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3)Percepção e comportamento dos colaboradores – o que dizem os entrevistados

Essa categoria é apresentada através dos depoimentos dos respondentes compreendendo duas visões: como as pessoas são percebidas e como se comportam no ambiente de trabalho com vistas a identificar aspectos que facilitam e dificultam o desenvolvimento de uma cultura de gestão do conhecimento e de inovação na Instituição. Seguem os depoimentos:

Um (a) dos (as) entrevistados (as) revelou que os colaboradores têm boas ideias, mas não encontram um ambiente propício para o seu desenvolvimento. Segundo ele (a), o ambiente de trabalho não apresenta as condições necessárias. Só as pessoas que têm um perfil mais criativo e estão satisfeitas no trabalho procuram inovar. E lamenta por que a Instituição não conseguiu ainda uma forma de propiciar essa condição adequada para que isso aconteça. Refere que a Instituição está passando por um momento de grande demanda para atendimento a capacitações em todo o estado, mas assegura que a pesquisa e o estudo são funções nobres que podem vir a agregar e contribuir para o engrandecimento do SENAI-PE frente às empresas e sociedade, além de propiciar maior satisfação aos colaboradores no desenvolvimento de seu trabalho, conforme depoimento:

Porque às vezes a gente vai falar com um técnico, com um docente e vê que o cara tem ideias mirabolantes, mas ele não encontra o ambiente propício para desenvolver aquela ideia. Às vezes aquele velho binômio: produção qualitativa e quantitativa. Então, o cara que produz alguma coisa hoje no SENAI é porque ele acredita muito na sua ideia e gosta muito de fazer isso. Porque atualmente, embora se fale que se queira isso, não se esta dando as devidas condições. Então, o SENAI é riquíssimo. Eu tive conversando com pessoas que têm ideias brilhantes.... Então, o SENAI tem material humano pra produzir essa inovação, esse estudo. Mas, infelizmente, ainda não se conseguiu dar ou visualizar uma condição adequada pra que isso aconteça. Veja só... A direção do SENAI como um todo, a cúpula diretiva, tem que proporcionar esse tipo de ambiente e entender que a produção intelectual também é uma produção que deve ser mensurada. Então além da gente não ta sabendo proporcionar um ambiente adequado, você sabe que no nosso Estado ta havendo grande transformação econômica e que a gente também tem que ajudar, que foi um compromisso da direção regional, em qualificar todas as pessoas, e que a gente até se sobrepondo muito e não ta conseguindo realizar. Então, aliado a essa falta de condição ideal ta aquela cobrança pelo

fazejamento, por produção. Agora, realmente teria que desenvolver na cúpula diretiva que a produção intelectual também é uma produção. Então, tendo essa concepção é proporcionar um ambiente ideal, que é de estudo, que é de pesquisa, ta, e que dê asas a essa meia dúzia de professores pardais que o SENAI tem, tem muita gente querendo fazer, apenas não ta encontrando ainda a condição (Colaborador (a) E, entrevista em 30.09.2010, grifos nossos).

Quando perguntado aos (as) entrevistados (as) que atitudes e comportamentos percebem na sua equipe que contribuem para a cultura de inovação e de gestão do conhecimento foi revelado que as pessoas são muito disponíveis e querem participar e contribuir com novas ações; outros, percebem de maneira diferente. Revelam que são conservadoras, e se limitam as atividades de rotina, conforme depoimentos:

Eu vejo as pessoas envolvidas em querer fazer algo novo. Eu, particularmente, vejo (Colaborador (a) A, entrevista em 05.10.2010, grifos nossos).

O pessoal aqui é muito disponível. E eu só tenho a agradecer, porque, realmente, essa minha vivência aqui na [...] foi, assim, sei lá, de muita experiência, né? Eu acho que é uma vivência nova e são pessoas de níveis diferentes, mas que a gente tem se dado muito bem. Às vezes, claro, a gente encontra alguma dificuldade, mas isso faz parte. Mas, no dia a dia, eu, assim, muitas vezes eu tenho me deparado com muitas questões. E hoje eu vejo: só de universitários aqui nós temos cinco pessoas fazendo faculdade. Tivemos, assim, um fator muito relevante esse ano, que foi a questão da disseminação, da implantação do... Então, isso foi um trabalho muito grande, que envolveu [...] Foi uma melhoria de processo que nós implementamos, aliado ao que eles fizeram (Colaborador (a) C, entrevista em 28.09.2010, grifos nossos). Veja, tem um universo aqui na escola de [...] pessoas e é um público bem variado. No computo geral, eu acho que eles contribuem bastante, mas ainda precisam acordar. Alguns, não é? Logicamente, nós temos casos isolados de pessoas que são inovadoras, que correm atrás de fazer algumas coisas, mas, assim, no computo geral, eles são bastante conservadores. E esse é um trabalho grande, na tentativa de motivá-los, de incentivá-los a fazer trabalhos inovadores e buscar a inovação (Colaborador (a) G, entrevista em 24.11.2010, grifos nossos).

