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E1 Eu não queria mas… Que remédio eu tive. Tinha vergonha, não queria andar na boca do povo. E é o que me tem valido, senão já tinha morrido à fome. O povo diz que eu estou a comer à custa deles…. Eles a mim não me dão nada, esse dinheiro que vem é de fora, não é? Temos direito, isso não vai acabar ou vai? Mas a vergonha é passar mal. Era assim, as pessoas recebiam e andavam em segredo, pensavam que íamos lá buscá-lo. O povo é que diz que é à custa deles. Mas isso foi o Governo que disse que tanto há de viver o pobre como o rico, mas agora o rico não faz pouco do pobre, não chega aí e diz: ‘olha, anda aqui trabalhar por 2,5 euros’. A gente feito parvo lá ia não é? Mas agora a gente manda-os à merda. Assim ninguém pode trabalhar para eles.

- Vergonha

- Pensa que o povo diz que ele está “comer à custa deles”

E2 Não tinha nenhuma ideia. - Não tinha ideia

E3 Nós as vezes temos mais vergonha de pedir essas coisas, porque, por exemplo, a gente pede né? Tem vergonha… Mas às vezes há pessoas que passam mal e não pedem, percebe? Pensava um bocadinho, o que as pessoas iam pensar, mas… Eu também já sou um bocado adulto, também já não ligo a essas coisas e já passo por cima disso. Peço por necessidade não é? Não peço porque tenho.

- Não tem vergonha - A necessidade obriga

E4 Depois tive muito tempo que me cortaram da Segurança Social, eu não me separava do homem, tinha a filha. Tive muito tempo que me cortaram, que não recebia, que o pai que dava, mas ele não estava a dar nada. Eu ainda meti para tribunal num é? Mas ele depois deixou de trabalhar, só deu um mês. A minha filha deixei-a à minha mãe e deu um mês à minha mãe só. Não sei se era 12 contos ou 15 que o tribunal… Mas depois nunca mais deu nada, deixou de trabalhar pronto… Não pensava… Agora a médica passou-me até ao fim do mês, pode agora para setembro já não passar, num é? Que depois… Para arranjar trabalho num é? Ganha-se muito mais… Se sarar, se ficar boa, quero arranjar trabalho. É da coluna, aleijei-me na Câmara, lá com umas portas a trabalhar, uma fratura. E agora também me deu isto, uma trombose nas veias, também, já ando há dois meses e tal. Agora quando melhorar quero arranjar trabalho, senão já tinha pedido à Câmara outro contrato num é? Ganha a gente muito mais num é?

- Não pensava, tinha apenas em vista integrar CEI+

Beneficiários e técnicos do RSI num concelho de Vila Real –

Balanço de uma década de trabalho numa equipa de acompanhamento (2007-2017)

E6 Eu não me importo. Eu ando agora aqui com um projeto de pintura, faço umas coisas e tal e estou a tentar vender, mas eu aqui não consigo… Ou vou para Lisboa e lá talvez consiga. Eu aqui não consigo, que as pessoas não têm dinheiro, não dão valor à arte. Eu apresento ali uma pintura ou outra coisa qualquer, quero 200 euros, ou quero 500 euros, não dão… Depois eu pensei noutra coisa que é, que até foi a minha prima que me disse que está no Algarve: ‘fazes fotocópias, daquelas coloridas, metes na mesma nos quadros e vendes mais barato, 25 euros, 20 euros’. Também já pensei nisso, e ir para as feiras com isso, pode ser que até consiga.

- Não tem vergonha

E7 ‘Olha ele é uma pobrezinha, que aí anda’ – na minha ideia vá. Nem que a gente queira vestir uma camisa mais lavada, não pode, ‘porque aquela anda a receber’. Eu também pensava, por isso é que tinha vergonha.

- Vergonha

E8 Sim, talvez pensei que fossem pensar o mesmo de mim, mas a necessidade…. Eu até lhe digo doutora, eu não tenho vergonha de estar com o rendimento mínimo, não tenho. Não tive vergonha porque… Olhe doutora, até fui àquela associação, que até está lá o doutor daqui, eu tive que ir, que eu estava numa situação mesmo, mesmo, mesmo difícil. Não sabia, além disso, estava também com uma grande depressão, ainda estou, nunca mais a curo não é?

