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1. PROXIMIDADES E DISTANCIAMENTOS: RECAPITULAÇÃO HISTÓRICA DAS

1.7. O PERÍODO SOVIÉTICO E A GUERRA FRIA

A vitória na II Guerra Mundial não significou a manutenção da aliança que derrotou o nazi-fascismo. Dois dos seus principais membros, Estados Unidos e

14 A UPA (Ukrainska Povstanska Armiia) lutou contra os soviéticos de 1944 a 1952. Movida por um extremado nacionalismo ucraniano, manifestado no seu desejo de construir uma Ucrânia etnicamente homogênea, ou seja, sem a população polonesa, alemã e judaica situada no país, a organização chegou a contar com 100 mil combatentes. Eram cinco as províncias principais de atuação da UPA, todas localizadas no Oeste da Ucrânia: Ternopil, Lvov, Drogobych, Stanislavov e Rovno, sendo que 90% dos ataques da organização ocorreu na Galícia (DARDEN, 2006).

15 Após a II Guerra Mundial, Ucrânia e Belarus se tornaram membros fundadores da ONU junto com a URSS; com o pretexto dos sacrifícios sofridos durante a guerra e base jurídica no direito de legação conservado pelas mesmas (DEBORIN, 1977).

União Soviética, se tornaram as duas superpotências inimigas do período que passou para a História como Guerra Fria, cujos marcos são o fim da II Grande Guerra, em 1945, e a dissolução formal da União Soviética, em 1991. O poderio alcançado pela URSS durante a Guerra Fria teve impacto direto na submissão ucraniana e bielo-russa ao poder central de Moscou.

Após o fim da II Guerra Mundial, as zonas de influência dos comunistas soviéticos e dos capitalistas norte-americanos na Europa foram logo estabelecidas. Immanuel Wallerstein considera a Conferência de Yalta, na qual se reuniram Churchill, Stalin e Roosevelt, como o elemento definidor das restrições geopolíticas de segunda metade do século XX.

Quando a guerra terminou, no dia 08 de maio de 1945, as tropas soviéticas e as ocidentais (isto é, americanas, britânicas e francesas) estavam localizadas em pontos particulares – essencialmente ao longo de uma linha norte-sul, no centro da Europa, que se tornou conhecida como a Linha Oder- Neisse16. À parte de alguns ajustes menores, foi onde ficaram. Em retrospectiva, Yalta foi um acordo entre ambos os lados no sentido de que poderiam permanecer onde estavam e nenhum lado usaria a força para expulsar o outro (WALLERSTEIN, 2004, p. 23).

A Europa restou dividida em dois blocos de países, um deles composto pelos Estados do leste, comunistas sob a liderança da União Soviética, e outro formado pelos Estados do oeste, capitalistas. Os últimos receberam ajuda militar e econômica dos Estados Unidos para que freassem qualquer avanço comunista, fosse ele externo, fosse ele fruto da política doméstica17. No lapso considerado como a primeira fase da Guerra Fria, a situação na Europa permaneceu estável, devido à “política da detenção” adotada pelas duas superpotências, calcada no “equilíbrio do terror”.

A paridade de poder estabelecida na Europa repercutiu nas relações internas da União Soviética, entre elas as estabelecidas entre as Repúblicas Socialistas

16 Os rios Order e Neisse constituíram, assim, a fronteira física entre Alemanha e Polônia, país este que “recuperava”, desta forma, os territórios da Prússia Oriental Meridional, da Silésia e da Pomerânia Oriental, que compensavam, de alguma maneira, os territórios orientais poloneses cedidos à URSS e incorporados por esta à República Socialista Soviética da Bielo-rússia pela adoção da “Linha Curzon” como fronteira leste entre Polônia e União Soviética.

17 O bloco comunista era composto por União Soviética, Polônia, Tcheco-Eslováquia, Hungria, Albânia, Romênia, Bulgária e Alemanha Oriental, ou República Democrática da Alemanha. A instituição militar do bloco comunista foi criada com o Pacto de Varsóvia, assinado em 14 de maio de 1955. Por sua vez, a OTAN, fundada em 1947, era a instituição militar das nações ocidentais, chefiada pelos Estados Unidos. Os seus países membros europeus eram a Inglaterra, Portugal, Bélgica, Turquia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Itália, Grécia, Islândia e Alemanha Ocidental, ou Republica Federal da Alemanha. Economicamente, os Estados Unidos financiaram a reconstrução da Europa Ocidental, por intermédio do Plano Marshall.

Soviéticas da Rússia, da Ucrânia e da Bielo-rússia. Moscou era a grande líder de toda a ordem soviética, e, conseqüentemente, exercia domínio sobre Kiev e Minsk. Como já visto, as tentativas ucranianas, e, em bem menor extensão, bielo-russas, de maior autonomia, ou mesmo de independência, sempre precisaram ser apoiadas por forças externas européias, pois nem uma nem outra detinham capacidade política e força militar para combater a subjugação que as assolava. Na medida em que a situação no continente europeu estava sedimentada, e que países como Polônia e parte da Alemanha também se encontravam submetidos ao controle russo, quando não incorporados ao território da URSS como os países bálticos (Lituânia, Estônia e Letônia), era inexistente a possibilidade de que Ucrânia e Belarus se tornassem Estados livres do domínio imperial soviético.

Uma vez diminuídos os rompantes de libertação ucranianos, a liderança russa passou a ver a Ucrânia, que era a segunda maior república da União Soviética, como uma parceira confiável, mesmo que as províncias do oeste da república continuassem a considerá-la como um território ocupado. A fim de sedimentar a posição da Ucrânia como república irmã da Rússia dentro da estrutura soviética, Nikita Kruschev, um ucraniano, na seqüência de seus atos de “desestalinização” do sistema, adotou medidas que beneficiavam os ucranianos. A primeira delas foi a transferência da Criméia para a República Socialista Soviética da Ucrânia em 1954. Depois, foi permitido a Petro Shelest, primeiro secretário do Partido Comunista ucraniano, que desenvolvesse uma ucranianização moderada no sistema educacional e na mídia local (LIEVEN, 1999, p. 42). Nesse período surgiu a organização nacionalista Rukh (movimento, em ucraniano), que lutava contra a ameaça da assimilação da cultura russa e soviética (WILSON, 2002, p. 153). Entretanto, a partir dos anos 1970, já com Brezhnev, outro ucraniano, no topo do poder soviético, houve uma constante diminuição das liberdades de prática do nacionalismo ucraniano, pois Moscou considerava que ele era defendido com excessivo entusiasmo na república (LIEVEN, 2002, p. 292). Em 1972, o conciliador Shelest foi substituído pelo comunista linha-dura Volodymyr Shcherbytsky, que governou a república da Ucrânia até 1989.

No concernente à República Socialista Bielo-Russa, o período da Guerra Fria apenas manteve a russificação que já estava em curso desde a década de 1920. Como resultado, em 1980 a maioria da população falava o russo como primeira língua, diferentemente do que ocorria em 1944, quando o bielo-russo era a forma

mais comum de comunicação entre o povo da república bielo-russa (ABDELAL, 2001, p. 132).

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