• Nenhum resultado encontrado

Instituições federais públicas de educação e o processo de desenvolvimento do município de São Borja-RS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Instituições federais públicas de educação e o processo de desenvolvimento do município de São Borja-RS"

Copied!
110
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM

DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E GESTÃO DE SISTEMAS PRODUTIVOS

INSTITUIÇÕES FEDERAIS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE SÃO BORJA-RS

Mestranda: Magalia Gloger Dos Santos Almeida Orientador: David Basso

IJUÍ 2017

(2)

MAGALIA GLOGER DOS SANTOS ALMEIDA

INSTITUIÇÕES FEDERAIS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE SÃO BORJA-RS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, na linha de pesquisa Desenvolvimento Territorial e Gestão de Sistemas Produtivos, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Prof. Dr. David Basso UNIJUI – Orientador

IJUÍ 2017

(3)

Catalogação na Publicação

Jusélia Paula da Silva CRB10/2341 A447i Almeida, Magalia Gloger dos Santos.

Instituições federais públicas de educação e o processo de

desenvolvimento do município de São Borja-RS / Magalia Gloger dos Santos Almeida. – Ijuí, 2017. –

109 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientadora: David Basso”.

1. Políticas Públicas. 2. Implementação. 3. Expansão e Interiorização do ensino superior. I. Basso, David. II. Título.

CDU: 35:378

(4)

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

INSTITUIÇÕES FEDERAIS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE SÃO BORJA-RS

elaborada por

MAGALIA GLOGER DOS SANTOS ALMEIDA

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. David Basso (UNIJUÍ): ________________________________________________

Prof. Dr. Muriel Pinto (UNIPAMPA): ____________________________________________

Prof. Dr. Dilson Trennepohl (UNIJUÍ): ___________________________________________

(5)

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, pois neste momento exigente e substancial da minha vida,

estiveram sempre presentes me apoiando, incentivando e nunca me deixando desistir.

(6)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus e à fé que tenho no Criador, que proporcionam e me acalentam em todos os momentos difíceis da vida.

Aos meus queridos pais e aos meus sogros, que sempre me apoiaram, incentivaram-me e colaboraram com os meus estudos, sempre me mostrando o quanto o conhecimento é importante para a vida. Obrigada por tudo, sempre.

Aos meus filhos e esposo que em todas as horas sempre me apoiaram, pelos momentos de paciência e, muitas vezes, até entenderam as ausências do meu pensamento em meu corpo presente, quando então pensava apenas nos estudos. Obrigada pelo amor e compreensão.

A meu orientador David Basso, pessoa maravilhosa, incrível e de uma enorme cultura e amabilidade, que muito me incentivou e sempre esteve disposto e me ajudar e colaborar para que eu alcançasse os objetivos desta pesquisa. Obrigada por compartilhar todo o seu imenso conhecimento comigo.

Obrigada à amiga Melissa, companheira desta jornada. Por fazer parte da minha vida e por compartilhar muitos momentos maravilhosos.

A todas as pessoas que responderam às entrevistas, emprestaram materiais ou que, de alguma forma ou de outra, colaboraram com a realização desta pesquisa. A todos o meu profundo agradecimento, por terem feito parte de mais esta etapa importante da minha vida.

A você que está lendo esta dissertação, espero que possa colaborar com uma pequena parcela da construção do seu conhecimento.

(7)

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo FIM”. (Chico Xavier)

(8)

RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo analisar as contribuições das Instituições Federais de Educação Superior – IFES, no processo de desenvolvimento do município de São Borja/RS, trazendo por meio de política pública gerar desenvolvimento face às constantes mudanças econômicas e sociais. Para viabilizar o atingimento deste objetivo foram definidos alguns objetivos intermediários, tais como: analisar a estratégia que está presente nos programas e projetos do Governo Federal voltado à expansão e interiorização dos investimentos no ensino superior brasileiro; analisar o processo de desenvolvimento do município de São Borja; identificar as propostas de instalação das IFES em São Borja e os principais impactos no processo de desenvolvimento local/regional. A pesquisa justifica-se por ser o desenvolvimento local direcionado à educação um tema relevante como uma fonte de recurso que pode aumentar e diversificar o seu desenvolvimento local e regional. Nesta perspectiva, foi realizada uma pesquisa qualitativa e exploratória, a qual permitiu maior aproximação e conhecimento mais aprofundado do pesquisador sobre o problema estudado. A pesquisa é caracterizada como descritiva, pois o intuito do estudo é expor as características do município. Os sujeitos da presente pesquisa foram os atores sociais que estiveram envolvidos na implantação das instituições federais na cidade. Além destes, os dados das instituições, dados da prefeitura municipal, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fundação de Economia e Estatística (FEE), imobiliárias locais, Associação Comercial, Industrial, de Prestação de Serviços e Agropecuária de São Borja (ACISB), foram a base para o início das entrevistas. Propõe um olhar sobre a expansão do ensino superior público, apresentando informações e dados referentes à implantação das IFES, a fim de exemplificar a importância destes investimentos ao desenvolvimento local. Mudanças nas políticas públicas são imprescindíveis à dinamização do desenvolvimento a devido às constantes transformações comportamentais e educacionais que permeiam a formação dos cidadãos atores deste processo. Desta forma, entende-se que os esforços focados na expansão e interiorização do ensino superior constituem aspecto essencial para a diminuição das desigualdades e para a ampla inserção social, principalmente de segmentos desassistidos. Destaca-se que são frequentes as discussões sobre políticas públicas, em especial acerca dos efeitos das recentes transformações implementadas na educação superior, com seus impactos diretos e indiretos no desenvolvimento no município de São Borja/RS. Ressalta-se que muito se tem discutido sobre economia, a intervenção do Estado na economia e, principalmente, nos investimentos públicos. A pesquisa traz subsídios para o entendimento das possíveis contribuições das IFES, na percepção das políticas públicas envolvidas, para o desenvolvimento local, visando à obtenção de informações que possam servir de balizadores aos gestores para as próximas tomadas de decisão, estimulando e fortalecendo o desenvolvimento.

Palavras-chave: Políticas Públicas; Implementação; Expansão e Interiorização do ensino superior;

(9)

ABSTRACT

This dissertation aims to analyze the contributions of the Federal Institutions of Higher Education - IFES, in the development process of the municipality of São Borja / RS, bringing public policy to generate development in the face of constant economic and social changes. To achieve this objective, some intermediate objectives were defined, such as: analyzing the strategy that is present in the programs and projects of the Federal Government aimed at the expansion and internalization of investments in Brazilian higher education; Analyze the development process of the municipality of São Borja; Identify the proposals for setting up the IFES in São Borja and the main impacts on the local / regional development process. The research is justified because local development is directed to education as a relevant subject as a source of resource that can increase and diversify its local and regional development. In this perspective, a qualitative and exploratory research was carried out, which allowed a closer approximation and more in depth knowledge of the researcher on the studied problem. The research is characterized as descriptive, since the purpose of the study is to expose the characteristics of the municipality. The subjects of the present research were the social actors who were involved in the implantation of the federal institutions in the city. In addition to these, data from the institutions, data from the municipal government, the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), the Economic and Statistical Foundation (FEE), local real estate, São Borja Commercial, Industrial, Service and Agricultural Association ACISB), were the basis for the beginning of the interviews. It proposes a look at the expansion of public higher education, presenting information and data regarding the implementation of the IFES, in order to exemplify the importance of these investments to local development. Changes in public policies are essential to the dynamism of development due to the constant behavioral and educational changes that permeate the formation of citizens who are actors in this process. Thus, it is understood that the efforts focused on the expansion and internalization of higher education are an essential aspect for the reduction of inequalities and for the wide social insertion, mainly of unserved segments. It is worth noting that discussions on public policies are frequent, especially about the effects of recent transformations implemented in higher education, with its direct and indirect impacts on development in the municipality of São Borja / RS. It should be emphasized that much has been discussed about economics, state intervention in the economy and, above all, public investment. The research provides support for the understanding of the possible contributions of the IFES, in the perception of the public policies involved, for the local development, aiming at obtaining information that can serve as a guide to the managers for the next decision making, stimulating and strengthening the development.