- Não tem vergonha - A necessidade obriga

E9 Não tinha vergonha, não tinha vergonha. Não tenho vergonha porque eu não estava a roubar, eu simplesmente se estivesse com o rendimento mínimo e me dessem logo trabalho… E é o que eu tenho feito. Eu, por exemplo, agora acabei o contrato o ano passado em setembro, só fui chamada agora, mas se fosse chamada logo no mês a seguir, ou passado 15 dias, eu vinha logo. Eu não quero o rendimento mínimo porque o rendimento mínimo praticamente não dá para nada. E até que há pessoas que dizem, se calhar, que eu nem precisava, porque eu tenho duas casas e um carro. Mas lá está, se o dinheiro não vem de mais lado nenhum… Quer se dizer, os meus filhos têm a vida deles, têm os filhos para criar, têm as vidinhas deles, também num coiso… Não é que, não digo que eles quando cá viessem… Pelo menos um até às vezes ainda me ajudava, dava-me às vezes 100 euritos ou assim. E uma altura também meteu os pneus no carro à frente. Num digo que eles… Eles diziam assim: ‘ó mãe, tu se precisares, tu diz-me’. Mas eu não era capaz de dizer. Podia passar… Já passei muitas vezes mal, mal, mal, pronto, mas não dizia nada.

- Não tem vergonha - Vergonha é roubar - Está sempre à espera de CEI+

E10 É capaz de haver muita gente que saiba que recebo, mas acho que não afetou. Para já ainda não estou a receber nada dele. Eu não estava casada com ele, estava junta… Mas eu estive 17 anos com ele.

- Não tem vergonha

II. O ACOMPANHAMENTO DOS TÉCNICOS Questão 5. Perceção do acompanhamento dos técnicos

E1 Ela foi quem me pôs lá para fazer aqui um quarto de banho, foi ela quem tratou dos papéis. Ela foi quem me empontou para fazer um tratamento. E eu bem que o fiz para mim. Então já nem comia nem nada. Depois olhe, não foi preciso estar internado nem nada. Eles bem que me queriam empontar para a “quinta das patacas” [casa de recuperação]. Já não tenho problemas com o álcool, não bebo porque não quero. E a vantagem é ter bebidas em casa e não beber. Agora, falei lá com a doutora, tem lá os papéis no computador e vou-lhe entregar mais, por causa da medicação. É à quinta, ela disse que quando precisasse passar por lá e agora tenho aqui uns exames e agora estou à espera de mais. Ela disse que se precisasse dava-me os remédios, cada caixa 12 euros?! Outro dia tive aqui um remédio para os intestinos e para o estômago, custou-me quase 20 euros?! Onde é que eu vou roubar a carteira!?

- Encaminhamento para melhoria de habitação (construção WC) - Encaminhamento para desintoxicação alcoólica - Apoio na medicação - Sabe que pode ir ao atendimento

E2 Naquela altura senti-me muito apoiada, até porque foi na época que me divorciei e até falei muito com ela nessa altura. Até lhe deixei os papéis do divórcio, já tinham sido assinados e tudo. Encontrei muito apoio nela. Agora… Eu até ao momento ainda não precisei de falar com a doutora.

- Sente-se muito apoiada - Procura de apoio em fase difícil

E3 Sinto-me acompanhado e apoiado em tudo o que preciso. Deu-me todas as informações, eu não sabia lá muito bem destas coisas e ela explicou-me tudo e essas coisas todas. Eu nunca precisei disto, percebe?

- Sente-se muito acompanhado e apoiado - Tem todas as

E4 Antes também vinham cá a casa, e foi a doutora S. [técnica gestora RSI] que falou lá na reunião, porque depois quem me deu aqui um jeitinho foi a Câmara. Tinha as paredes, os tijolos, o telhado e tudo. Mas vinham cá, que eu depois ainda tinha a casa que não estava forrada, não estava guiada. Vinham da Segurança Social, vinham cá ajudar. A doutora C. [anterior técnica gestora RSI] também, e agora é a doutora S. [técnica gestora RSI] que vem mais vezes.

- Encaminhamento para melhoria da habitação - Vão a casa para ajudar

E5 Nós já fomos acompanhados lá na Segurança Social do rendimento mínimo pela doutora C. [anterior técnica gestora RSI] e depois também esteve lá outra antes e foi essa que nos ajudou a tratar do rendimento mínimo, já não sei como ela se chamava. E foi essa, a primeira que lá esteve, foi a que nos ajudou. Mas elas não vinham cá a casa. Foi a doutora N. (Assistente Social do Município) que vinha às casas, mas foi pouco tempo. Era mais a doutora C. [anterior técnica gestora RSI], ela vinha cá. Agora a doutora S. [técnica gestora RSI] vem muitas vezes a ver se está tudo bem.

