• Nenhum resultado encontrado

3.2 As características da supervisão escolar contemporânea: uma categorização

3.2.3 A percepção de escola

Pode-se afirmar que o espaço escolar é constituído por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, que necessitam ser considerados e tecidos numa trama, continuamente, de modo recorrente, recursivo e complementar.

A visão que o profissional da educação dispõe do local de trabalho é uma oportunidade de compreender o seu comprometimento com o espaço que ocupa no universo

escolar. Neste sentido, as coordenadoras pedagógicas foram questionadas sobre a visão que possuem do seu espaço de trabalho sob duas perspectivas: a visão de escola contemporânea e a visão da escola onde trabalha, elencando os pontos fortes da instituição escolar e os pontos que são desafios a serem superados.

Ao buscarem definir a escola contemporânea, observou-se um olhar consciente sobre o que a instituição educativa representa em seu ambiente de inserção. A coordenadora pedagógica A apontou que “a escola contemporânea precisa contemplar modelos sociais de comportamento e valores morais de gerações diferentes”. A coordenadora pedagógica F destacou que “a escola está com visão/atitudes mais abertas, vivenciando diariamente inclusões das diferenças”. Enquanto a coordenadora pedagógica G se limitou a questionar o tipo de escola do qual estava se tratando, sem apresentar definição de nenhuma delas “a ideal ou a real?”, a coordenadora pedagógica H expressou que “ainda estamos longe da Escola ideal”. As coordenadoras pedagógicas B, C, D e E apontaram a escola como uma instituição “formadora de cidadãos voltados para a comunidade”.

A definição da coordenadora pedagógica I pode ser considerada, na forma conceitual, a mais abrangente e ao mesmo tempo completa quando afirma que a escola “é um lugar onde a educação acontece de forma integrada; a tecnologia está muito presente; a autoridade do professor é dada pelo conhecimento que ele possui”. No mesmo caminho de definição conceitual, a coordenadora pedagógica J expressou que na escola “o conhecimento não é algo dado ou acabado, mas ele se constitui pela interação do ser humano com o meio em que vive, com o mundo das relações sociais e assim se constitui”.

Ao referendarem a escola como um espaço que contempla os modelos sociais de comportamento e valores, que requer uma visão mais aberta para a inclusão e respeito às diferenças, com o compromisso formador, onde a autoridade é constituída pelo conhecimento que proporciona e as relações sociais que dinamiza, não omitindo o questionamento e a denúncia de que se está muito longe de instituição escolar ideal, percebe-se que a coordenação pedagógica compreende que as funções desempenhadas na escola estão sempre atreladas a contextos, uma vez que a escola necessita ser pensada como um dos espaços da sociedade, ou seja, como uma parte de uma totalidade que é dinâmica.

Neste sentido, aprofundou-se a investigação em outros dois aspectos específicos da escola em que atuam. As serem questionadas sobre como caracterizavam a escola em que realizam a função de coordenação pedagógica, as coordenadoras manifestaram os seguintes posicionamentos, organizados em tabela para melhor visualização dos conceitos apresentados.

Tabela 10 – Visão da escola que em atua na coordenação pedagógica

Coordenadora Visão da escola em que trabalha

A Uma escola com bastante conflitos sociais, morais, religiosos, onde se procura mediar os conflitos; respeitando as diferenças.

B e C Uma escola que conhece a realidade da sua comunidade escolar.

D e E Acolhedora, que vai ao encontro da comunidade, que conhece a realidade do aluno.

F Escola que caminha na busca da qualidade.

G Uma escola com diversidade cultural e socioeconômica muito presente. Uma escola com bons profissionais e que necessita buscar uma unidade de ação.

H Possui diferentes cursos. Há uma diversidade cultural, socioeconômica muito presente.

I Uma escola muito boa de trabalhar. Aspectos físicos e recursos didáticos muito bons; relações interpessoais também muito boas.

J Ainda a prática pedagógica tem resquícios da pedagogia tradicional, mas através de estudos estamos com uma prática progressiva.

Fonte: A autora, mediante informações apresentadas nas entrevistas semiestruturadas, 2015. As coordenadoras pedagógicas apontaram quatro ideias com relação aos pontos fortes das escolas em que atuam. As coordenadoras A e J destacaram como ponto forte da escola “o comportamento da maioria dos professores, funcionários e alunos” da escola com relação ao comprometimento com o trabalho realizado, “buscando junto superarem todos os desafios”.

As coordenadoras pedagógicas B, C, D e E apresentaram como pontos positivos na escola as qualidades que ela apresenta por ser “transformadora, acolhedora, participativa e atuante, procurando melhorar a realidade existente na comunidade escolar”.

As coordenadoras pedagógicas G e H apontaram como pontos fortes da escola em que atuam os recursos e cursos oferecidos pela instituição educacional, como “a oferta e o atendimento de toda a Educação Básica e Cursos técnicos profissionalizantes”. As coordenadoras pedagógicas F e I destacaram “a organização da escola, a integração e apoio das famílias; o trabalho voltado ao conhecimento, valores humanitários e relacionamento pessoal”.