(10)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Expansão e interiorização da rede federal de educação profissional, científica e

tecnológica no período de 1909-2014 ... 40

Figura 2: Expansão das universidades federais ... 44

Figura 3: Mapa da localização da Unipampa ... 48

Figura 4: Campus I ... 52

Figura 5: Restaurante universitário ... 52

Figura 6: Campus II ... 53

Figura 7: Entrada de energia e subestação do campus II ... 53

Figura 8: Área de abrangência do Instituto Federal Farroupilha – 2016 ... 61

Figura 9: Imagem área do campus ... 69

Figura 10: Mapa dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes), RS ... 74

Gráfico 1: Expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica - Em unidades ... 42

Gráfico 2: Quantidade de Municípios atendidos com a expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica ... 43

Gráfico 3: Evolução de matrículas na graduação no período 2006-2015... 49

Gráfico 4: Número de matriculados, concluintes e evadidos no período de 2006 a 2016 ... 51

Gráfico 5: Número de docentes no período de 2008-2015 ... 56

Gráfico 6: Evolução do quadro dos servidores Técnico-Administrativos em Educação do período de 2008-2015 ... 58

Gráfico 7: Evolução do orçamento total consignado do IFFar: período 2012 2015 ... 63

Gráfico 8: Evolução dos docentes no período de 2010-2015 ... 67

Gráfico 9: Evolução dos técnicos-administrativo em educação no período de 2010-2015... 67

Gráfico 10: Matriz orçamentária – campus São Borja no período de 2010-2016 ... 68

Gráfico 11: Evolução do IDH de São Borja, do rio Grande do Sul e do Brasil- 1991 – 2000 e 2010 ... 77

Gráfico 12: Número de alunos matriculados no ensino fundamental e ensino médio no período de 2005-2015 no município ... 82

Gráfico 13: Número de matriculados no Ensino Fundamental e Ensino Médio no Estado do Rio Grande do Sul no período de 2007-2015 ... 83

Gráfico 14: Taxa em percentual de conclusão no Ensino Fundamental e no Ensino Médio no município de São Borja no período de 1991-2000-2010, a partir de dados do Censo Demográfico ... 84

Gráfico 15: Número de pessoas ocupadas nos setores: agricultura, comércio, indústria e serviços no período de 2007-2013 ... 88

Gráfico 16: Evolução Valor Agregado Bruto, por setor e total, para o município de São Borja 2002-2014 ... 90

(11)

Quadro 1: Sujeitos da pesquisa, entrevistados ... 17

Quadro 2: Períodos da Educação Superior no Brasil ... 22

Quadro 3: População urbana, rural e total do município de São Borja - 2000 e 2010 ... 75

Quadro 4: Servidores (docentes e técnicos) entrevistados referente a moradia ... 94

Tabela 1: Número de instituições de ensino superior de 1970-85 ... 30

Tabela 2: Matriculados no ensino superior em instituições públicas e privadas de 1980 – 1985 ... 30

Tabela 3: Número de matrículas nas instituições públicas e privadas – Censo 2010 ... 39

Tabela 4: Censo 2012 ... 40

Tabela 5: Censo 2013 ... 41

Tabela 6: Censo 2014 ... 41

Tabela 7: Valores do VAB agrícola, indústria, serviços e administração pública no período de 2002 – 2014 em São Borja ... 89

(12)

LISTA DE ABREVIATURAS

ACISB – Associação Comercial, Industrial, de Prestação de Serviços e Agropecuária de São Borja

Andifes – Associação Nacional Dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior APL – Arranjo Produtivo Local

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento CAFW – Colégio Agrícola de Frederico Westphalen

CADES – Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Nível Superior CEFETs – Centros Federais de Educação Tecnológica

CPPD – Comissão Permanente de Pessoal Docente CF – Constituição Federal

CONSUNI – Conselho Universitário

DPEP – Diretoria de Pesquisa, Extensão e Produção DOU – Diário Oficial da União

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH – Indicadores de Desenvolvimento Humano IES – Instituições de Ensino Superior

IF - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia IFFar – Instituto Federal Farroupilha

IFES – Instituições Federais Educação Superior IRGA – Instituto Riograndense do Arroz EaD – Educação a distância

EAFA – Escola Agrotécnica Federal de Alegrete EAF – Escola Agrotécnica Federal

FEE – Fundação de Economia e Estatística

FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior FHC – Fernando Henrique Cardoso

FMI – Fundo Monetário Internacional

FONAPRACE - Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis Geres – Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LOA – Lei Orçamentária Anual

(13)

MEC/SETEC – Ministério da Educação/Secretaria da Educação Tecnológica do Ministério da Educação

MEC/INEP – Ministério da Educação/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

Mesp – Ministério da Educação e Saúde Pública NUDEPE – Núcleo de Desenvolvimento Pessoal

Paru – Programa de Avaliação da Reforma Universitária PIB – Produto Interno Bruto

PingIFES – Plataforma Integrada para Gestão das IFES PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida

PMSB – Prefeitura Municipal de São Borja

PNAES – Plano Nacional de Assistência Estudantil PNE – Plano Nacional de Educação

PNU – Programa Nova Universidade PPI - Projeto Pedagógico Institucional

PROUNI – Programa Universidade para Todos PUC – Pontifícia Universidade Católica

REUNI – Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais RJ – Rio de Janeiro

RSC – Reconhecimento de Saberes e Competências RT – Retribuição de Titulação

Sesu – Secretaria da Educação Superior SISU – Sistema de Seleção Unificada SNI – Serviço Nacional de Informações TAE – Técnico-Administrativo em Educação UAB – Universidade Aberta do Brasil

UERGS – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul UFPEL – Universidade Federal de Pelotas

UFSM – Universidade Federal Santa Maria UnB – Universidade de Brasília

UNED – Unidade de Ensino Descentralizada UNIPAMPA – Universidade Federal do Pampa URCAMP – Universidade da Região da Campanha VAB – Valores Agregado Bruto

(14)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

1 ENSINO SUPERIOR E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ... 19

1.1 Desenvolvimento ... 19

1.2 Desenvolvimento Local... 20

1.3 Histórico da Educação no Brasil ... 21

1.3.1 Período I: República Velha antes do Estado Novo/Era Vargas (1888-1929)... 22

1.3.2 Período II: Era Vargas até Regime Militar (1930-1964) ... 24

1.3.3 Período III: Regime Militar (1964-1985) ... 27

1.3.4 Período IV: Constituição de 1988 ao Governo FHC (2002) ... 31

1.3.5 Período V: Governo Lula ao Governo Dilma (2003-2015) ... 36

2 INSTALAÇÃO DAS UNIDADES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR NO MUNICÍPIO DE SÃO BORJA ... 47

2.1 Fundação Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA... 47

2.1.1 UNIPAMPA Campus São Borja ... 50

2.2 O Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia Farroupilha – IFFar... 59

2.2.1 IFFar – campus São Borja ... 64

3 AS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE SÃO BORJA ... 72

3.1 O processo de desenvolvimento de São Borja ... 72

3.1.1 Histórico do município de São Borja ... 72

3.1.2 Dados socioeconômicos do município de São Borja... 75

3.1.3 Recursos da Unipampa e do IFFar ... 96

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 100

(15)

INTRODUÇÃO

Inúmeras discussões sobre a influência das instituições educacionais e sua contribuição ao desenvolvimento local e regional vêm despertando o interesse de pesquisadores, ocupando cada vez mais espaço nos debates sobre o assunto. É fundamental a contribuição de investigações sobre temas como espacialização do processo educacional, regionalização do ensino nos diversos níveis, aspectos locacionais dos estabelecimentos de ensino, desequilíbrios e desigualdades regionais na educação, centralização e descentralização de políticas públicas educacionais, pois estes estudos vêm contribuindo para um melhor planejamento educacional em um município, região, estado ou país.

