SEU DELE TOTAL
Ocor % Ocor % Ocor %
ANOS 50 136 87,2% 20 12,8% 156 100%
ANOS 60 143 87,7% 20 12,3% 163 100%
ANOS 70 148 91,4% 14 8,6% 162 100%
ANOS 80 112 93,3% 08 6,7% 120 100%
Observa-se, com mais nitidez, o percurso das variantes no gráfico 2, a seguir. A linha representando a frequência do seu vai subindo, ao tempo em que, a linha que representa a frequência da forma dele vai caindo, ao longo do período em estudo.
Gráfico 2: Uso do seu e dele por década (1950 a 1980)
A tabela 9 bem como o gráfico 2 permitem visualizar a distribuição dos índices apresentados agrupados na tabela 8, ao longo do período pesquisado, segunda metade do século XIX, com os usos das formas seu e dele com referentes de terceira pessoa. Desse registro, constata-se um aumento progressivo do uso do seu (de 87,2% para 93,3%) em detrimento do uso do dele, cuja frequência se reduz de 12,8% para 6,7% (quase cinquenta por cento de redução), na segunda metade do século XIX.
Comparando-se com os corpora analisados por Barros (2006), em que se observou, no século XIX, um aumento da frequência das construções [deNP], nelas incluído o dele e flexões, (cf BARROS, 2006), as correspondências dos professores revelaram o contrário, um uso cada vez mais frequente do seu e flexões e uma redução da forma dele e flexões.133
Considerando-se esses resultados, como a proporção da frequência de uso da forma seu e flexões se apresenta muito superior ao uso da forma dele e flexões, para
133
Ressalte-se que os corpora de Barros eram constituídos de textos de gêneros diversos ao longo de cinco séculos. No caso do século XIX, os corpora foram: contratos de compra e venda, listas e recibos de compras, cartas de leitores e redatores de jornal, pequenos anúnicos, atas de sessão da Assembléia de Minas Gerais. O perfil do corpus desta pesquisa é mais homogêneo, considerando-se o gênero textual, bem como os interlocutores, revelando uma diferença no que se refere ao nível de formalidade da situação comunicativa.
melhor explanação da análise, optou-se por uma comparação entre o comportamento de cada uma das formas em relação às variáveis. Nesse sentido, o que está em foco não é qual das duas formas foi mais frequente para um determinado traço, mas qual o comportamento de cada forma, considerando-se um determinado traço.
8.2.2 As variantes seu e dele em contextos ambíguos
Conforme Oliveira e Silva (1982), o uso da forma dele variando com o seu é explicada como sendo uma estratégia para que se evite confusão na tomada do referente, quando o contexto oferece possibilidade de ambiguização.
Desde o PA, conforme Mattos e Silva (1989) e Meier (1948), o contexto podia ser ambíguo quando duas ou mais terceiras pessoas eram tidas como possíveis referentes. Desde então o uso da forma analítica dele esteve motivada pela desambiguização. No século XIX, momento em que a gramaticalização de você como segunda pessoa provocou alteração no paradigma pronominal, fazendo com que o possessivo seu se refira tanto à P3/P6 quanto à P2, ampliou os contextos ambíguos. Nesse sentido, o seu passou a ser categórico quando o referente é a segunda pessoa; o dele passou a ser mais frequente quando o referente é uma terceira pessoa.
No corpus em análise, datado da segunda metade do século XIX, momento, portanto, em que esse paradigma ainda deveria estar se configurando, contextos ambíguos foram motivadores para o uso da forma analítica dele em algumas situações. Vejam-se alguns exemplos retirados das correspondências:
19. Passando ás mãos de V.Sa a relação dos Alumnos matriculados, que frequentão a Aula Publica desta Povoação [...], eu presinto o reparo, que sobre Ella cahirá pela escacêz do numero delles [...]. (Servulo José Fernandes. Professor Publico. Rio Vermelho. 10/01/1853).
20. [...] Deixão alguns [alumnos] de freqüentar com mais assiduidade[...]; sendo certo que outros [alumnos] allegando quaes quer pretesto para vadiarem, seos pais menos zelosos em indagarem a verdade á similhante respeito, não hesitão em apoiarem tudo sem athenderem que essa irreflexão redunda em detrimento delles próprios [...]. (Manoel Norberto d’Oliveira. Professor Primário. Aula Publica Primária de Pirajá. (01/07/1861).
21. [...] Como mestra do ensino primário, não pude em dia tão solenne para mim e minhas alumnas deixar de esmolar pelos pobres, incutindo, assim, no espírito dellas o amor ao proximo [...]. (Heleodora Julia Dias – Professora Publica. Eschola P. em Praia Grande. 15/12/1876).
22. [...] Quanto ao emprego que faço de minhas alumnas nos diversos misteres da minha casa, tenho a oppor á asseveração do Senr Inspector Litterario o silencio dellas e de seus pais que até hoje não
articularão uma só palavra a respeito [...]. (Honorina Christina de Lemos Marahis. 21/09/1877).
Observam-se nos trechos destacados nos exemplos de 19 a 22 contextos em que há duas terceiras pessoas candidatas a referente do possessivo, e a estratégia utilizada pelo escrevente para deixar mais claro o referente foi o uso do dele e flexões. No exemplo 19, poderia ser “Alumnos matriculados” ou “Aula Pública desta Povoação”; no exemplo 20, poderia ser “outros [alumnos]” ou “seos pais”; no exemplo 21, poderia ser “minhas alumnas” ou “os pobres”. Essa possibilidade foi identificada e analisada por Oliveira e Silva (1982, 1984).
Houve contextos, entretanto, que, mesmo na possibilidade de ambiguidade do contexto, foi a forma seu e flexões a preferência. Seguem alguns exemplos:
23. [...] pela falta do respectivo Atestado, que me foi recuzado pelo Comissario desta Villa, sem ter dado um motivo á sua recuza, [...]. (Miguel Marques Milgaço. Professor primário. Olivença. 16/02/1857).
24. Quanto ao primeiro [livro], lido pelo Alumno, ahi finda sua leitura [...]. (Servulo José Fernandez. Professor publico da Povoação do Rio Vermelho. 11/06/1858).
25. O Presidte da Camara foi capaz de abandonar sua mulher [...] e foi capaz de despidir sua mãe velha, de uma casa sua que morava {...]. (José Ferreira de Carvalho Cunha. Aula Pública primaria em Santarem. 03/08/1888).
Observa-se nos trechos apresentados nos exemplos 23 a 25 que o contexto é ambíguo para duas terceiras pessoas como objeto de discurso. Nesse sentido, conforme Oliveira e Silva (1982), a tendência seria usar a forma analítica dele como estratégia de desambiguização, o que se vê, por exemplo, nos registros 19 a 22. Para o traço grau de ambiguidade no corpus em estudo, segue quantitativo na tabela 10 e no gráfico 3, a seguir:
Tabela 10: Possessivos seu e dele X Grau de ambiguidade
CONTEXTO