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Percepção dos tutores sobre o processo de treinamento para a ação tutorial

Etapa III. Avaliação do programa de tutoria por pares

OBSERVAÇÃO/ENTREVISTAS Etapa

5. Percepção dos tutores sobre o processo de treinamento para a ação tutorial

O treinamento para a ação tutorial é um momento crucial para um programa de TP. Dele dependerá grande parte do que irá acontecer no momento da ação com o TT. Jenkins (1981) afirma:

Nem todas as crianças com problemas de aprendizagem podem ser ensinadas de forma eficaz por todo o tutor de idade. Surpreendentemente, porém, a maioria das crianças pode, se a situação estiver bem estruturada. Estes resultados dão suporte aos benefícios duplos que se acumulam tanto para o tutor quanto para o tutorado e demonstram como os professores podem usar os professores não qualificados academicamente, desde que a tarefa seja cuidadosamente estruturada39 (JENKINS, 1981, p. 47, grifo nosso).

Também Jenkins (1981) considera que “é essencial que os tutores sejam treinados em comportamentos interpessoais apropriados que resultem em uma experiência confortável e satisfatória para ambos os membros das díades de tutoria” (JENKINS, 1981, p. 35). Topping (1996) alerta que o tempo gasto no treinamento dos tutores é a chave para o sucesso posterior, portanto deve ser visto não como perda de tempo, mas como um investimento para o funcionamento das duplas.

39 “Not every child with learning problems can be taught effectively by across age tutor. Surprisingly, though, most children can, if the situation is properly structured.

These results lend support to the dual benefits that accrue to both tutor and tutee and demonstrate how teachers may use academically unskilled children as tutors, provided that the task is carefully structured.”

Greenwood (1997) adverte que um dos requisitos necessários que devem ser levados em conta ao aplicar com sucesso essa modalidade de aprendizagem cooperativa é o treinamento, sobretudo do tutor em seu papel. Duran e Vidal (2007) enfatizam que a formação ou o treinamento prévio, especialmente dos tutores – torna-se um requisito fundamental para transformar a interação de colaboração em uma verdadeira relação de tutoria em que cada membro da dupla desempenha seu papel. Hott, Walker e Sahni (2012) expõem alguns pontos importantes que devem ser considerados ao realizar o treino com os tutores. Entre eles, destacamos: definir e desenvolver procedimentos para habilidades sociais que os alunos possam precisar ao longo da TP, explicar e modelar a TP e permitir que os alunos pratiquem antes da primeira sessão, estabelecer regras para se ter segurança no progresso do aluno, treinar os alunos - como dar elogios e fornecer feedback para quando o TT oferecer respostas, sejam elas corretas ou incorretas - e ensinar os alunos a monitorar cuidadosamente seu próprio progresso e o do TT.

De acordo com o comportamento dos tutores durante a ação tutorial, acredita-se que o tempo de uma semana utilizado para o treinamento dos tutores foi suficiente para o trabalho que seria realizado nesta pesquisa, mas destaca-se que, em outra situação, com mais tutorados e tutores ou uma outra condição de deficiência que exija um treinamento mais ampliado para se conhecer e saber lidar com diferentes características, deve ser reservado um tempo maior dentro do programa. Quanto a isso, Jenkins (1981) ressalta que:

O conteúdo específico dos programas de treinamento para preparar as crianças para tutoria variará de acordo com a área em que eles ministram, o tipo de medidas de desempenho que o programa emprega e os tipos de crianças a serem tuteladas. No entanto, o treinamento geralmente abordará esses tópicos gerais: informações sobre o programa e as responsabilidades dos tutores, procedimentos de medição, estrutura de lições, procedimentos de ensino e comportamentos pessoais 40(JENKINS, 1981, p. 60)

Os discursos dos tutores relatam a visão sobre o tempo destinado ao treinamento para a ação tutorial (quadro 18):

40The specific content of training programs to prepare children for tutoring will vary with the subject area in which they tutor, the kind of performance measures the program employs and the types of children to be tutored. Nevertheless, training will usually address these general topics: information about the program and the tutors' responsibilities, measurement procedures, lesson structure, teaching procedures, and personal behaviors.”

Quadro 18 - Discurso dos tutores sobre o tempo do treinamento para a ação tutorial

Respostas dos Tutores TUTORES

“Bastante, mas acho que não vai ser tão fácil assim.” T2

“Sim, mas ainda teremos mais reuniões e também terei a ajuda de mais dois colegas.” T3 Fonte: entrevistas iniciais (2019).

Outro questionamento foi sobre o papel e tarefas que os tutores iriam realizar (quadro 19):

Quadro 19 - Discurso acerca do papel do tutor

Respostas dos Tutores TUTORES

“Sim. Teremos que ajudar o tutorado nas atividades, explicar as matérias que ele não entendeu de uma maneira mais fácil, para que ele compreenda.”

T1 “O tutor deve ter paciência durante o tempo que estiver ensinando o tutorado, no nosso caso,

2 meses. Não colocar pressão em cima do tutorado, muito menos se sentir mal se ele não conseguir.”

T2

“Estou a par das minhas atividades, responsabilidades. Terei que ajudar o tutorado, esperando, intervindo e encorajando-o.”

T3 Fonte: entrevistas iniciais (2019).

Vale destacar que a entrevista inicial foi realizada no quarto dia de treinamento. Com exceção da resposta do T3: “Tutoria por pares pode ser interpretada e compreendida como

uma forma de incentivar o tutorado a se desenvolver e para isso tem o tutor que irá ajudá-lo”

(T3), alguns pontos importantes não foram citados explicitamente nas respostas, inclusive os outros dois tutores demonstraram que estavam mais preocupados com a evolução acadêmica do TT. Assim, a pesquisadora achou por bem realizar uma reunião no mesmo dia, após a gravação das entrevistas, para retomar alguns pontos importantes. Destacou duas funções principais dos tutores na ação tutorial: a orientação pessoal e acadêmica (ARGUIS, 2002), lembrando que essa orientação pessoal tem como finalidade proporcionar ao TT uma formação integral, facilitando sua adaptação ao ambiente. Destacou também algumas características do perfil de um tutor, importantes para todo o processo tutorial: acolher e contribuir para que todas as potencialidades do tutorado sejam despertas e estimuladas; colaborar para melhorar a autoestima do tutorado; incentivar seu desempenho social e acadêmico. Nessa reunião, dois dias antes de iniciar a ação tutorial, solicitou-se que eles prestassem muita atenção quanto ao incentivo que poderiam dar ao TT com relação à sua participação efetiva nas atividades em sala

de aula, junto com o grupo, coisa que ele não fazia, relembrando comportamentos que eles próprios haviam dito sobre o TT, como por exemplo, ficar sozinho na sala de aula, não participar das atividades em grupo, tampouco dar opiniões sobre questionamentos que os professores faziam na sala de aula.

Quanto a essa questão, Baudrit (2009) alerta que a missão dos tutores é “ajudar os seus pares quando estes têm problemas de aprendizagem, mas também de integração ou de inserção” (BAUDRIT, 2009, 46, grifo nosso).