Mudanças na sociedade nas últimas décadas têm causado impactos significativos no mundo do trabalho, refletindo nas empresas e escolas, nos empregos e na formação dos trabalhadores. Essas transformações atingem o Estado, que agindo em um contexto do capitalismo e orientações neoliberais tem buscado aproximar-se do cidadão, independente das orientações ideológicas.

Castro (2011) afirma que a educação assumiu definitivamente um lugar de destaque no mundo contemporâneo, pois o acesso ao ensino na sociedade do conhecimento e da informação deve promover mudanças na formação dos sujeitos, desenvolvendo recursos e potencialidades na aprendizagem, com o objetivo de melhorar a competitividade.

Os governos têm procurado atender às demandas da sociedade por meio da criação e implementação de políticas públicas, que visam atender a determinados anseios da população, dentre as quais se destaca uma crescente demanda por educação superior. Nas últimas décadas têm sido implementadas pelo Governo Federal um conjunto de iniciativas que fazem parte de políticas públicas de educação superior. Dentre as quais destacam: a expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI).

Um dos desafios enfrentados pelo Brasil é oferecer ensino de qualidade para promover o desenvolvimento econômico e social. Visando a concretização do acesso e permanência nas instituições de ensino superior, o Governo Federal nas últimas duas décadas empreendeu inúmeros programas para atender a um contingente cada vez maior de pessoas que estão buscando formação no nível superior.

Esta pesquisa foi desenvolvida no município de São Borja no estado do Rio Grande do Sul, que caracteriza-se por ser uma importante cidade histórica e ter em sua atual economia local baseada no comércio, na agricultura e na pecuária. Os municípios da região da fronteira

(16)

oeste são caracterizados pela grande expansão territorial, o que imprime uma dinâmica econômica centralizadora de recursos e com grande desigualdade social.

Diante do exposto, acredita-se que a instalação das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) no município tem contribuído para o desenvolvimento local, pois percebe-se que a oferta das políticas públicas efetivadas e as demandas da população atendidas é preciso um fluxo constante de desembolsos por parte do Estado. De modo geral, por investimentos ou custeio, os dispêndios devem ser fundamentados pelos correspondentes resultados esperados. Melhoria nos índices educacionais, desenvolvimento econômico e social da população, possibilitando uma melhoria na qualidade de vida.

Barros e Mendonça (1997) argumentam que o nível educacional da população adulta de um país é resultado de décadas de investimento. A avaliação dos efeitos de recursos aplicados em educação deve considerar o fato de não influenciarem somente nas condições de vida dos educandos, mas também nas externalidades geradas sobre o bem estar daqueles que orbitam no entorno. O expressivo aumento nos gastos públicos em educação, naturalmente, suscita maiores questionamentos relacionados à utilização dos recursos e resultados obtidos (OLIVEIRA, 2013).

As IFES devem ser avaliadas pela capacidade de atendimento às demandas e exigências dos usuários de seus serviços. Por fim, devem ser capazes de responder aos anseios da sociedade, contribuindo para uma formação técnico-científica de qualidade dos egressos, condizente com o mundo do trabalho contemporâneo, bem como na construção de uma sociedade mais democrática, mais justa, inclusiva e solidária (MARINHO, 1999; BORGES; ARAÚJO, 2000).

Diante disso, o problema de pesquisa visou responder a seguinte pergunta que orienta a presente Dissertação de Mestrado: Quais são as contribuições das instituições federais de ensino superior (IFES) instaladas no município de São Borja no processo de desenvolvimento local?

Para responder à pergunta de pesquisa e reflexões decorrentes foi proposto o seguinte objetivo: analisar as contribuições das IFES no processo de desenvolvimento do município de São Borja.

Para viabilizar o atingimento deste objetivo foram definidos alguns objetivos intermediários: analisar a estratégia que está presente nos programas e projetos do Governo Federal voltado à expansão e interiorização dos investimentos no ensino superior brasileiro; analisar o processo de desenvolvimento do município de São Borja; identificar as propostas de instalação das IFES em São Borja e os principais impactos no processo de desenvolvimento

(17)

local/regional.

As relações sinérgicas de instituições públicas de ensino com o desenvolvimento do território onde estão instaladas é tema discutido por diferentes autores brasileiros, dentre os quais destaco Santos (2007). Ao estudar as instituições de ensino superior em relação ao desenvolvimento do município de Vitória da Conquista (BA), Santos (2007) constatou que tais organizações têm características de atividade econômica impulsionadora de crescimento econômico local, apesar de não conseguirem alavancar o desenvolvimento de forma a constituírem um Arranjo Produtivo Local (APL1). Santos (2007) discutiu esse tema, mas o fez pela lógica da inovação, com foco na indústria, usando a teoria de Michael Porter e encontrou os seguintes resultados: as instituições têm características que impulsionam o crescimento econômico e apresentam grandes perspectivas para o desenvolvimento local. Na presente pesquisa de dissertação investiga-se o mesmo tema, priorizando-se, no entanto, numa perspectiva teórica keynesiana2 para compreender como a intervenção do Estado, por meio de

investimentos na educação superior, contribuiu para o desenvolvimento de São Borja e seu entorno.

A pesquisa justifica-se por ser o desenvolvimento local direcionado à educação um tema relevante como uma fonte de recurso que pode aumentar e diversificar o seu desenvolvimento local e regional. Este estudo buscou colaborar com a pesquisa científica ampliando o debate sobre os processos de desenvolvimento, auxiliando com o propósito da linha de pesquisa Desenvolvimento Territorial e Gestão de Sistemas Produtivos do Programa de Pós-graduação Desenvolvimento da UNIJUÍ. Organiza-se assim, como uma maneira de aprofundar os estudos em relação à temática que possibilitam compreender os efeitos que o investimento em educação reflete numa região e contribuindo para a ampliação da discussão em torno do desenvolvimento local.

Ressalta-se que muito se tem discutido sobre economia, a intervenção do Estado na

1 Concentração geográfica de companhias e instituições interconectadas em uma determinada área. APL/Clusters

envolve um conjunto de número indústrias associadas e outras entidades importantes para a competição. Elas incluem, por exemplo, fornecedores de “inputs” tais como componentes maquinários e serviços, e provedores de infraestrutura especializada. Geralmente os APL/clusters também se estendem a canais e clientes e lateralmente a fabricantes de produtos complementares e companhias em indústrias relacionadas por competências, tecnologias ou “inputs” comuns. Finalmente, muitos APL incluem Governos e outras instituições – tais como universidades, agências normatizadas – que fornecem treinamentos, educação, informação, pesquisa e suporte técnico especializado (PORTER, 1998, p. 78).

2 Para Frigotto (2011) existe várias denominações que buscam caracterizar este período, com ênfases e

especificidades: Keynesianismo, Estado de bem-estar social e modo de regulação fordista. O foco da questão é de que se trata de perspectivas que afirmam a necessidade de regular o impulso anárquico, destrutivo e concentrador do capital.

(18)

economia e, principalmente, nos investimentos públicos. A pesquisa traz subsídios para o entendimento das possíveis contribuições das IFES, na percepção das políticas públicas envolvidas, para o desenvolvimento local, visando à obtenção de informações que possam servir de balizadores aos gestores para as próximas tomadas de decisão, estimulando e fortalecendo o desenvolvimento.

