PNE), 2001; e c) Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado em 2007.

Em seu artigo 52, a LDB/96 aponta as universidades como “instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, pesquisa, extensão e de domínio e cultivo do saber humano”. Deve ser caracterizada pela produção intelectual institucionalizada, contando com um terço do corpo docente (no mínimo) com titulação de mestre e doutor, um terço do corpo docente em regime de tempo integral, além de autonomia (sobretudo didático-científica), nos termos do Art. 53. Além disso, a lei apresenta, com vários graus de abrangência ou especialização, as instituições não universitárias, predominantemente destinadas à realização de cursos e atividades de ensino considerado de nível superior, como por exemplo: os centros universitários, as faculdades e os institutos federais (BRASIL, 1996). A Constituição/88 estabelece ainda os percentuais mínimos destinados às áreas específicas de investimento. É necessário, lembrar que, para atingir os objetivos de ter uma sociedade mais livre, justa e solidária, além desses percentuais é preciso um gerenciamento eficaz destes recursos (OLIVEIRA, 2013).

Durante a década 1990, várias escolas técnicas e agrotécnicas federais, tornam-se CEFETs (Centros Federais de Educação Tecnológica), equiparam-se, no âmbito da educação superior, uns com autonomia para atuar até a pós-graduação; outros somente os cursos superiores de tecnologia e as licenciaturas,8 formando a base do sistema Nacional de Educação Tecnológica, instituído em 1994 (BRASIL, 1997).

O Decreto n° 2.208 de abril de 19979, que traz a oferta predominante de cursos de graduação denominados “cursos superiores de tecnologia”10 e contraditoriamente, ensino médio regular, remetendo a oferta de cursos técnicos à responsabilidade dos Estados e iniciativa privada. No ano de 1998, o Governo Federal (FHC) proíbe a construção de novas escolas federais. Neste mesmo período, o governo direciona uma série de atos normativos para essas instituições (BRASIL, 1997).

8 Um balanço dos cursos de licenciatura nos CEFETS mostra que há sérios problemas neste âmbito e sinaliza a

necessidade de se tratar desta temática no conjunto das políticas nacionais de formação de professores. O Decreto n. 3.462, de 17 de maio de 2000, ampliou a autonomia dos novos CEFETs, permitindo a implantação, sem necessidade de autorização prévia do MEC, de “cursos de formação de professores para as disciplinas científicas e tecnológicas do ensino médio e da educação profissional”. A partir disso, essas instituições passaram a implantar cursos de Licenciatura em todas as áreas de conhecimento do ensino médio, porém em condições diferentes das universidades, porque eles não têm quadros suficientes, preparados para o ensino superior, nem a respectiva carreira (Frigotto, Ciavatta, Ramos (orgs.), 2012).

9 O decreto é um ato de governo, de duração provisória; sendo assim, é normal que o Decreto n. 2.208/97 tenha

sido revogado por um outro decreto. Este é um instrumento que normatiza, regulamenta a Lei; ele não pode inovar, não pode contrair a lei. Este decreto era ilegal ao determinar a separação entre o ensino médio e a educação profissional (Frigotto, Ciavatta, Ramos (orgs.), 2012).

10 O Parecer CNE/CEB n. 17, de 14/01/1997 apresentou o entendimento de que o nível tecnológico da educação

profissional constitui curso de nível superior e regula-se pela legislação referente a este nível de ensino. Este entendimento é reafirmado pelo Parecer CNE/CES n. 436, de 2/4/2001, que apresenta orientações sobre os Cursos Superiores de Tecnologia – Formação de Tecnólogos (Frigotto, Ciavatta, Ramos (orgs.), 2012).

No ano de 2001, foi sancionada a Lei n. 10.172, que estabelece o Plano Nacional de Educação (PNE), tendo seus objetivos bem delineados, tais como a:

“elevação global do nível de escolaridade da população; a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis; a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência com sucesso, na educação pública; e a democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e da participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. (BRASIL, 2001).

O PNE teve particularidades que fizeram com que fosse necessário um estudo mais profundo, visando uma reconfiguração do ensino no Brasil, embasado em um novo documento: o PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação, o qual será abordado no item subsequente (OLIVEIRA, 2013).