No contraponto da escola, sempre existem os desafios. Ao realizar a leitura dos pontos considerados desafios na escola em que as coordenadoras entrevistadas atuam, percebem-se queixas comuns, alterando pequenas situações semânticas como observado na tabela que segue.

Tabela 11 – Dificuldades enfrentadas na escola

Coordenadora Desafios da escola em que atua na coordenação pedagógica

A Estamos trabalhando para aumentar o IDEB da escola; manter o aluno na mesma com aproveitamento.

B e C Falta de motivação dos alunos para o estudo; com relação aos professores, falta de conhecimento da realidade por parte de alguns.

D e E Falta motivação dos alunos para o estudo e de alguns professores na realidade da escola.

F Dificuldades de aprendizagem por parte das crianças e falta de aceitação disso por parte dos docentes.

G O olhar e a responsabilização destas “JUVENTUDES” que estão na escola,

a prática de unidade de ação de alguns profissionais e as inter-relações.

H Falta de comprometimento em relação às aulas, ao estudo; Relações aluno x professor (EM).

I Quando a família não participa ou não apoia o trabalho desenvolvido pela Escola.

J Ensinar o aluno a pensar, ser um pesquisador e construtor do seu próprio saber.

Fonte: A autora, mediante informações apresentadas nas entrevistas semiestruturadas, 2015. Ao solicitar a descrição da relação das coordenadoras pedagógicas com os colegas de trabalho e com os estudantes observam-se duas realidades bem distintas. As coordenadoras pedagógicas A, B, C, D, E, F e J registraram que “é uma boa relação, de troca de ideias e relato de experiências, aberta a muito diálogo. É um relacionamento bom, calmo, pacífico com todos, principalmente com os alunos”. A palavra comum a todas é diálogo e troca. Já as coordenadoras pedagógicas G e H apresentaram a questão de que está “em constante desafio, e por vezes é mais difícil a relação com os professores do que com os alunos. Os constantes desafios são principalmente com colegas de trabalho”.

A coordenadora pedagógica I apresentou um ponto de equilíbrio ao expressar acreditar que sua “relação é muito boa, pois, procuro respeitar, ouvir e entender a todos, sem deixar de cumprir com as tarefas e compromissos pertinentes a minha função”.

As informações obtidas nesta terceira categorização remetem diretamente aos espaços de atuação da supervisão educacional. Esses contextos educacionais estão atrelados a conflitos sociais que exigem mediação e respeito à diversidade que reside em cada lugar. As escolas buscam estar em sintonia com a realidade em que estão inseridas, mantendo a qualidade satisfatória nas relações pessoais e nos recursos que disponibiliza. Existe a busca pela qualidade educacional (considerando até os indicadores de larga escala como IDEB), mas ainda apresenta uma pedagogia associada à metodologia tradicional.

Como observado na segunda categorização, quando se mencionou apenas uma vez a interdisciplinaridade, nos discursos apresentados, como pontos fortes da escola, não se estabelece relação com a pedagogia adotada – campo fecundo da supervisão escolar. Remete ao comportamento do grupo no intuito de superação das dificuldades, a busca da qualidade

educacional, o atendimento realizado por meio dos cursos oferecidos, a organização da escola, a integração com a comunidade e o conhecimento da realidade do aluno.

Como desafios estão elencados a falta de motivação e aproveitamento dos alunos, as dificuldades de aprendizagem, o necessário olhar mais efetivo sobre a aprendizagem dos alunos e o comprometimento dos educadores.

A legislação que apresenta a proposta pedagógica do Estado do Rio Grande do Sul, em especial a do ensino médio em sua última formulação, privilegia a escola como um espaço, por excelência, da promoção do diálogo dos diferentes saberes, reconhecendo seu poder de transformar a realidade, mas também os seus limites, oriundos de seu modo de produção, que reflete as desigualdades de acesso ao conhecimento e à cultura. Na perspectiva da correção das distorções, historicamente dadas, e responsáveis pelas dificuldades de acesso e permanência na escola, atenta para a necessidade de uma prática pedagógica comprometida com o enfrentamento das desigualdades. Segundo a legislação, “esta atitude significa colocar a práxis pedagógica no espaço mais permanente da sociedade: no espaço das lutas sociais pela emancipação do ser humano” (RIO GRANDE DO SUL, 2011, p.18).

A escola, em especial, sua práxis pedagógica, é o objeto de trabalho do supervisor escolar. A visão adequada de sua realidade e a fundamentação que orienta a práxis necessita ser o campo de trabalho da coordenação pedagógica das escolas. Hipoteticamente pode-se sugerir que se necessita corrigir também algumas distorções históricas relacionadas à atuação do supervisor nas escolas, uma vez que a visão não pode estar limitada às constatações, mas também as formas de gerenciamento daquilo que é pertinente ao universo escolar.