Optou-se por uma pesquisa qualitativa e exploratória, a qual permitiu maior aproximação e conhecimento mais aprofundado do pesquisador sobre o problema estudado. A pesquisa é caracterizada como descritiva, pois o intuito do estudo é expor a característica do município. Os sujeitos da presente pesquisa foram os atores sociais que estiveram envolvidos na implantação das instituições federais na cidade. Além destes, os dados das instituições, dados da prefeitura, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fundação de Economia e Estatística (FEE), imobiliárias, Associação Comercial, Industrial, de Prestação de Serviços e Agropecuária de São Borja (ACISB), foram à base para o início das entrevistas. Após esta primeira seleção, verificou-se a necessidade de, durante as entrevistas, perguntar acerca de outros atores sociais, se porventura, não houvesse sido mencionado na pesquisa documental, de forma a identificar novos sujeitos a serem entrevistados.

Os sujeitos da pesquisa foram ex-diretores, egressos das duas instituições, servidores (técnicos e professores), empresários, moradores antigos da cidade. Os mesmos responderam entrevistas abertas.

Quadro 1: Sujeitos da pesquisa, entrevistados

Entidade, instituição ou empresa Vínculo/entrevistados

01 Unipampa Ex-diretor (1)

02 Unipampa Docente (22)

03 Unipampa Técnicos (20)

04 Unipampa Egressos (4)

05 Instituto Federal Farroupilha Ex-diretor (1)

06 Instituto Federal Farroupilha Docentes (36)

07 Instituto Federal Farroupilha Técnicos (26)

08 Instituto Federal Farroupilha Egressos (6)

09 Núcleo de criadores de ovinos de São Borja Presidente 10 Empresário e ex-dirigente membro ACISB Proprietário (2) Fonte: Elaboração própria (dados da pesquisa)

(19)

ser feito um estudo longitudinal, uma vez que os dados sofreram atualizações constantes e verificou-se a necessidade de comparação dos dados para posterior análise.

A realização desta pesquisa teve o intuito de provocar reflexões a respeito da relação entre investimento em políticas públicas de interiorização do ensino público em nível superior com o desenvolvimento local. Pela perspectiva pessoal em poder estudar, analisar e interpretar esse momento histórico que é para a cidade, o antes e depois da vinda dessas instituições, pode-se dizer que São Borja hoje conta com uma situação privilegiada em relação à educação superior, gratuita e de qualidade.

Na introdução estão elencados os elementos estruturantes da dissertação com o tema, problema, justificativa, objetivos e aspectos metodológicos desenvolvidos no trabalho.

No primeiro capítulo é abordada a relação entre o histórico da educação superior no Brasil e o processo de desenvolvimento, os avanços e quais as principais estratégias de ampliação nos investimentos.

No segundo capítulo explicita a instalação das unidades de Instituições Federais Educação Superior, desde a origem, com as suas expectativas, procedimentos, do projeto a realidade. Com advento da LDB 9.394/96, com o REUNI no processo de expansão e interiorização das IFES, através do Decreto n. 6.096/2007 e da Lei 11.892/2008 de criação dos IFs.

No terceiro capítulo apresenta-se a discussão e os resultados da pesquisa. Parte-se do processo de desenvolvimento do município de São Borja, com o histórico, características gerais, especificidades locais, desafios e alternativas.

Por fim, apresentam-se as considerações finais e as referências.

(20)

1 ENSINO SUPERIOR E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL

Neste capítulo desenvolve-se uma leitura conceitual sobre alguns elementos necessários para a construção do referencial teórico que fundamenta o presente estudo. Inicia-se com uma discussão sobre os paradigmas de deInicia-senvolvimento e o deInicia-senvolvimento local; na sequência abordam-se o histórico da educação superior no Brasil com os seus avanços, limites e necessidades de entendimentos; com as estratégias de ampliação nos investimentos.

1.1 Desenvolvimento

As preocupações em torno de uma forma de desenvolvimento3 sustentável se afloram a cada dia, e mais as discussões se ampliam. Porém, o conceito de desenvolvimento ainda não é consenso na sociedade, pois, se têm várias interpretações distintas, e é objeto de muitas controvérsias entre pesquisadores. Uma vez que durante muitas décadas, o desenvolvimento foi entendido como sinônimo de crescimento econômico (VEIGA, 2007; SACHS, 2001).

Entender desenvolvimento implica reconhecer um fenômeno em movimento um processo de inovação, que está passando por incertezas distantes das mudanças possíveis. Tal reflexão vem chamar a atenção para o processo de acumulação existente no sistema capitalista e a problemática da desigualdade, em virtude disso, alerta para o caráter sombrio existente com relação ao termo desenvolvimento, com as fortes diferenças entre as diversas classes sociais existentes pelo mundo, causando o impacto social (FERNANDEZ et al., 2006).

Nesse contexto destaca-se a dimensão cultural do desenvolvimento, ou seja, onde há a consideração acerca dos valores, hábitos e costumes das pessoas. Pode-se dizer que desenvolvimento é cultura, vindo ao encontro com a sociedade. Por que a classe trabalhadora tentando ser menos alienada, pois questiona esse sistema capitalista dominante e reflete sobre

3Etimologicamente o termo desenvolvimento origina-se do radical “vol”, um elemento de composição de raiz

indo-europeia com correspondentes principalmente no grego (onde o radical está associado tanto a involucro quanto a espiral ou movimento circular) e no latim (onde o radical tem inúmeras associações, entre as quais comumente se destacam os verbos latinos “volvere”- significando rolar, revirar, rodar – e “involvere”- significando rolar sobre, tombar rolando, envolver). No idioma português esse último verbo latino (involvere) deu origem por derivação prefixal e sufixal ao substantivo abstrato desenvolvimento. Nesta condição (substantivo abstrato derivado de verbo) o termo assume o significado de ato, efeito ou processo. O prefixo “des” – tem o sentido de ação contraria (ao ato de envolver algo), enquanto que o sufixo “mento”é conhecido pelo seu caráter mais neutro em comparação com outros sufixos (como é o caso dos sufixos “ção”, “agem”, “da” ou “nça”, que facilmente configuram um caráter iterativo, pejorativo, jocoso ou coloquial às palavras, como ocorre, por exemplo, em validação, malandragem, patriotada e gastança, respectivamente) (SIEDENBERG, 2012, p. 19-20).

(21)

a necessidade de usar as novas tecnologias para liberar o homem do trabalho (FERNANDEZ et al., 2006; ALLEBRANDT, 2012).

Este tema deve ser compreendido como um processo de transformação da sociedade, não só em relação aos meios, mas em relação aos fins, o que implica uma visão qualitativa e valorativa, em detrimento de uma visão material e econômica. O desenvolvimento deve ser visto como uma mudança qualitativa. Com um olhar preocupado com a construção de uma sociedade mais justa. As características sociais, culturais, políticas, econômicas e ambientais de um país ou de uma região são essenciais para a compreensão do seu desenvolvimento (KEYNES, 2007; ALLEBRANDT, 2012).

A estrutura do espaço público passa, assim, pela consolidação do espaço democrático e participativo. Pois a democracia é construída sob a igualdade de condições socioeconômicas, culturais, assim sendo, os seres humanos na produção da sua vida individual e social; a desigualdade se constitui de um conjunto de processos sociais, de mecanismos e experiências coletivas e individuais que qualificam as condições de vida real (KEYNES, 2007; ALLEBRANDT, 2012).