Conforme estudos de Gomes; Oliveira; Dourado, (2011, p. 160-161) em relação aos aspectos das políticas de expansão durante o Governo FHC, os autores afirmam que “a expansão da educação superior foi realizada mediante financiamento privado, com a participação ativa do consumidor de serviços educacionais, numa clara definição da educação superior como mercadoria” o que demonstrou que esse governo teve uma política liberal- conservadora.

Conforme dados obtidos a partir do Censo da Educação Superior (2003), cerca de 80% das matrículas no ensino superior (dados de 2002) eram na rede privada. A expansão nos moldes propostos naquele período acentuou uma tendência já em curso, qual seja o crescimento do percentual de vagas, de matrículas e de alunos de ensino superior privado. Portanto, trata-se da adoção de uma política que incentivou e acentuou o viés privatista.

Na contramão do que preconiza o PNE e da expansão do ensino superior privado. Gomes; Oliveira; Dourado, (2011) trazem dados fornecidos pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – Andifes, que vêm comprovar que a crise financeira das instituições federais foi uma realidade irrefutável no período de 1995-2002, pois se verifica uma redução gradativa dos valores repassados pelo Governo Federal para essas instituições. Assim, as IFES se obrigaram a diversificar as suas fontes de financiamento, como por exemplo; por meio de prestação de serviços, cobranças de taxas, cobranças de mensalidades nos cursos de especialização, convênios, dentre outras.

Complementando, Chauí (2003) diz que estas mudanças provocadas a partir das reformas do Estado, colocam a educação, a saúde, e a cultura como serviços não exclusivos. Nesse enquadramento as políticas implementadas para a educação deixaram de ser um direito,

e passam a ser um serviço. Consequentemente, esta deixa de ser considerada um bem público, e passa a ser vista como um serviço privatizado.

Como reforça Boaventura de Sousa Santos (2004) sobre a forma de como se constituíram as Instituições Ensino Superior privadas com fins lucrativos:

O modo como se constituiu este sector privado de ensino superior diverge de país para país. Mas nos países periféricos e semiperiféricos, em que havia um sector público universitário, o desenvolvimento do sector privado lucrativo assentou em três decisões políticas: estancar a expansão do sector público através da crise financeira; degradar os salários dos professores universitários a fim de os forçar a buscar emprego parcial no sector privado (no caso do Brasil, outro fator foi permitir a aposentadoria precoce, com salário integral, das universidades públicas); actuar com uma negligencia benigna e premeditada na regulação do sector privado, permitindo-lhe que ele se desenvolvesse com um mínimo de constrangimentos. Desse modo, o sector privado foi dispensado de formar seus próprios quadros e aproveitar-se de todo o conhecimento e formação produzidos na universidade pública. Isso significou uma maciça transferência de recursos da universidade pública para as novas universidades privadas, uma transferência de tal montante e tão selvagem que é legitimo concebê-la como um processo de acumulação primitiva por parte do capital universitário com a consequente descapitalização e desarticulação da universidade pública (p. 107).

Para Frigotto (2011), o Governo FHC foi responsável por implementar as reformas neoliberais, as quais ocasionaram um aprofundamento do vínculo de dependência do projeto de caráter monetário. E, acrescenta, essa visão, alicerçada no fundamento do liberalismo conservador, reduz a sociedade ao conjunto de consumidores, voltando-se ao mercado e não à coletividade. Este tornou-se o cenário de meados da década de 2000, não sendo favorável à universidade pública, tendo em vista às restrições e dificuldades financeiras enfrentadas pelas universidades federais.

O desenvolvimento do país deve estar ancorado, entre outras coisas, na educação, na ciência, na tecnologia e na inclusão social. Para tanto, a universidade tem papel importante no resgate desse desenvolvimento, o qual passa também pela ampliação da oferta de vagas públicas, consolidação e interiorização das Instituições Federais de Ensino Superior – IFES (BRASIL, 2012).

As IFES têm como principal objetivo o foco no ensino, pesquisa e extensão. Estas funções evidenciam que a finalidade destas instituições é a aplicação do conhecimento através da teoria aliada a prática para que ocorra o desenvolvimento de saberes, discutindo e propagando a educação, que é vista como a maior riqueza de uma comunidade e um dos pilares do desenvolvimento (SANTOS, 2007).