- Ajuda para o requerimento

- Vão a casa para saber se está tudo bem

E6 Fantástica, cinco estrelas e o moço também é impecável, o N. [AAD]. Por acaso o curso, nós é que nos inscrevemos logo, nós queríamos fazer. Pedimos aqui à doutora S. [técnica gestora RSI] e ela arranjou-nos. Foi só a gente dizer-lhe que queríamos um curso que ela tratou logo com o Centro de Emprego e puseram-me a mim e ao meu irmão. Agora quando acabar este queria era um de TIC, para poder aprender a expor as minhas telas na internet.

- Sente que é muito bom o acompanhamento, refere também o AAD

- Encaminhamento para formação

E7 Sim, gosto muito da doutora S. [técnica gestora RSI], por acaso gosto muito, sim senhora. Sinto-me muito acompanhada. Pronto, a minha vida não foi fácil e ela sabe e compreende que eu não posso estar em sítios fechados, vem-me tudo à cabeça. Eu passei por muito… Eu só não lhe ligo mais vezes porque também não quero ser chata.

- Gosta muito da técnica

E8 Sim, sim, muito bem, muito bem. E lá [no Porto] também. Pronto, lá é assim, é muito grande, aquilo lá é muito grande, muito grande. A minha técnica foi um espetáculo para mim, foi sim senhora. Eu digo-lhe, eu sinto-me envergonhada por eu estar aqui, uma mulher com saúde, eu acho que tenho saúde, por estar aqui metida sem poder trabalhar. E, em contrapartida, também lhe digo uma coisa doutora, também me vai desculpar, eu também tenho muita dificuldade ainda de enfrentar a nossa sociedade, tenho muita dificuldade, sinto-me envergonhada, sinto-me envergonhada, porque tudo isto que eu fiz na minha vida foi para meu bem. Porque eu fiquei desempregada ali da farmácia só que, sabe que isto aqui é um meio muito pequeno e tudo se sabe não é? Eu sinto vergonha de ter sido enganada, se algum dia eu pensava que aquele homem… Eu fui casada, como a doutora sabe, também já não correu muito bem o meu casamento, mas pronto, mas por aí, fui eu que quis, fui eu que me quis divorciar, pronto por aí o meu assunto ficou resolvido. Agora estou… O meu relacionamento com a minha filha nunca mais foi o mesmo, nunca mais foi o mesmo, aqui com a minha irmã também não foi. Depois com respeito às partilhas, eu como tenho… Tenho as contas penhoradas e essas coisas todas, a minha irmã queria que eu pusesse tudo em nome dela, só que eu na altura também… Este senhor E. [amigo] disse-me: ‘A. [a própria] cuidado porque um dia, a sua filha está lá em Lisboa que queira, pode meter a chave à porta…’. Pronto, também desconfiei da minha irmã, também sinto que desconfiei, não sei se deveria ter desconfiado dela ou não… A doutora está sempre disposta a ouvir-me e ajuda-me a pensar que melhores dias virão. Tem-se preocupado imenso comigo. Se não fosse ela a convencer-me a sair de casa e a ir para um curso, que ia ser bom para mim, eu não teria ido pedir à doutora T. [técnica do GIP] para o curso e gostei tanto! Fez-me tão bem, relacionar-me com colegas que já não via há tanto tempo da minha geração… Sinto-me agora aqui mais acompanhada por vocês porque estão sempre a telefonar, sempre a perguntar como eu estou. Eu digo-lhe doutora, às vezes vou ali às quintas-feiras só para desabafar, porque ela compreende-me, saio de lá com outro ânimo.

- Sente-se muito acompanhada

E9 Sinto-me muito acompanhada, sempre que preciso eu sei que a doutora está lá. - Sente-se muito acompanhada

E10 A minha doutora é… Olhe, já foi lá a casa tanta vez quando o meu falecido era vivo, para ver se estava tudo bem, se ele precisava de alguma coisa e eu num é? Ele estava numa situação já um bocado complicada e ela sabia que eu não podia sair de lá, então ligava-me ou ia lá, não me esqueço do que ela fez por ele.

- É bom o acompanhamento

Beneficiários e técnicos do RSI num concelho de Vila Real –

Balanço de uma década de trabalho numa equipa de acompanhamento (2007-2017)