Fernandez et al. (2006) explicam que em um contexto no qual a expansão das estatais vem desafiando tanto o diagnóstico como a perspectiva dos analistas, estes aportes se encarregam de ressaltar a enorme e crescente presença do Estado, constituindo-se na máquina do processo de desenvolvimento. Esses autores exemplificam com os casos do Japão e do leste Asiático que compreendem como uma importante rota do desenvolvimento econômico e industrial. Ainda, segundo Fernandez et al. (2006, p. 27-28):

El Estado aparece entonces como un “primer motor” institucional que, estimula y, a su vez, condiciona con información y conocimiento, así como con otros inputs más tradicionales (como los recursos fiscales) los comportamientos de los actores regionales, para orientarlos hacia nuevas lógicas de coordinación en red.

Verifica-se que o Estado deve atuar muitas vezes redefinindo aprendizagem no nível de atores financeiros e econômicos para que ocorra o processo do crescimento e alcançar o desenvolvimento.

1.2 Desenvolvimento Local

A perspectiva do desenvolvimento local começou a ser estudado, ainda nos anos 1950, o que desencadeou na teoria dos polos de desenvolvimento de Perroux; nos anos de 1970 temos

(22)

as teorias dos distritos industriais com base na experiência italiana, logo que as características, vocações e apelos de cada localidade passaram a ser observadas como determinantes para o processo, o qual obteve o foco nos próprios atores sociais locais. O que vem a ser esclarecido que o desenvolvimento local não pode ser entendido simplesmente por uma visão de crescimento econômico, mas sim como uma fonte de melhorias, as quais visam impulsionar as iniciativas do poder público e privado para o desenvolvimento local, pois assegura maior continuidade e sustentabilidade aos processos de crescimento endógeno facilitando o controle dentro do território (TAPIA, 2005; FERNANDEZ et al., 2006).

O desenvolvimento local sustentável se dá ou até mesmo é impulsionado pela valorização do território e da dimensão local do desenvolvimento, isso ocorre pelas realizações voltadas à geração de empregos e rendas; isso para que amenize a pobreza e a marginalização. Para conduzir o desenvolvimento local, necessário se faz potencializar as inovações, investir na criação adjacente de instituições econômicas, sociais, políticas e culturais (OLIVEIRA, 2013). O desenvolvimento local é interpretado pelos atores locais ou grupos sociais, instituições privadas e públicas e também organizações não governamentais, que coordenam e formulam políticas e estratégias em busca do beneficiamento da própria comunidade as quais estão inseridos; organizando a estrutura para configurar no entorno territorial inovador (HUDSON, 2008; BASSO, 2012; SAUSEN, 2012).

1.3 Histórico da Educação Superior no Brasil

Nesta seção, faz-se uma retrospectiva da educação superior no Brasil e das suas políticas para compreender a criação da Política Pública de Expansão e Interiorização da Educação Superior. Também será discutida a educação profissionalizante, pois embasa a superior. Para tanto, realizou-se uma leitura dos documentos que determinaram as definições das políticas educacionais no Brasil, bem como buscou-se contextualizá-los com os fatos históricos que influenciaram e nortearam essas decisões.

Com o intuito de situar as discussões em torno do histórico, avanços, limites e necessidades, visa-se também, com essa retrospectiva, destacar alguns dos principais fatos que, segundo nosso entendimento, marcaram o desenvolvimento da educação superior no Brasil.

Nesse sentido, na presente seção apresenta as finalidades, implicações, concepções pedagógicas e os interesses carregados ao longo da história, bem como as estratégias de ampliação de investimentos para o desenvolvimento da educação superior no Brasil. Para melhor entendimento, dividiu-se essa retrospectiva em cinco fases (QUADRO 2),

(23)

compreendidas entre 1888 até 2015.

QUADRO 2: Períodos da Educação Superior no Brasil

PERÍODO HISTÓRICO

1.1. Período I: Brasil Império antes do Estado Novo (1888 - 1929)

Criação das primeiras faculdades e expansão significativa do sistema no país.

1.2 Período II – Era Vargas/Estado Novo antes do Regime Militar (1930 - 1963)

Expansão do ensino técnico refletindo no incremento do ensino superior.

1.3. Período III – Regime Militar 1964 - 1985) até período pré-Constituição

Estagnação no ensino superior. 1.4. Período IV: Constituição de 1988

ao FHC (2002)

Início das reformas universitárias com foco na expansão do sistema privado de ensino.

1.5. Período V: Governo Lula ao Governo Dilma (2003 - 2015).

Ampliação dos investimentos no ensino superior, resgatando instituições públicas para o cenário. Fonte: Dados da pesquisa (elaboração própria)

1.3.1 Período I: República Velha antes do Estado Novo/Era Vargas (1888 - 1929)

Nos anos iniciais da República Velha (1888-1929), os poucos cursos superiores eram da alçada administrativa do governo central. O Brasil tinha, à época, duas faculdades4 de direito, duas de medicina, uma de farmácia e duas de engenharia, além das academias militares, sendo todas exclusivas dos homens. Não houve nenhuma lei no país anterior a esse período, somente a partir da Constituição de 1891, que criasse possibilidades para as iniciativas estatal e privada no âmbito da educação superior (LOPES, 2011; FREITAS; BICCAS, 2009).

Para Veiga (2007) e Lopes, et. al. (2011) o resultado dessa regulamentação se fez importante, pois levou a uma grande expansão do ensino superior, e assim possibilitando a fundação das primeiras universidades. Em 1892, o ministro Fernando Lobo instituiu o Código das Instituições de Ensino Superior, para regulamentar a criação de escolas superiores. Assim, a partir do período da reforma de 1891 até 1910, foram criadas no Brasil 27 escolas superiores.

Para Santos (2011, p. 212) “o pensamento industrialista se converteu em medidas educacionais”, tendo como marco inicial da educação profissional no Brasil a criação de 19 Escolas de Aprendizes Artífices em cada uma das capitais dos estados brasileiros pela iniciativa do então presidente da República, Nilo Peçanha, que baixou o Decreto 7.566 de 23 de setembro de 1909. Com sua publicação, o decreto, além de criar as escolas para ensinar, tinha a finalidade de ofertar à população o ensino profissional primário e gratuito.

(24)

Dessa forma, a educação profissionalizante, que a partir da chegada dos padres salesianos no país sofreu modificações em comparação com o modelo até então vigente. Tratava-se de uma nova proposta para a formação de mão de obra no Brasil. Embora a economia do país estivesse, até então, baseada no “modelo agroexportador, houve uma forte pressão da sociedade para transformar o país numa base econômica fundada na produção industrial” e, portanto, era necessário formar mão de obra qualificada (SANTOS, 2011, p. 212).

O autor ainda salienta que, sendo a “ideologia do desenvolvimento baseada na industrialização passou a dominar os debates em torno de um projeto para o país, para atingir o progresso, a independência política e a emancipação econômica” (SANTOS, 2011, p.212).

De acordo com a legislação que regulamentou essa rede de escolas no Brasil – Decreto 7.566, – a admissão dos alunos obedecia alguns critérios: ter idade mínima de 10 e máxima de 13 anos e preferencialmente aos “desfavorecidos da fortuna” (BRASIL, 1909), com o objetivo de preparar para o trabalho o que contribuía para um maciço abandono da escola tão logo o aluno conseguisse se apropriar de determinadas competências que lhes conferisse uma possibilidade de trabalho.

Esse panorama, que marca a gênese da educação profissional no Brasil, se preocupava mais com a organização positivista da sociedade, pois considerava os marginalizados sociais como os responsáveis pela sua condição (BRASIL, 1909).

Esse primeiro período demonstra que a iniciativa relacionada à educação profissional foi a promoção do ensino de um ofício, através de uma política assistencialista na qual os sujeitos “desafortunados” deveriam servir para um trabalho operacional que os afastassem da ociosidade e do crime e, assim, restringir o ensino das letras (leitura e escrita) e números (contar) como suficiente a um operário (CUNHA, 2011; LIBÂNEO et. al., 2011).

