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Relação do tutorado com os tutores e os professores

Etapa III. Avaliação do programa de tutoria por pares

OBSERVAÇÃO/ENTREVISTAS Etapa

1. Relação do tutorado com os tutores e os professores

Na semana de observação inicial, notou-se que o TT se relacionava apenas com um colega que se sentava atrás dele, que era quem o ajudava a realizar as atividades propostas pelos professores. Esse colega foi aquele que, no primeiro dia de treinamento, quando perguntado aos tutores: Dos seus colegas da sala, qual(is) aquele(s) que vocês acham que mais se beneficiaria(m) de uma frase que há na música: ‘Ao meu lado há um amigo que preciso proteger’?, citou dois nomes: um foi o do TT e o outro, esse colega que se sentava atrás dele. Na entrevista inicial, quando perguntado ao TT quem o ajudava nas atividades da sala de aula, ele respondeu: “Quando é coisa difícil, aí o meu amigo de trás me ajuda.” (TT).

Foi observado também que nenhum aluno saiu do seu lugar para ir até o TT conversar com ele, costume comum entre os alunos, podendo-se perceber que não havia vínculo de amizade entre o TT e os colegas da turma. Durante a semana de observação inicial, a pesquisadora ficou no pátio no momento do intervalo, que tem duração de 20 minutos, nos cinco dias consecutivos para observar se essa ausência de vínculo se estendia para o intervalo, momento em que é possível observar com mais clareza as relações de amizade entre os alunos. Notou-se que quando o TT não estava com esse colega de sala que o ajudava (foram poucos momentos e bem curtos), ele estava sentado sozinho em um dos bancos do pátio da escola.

Em um trabalho em grupo, na aula de Língua Portuguesa, nenhum grupo chamou o tutorado para fazer parte. Foi preciso que o PLP o colocasse em um grupo. No entanto, em nenhum momento ele participou com alguma sugestão para a atividade proposta. Apenas ficou observando os alunos trabalharem. Na entrevista inicial, ao ser perguntado ao TT como os colegas de sala o tratavam, ele respondeu apenas: “Bem” (TT).

No Quadro 11 temos exemplos dos discursos dos tutores sobre como era o relacionamento deles com o tutorado antes do início do programa:

Quadro 11 - Discurso dos tutores sobre o relacionamento com o tutorado

Respostas dos Tutores TUTORES

“Eu não tenho muita amizade com ele, mas conheço ele bem para ajudá-lo”. T1

“Bom. Não temos indiferenças”. T2

“Não é uma grande amizade, mas conheço ao ponto de saber o que preciso para ser tutor dele”. T3 Fonte: entrevista inicial com os tutores (2019).

Com os professores, foi observado que o TT se sentia mais à vontade com o PM, que sempre procurava, de alguma forma, dar atenção a ele Na entrevista inicial, quando perguntado sobre seu relacionamento com os professores ele respondeu: “Tem uns que ajuda e tem uns que

não ajuda” (TT). Questionado se ele gostava quando eles o ajudavam, disse que “Sim” (TT) e,

quando eles não o ajudavam, se ele ficava chateado, balançou a cabeça afirmativamente. Perguntado se gostaria que todos o ajudassem, disse que “Sim” (TT).

Na sexta reunião de tutoria, o TT afirmou: “A professora (de matemática) é legal, tem

paciência comigo. Explica bem e me elogia bastante” (TT). No entanto, com o PLP, o tutorado

não consegue ter uma boa interação. Nessa mesma reunião, queixou-se: “Quando o PLP dita,

não consigo escrever, não consigo ler rápido e ele às vezes acha que não quero fazer” (TT).

Relatou à pesquisadora: “Não consigo chegar no PLP e fazer perguntas. Sinto medo” (TT). Reynolds e Miller (2003, p. 214) afirmam que as “[...] interações professor-aluno levam os alunos sentirem-se apoiados por seus professores, [...] também são importantes para melhorar a motivação e o bem-estar emocional dos jovens adolescentes”34 e que o “[...] ajustamento saudável dos jovens à escola está relacionado às relações professor-aluno caracterizadas pelo

34 “[...] teacher-student interactions that lead students to feel supported by their teachers, [...] are also important in enhancing young adolescents’ motivation and emotional wellbeing”.

calor e pela ausência de conflito, bem como uma comunicação aberta35” (REYNOLDS; MILLER, 2003, p. 246).

No entanto, ao término do programa, os dados permitem inferir que o relacionamento dos participantes modificou-se. Quando perguntado ao TT se receber a ajuda de um colega fez diferença na sua vida diária na escola, sua resposta foi:

Fez. Antes eu não tinha amizade com o R. (T3) e a G. (T1). Com a I. (T2) eu tinha. Agora nós somos amigos e até fomos dormir na casa de outra colega. E no dia seguinte o R. (T3) e a I. (T2) e a irmã dela foram comer na minha casa. Aconteceu isso duas vezes já. Antes nunca tinha acontecido. Acho que os 3 tutores gostam muito de mim. Ter ficado amigo deles foi melhor do que ter melhorado nas atividades (TT).

O Quadro 12 apresenta dados acerca da evolução da interação dos tutores com o tutorado no decorrer das sessões tutoriais quando questionados sobre a percepção de mudança na interação entre eles:

Quadro 12 - Discurso dos tutores sobre a interação com o tutorado ao longo das sessões

Respostas dos Tutores TUTORES

“Sim. No começo ele não demonstrava interesse. Até pensou em desistir, mas agora ele está até participando mais das aulas.”

T1

“Completamente. Fui sincera com ele. Falando sempre a verdade, assim fomos nos aproximando mais.”

T2

“Sim. Ele tem muito mais segurança de falar comigo agora do que no começo e acabamos virando amigos.”

T3

Fonte: entrevista final com os tutores (2019).

Como bem coloca Baudrit (2009), essa relação que se estabelece em uma ação tutorial promove interações sociais entre os envolvidos, pois os tutores se mostram capazes de ouvir, aconselhar e fornecer informações ao TT quando sentem dificuldades, o que o leva a adquirir confiança no tutor. Pudemos observar que essa relação com os tutores se estendeu a outros colegas da sala de aula, pois, diferentemente da semana em que foi realizada a observação

35[...] young children’s healthy adjustment to school is related to teacher-student relationships characterized by warmth and the absence of conflict as well as open communication”.

inicial, o tutorado passou a sair de sua mesa para conversar com outros colegas e eles também vinham até a sua mesa, ou para pedir algum material emprestado, ou para conversar.