Eles têm o comprometimento. O que eles não têm, e talvez isso seja uma coisa inerente à nossa área, que como nós somos da área de apoio, a gente lida com rotina, é uma rotina muito pesada, extremamente pesada, então, o ponto positivo eu diria que é o comprometimento, mas o negativo é que eles deixam tudo pela rotina, de fazer somente o que estão designados a fazer e aquilo já toma o tempo todo deles. Eles não conseguem gerenciar esse tempo pra que o mínimo de tempo útil que eles tenham, eles consigam ter uma visão macro, assim, eles busquem outras oportunidades de coisas que possam trazer inovação pra gente (Colaborador (a) J, entrevista em 30.09.2010, grifos nossos).

Entretanto, o (a) entrevistado (a) D afirma que os colaboradores na Instituição estão vivendo uma crise existencial, o mundo mudou e algumas pessoas não acompanharam essa mudança e dessa forma estão repetindo comportamentos de dez anos atrás, não sabem se por culpa delas mesmas de não terem se preparado ou foi a Instituição que não as preparou. Segundo ele (a), o foco maior dos gestores hoje é nas tarefas, foco nas metas, foco na produção e as questões estratégicas ficam órfãs neste contexto complexo, conforme depoimento:

Eu vejo que a gente ta passando um momento de transição difícil... Difícil momento de transição, que vai levar algum tempo, onde a gente ta meio que em crise existencial. E eu vejo que nesse momento as pessoas têm dificuldade de pensar a gestão do conhecimento, de pensar a inovação, até pelas tarefas que eu já citei... Como mudou o mundo, o Brasil não é o mesmo... Pernambuco ta muito diferente, inclusive do Brasil. Então, isso tem data, mais ou menos de cinco anos pra cá, a gente ta se deparando com outro cenário, com outro Brasil. Eu acredito que muitas pessoas, e pode até eu estar incluído, não se prepararam ou não tiveram a oportunidade de se preparar pra essa mudança de cenário. Então, muitas pessoas, incluindo os gestores, estão repetindo comportamentos que eram de dez anos atrás. Só que o mundo é outro. Mas, por outro lado, a preparação é um pouco das pessoas, os jornais tão aí, as televisões tão aí, e um pouco também da Instituição, que tem a obrigação também de se autodesenvolver enquanto ser vivo também, não é? A situação nossa em termos de mobilização pra gestão do conhecimento e mobilização pra inovação é sofrível, hoje. Mas eu acredito que amanhã, depois de amanhã, deverá, necessariamente a gente se recuperar, senão a gente vai continuar centrando na tarefa e não no estratégico. Só que a tendência hoje, pra mim, é na tarefa, eu não tenho nenhuma dúvida disso, principalmente para os gestores. Talvez menos para os técnicos, que numa hora tão repetindo, mas têm algumas saídas, mas os gestores são cobrados... Não tem aquele texto, da desculpa verdadeira? Porque eles têm uma demanda real, então, tem que fazer a tarefa. Aí como a desculpa é verdadeira, eu vou ter que fazer a tarefa. Ninguém inventou que tinha a demanda. A demanda é real. Essa demanda grande é real... Nós não tínhamos Transnordestina – temos. Nós não tínhamos transposição disso, não tínhamos Sadia, não tínhamos Perdigão, não tínhamos duplicação da BR 101, não tínhamos Copa do Mundo. Isso é real. Agora nós temos usado como desculpa verdadeira pra continuidade apenas das tarefas. (Colaborador (a) D, entrevista em 05.10.2010, grifos nossos).

Quando perguntado se as pessoas conseguem se entender e compartilhar da mesma visão/objetivos, o (a) entrevistado (a) revelou que percebe ainda muitas dificuldades. O SENAI-PE em sua opinião é muito departamentalizado, isto é, as unidades atuam de forma independente, falta visão sistêmica, o que torna difícil o desenvolvimento do trabalho de forma integrada e cooperativa. Convém uma maior compreensão do papel e importância de cada pessoa/unidade e de uma visão mais integrada aos objetivos estratégicos, conforme segue:

Não! Infelizmente, ainda não. É muito departamentalizado. Contabilidade é um setor totalmente à parte, que às vezes não entende as frentes que a escola precisa, as várias frentes que tem que atuar, e se cobra aquele bê-á-bá, aquele feijão e arroz, e quer que seja tudo daquela maneira, que não pode fugir uma vez daquilo ali. Então, isso é muito desgastante. Isso é muito desgastante pro gestor que ta na linha de frente, porque uma escola, a vida na escola é totalmente diferente do departamento regional. Ali é que acontecem as coisas, porque ali tem ‘n’ alunos que dependem da tua ação. E daí se vê uma coisa que ta acontecendo, um fator que ta acontecendo, porque se acha que só com palavras que se resolve tudo: [“_Não, eu quero isso!], e ta resolvido, mas não é assim. Primeiro, as pessoas têm que ser preparadas. Não é atropelando. E com isso, volto a dizer, o mais importante nessa transformação não é a parte mecanicista ou a parte de programas, porque máquina é máquina, sistema é sistema, mas pra isso precisa de pessoas pra alimentar ou pra fazer funcionar esse sistema. E pra mim o SENAI é uma Instituição estressada, cansada, que a gente não ta conseguindo, até, inclusive, às vezes, dar o passo necessário por conta desse estresse que se vive no dia a dia (Colaborador (a) E, entrevista em 30.09.2010, grifos nossos).