Toda essa iniciativa de ensino profissional representou uma forma de preparar mão de obra operacional e não de utilização do trabalho como pressuposto para o ensino ou tão pouco como forma de contextualização para educação. Essa tendência utilitarista de vincular o ensino formal, mesmo que primário, ao profissional perdurou pelos anos seguintes, pois as escolas eram vinculadas ao Ministério dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio. Mas em 1930, passam para a supervisão do recém-criado Ministério da Educação e Saúde, fato que, marcou formalmente o início da dualidade estrutural da educação profissional no Brasil.

1.3.2 Período II – Era Vargas até Regime Militar (1930-1964)

(25)

(1930), marcado com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública – MESP. Nesse mesmo ano, as escolas vocacionais e pré-vocacionais passaram a ser mencionadas na Constituição como dever do Estado, a reforma elaborada por Francisco Campos - o ministro da educação - atingiu a estrutura do ensino e o Estado Nacional teve ação mais objetiva sobre a educação, oferecendo uma estrutura mais orgânica (LIBÂNEO et al., 2011).

Francisco Campos, logo ao assumir o Ministério, formula vários decretos para as reformas do ensino – secundário, comercial e superior – o Decreto n° 19.851 – relativo à organização das universidades brasileiras e o Decreto n° 19.852 que trata a reorganização de universidades e do ensino superior (ZAINKO, COELHO, 2007).

O então ministro impôs a todo o país as diretrizes traçadas pelo MESP. Em 1932, católicos e liberais foram chamados para participar da elaboração da proposta educacional no primeiro período do Governo Vargas, preocupados em elaborar um programa de política educacional amplo e integrado. Numa época em que a Igreja dividia com o Estado a responsabilidade pela área da educação, o manifesto propunha que o Estado organizasse um plano geral de educação e definisse a bandeira de uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita. O que foi contemplado na sua maioria na Constituição Federal de 1934, permitindo fazer avanços no debate e na mobilização da sociedade civil. A educação passou a ser vista como um direito de todos, a ser ministrada pela família e pelos poderes públicos (LIBÂNEO et al., 2011; MEC, 2015).

Neste período ocorreu uma grande expansão do setor privado ligado à educação. O Governo Vargas além de oferecer imunidade fiscal às instituições educacionais em todos os níveis, reconheceu também a primeira universidade privada do país, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (FREITAS, BICCAS, 2009).

Para Freitas e Biccas (2009), o governo atuou de forma controladora junto ao setor público do ensino superior, tanto que transformou a Universidade do Rio de Janeiro em Universidade do Brasil, buscando com isso ser referência para submeter às outras iniciativas universitárias de caráter federal.

A Revolução de 1930 representou a consolidação do capitalismo industrial no Brasil e foi determinante para o consequente aparecimento de novas exigências educacionais (FREITAS; BICCAS, 2009). No período de 1934 a 1945, Gustavo Capanema Filho, o então ministro da Educação e Saúde Pública, promoveu uma gestão marcada pela reforma dos ensinos secundário e universitário. Naquela época, o Brasil já implantava as bases da educação nacional (LIBÂNEO et al., 2011; MEC, 2015).

(26)

Vargas, durante o qual se oficializou o dualismo educacional: ensino secundário para as elites e ensino profissionalizante para as classes populares. O debate pedagógico e a política educacional estavam restritos à sociedade política, em que a questão do poder se mostrou uma categoria essencial para compreender o processo de centralização ou descentralização na problemática da organização do ensino (LIBÂNEO et al., 2011; MEC, 2015).

Mesmo assim, não há dúvidas que as ações predominantes na normatização da estrutura educacional brasileira traziam uma mudança para a mesma. A partir de então, características que seriam essenciais para o tipo particular de relações sociais permaneceram fermentando uma sociedade em estado de contínuo estranhamento e alerta em relação ao cidadão pobre, evidenciando que naquele período iniciou uma nova relação entre educação, economia e problemas sociais. “A escola era para a chamada elite. O seu programa, o seu currículo, mesmo na escola pública, era um programa e um currículo para privilegiados” (FREITAS, BICCAS, 2009; p.29).

O processo de democratização do País foi retomado com a deposição de Vargas em 1945. Vê-se a seguir que no período corrente se deu a industrialização crescente, o que levou à adoção da política de educação para o desenvolvimento.

Posteriormente, durantea República Populista ou Desenvolvimentista entre os anos de 1945 a 1964, se iniciou verdadeiramente a industrialização do Brasil. Portanto, é de suma importância dissertar sobre educação no período em que a história do país se volta mais fortemente para a ampliação e criação de indústrias e, consequentemente, para a qualificação da mão de obra especializada.

Embora não se negue a existência de qualificação profissionalizante, o sistema educacional superior e público retrocede devido a passos estreitos, em alguns momentos, no que já havia sido alcançado, pois, a educação pública foi colocada de lado na política brasileira. Neste momento as propostas em discussão dizem respeito principalmente ao desenvolvimento econômico com base na industrialização (LIBÂNEO et al., 2011; CUNHA, 2011; SCANDELAI, 2011).

Na Constituição de 1946, ficou prevista a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em virtude da pressão de um grupo de intelectuais que, no ano de 1932, iniciou o Manifesto da Escola Nova (ou Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova), que atribuía ao Estado o dever de garantir ao povo escola pública, obrigatória, gratuita e desvinculada da Igreja (LIBÂNEO et al., 2011; SCANDELAI, 2011).

Na educação, sob a perspectiva das quatro gestões administrativas do Brasil, entre os anos de 1954 a 1964, é possível analisar alguns focos nos governos: a educação não é prioridade

(27)

em nenhum deles, os projetos públicos sempre focalizam o concreto, o imediato, ou seja, planos em curto e médio prazo e que são materializados. Como exemplo, a construção de Brasília por Juscelino Kubitschek (LIBÂNEO et al., 2011; VEIGA, 2007).

O Presidente que sucedeu Getúlio Vargas após sua morte, Café Filho, governa o país por quase dois anos (1954 a 1956). Suas ações públicas resultam na penetração do capital estrangeiro e no descontentamento da classe operária e dos nacionalistas (SCANDELAI, 2011).

No âmbito educacional, no ano de 1954 é fundada no Estado do Ceará uma Universidade Federal. E no âmbito da educação privada, são fundadas no município de Campinas e no Estado da Paraíba, a Pontifícia Universidade Católica – PUC (SCANDELAI, 2011).

Segundo SANTOS (2011, p. 203) de 1954 a 1961, várias instituições de ensino superior, estaduais e privadas, foram “federalizadas”. Pois, neste momento manifestaram-se muito claramente as ambiguidades das políticas públicas para o ensino superior. De um lado, ocorreu um grande crescimento do setor privado, de outro, estabeleceu-se o processo de federalização.

O final do ano 1961 teve um marco no âmbito educacional e uma conquista para aqueles que desde a Constituição Federal de 1934 lutaram para efetivação de uma política específica para os assuntos relacionados com a educação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (Lei n° 4.024/1961) – suprir algumas demandas advindas da sociedade, assumindo três formas: criação de novas faculdades onde não havia ou onde somente havia instituições privadas; pela gratuidade dos cursos superiores das instituições federais, ainda que a lei permitisse a cobrança de taxas nos cursos públicos; e a federalização de faculdades estaduais e privadas, reunindo-as, logo, em universidades. E, por conseguinte, o aumento da demanda pelos cursos superiores (CUNHA, 2011).

Na análise de Libâneo, et al. (2011), o primeiro Plano Nacional de Educação (1962), cujas coordenadas foram estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1961), constituía um conjunto de metas qualitativas e quantitativas a serem alcançadas em oito anos, além de estabelecer critérios para aplicação dos recursos destinados à educação. Esse plano, porém, não obteve êxito, pois não se constituiu em lei que determinasse seus objetivos e as metas da educação no país.

(28)

Pode-se dizer que o Golpe de 19645 atrelou mais fortemente a educação ao mercado de trabalho, incentivando a profissionalização na escola média, a fim de restringir maiores investimentos financeiros no ensino superior.

Com o golpe militar, 1964 a 1985, a concepção tecnicista, utilitarista e instrumental de educação tornou a ideia de um plano nacional um instrumento de racionalidade tecnocrática e produtivista, uma vez que o Ministério da Educação se subordinava ao do Planejamento. Pois, o Estado buscava atender as necessidades advindas com a crescente industrialização, fruto da influência do capital estrangeiro (CUNHA, 2011; LIBÂNEO et al., 2011).

Durante o regime militar os avanços democráticos foram suprimidos na área da educação. Universidades foram invadidas pela polícia, vários professores e estudantes presos e/ou exilados, em consequência disso, as instituições passaram a ser vigiadas por agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI).

Para Cunha (2011) o projeto de reforma universitária de 1968, nasceu e se desenvolveu no âmbito do movimento estudantil, inserido no contexto de luta pelas Reformas de Base, propostas por João Goulart. Os estudantes estiveram engajados em lutas históricas como o aumento de número de vagas nas universidades, a extinção do regime de cátedra; mudanças na organização administrativa e acadêmica nas instituições federais, dentre outras.

Para Zainko e Coelho (2007) neste período a universidade passa a ser um fardo para o Estado e é desacreditada enquanto fator de desenvolvimento, o que vem a contribuir para a elaboração de políticas relativas ao corte de recurso orçamentário para a educação superior. Isso se expressa, principalmente com a tendência em apontar o fim da gratuidade em instituições públicas, também com o rompimento da indissociabilidade entre pesquisa e ensino conforme publicada pela Lei n° 5.540/68 – Do Ensino Superior Cap. I Art. 2°. “O ensino superior, indissociável da pesquisa, será ministrado em universidades e, excepcionalmente, em estabelecimentos isolados, organizados como instituições de direito público ou privado”.

Nesse sentido, no transcorrer das décadas de 1960 e 1970 há uma expansão de universidades que, como mencionado acima, “realizam atividades de ensino dissociadas da pesquisa” e, portanto, despreocupadas com parâmetros de qualidade. Adquirindo um posicionamento de valorização da educação sujeitado às deliberações econômicas. (Zainko; Coelho, 2007, p. 96).

5 Em 31 de março de 1964, militares contrários ao Governo João Goulart destituíram o então presidente e

assumiram o poder por meio de um golpe. O governo comandado pelas Forças Armadas durou 21 anos e implantou um regime ditatorial. A ditadura restringiu o direito do voto, a participação popular e reprimiu com violência todos os movimentos de oposição (AZEVEDO, 1994).

(29)

É importante ressaltar que assim como no setor político e econômico, também a área da educação, foi dominada pelo autoritarismo, com reformas impostas de cima para baixo, expandindo uma opinião elitista do sistema educacional. O povo deveria ser amparado pelas elites, formadas no curso secundário e no superior (CUNHA, 2011; VEIGA, 2007).

Azevedo (1994, p. 461) alega que “a expansão das oportunidades, nos vinte anos de ditadura militar, foi feita através de um padrão perverso”. A ampliação das vagas deu-se pela redução da jornada escolar, pelo aumento do número de turnos e pelo achatamento dos salários dos professores. Sendo que, até a atualidade, o país é vítima dessa política, pois o atraso técnico-científico e cultural brasileiro impediu a inserção da educação nos moldes nos países mais desenvolvidos.

Durante o tempo em que o regime militar sustentou-se, houve uma resistência que se manifestou desde princípio, um sem-fim de estragos sobre o país. A educação, de forma geral, pagou um preço alto por decisões que refletem negativamente até hoje.

Para Zainko, Coelho (2007) na década de 1980 aquele cenário obscuro rumava para a dissolução. Pois, os tempos do milagre econômico começam a esgotar-se completamente desde o fim da década de 70, quando a crise econômica brasileira, articulada à crise do capitalismo internacional, manifesta contradições que pressionam o regime militar. Essa ideia de crise não estava restrita somente a economia, mas também a crise da educação que permanece sendo uma constante resistência travada no meio acadêmico e no âmbito do Estado.

É com este propósito que a preocupação com a avaliação da educação superior começa a aparecer de forma expressiva e sistemática nos documentos do Ministério da Educação. Em 1983, é criado o Programa de Avaliação da Reforma Universitária (Paru). O programa teve curta duração, por não corresponder plenamente aos interesses de regulação da educação superior, embora tenha revelado importância indiscutível dos subsídios de reflexão a respeito do ensino superior (ZAINKO; COELHO, 2007).

O Programa de Avaliação da Reforma Universitária – Paru reconhece a existência de sérios problemas vividos na educação superior brasileira e sugere a necessidade de estabelecimento de estratégias para seu aperfeiçoamento. Uma das proposições do Paru é a da democratização da gestão, pois identifica que a comunidade acadêmica tem pouca participação nos órgãos colegiados, principalmente nos aspectos políticos, econômicos e institucionais, ou seja, pouco envolvimento nas tomadas de decisões (Zainko; Coelho apud Almeida Jr, p. 99).

O programa tem um pequeno período de duração, somente até 1984. O mesmo não correspondia aos interesses do Ministério da Educação, mesmo sendo de relevante importância para subsídios da educação superior (ZAINKO; COELHO, 2007).

(30)

Mas, gradualmente, algumas poucas experiências que ampliavam o diálogo entre governantes e governados projetavam-se neste período, trazendo para o repertório da política o tema da democracia. Após as eleições estaduais abrem caminhos para administrações regionais. A partir daí, começaram os movimentos, mobilizações e comícios que, passo a passo, demonstravam que o regime militar estava com os dias contados.

No início de 1983, reconhecido pelos canais de informação como sendo o maior movimento já visto no Brasil, “diretas já” foi uma manifestação popular com enormes comícios e de grande repercussão em prol de eleições diretas para Presidente da República.

O movimento o “diretas já” consolidou junto às militâncias políticas, sociais e religiosas uma nova percepção em relação ao direcionamento das estratégias da mobilização, prosseguindo para as eleições de um presidente civil pelo Congresso, em 1985 e, além desta, para a Constituição Federal de 1988, seguida pela primeira eleição direta para Presidente da República no ano seguinte (FREITAS; BICCAS, 2009; ZAINKO; COELHO, 2007).

Em janeiro de 1985, Tancredo Neves vence as eleições para presidente, cujo feito marcou o fim de 21 anos de regime militar no país. Em face do discurso do então presidente Tancredo Neves, que defendia a ideia de uma universidade pública com “efetiva autonomia acadêmica, administrativa e financeira. [...] que não a desvincule do Estado nem signifique a definição de seus objetivos e modos de atuação, independentemente dos interesses sociais” (Castro, 1997), seria razoável supor que os anos da Nova República beneficiariam o ensino superior brasileiro. Entretanto, as demandas por melhores salários, cujo atendimento implicava vultosos montantes de recursos, esbarravam nas resistências da equipe econômica.

Mas, o então presidente eleito não toma posse, após período hospitalizado vem a morrer. O então vice-presidente, José Sarney, tomou posse e iniciou o conhecido período da Nova República.

A década de 1980 representou um momento peculiar na história recente do Brasil, pois correspondeu a um período de transição entre o esgotamento dos efeitos do Milagre Econômico dos anos 1970 (o qual selou o fim da “legitimidade” do regime militar instaurado em 1964) e a abertura política que vem resultar em uma nova Constituição (esta, por sua vez, conferiu uma série de direitos sociais). Mostra-se a seguir a tabela com a evolução do número de instituições de ensino superior de 1970-1985.

Tabela 1 – Número de instituições6 de ensino superior de 1970 – 1985.

6 As instituições são universidades integradas, centros universitários e estabelecimentos isolados federal, estadual,

(31)

Ano Instituições públicas Instituições privadas

1970 184 435

1975 215 645

1980 200 682

1985 233 626

Fonte: IBGE e INEP (www.inep.gov.br)

Como pode-se ver na tabela 1 o número das instituições públicas manteve-se estagnado no período entre 1970 a 1985, tendo uma pequena evolução positiva, enquanto o número de instituições privadas cresceu muito mais nesses 15 anos. Em virtude do momento conhecido e supracitado, o “milagre econômico” na década de 70, houve um desenvolvimento financeiro da classe média brasileira que pode ser refletida na mesma tabela, exemplifica no aumento das instituições privadas. A partir do final da década de 1970 até final dos anos 90 o número das instituições se manteve estático, tanto privadas quanto as públicas.

A década de 1980 foi marcada pela crise econômica e política do país, um momento de transição governamental (fim do regime militar) prosseguindo para eleição de um presidente civil pelo Congresso em 1985. Já em fevereiro de 1987, foi instalada em Brasília a Assembleia Nacional Constituinte, que deu origem à atual Constituição, promulgada em outubro de 1988, seguida da primeira eleição direta para Presidente da República no ano seguinte. No ensino superior, como demonstra a tabela 1, foi uma época de estagnação. Como complemento, pode-se perceber melhor na tabela 2, que versa em torno dos percentuais de matriculados. Mostra-pode-se a seguir a evolução em percentuais dos matriculados no ensino superior em instituições públicas e privadas de 1980-1985.

Tabela 2 – Matriculados no ensino superior em instituições públicas e privadas de 1980 – 85.

Ano Instituições públicas Instituições privadas

1980 32,9 67,1

1985 35,7 64,3

Fonte: MEC/INEP. Elaboração própria

Quando analisado os percentuais das matrículas nas instituições públicas e privadas, observa-se que as IES públicas tiveram uma pequena participação, enquanto a privada obtém uma fatia bem significativa (tabela 2). Isso também se dá em virtude da redução de oferta de vagas nas instituições públicas a partir de 1985, ocorrendo o oposto nas instituições privadas.

É possível relacionar esta estagnação também com o fato de que a política para o ensino superior não incorporou propostas formuladas pelo Ministério da Educação, que defendessem um sistema público de ensino de massa. Em contrapartida, houve avanço no setor de avaliação e se criou um sistema de controle para a qualidade do ensino (DURHAM, 2003). Para Zainko e Coelho (2007) esse avanço também trouxe uma “preocupação com a

(32)

avaliação da educação superior como subsídio para elaboração de políticas governamentais para a superação da crise por que passa este nível de ensino [...]” (p. 104).

Esse período caracterizou-se pelo surgimento de várias propostas de mudanças com reestruturação da universidade elaboradas pelo MEC, por meio da Secretaria da Educação Superior (Sesu/MEC), da Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior e o Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior (Geres7) e do Programa Nova Universidade (PNU). Para o Geres, é necessário um sistema de avaliação de desempenho, ou seja, o controle social – estatal – das instituições, principalmente as públicas, respaldado na confiabilidade junto à sociedade. O PNU também articula-se nesta linha como um programa de apoio e fomento às ações da universidade, tendo como eixo central a “geral e comum aspiração pela qualidade de ensino” (MEC/Sesu, 1985, p.6).

1.3.4 Período IV: Constituição de 1988 ao Governo FHC (2002)

O sistema educacional já apresentava tendências importantes no final da década de 80. Com o processo de transição, ocorreu a inclusão na Constituição Federal (CF/88) do artigo 212:

“a União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”.

Esse dispositivo constitucional, portanto ampliou cerca de 40% o valor mínimo que deveria ser aplicado no setor educacional pelo Governo Federal. Mesmo assim, as políticas educacionais implementadas não corresponderam às expectativas criadas pela nova Constituição. Desde novembro de 1988, na Comissão de Educação do Congresso Nacional havia um montante de anteprojeto de LDB n° 1.258-CF/88, cuja tramitação não foi tão longa como a da Lei n. 4.024/1961, abordada anteriormente, mas percorreu por oito anos até fechado o texto final, sendo promulgada em 17 de dezembro de 1996.

Após o final do regime militar, particularmente nas duas primeiras décadas, o Brasil enfrentou um processo de desmonte do Estado. Propagaram-se, veemente, as políticas neoliberais, conforme sugestões de órgãos como Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que controlavam o país, e assim,

7 Geres foi criado pelo MEC, pela Portaria n. 100, de 6 de fevereiro de 1986, e instalado pela Portaria n.170, de 3

de março de 1986. Tinha por objetivo dar seguimento ao conjunto de proposições elaboradas pela “Comissão de Alto Nível” para a educação superior, através de uma proposta operacional (MEC, 1986).

(33)

afundado numa dívida externa. Aliás, é preciso reconhecer que essas políticas econômicas buscam, cada vez mais, mercado e menos Estado, tentando eliminar o poder dos sindicatos e movimentos de trabalhadores, para que se mantivesse a desigualdade social como fator positivo de incentivo à concorrência, rigoroso controle dos gastos públicos (ou até mesmo insignificante) com as despesas sociais, ocasionando a elevação induzida da taxa de desemprego (CARDOSO, 2013).

Percebe-se que as ideias neoliberais têm supremacia do indivíduo sobre o coletivo, imperando o individualismo e a propriedade privada como direito natural do indivíduo, consequentemente pregando a liberdade como condição indispensável para a autorrealização do indivíduo.

No ano de 1995, finda o Governo Itamar, o qual teve início em 1992 após assumir no lugar do então Presidente Fernando Collor de Melo que sofreu impeachment sem completar dois anos de mandato. Nesse período, o ensino superior continua sem ter modificações significativas, continuando o MEC a estabelecer as bases a partir das quais deveria se promover a crescente privatização neste nível educacional.

Durante esse período são retomados os mesmos princípios do Projeto Geres. Essas bases abrangiam desde as dificuldades na tramitação da LDB, até a definição da autonomia para as universidades, passando pelo modelo de Financiamento para as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES).

A nova LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996, trouxe algumas inovações importantes em todo o sistema, definindo claramente o papel das universidades no sistema do ensino superior, exigindo o vínculo entre o ensino e a pesquisa, comprovando ser a produção científica obrigatória para o credenciamento e o recredenciamento. Verdade que essa associação estava presente nas legislações anteriores, mas não havia vínculo com as instituições do setor privado, o qual ocorreu na atual.

Outra iniciativa importante da nova LDB foi à construção de um sistema de avaliação de curso, com a criação do Exame Nacional de Cursos o “provão” obrigatório para alunos e condição do diploma.

Deve-se considerar que para a política pública de expansão e interiorização do ensino superior houve, pelo menos, três momentos importantes anteriores à proposição da reestruturação/expansão propriamente ditas: a) a aprovação pelo Congresso Nacional da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996; b) o lançamento do Plano Nacional da Educação (PNE), 2001; e c) Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado em 2007.

Referências

Documentos relacionados

Estaca de concreto moldada in loco, executada mediante a introdução no terreno, por rotação, de um trado helicoidal contínuo. A injeção de concreto é feita pela haste

Com o objetivo de compreender como se efetivou a participação das educadoras - Maria Zuíla e Silva Moraes; Minerva Diaz de Sá Barreto - na criação dos diversos

A placa EXPRECIUM-II possui duas entradas de linhas telefônicas, uma entrada para uma bateria externa de 12 Volt DC e uma saída paralela para uma impressora escrava da placa, para

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Para comprovar essa hipótese, adota-se como objetivo deste trabalho a análise da Teoria do Capital Humano e suas implicações para a captura da subjetividade dos indivíduos